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domingo, 21 de junho de 2009

Respeitar o quê?

Editorial de Otto Sarkis* no Caderno Brasília - encarte do jornal mineiro Hoje em Dia - que é distribuído gratuitamente em várias cidades do Centro-Oeste e de Minas e que, diga-se, é hoje um dos melhores veículos para se obter informação confiável na cidade:



Respeitar o quê?

O que conheço da história recente do país não parece o mesmo que José Sarney e o presidente Lula sabem. É bem verdade que Lula mudou de e manda-nos esquecer que em 1993 declarava haver pelo menos 300 picaretas no Congresso. Acho até que Lula continua pensando assim, só não pode mais falar...

Na semana que passou, Sarney exigiu respeito à própria biografia, aos 60 anos de atividade política. E, lá de Astana, capital do Cazaquistão, Lula reverberou em apoio ao presidente do Senado. Estamos no mesmo país?

No Brasil conheço, Sarney começou no cenário nacional da política como jovem parlamentar da chamada banda de música da UDN, gente que prometia mudar, por dentro, o partido conservador liberal formado depois da ditadura do Estado Novo. Um dos companheiros dele foi Antônio Carlos Magalhães.

Assim como ACM, Sarney acabou se transformando no mais acabado exemplo de oligarca que prometia combater, no início da vida política. Também como ACM, surfou na ditadura militar de primeiro de abril de 64, sendo agraciado com a capitania hereditária do Maranhão, concessão da Rede Globo incluída. Mas, ao contrário de ACM, que reconhecidamente lutou pela Bahia, Sarney enterrou o Maranhão, tanto que teve que migrar eleitoralmente para o Amapá.

Será por esta parte maranhense da história dele, concluída à sombra da ditadura, que temos que reverenciá-lo ou Sarney se refere ao período da redemocratização? Era que ele inicia como presidente da República, que teve que deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos. Poder entregue à Collor de Melo que, farinha do mesmo saco, soube explorar melhor que Lula, Brizola ou Ulysses a mediocridade corrupta da Nova República.

Há que se gastar muito estudo para decidir se o maior azar da Nova República foi Tancredo morrer ou foi Sarney ser o vice. Porque, na história que eu conheço, assim como traiu os maranhenses, o ex-presidente do PDS/Arenba, que traiu os militares, traiu também os ideais neorepublicanos. Não teve a grandeza de ser o presidente da transição e comprou um quinto ano de mandato ao custo da desmoralização do Poder Legislativo, que até hoje não se livrou do “é dando que se recebe”.

Antes disso, Sarney traiu os economistas que fizeram o Plano Cruzado, ao esticar a gestão heterodoxa além da conta, em nome de eleger governadores do PMDB pelo país inteiro, patrocinando Newton Cardoso, Jader Barbalho, Orestes Quércia e Moreira Franco, entre outros. Se ele ainda tiver tempo e motivo, com certeza saberá trair o presidente Lula.

*Otto Sarkis é jornalista e Editor Regional do Caderno Brasília (osarkis@hojeemdia.com.br)

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