Esta é uma bomba, não só do dia, como histórica também.
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Update em 18/06 às 18h30:
Há muito tempo atrás, talvez por um "reflexo condicionado", cheguei a defender a tese da exigência do diploma de jornalista. Depois, pensando melhor, fui identificando argumentos que me diziam não haver mesmo justificativa para tal e passei a defender contra.
Acho que a situação ainda é confusa e muitos estão sem entender realmente o que aconteceu e sem saber avaliar o significado do impacto da decisão, mas uma coisa é fato e penso que é um fenômeno a ser analisado. Ficou registrado para toda a posteridade uma coisa para a qual ainda não vi ninguém chamar atenção: independente do que pensam os jornalistas sobre o resultado final da decisão do STF, a categoria não foi capaz de se mobilizar o suficiente para defender seus interesses e isso tem relação direta com nossa capacidade, como cidadãos mesmo, de participarmos da vida em sociedade, politicamente e de forma ativa.
É lamentável que até nós, pretensos "formadores de opinião", sejamos tão incapazes de nos mobilizar (a nós mesmos!). Se era tão importante e se está todo mundo tão revoltado, porque a discussão foi travada apenas nas esferas sindicais, entidades e movimentos sociais? Porque eles são representativos? Não, porque esse episódio mostra, dentre outras coisas, que não conseguimos, nós o "Quarto Poder", chamar a atenção para a defesa de nossos interesses sequer entre os nossos.
Qual a importância dos movimentos ditos "sociais"? Acho que agora ficou patente, não? Ou seja, na mesma proporção em que trabalhadores e a população em geral se vêm cada vez mais ausentes da vida política do país e se eximem das discussões em torno do que acontece na sociedade, salvo o papo de botequim, também a imprensa (e seus profissionais), co-responsável pela alienação generalizada (reflexo da cultura de massa e da grande mídia), não conseguiu transmitir aos seus pares a importância de impedir a decisão que, ao que parece, caiu como uma bomba na cabeça de estudantes, professores e profissionais. Ora, porque a bomba? Todo mundo sabe que em processos jurídicos a chance de se ganhar ou perder é de 50%. O fato é que grande parte dos interessados, ironicamente, não tinham se interessado por acompanhar a discussão. Salvo, claro, os poucos ativistas que estão sempre mobilizados em quase todos os movimentos que dizem respeito à comunicação em geral. Mas esses, são os "chatos", os "xiitas", aquele pessoal que "só fala de política". Pergunte a qualquer um que trabalhe em redação de jornal o que pensam os colegas daquele "pessoal de sindicato" que chega querendo convidar para reuniões ou assembléias...
Da mesma forma, quantas camadas da sociedade hoje têm pendengas coletivas que não são prestigiadas nem mesmo por seus pares? Médicos, por exemplo, reinvidicam melhorias na saúde pública e encontram dificuldades em mobilizar seus companheiros de profissão (ainda que vítimas do mesmo sistema). Como já absorvido culturalmente em nossa sociedade, preferem não se meter em confusão e trabalharem sem reclamar, às vezes usando clichês como: "não adianta nada mesmo", etc. No caso dos jornalistas, somente os que cobrem política, economia e afins têm realmente interesse em assuntos relacionados, o resto é tão alienado e desinformado quanto o restante da população. Os jornalistas são co-formadores de opinião em suas áreas específicas de cobertura, mas como cidadãos não são diferentes de cada brasileiro desancantado com tudo que diz respeito à política e esta decisão do STF e o conjunto de fatores que levou à ela, foi essencialmente político. Simples assim.
A decisão que tirou dos jornalistas a obrigatoriedade do diploma mostrou, a meu ver, que nem nós que somos por princípio treinados e formados para levar informação, conseguimos incutir a importância desse debate - independente do resultado - nas cabeças de nossos colegas de labuta.
A profissão de jornalista já foi uma ferramenta de libertação das idéias, foi perseguida por quem temia que a informação circulasse livremente. Hoje, depois de conquistada a dita "liberdade de expressão", os jornalistas teriam a obrigação de se mobilizarem em torno desse assunto. Mas isso não aconteceu, a não ser virtualmente e em esferas específicas (incluindo o lobby que deve ter ocorrido patrocinado pelos donos de jornais). E recentemente, quando se aproximava o momento da decisão, de alguns meses pra cá. O assunto só "esquentou" mesmo, quando marcaram a primeira audiência em que se decidiria a questão e que acabou sendo adiada mais de uma vez.
Portanto, esse é o primeiro ponto. O que nós somos? O presidente da Fenaj disse que agora somos um "amontoado". Eu discordo totalmente (e acho lamentável que ele, nosso "representante" diga uma coisa dessas!) e estou pensando em dizer porquê no próximo post (estou às voltas com um trabalho importante agora) mas que é interessante o peso político da ausência que recai sobre nossas cabeças, isso é.
Claro, o Gilmar Mendes, implicado que está com a imprensa que não o deixa em paz, achou um jeito de colocar nas entrelinhas sua vingança, mas não discordo da decisão do STF.
Agora, só queria mesmo apontar para isso. Se era tão importante, como pode não termos sido capazes de nos defender? Eu não vi nas faculdades discussões avançadas sobre o assunto, não vi juntarem grupos para solicitarem audiências com os ministros, não vi chamarem o debate para os veículos de imprensa!!! Trabalhamos neles mas não fomos capazes de, estrategicamente, utilizá-los para levar o recado aos nossos e à sociedade. Porquê será hã?? (e não vale dizer que o patrão não deu espaço!).
Não estou afirmando que não houve, sei que houve, mas a surpresa ou indignação de agora, é típica de quem não estava acompanhando o processo e isso é simplesmente um dos motivos pelo qual a decisão foi esta. E, mesmo que pessoalmente eu seja contra a exigência (e não estive ausente dos debates), como ativista de movimentos sociais, sei que isso é frustrante para quem se mobilizou, porque é sempre um trabalho hercúleo de dar "volume" aos manifestos e vê-lo bater de frente com a indiferença da própria sociedade que lutamos para melhorar. E pior do que isso, muitas vezes, esses mesmos movimentos têm como pior inimigo justamente a imprensa, que tenta por vezes desqualificá-los.
O que me espanta é que nesse caso, fomos nós, os "mensageiros" da sociedade, as vítimas de nossa própria ineficiência em transmitir informação de tamanho grau de relevância (principalmente para nós mesmos) e, ao que parece agora, de resultado irreversível.
9 comentários:
se for pensar assim, acho q não precisa diploma pra administrador de empresas, basta um curso técnico , ou pra psicólogo, basta ler sobre freud e ter ouvido...
o negócio é q o gilmar mendes, o dos capangas, disse tb q o diploma é pra profissionais q lidam com o risco à vida...ora, o jornalista é formador de opinião, graças à imprensa, teve o impeachment do collor...
Anônimo, o vice-presidente da República é o maior empresário do país na área têxtil e não tem diploma de administrador de opinião. Se alguém quer se consultar com alguém que se declara psicologo sem ser formado deve ter essa opção, eu não vou querer.
Pedro Faria, o jornalista já foi formador de opinião. Hoje, no Brasil, já não é mais. Houve impeaechmet do collor por causa da imprensa, por causa da mobilização social, por causa dos partidos, por causa da inflação, por causa das pretensões políticas de algumas pessoas, por que ele era culpado, mas não porque o diploma de jornalismo era obrigatório.
um curso tecnico de dois anos seria suficiente.. vi muita coisa desnecessária no curso... uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. ou seja, uma coisa é dizer que para ser contratado pra escrever, por exemplo, vc nao precise ser jornalista (e acho q lead e outros vc aprende sem precisar de faculdade) agora outra coisa é dizer q o q vc tem como diploma nao vale nada, nao é isso q estao dizendo!!! nao me sinto nem um pouco frustrada, eu continuo sendo jornalista e meu diploma sempre sera um diferencial. o mercado cria suas proprias regras, nao podemos esquecer disso e essa coisa de curso superior ja é uma delas, tem gente q tem curso superior de outras coisas trabalhando como jornalista aos montes porq a regra é ter o canudo, nao importa qual.. nao acho q essa decisao nos diminui, acho q a categoria devia discutor a qualidade dos cursos, a qualidade do trab jornalistico q é feito hoje sem etica, sem responsabilidade..
Não concordo c o q escreveu. Pra que ter um canal de comunicação? Porq um artista, um jornalista, um músico não pode ter um canal de comunicação? Por q exigir diploma de qm já é formado mas, porq trabalhador não pod ter diploma? Esta sua posição é a dos donos da mídia pra justificar demissões. O debate tá esvaziado. Só rola papo furado sobre o assunto. Acontece que não é o melhor momento pra debate. Manifestar q é culpa da classe é aderir ao golpe. O Gilmar tá culpando a classe de comunicação pela impopularidade adquirida como juiz classista e corporativista. Vc tem que pensar antes de manifestar besteira. A estrutura sindical e a lei não favorecem a organização e os interesses sociais e de democratização da comunicação e informação. O q vc acha não importa p maioria e o blog pode ajudar a esclarecer o q importa e o q não importa pra maioria. Então..continue nesta linha de raciocínio. A estrutura sindical corportavista ajudou mas, culpar toda a categoria é penoso. Os sindicatos não representam a maioria. são tudo pelegada. O lado dos donos da mídia não é o mesmo da maioria. O gilmar tá aproveitando a desmobilização da maioria pra montar a plataforma política e vc tá do lado dele!!
Eu escrevi que concordo que o resultado é retaliação do Gilmar, mas não dá pra negar que a categoria não se mobilizou o suficiente. Dar a desculpa de Bakunin e companhia pra qualquer classe é aceitável mas não para os jornalistas porq estes são responsáveis pela informção, são o "quarto poder", os que detêm o poder de, inclusive, modificar a ordem dos fatos. A classe se ausentou sim, se recolheu, não quis discutir o assunto. Os sindicatos pelo menos tentaram levar o debate à frente, ainda q sejam pelegos mesmo. Mas os jornalistas não podem reclamar agora, eles DERAM ESPAÇO PARA O GILMAR FAZER O QUE FEZ e não foi por publicarem o pária que ele é, mas por não se imbuírem da estratégia que dominam bem, não aproveitarem a oportunidade de exercerem o poder que tanto apregoam ter. Se tivessem se unido como categoria, isso não tinha acontecido. Eu, continuo achando que nao é necessário, regulamentação de profissoes em excesso é ferramenta de regulação de mercado capitalista, reduzir o mercado serve ao capital!!! Já pensou nisso??? Tudo isso é balela, quem tem formação em qualquer coisa vai sempre ser valorizado, criar regras legais pra isso é cavar um espaço corporativista.
O Oscar tem razão, o momento não é bom e todo esse debate desfocado, esvazia a discussão mais importante que são os fatos sociológicos que levaram à essa desmobilização de todas as categorias de trabalhadores e do mundo do trabalho.
Reproduzo texto de Maurício Stycer, que já trabalhou em muitas publicações [JB, Folha] e postou no seu blog no dia 18 de junho o seguinte:
Dou aulas de jornalismo, de forma não contínua, desde 1994. Já passei por cinco faculdades diferentes. Ao longo do tempo, adquiri algumas certezas e muitas dúvidas sobre a necessidade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão de jornalista.
Tento a seguir ordenar alguns argumentos e questões sobre o fato.
1. O que é preciso saber e aprender para ser jornalista? É uma questão polêmica. Há alguns consensos: é preciso ter cultura geral e domínio total da língua portuguesa. Conhecer história é fundamental. Matemática e estatística são conhecimentos necessários. Ética. Direito. É preciso ter o hábito de ler jornais e revistas, ter gosto pela informação. Ter espírito crítico, ser capaz de compreender a realidade em que vive, é outro atributo obrigatório.
2. Onde adquirir os conhecimentos citados no tópico anterior? Começa em casa, prossegue na escola básica, depois na secundária e, finalmente, na faculdade. Qual faculdade?
3. Você não precisa cursar uma faculdade de jornalismo para aprender nada disso.
4. Quais são os conhecimentos específicos necessários para ser jornalista? Entramos aqui no terreno da técnica. Não são muitos. Desafio alguém a defender a necessidade de mais do que dois anos de estudos para adquirir conhecimentos específicos da profissão, tais como técnicas de entrevista ou técnicas de redação voltadas para diferentes mídias.
5. Pessoalmente, acredito que um ano, com uma oferta de cursos bem articulada, cumpra bem esta função de transmitir conhecimentos específicos da profissão. Mas admito pensarmos até em dois anos. Mais que isso é embromação.
6. Discordo do meu amigo Leandro Fortes, para quem o diploma de jornalismo defende "milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito". Na minha opinião, não é o diploma que defende o público dos manipuladores de notícias, mas a concorrência. Sem concorrência, como é o caso em grande parte do país, a imprensa de má qualidade prospera – e continuará a prosperar – com ou sem diploma para jornalista.
7. Meu amigo Ricardo Kotscho preocupa-se com outra questão importante. Tudo bem, acabou a obrigatoriedade do diploma. Mas, e agora? Concordo que não podemos, de fato, ficar numa espécie de terra de ninguém, sem algum tipo de regulamentação.
8. Defendo, para início de discussão, que a prática só seja permitida a pessoas com formação universitária (em qualquer área, inclusive jornalismo), mais um curso de especialização técnico.
Concordo em gênero, número e grau!
Em 2006, o Marcelo Rubens Paiva escreveu o texto abaixo para o CADERNO 2, sobre o diploma pendurado no lavabo de casa, que polemizou e virou depois matéria da Revista Imprensa. Com este, encerro minhas argumentações:
Diploma no lavabo
Fiz uma provocação aqui em casa. Amigos e convidados apoiam. Coloquei meu diploma da USP no banheiro. O assinado pelo reitor da época, Flávio de Moraes, e pelo diretor da Escola de Comunicação e Artes, em papel-manteiga entre dois vidros, com o brasão da universidade em dourado, provando (comunicando?) que sou bacharel em comunicação social. Está pendurado em cima da privada. Um protesto. Ou melhor, uma intervenção, exprimindo o desgosto com a profissão.
Sou formado em rádio e TV. Teoricamente, treinado para produzir, dirigir, editar, apresentar, apurar, reportar programas de rádio e televisão. Trabalhei pra Gazeta, Rede TV!, Band e Globo. Na TV Cultura, apresentei dois programas. Conheci de leve o fazer TV. E a deixei, convicto: um peixe na areia pulando em vão.
Nunca apoiei a obrigação de diploma para jornalistas ou radialistas, exigência fisiológica herdada de movimentos sindicais pelegos do regime militar (ironia). Não são profissões que colocam pessoas em risco. Não? Depois dos acontecimentos em 15 de maio [dia em que o PCC parou a cidade], do pânico alimentado pelas rádios e TVs, do sensacionalismo evocando o medo, passei a duvidar da ética de meus colegas e da consciência de sua responsabilidade.
O Brasil da TV e a TV do Brasil são histéricos. Os locutores esportivos não narram, urram. As notícias quase sempre são apresentadas aos gritos, como jograis infantis, repare. Depois, programas de malucos com gostosas, ou de gostosas com platéias em transe, alimentam bizarrices. Quando não há culto, descarrego ou venda de jóias e tapetes.
É um stress assistir à TV brasileira. A bolsa não cai, despenca. Clichês se repetem: “A gente sai de casa e não sabe se volta vivo, sô!” Ditadores são chamados de facínoras. Crimes, de massacres. Culpam as autoridades, omitindo que, num Estado democrático, nós somos as autoridades.
É fácil, para a reportagem local, o discurso genérico do caos. O inimigo é o Bin-Laden, o Beira-Mar, o Marcola. A TV Brasil trata o seu público como atrofiado. Somos? Ora, a luz do Masp foi cortada. Somos. Lembro um clássico dos anos 80, Psicopata (Capital Inicial): “Esta vida me maltrata, estou virando um psicopata, quero soltar bombas no Congresso, fumo Hollywood para o meu sucesso, sempre assisto à Rede Globo com uma arma na mão, se aparece o Francisco Cuoco adeus televisão.”
Imaginávamos que a TV paga iria nos salvar. Quantos jornalistas comandam programas? Na maioria, o triedro atriz-manequim-modelo. No programa Tribos, Dani Suzuki. “Você vai poder ficar por dentro das manias e curiosidades das tribos urbanas, sempre com a presença de uma pessoa que entenda do assunto, para traduzir as tendências”, afirma o site do canal. A apresentadora não entende nem é capaz de traduzir? Ora, então por que não contratam logo uma pessoa que entende do assunto?
E quem mais estreou no Multishow? Jorge de Sá, da família Sandra de Sá. Seu programa, Mandou Bem. “Jorge de Sá vai aos eventos que estão agitando a cidade e dá dicas com as melhores opções para os jovens se divertirem no final de semana: shows, estréias de cinema, teatro e muito mais”, informa o site, que traz o perfil de Jorge. Melhor filme: Batman Begins e 25th Hour. Qual a sua tribo? “Das boas vibes...” Balada preferida? “Onde todos estiverem com disposição”. Experiências de vida inesquecíveis? Morar nos Estados Unidos. Ator preferido: Tony Ramos. Cantor ou cantora preferida: Sandra de Sá. Ah, vá... Suas manias? Andar fazendo dribles e cestas de basquete. Sonha em ser... “Bem sucedido na vida em todos os sentidos”. Frase, ditado, lema: “Pra que o medo se o futuro é a morte?” Mandou bem...
O cara que tem Batman Begins como um marco me indicará as melhores opções para eu me divertir no fim de semana de boas vibes, claro. Se meu diploma cair do prego, encontrará seus pares.
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