"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

terça-feira, 30 de agosto de 2011

OTAN entrega poder na Líbia para a al-Qaeda, para depois combatê-la


Por José Gil
O jornalista Pepe Escobar escreveu no Asia Times Online uma interessante análise sobre como a al-Qaeda chegou ao poder em Trípoli. Ele identificou o nome do líder dos jihadistas da al-Qaeda na Líbia: Abdelhakim Belhaj.
A história de como um comandante da al-Qaeda acabou por converter-se no principal comandante militar líbio na cidade de Trípoli ainda em guerra, “põe por terra – mais uma vez – a selva de espelhos que se conhece como “guerra ao terror”, além de abalar profundamente toda a propaganda de uma “intervenção humanitária” tão cuidadosamente inventada para encobrir a intervenção militar, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Líbia.
A fortaleza de Bab-al-Aziziyah, onde vivia Muammar Gaddafi foi invadida e conquistada, semana passada, quase exclusivamente por homens de Belhaj – que constituíam a linha de frente de uma milícia de berberes das montanhas do sudoeste de Trípoli. Essa milícia é a chamada hoje “Brigada de Trípoli”, que recebeu treinamento secreto, durante dois meses, de Forças Especiais dos EUA. Ao longo de seis meses de guerra civil/tribal, essa seria a milícia mais efetiva dos ‘rebeldes’.
Abdelhakim Belhaj, também conhecido como Abu Abdallah al-Sadek, é jihadista líbio. Nascido em maio de 1966, aperfeiçoou seus saberes com osmujahideen da Jihad antissoviética dos anos 1980s no Afeganistão.
É fundador do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] do qual é o principal comandante – com Khaled Chrif e Sami Saadi como assessores e representantes. Depois que os Talibã assumiram o poder em Kabul em 1996, o LIFG criaram dois campos de treinamento no Afeganistão; um deles, 30 km ao norte de Kabul – comandado por Abu Yahya – exclusivo para jihadistas ligados à al-Qaeda.
Depois do 11/9, Belhaj mudou-se para o Paquistão e para o Iraque, onde esteve em contato com ninguém menos que o ultra linha-dura Abu Musab al-Zarqawi – tudo isso antes que a al-Qaeda no Iraque se declarasse a serviço de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri e super ultra turbinasse suas práticas nefandas.
No Iraque, os líbios formavam o maior contingente de jihadistas sunitas estrangeiros, perdendo só para os sauditas. Além disso, os jihadistas líbios sempre foram superstars no mais alto escalão da Al-Qaeda “histórica” – de Abu Faraj al-Libi (comandante militar até ser preso em 2005, e hoje um dos 16 detentos “de mais alto valor” no centro de detenção dos EUA em Guantánamo), a Abu al-Laith al-Libi (outro alto comandante militar, morto no Paquistão no início de 2008).
O Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] está nos radares da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA desde o 11/9. Em 2003, Belhaj foi afinal preso na Malásia – e transferido pela via das “entregas especiais”, para uma prisão secreta em Bangkok onde foi devidamente torturado (aliás, a tortura é uma praticado governo norte-americano que a Anistia Internacional e o Tribunal de Haia ignoram vergonhosamente).
Em 2004, os norte-americanos decidiram mandá-lo, como presente, para a inteligência da Líbia – até que foi libertado pelo governo Gaddafi, em março de 2010, com outros 211 “terroristas”, em golpe de propaganda divulgado com muito alarde. (...)
Interessa observar que isso durou até 2007, quando o número 2 da al-Qaeda, Zawahiri, anunciou oficialmente a fusão do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] com a al-Qaeda no Mahgreb Islâmico [ing. Al-Qaeda in the Islamic Mahgreb (AQIM)]. Desde então, para todas as finalidades práticas, LIFG/AQIM passaram a ser um e o mesmo grupo, do qual Belhaj era/é o principal comandante e emir.
Em 2007, o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] estava convocando uma Jihad contra Gaddafi, mas também contra os EUA e sortido grupo de “infiéis” ocidentais.
Rode a fita adiante, até fevereiro passado. É quando, afinal livre da prisão, Belhaj resolveu voltar ao modo Jihad e alinhar seus soldados com o ‘levante’ de ‘rebeldes’ que começava a ser plantado na Cirenaica.
Todas as agências de inteligência nos EUA, Europa e em todo o mundo árabe sabem de onde brotou Belhaj. Mesmo que não soubessem, o próprio Belhaj já disse na Líbia que o único interesse, seu e de suas milícias, é implantar a lei da sharia. 
Não há, nem parecido, nisso tudo, qualquer processo “pró-democracia” – nem que se tente a mais complexa ginástica imaginativa. Mas, ao mesmo tempo, força de tal importância não seria apeado da guerra da OTAN só porque não gosta muito de “infiéis”.
O assassinato no final de julho, do comandante dos ‘rebeldes’ general Abdel Fattah Younis – foi morto pelos próprios ‘rebeldes’ – parece apontar diretamente para Belhaj ou, no mínimo, para gente próxima dele.
É importante saber que Younis – antes de desertar do governo Gaddafi – foi responsável, no governo Líbio, pelo combate feroz que as forças especiais líbias moveram contra o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) na Cirenaica, de 1990 a 1995.
O Conselho Nacional de Transição, segundo um de seus membros, Ali Tarhouni, teria deixado ‘vazar’ que Younis foi moto por uma nebulosa brigada, de nome Obaida ibn Jarrah (um dos companheiros do Profeta Maomé). Agora, a tal brigada parece ter-se dissolvido no ar.
Cale o bico, ou arranco sua cabeça
Não pode ser acaso, que todos os principais comandantes militares ‘rebeldes’ sejam membros do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG), de Belhaj em Trípoli, a um Ismael as-Salabi em Benghazi e certo Abdelhakim al-Assadi em Derna, para nem mencionar figura importantíssima, Ali Salabi, com assento no núcleo do Conselho Nacional de Transição. Saladi foi quem negociou com Saif al-Islam Gaddafi o “fim” da Jihad do Grupo de Combate Islâmico Líbio contra o regime Gaddafi, com o que garantiu para si futuro brilhantíssimo entre esses ressuscitados “combatentes da liberdade”.
Ninguém precisará de bola de cristal para antever consequências. O grupo unificado LIFG/AQIM – já tendo alcançado poder militar e assentado entre os “vencedores” – nem remotamente desistirá do poder, só para satisfazer os anseios da OTAN.
Simultaneamente, entre a névoa da guerra, ainda não se sabe se Gaddafi planeja atrair a Brigada de Trípoli para um cenário de guerrilha urbana; ou se arrastará atrás de si as milícias ‘rebeldes’, atraindo-as para o coração dos territórios da tribo Warfallah.
A esposa de Gaddafi é da tribo Warfallah, a maior da Líbia, com mais de 1 milhão de almas e 54 subtribos. Diz-se pelos corredores em Bruxelas, que a OTAN prevê que Gaddafi lutará durante meses, se não anos; daí o prêmio (“Procurado vivo ou morto”) à moda texana de George W Bush, pela cabeça de Gaddafi; e a volta desesperada da OTAN ao plano A (o golpe militar para derrubar Gaddafi).
É possível que a Líbia enfrente hoje o duplo espectro de uma Hidra guerrilheira de duas cabeças: forças de Gaddafi contra um governo central fraco do Conselho Nacional de Transição e tropas da OTAN em terra na Líbia; e a nuvem de Jihadistas do conglomerado LIFG/AQIM em Jihad contra a OTAN (se forem afastados do poder). (...)
Desde o primeiro dia, Gaddafi disse e repetiu que o ataque contra a Líbia era operação da al-Qaeda e/ou operação local com financiamento estrangeiro. Esteve certo, portanto, desde o primeiro.
Gaddafi também disse que seria o prelúdio da ocupação estrangeira, cuja meta é privatizar e roubar os recursos naturais da Líbia. Parece que acertou – também nisso.
Os “especialistas” de Cingapura que elogiaram a decisão do regime de Gaddafi de libertar os Jihadistas do Grupo de Combate Islâmico Líbio disseram que seria “estratégia necessária para mitigar a ameaça que pesa contra a Líbia”. Hoje, o que se vê é que o conjunto LIFG/AQIM – quer dizer, a al-Qaeda – conseguiu posicionar-se para exercer suas opções como “força política (líbia) local”.
Dez anos depois do 11/9, não é difícil imaginar que, no fundo do Mar da Arábia, há um crânio decomposto que, esse sim, está rindo por último. E lá ficará. Rindo.”
O interessante no artigo acima é constatar que os militares norte-americanos repetem na Líbia a estratégia que usaram no Afeganistão e no Iraque, a manjada frase “dividir para governar”, mas como a história só se repete como farsa, ao entregar o poder na Líbia para a al-Qaeda os governos dos EUA, França, Inglaterra estão entregando o país à anarquia e ao obscurantismo, ao radicalismo religioso, ao retrocesso social nos direitos das mulheres (que passarão a ser obrigadas a usar burca), como no Afeganistão, e talvez proibidas de dirigir automóveis e trabalhar fora, como no reino da Arábia Saudita.
A guerra por democracia, a derrubada de um “ditador”, não passa de lorotas que a mídia ocidental engole de forma subserviente e irresponsável.
Na Líbia de Gaddafi as mulheres dirigiam, trabalhavam fora, eram empresárias ou associadas, não usavam burca – e muitas nem mesmo o véu. Agora, em nome da “defesa da liberdade e da democracia” assistiremos ao retrocesso dos costumes na Líbia, a opressão das mulheres, dos gays, e das diferentes religiões que até ontem tinham liberdade de atuação na Líbia. 
Por trás dessa estratégia aparentemente suicida do governo norte-americano está um plano delineado no Afeganistão e no Iraque: levar morte e destruição, destruir o país para roubar as riquezas naturais, sem risco de enfrentar resistência popular, porque o povo estará dividido e enfraquecido com guerras, revoltas e rebeliões sem fim. Fabricar a guerra entre xiitas e sunitas é o grande sonho dos imperialistas para enfraquecer o país.
Esta é a tática do capitalismo dominado pelo sionismo. Os povos não passam de moedas de troca. Quanto mais mísseis e bombas forem disparadas, maior será o lucro da indústria bélica e dos banqueiros sionistas que financiam as guerras. E maior será a corrupção de políticos que se dizem paladinos da ilusória democracia representativa.
Porque a população líbia não resistiu? 
Embora armada – Gaddafi mandou distribuir armas ao povo – a população líbia não ofereceu a resistência esperada, e o motivo é um só: a população está aterrorizada com os bombardeios diários da Otan. As crianças estão traumatizadas. A maior força militar do planeta atacou por seis meses seguidos uma nação soberana de apenas 6 milhões de habitantes. Foi – é – a covardia das covardias, um massacre inominável que, se um dia houver justiça neste planeta, Obama, Sarkozy, Cameron e Rasmussen serão fuzilados, condenados por genocídio na Líbia.
A população não entregará suas armas e esperará dias melhores para combater os imperialistas norte-americanos, ingleses e franceses, e os jihadistas da al-Qaeda.
No campo de batalha o “leão do deserto”, o beduíno Muamar Gaddafi resiste e se prepara para uma guerra de guerrilha no deserto e no litoral da Líbia. Assim como fez Omar Moukhtar, o primeiro leão do deserto, que combateu até sua última gota de sangue para que um dia a Líbia conquistasse sua independência e soberania. E o povo líbio derrotou os italianos. Em 1968 os líbios venceram o ataque norte-americano. Nos próximos anos eles também vencerão esta guerra covarde da Otan a serviço das potências imperialistas. É uma questão de tempo, e os árabes – mais do que nenhum outro povo da Terra – sabem fazer do tempo um aliado infalível.

Massacre via OTAN em Sirte




Pelo quinto dia consecutivo, aviões da OTAN estão despejando mísseis na cidade de Sirte, cidade natal de Muammar Gaddafi, não permitindo que ninguém escape. O perímetro da cidade é cercado por pontos de verificação rebelde, por trás da qual existem unidades de forças especiais da Grã-Bretanha, França, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Mercenários regiamente pagos pelas monarquias árabes reacionárias, interessadas em criar mais uma monarquia fantoche na região. 


A saída da cidade está completamente obstruída. Nem mulheres, nem crianças são autorizados a sair. Homens, capturados tentando deixar a cidade, juntamente com suas famílias, são filmados, identificados e mandados de volta para a cidade sob bombardeio. Não há praticamente nenhuma forma de enterrar os cadáveres, afirmou em uma carta que foi recebida no site russo Argumenty.ru esta manhã. O autor da denúncia é Ilya Korenev, ex-oficial das forças soviéticas e, mais tarde técnico em hidráulica que reside há decadas em Sirte. 


O ex-oficial da antiga União Soviética, tenente-coronel aposentado Ilya Korenev, decidiu enviar a carta para que divulguem um verdadeiro massacre, crime de genocídio, que está sendo praticado em Sirte pela OTAN, sob os olhos e cumplicidade da ONU. 


Na cidade até agora nenhuma tropa, rebeldes ou das forças especiais estrangeiras se atreveram a entrar. Durante a noite havia pequenas provocações, a fim de tentar estabelecer a localização das tropas do governo. Vários esquadrões de rebeldes tentaram uma ação de sondagem na noite de reconhecimento, mas foram destruídos. Ao mesmo tempo, diversos aviões de reconhecimento não tripulados (UAV), aviões de espionagem chamados de "zangão", cortam o ar a cada 2ou 3 horas para tentar localizar alvos militares ou defesas da cidade. Após os vôos não tripulados,a OTAN bombardeia indiscriminadamente, assassinando milhares de civis indefesos. No entanto, os defensores da cidade já se deslocaram para outros locais, escreve o tenente-coronel. 


Segundo ele, "a situação assemelha-se ao terrível inverno de 95, em Grozny, Chechênia, quando a OTAN bombardeava tudo que se movia, sem a devida orientação ou sistemas de coordenadas precisas. A única diferença era que, então, a força aérea russa não tinha muito combustível, e os vôos não foram tão intensas como agora. No momento, a força aérea da OTAN está no ar quase o tempo todo ". 


Por José Gil

Para EUA, Líbia era modelo de combate ao terrorismo


Do portal Opera Mundi
Leia aqui matéria sobre este documento
Reference ID: 09TRIPOLI955
Created: 2009-12-09 15:56
Released: 2011-06-26 00:00
Classification: SECRET//NOFORN
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STATE FOR NEA/FO AND NEA/MAG. E.O. 12958: DECL: 12/8/2019
TAGS: PREL PTER PGOV KISL PHUM LY
SUBJECT: LIBYAN ISLAMIC FIGHTING GROUP REVISES JIHADIST IDEOLOGY REF: A) Tripoli 359; B) Tripoli 678 TRIPOLI 00000955 001.2 OF 003
CLASSIFIED BY: Joan A. Polaschik, Charge d’Affaires, U.S. Embassy Tripoli, Department of State. REASON: 1.4 (b), (d)
1.(S/NF) Summary: Six leading members of the Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) imprisoned in Libya recently issued a 417-page document renouncing the use of violence and establishing a new “code” for jihad. The group includes LIFG’s “founding fathers,” individuals with ties to Al Qaeda in the Islamic Maghreb’s (AQIM) senior leadership, including the elder brother of Abu Yahya al-Libi, a leading AQIM figure. The recantation claims to represent a clearer understanding of the “ethics” of Islamic shari’a law and jihad and specifically refutes the LIFG’s decades-long jihad against Muammar al-Qadhafi. The document is the result of a two-year initiative led by Saif al-Islam al-Qadhafi through his Qadhafi International Charity and Development Foundation (QDF), and supported by Libya’s internal and external security services. As a result of the initiative, more than 200 jihadists (approximately half of the imprisoned LIGF members) have been released from prison, with more releases expected soon. The initiative has been highlighted by local and international media as a potential model in counter-radicalization and touted by the Libyan government as a “revolutionary new method to combat terrorism and the influence of Al Qaeda in the region.” While Libya’s terrorist rehabilitation program has drawn skepticism from some quarters, who view the recantation as coerced and politically motivated, the work is reportedly being reviewed by foreign governments and has received praise as a positive GOL contribution to regional counterterrorism efforts. While the initiative is significant for Libya’s internal politics — simultaneously shoring up regime stability and Saif al-Islam’s credentials — its long-term effects as a counter-radicalization effort remain to be seen. End summary.
SAIF AL-ISLAM AND LIBYAN SECURITY FORCES FACILITATE CODE, RELEASE OF LIFG
2.(SBU) In late September, six leading members of the Libyan Islamic Fighting Group, being held in the Abu Salim prison, issued a document outlining a revised interpretation of their jihadist ideology — one which renounces violence and claims to adhere to a more sound Islamic theology than that of Al Qaeda and other jihadist organizations. The authors represent the group’s historic senior leadership, including Abd al-Hakim Balhaj (aka, Abu Abd Allah al-Sadiq, Emir of the LIFG), Abu al-Munder al-Saidi (Jurisprudence Official of the LIFG/most senior shari’a authority), Abd al-Wahab al-Qayed (the elder brother of Abu Yahya al-Libi, a leading AQIM figure), Khalid al-Sharif, Miftah al-Duwdi, and Mustafa Qanaifid. In the 417-page, Arabic-language document, entitled “Revisionist Studies of the Concepts of Jihad, Verification, and Judgment of People,” the authors point to ignorance and a misinterpretation of Islamic jurisprudence as the basis for their formerly violent expression of Islamic jihad. The authors state that “The lack of religious knowledge, whether it was a result of an absence of ‘ulama’ (religious scholars) or the neglect of people in receiving it and attaining it, or due to the absence of its sources, is the biggest cause of errors and religious violations.” They credit a deep evaluation of their lives’ experiences, coupled with a closer study of shari’a law for their ideological reform.
3.(SBU) The study is characterized as an attempt to recant former LIFG doctrine and to establish a new “code” for jihad for the benefit of the modern Muslim community. In the text, the authors directly challenge Al Qaeda, addressing the recantation to “anyone who we might have once had organizational or brotherly ties with.” The document gives detailed interpretations of the “ethics and morals to jihad,” which include the rejection of violence as a means to change political situations in Muslim majority countries whose leader is a Muslim and condemns “the killing of women, children, the elderly, monks/priests, wage earners, messengers, merchants and the like.” It claims that “The reduction of jihad to fighting with the sword is an error and shortcoming.”
4.(S/NF) The revised LIFG ideology is the result of a two-year initiative, led by Saif al-Islam al-Qadhafi in his capacity as QDF chairman and brokered on behalf of the Libyan government. According to press reports and Libyan officials, Saif worked closely with the UK-based former LIFG leader, Noman Benotman, on the effort to work on a revised ideology with the LIFG in exchange for amnesty. QDF’s lead negotiator, Salah Abdelsalam Salah, director of the QDF’s Human Rights Committee, (who also heads Saif al-Islam’s al-Ghad Media Group, ref A), said that he had met with al-Sadiq “4-5″ times in 2007, before reconciliation TRIPOLI 00000955 002.2 OF 003 discussions began in earnest. At that time, al-Sadiq seemed “ready to reconcile” and had indicated that his cohort shared his serious desire to break with their violent past.
5.(S/NF) Salah detailed the two-year negotiation in a meeting with Pol/Econ Chief, sharing several handwritten letters from al-Sadiq to Saif al-Islam al-Qadhafi, requesting assistance. After the initial communication, a series of meetings began, along two tracks: the first involving imprisoned LIFG leadership conversing with their members; the second involving LIFG leadership, the QDF, leading Islamic scholars, and prison officials (from Libya’s Internal Security Organization). Libya’s External Security Organization reportedly took on a supporting role, coordinating a “reconciliation and rehabilitation” movement among Libyan opposition figures (including LIFG members and others) living abroad. The meetings continued over the course of two years, and al-Sadiq wrote letters to Saif al-Islam throughout that period with updates on the LIFG position. In a letter dated January 16, 2009, al-Sadiq informed Saif of the LIFG’s intention to draft the recantation work by August 1, 2009, to announce revisions to its jihadist ideology and to reconcile with the Libyan regime. On February 23, 2009, al-Sadiq issued a press statement on behalf of the LIFG leaders in prison, announcing the continuation of a reconciliation dialogue with the QDF and GOL. Salah refused to comment on international press reports that Saif faced challenges from old guard regime officials who reportedly did not want to pardon the prisoners.
6.(S/NF) As reported in ref B, QDF’s Executive Director told us in August that the QDF had facilitated consultations between LIFG leadership and leading Islamic scholars, such as Qatar-based Egyptian cleric Yusuf al-Qardawi and Sheikh Ali Asalabi. In response to an early-2009 letter from al-Sadiq to Saif requesting by title a list of more than 10 books on Islamic jurisprudence, the QDF provided reading and reference materials for the LIFG to study in prison. On August 1, al-Sadiq informed Saif that the revisionist study was complete and submitted it for review.
7.(S/NF) On August 23, to mark the beginning of Ramadan and the Libyan leader’s 40th anniversary in power, LIFG leadership issued another press statement, this time apologizing to Muammar al-Qadhafi for their past acts of violence against him. The first of two rounds of prison releases took place shortly after the statement was published, with 91 LIFG prisoners pardoned and released. A second amnesty was announced in mid-October, with another 43 LIFG members reportedly being released. According to Salah, these releases constitute approximately half of the imprisoned LIFG members, all of whom were imprisoned at Abu Salim prison. (Saif al-Islam has publicly stated his intention to demolish the facility, infamous for a 1996 uprising that left 1200 prisoners dead, after the last prisoners have been released.) Salah reported that another round of amnesties would take place in the coming weeks, with Saif’s ultimate goal being 100-percent prisoner release. In a separate effort, Salah said that the GOL has released some 62 members of other “jihadist groups” from Abu Salim prison based on their recantations of violent jihad.
8.(S/NF) According to Salah, the revisionist study represented the dissolution of the LIFG organization in Libya. Upon release, each former LIFG member becomes a “regular” citizen and is allowed to “do what regular Libyans do,” including unrestricted movement and the freedom to travel abroad. Salah vehemently denied the assertion among some analysts that the LIFG leaders reconciled due to lucrative incentive packages offered by the GOL. He claimed that the only benefits given to former LIFG prisoners upon release were “job training and employment assistance, financial support for medical care, if needed, and living expenses until the prisoners are able to find jobs.” Some press reports indicate that as a condition of the pardon, former militants are required to pledge not to participate in Libyan politics, although they are able to speak in mosques. [Comment: Even if they wanted to participate in politics, how they would do so is unclear, given that political parties are outlawed in Libya. End comment.]
9.(SBU) Saif al-Islam’s involvement in the reconciliation effort has received widespread local and international media attention — state-run print media has published excerpts of the text and praised Saif for his work, and CNN recently broadcast a feature report on the efforts. The CNN report praises the initiative, describing Saif’s motivation as not only ending the TRIPOLI 00000955 003.2 OF 003 violent movement against the regime but also combating Al Qaeda’s “growing influence in the region.” CNN further claimed that, “In essence the new code for jihad is exactly what the West has been waiting for: a credible challenge from within jihadist ranks to Al Qaeda’s ideology.” International think-tanks such as the Quilliam Foundation and Jihadica have analyzed the efforts and the LIFG document, with the latter calling it a “very sweeping repudiation not just of Salafi jihadism but of all forms of revolutionary Islamism in general.”
10.(C) Some observers believe the Libyan counter-radicalization experiment could be used as a model across the region and state that it differs from similar efforts, such as those in Saudi Arabia, Yemen, and Egypt in its methods and target audience. The September 17 edition of the US-based “Terrorism Monitor” credited the initiative’s success to the “full institutional participation of the LIFG and its leadership,” in the reform project. By contrast, the Saudi Arabian and Yemeni models, for example, relied on “the conversion of militant individuals who may remain drawn (willingly or otherwise) to their former organizations.” In Egypt, the work of the Egyptian Islamic Jihad, while renouncing violence, maintained a fairly extreme ideology, propounded primarily by a single leader of the organization.
11.(S/NF) The Libyan government proudly explained the efforts to reconcile with LIFG members during a September 6 meeting with NEA A/S Feltman. During the meeting, Director of Military Intelligence and Muammar al-Qadhafi confidante, Abdullah al-Sanussi, described the effort as a “revolutionary new method to combat terrorism and the influence of Al Qaeda in the region,” and presented a pre-published copy of the recantation study. UK diplomats have told us that the Libyans have also given them a copy of the work, which they are translating in full and analyzing as a possible model for counter-radicalization efforts. Other diplomats have praised the program as a positive GOL contribution to regional counterterrorism efforts.
12.(S/NF) Amidst the positive international attention currently focused on Saif al-Islam’s LIFG counter-radicalization program, some observers have expressed skepticism to emboffs about the project. One Western diplomat confided his personal view that the efforts were purely political and that even the Islamic scholars involved in the effort, such as Yusuf al-Qardawi, had political agendas. A number of private Libyan citizens agreed with the opinions expressed on some foreign-based blogs, that Libya’s security organizations forced the LIFG leaders to write the recantation and that some LIFG members — imprisoned in Abu Salim prison for decades — were simply motivated by the prospect of pardon and the hope of reuniting with their families.
COMMENT
13.(S/NF) While local and international opinions are still being formulated on the initiative, the LIFG’s renouncement of violent jihad and extremist ideology, and the document’s direct challenge to Al Qaeda, represents a significant achievement for Saif al-Islam in particular and the Libyan government as a whole. The primary motivation for Muammar al-Qadhafi’s backing of the initiative was undoubtedly regime security, and for Saif al-Islam, it may also have been political, designed to shore up his credentials both at home and abroad. We suspect that the Libyan Government may well have contributed significant resources in the form of “financial assistance” to help ensure that the newly released fighters maintain their end of the bargain. The GOL’s immediate payoff on this investment is significant: the elimination of one of Qadhafi’s most staunch opposition groups and a high-profile public relations coup in Libya’s ongoing quest to position itself as a leader in the Islamic world. However, the long-term effects of the initiative, particularly with respect to the ideology of jihad and global counter-radicalization efforts, remains to be seen.
POLASCHIK

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A horrenda face da OTAN por Stephen Lendman

A horrenda face da OTAN 
29/8/2011, Stephen Lendman, OpEdNews
http://www.opednews.com/articles/1/NATO-s-Ugly-Face-by-Stephen-Lendman-110829-87.html

Imagens não mentem, exceto as falsas imagens que a OTAN produz em Doha, Qatar e, provavelmente, por todo o mundo, e nos estúdios de Hollywood. Durante meses, os assaltantes saqueadores da OTAN e a gangue dos 'rebeldes' assassinos violentaram e violaram a Líbia – mataram, destruíram, saquearam, sob o pretexto de que estariam protegendo alguém.

Dia 22 de agosto, Obama, que já fez por merecer dois indiciamentos por crimes de guerra, descreveu aquelas falsas imagens como "manifestação do anseio básico e feliz por plena liberdade humana".
[1]

Dia 25 de agosto, a secretária de estado Clinton, mais uma que também já fez por merecer indiciamento por crimes de guerra, disse "os eventos na Líbia essa semana comoveram o mundo".
[2]

Por que não vão, eles e seus aliados na mesma conspiração, a Trípoli, Brega, Misrata e outras cidades líbias reduzidas a ruínas, e vêem eles mesmos o que fizeram, com os próprios olhos?

Se fossem, veriam os cadáveres insepultos pelas ruas, o sangue, a agonia no rosto dos sobreviventes, destruição por todos os lados para onde se olhe, miséria humana em escala jamais vista.

Por que não vão a Trípoli, para colher, em primeira mão, os frutos de sua vitória? Ver o que há para ver, sentir o fedor dos mortos, ver, ao vivo, a tragédia cada dia maior que se abateu sobre Trípoli? O que se vê em Trípoli é um devastador desastre humano.

Dia 27 de agosto, o jornal Russia Today noticiava


"falta tudo, em Trípoli, combustível, água, eletricidade, e todo o tipo de produtos hospitalares e de primeiros socorros. A situação em campo aproxima-se perigosamente de vasta catástrofe humana. Trípoli enfrenta grave escassez de água potável, eletricidade, gasolina e remédios (...) Todos os serviços públicos estão paralisados". [3]

Destruição, lixo, cadáveres em decomposição enchem as ruas. Doenças contagiosas e outras logo chegarão como epidemias, não só por causa dos cadáveres mas também por causa de água, terra e ar contaminados.

Que Obama e Clinton comecem a imaginar a fúria e o desejo popular de resistir àqueles horrores e a outros horrores que fatalmente virão.

Eles que comecem a preocupar-se com o que pode vir adiante – resistência crescente, luta, compromisso real e profundo com liberdade humana real, não conformismo ante a servidão que aguarda os líbios sob o jugo dos saqueadores da OTAN.

Contra a ocupação por bancos e banqueiros. Contra o saque dos seus recursos pelo "Big Oil". Contra Washington, Londres e Paris a decidir o que seria "melhor" para a Líbia.

Contra encolher-se em servidão contra esses ocupantes bandidos que contam com destruir a força da vida, do espírito, do desejo dos líbios. Nada, na Líbia ficará impune.

Os líbios não se renderão. Não escolherão a morte. Escolherão lutar contra a ocupação. Escolherão pagar o preço que custe a resistência, porque não resistir é o pior que lhes pode acontecer. Não podem aceitar e não aceitarão.

Durante o dia 27 de agosto, jornalistas independentes permaneceram como prisioneiros virtuais, sem poder sair do Hotel Corinthia em Trípoli, sem poder expedir suas matérias e comentários sobre o que realmente se passava em Trípoli e em outras áreas.

Fizeram muita falta aquelas matérias e comentários. Esperemos que consigam sair de lá e cheguem em segurança às suas casas.

Dia 26 de agosto, o International Action Center publicou em manchete: "Líbia – Continua a resistência contra o avanço de EUA/OTAN". A matéria dizia:


"Apesar da OTAN atacar com força máxima, ataques que dão cobertura a todo o tipo de ação de violência dos bandidos 'rebeldes' em terra, continua "a heroica resistência ao avanço dos imperialistas (...) Toda a imprensa-empresa insiste em repetir que há rendições em massa, que Gaddafi fugiu, que seus filhos estão presos e outras desinformações e mentiras. Na Líbia, com certeza, ninguém duvida que são mentiras, guerra de propaganda e artifícios de guerra psicológica".



Como já se viu acontecer no Iraque e no Afeganistão, declarações de arrogância ("vencemos", "missão cumprida") não porão fim à resistência popular. A luta continuará "de várias formas".

Os líbios já resistiram heroicamente não só a meses de bombardeio, mas, também, à propaganda racista da imprensa-empresa (que apresenta os EUA e a máquina de morte da OTAN como "grandes libertadores brancos"
[4]).

Nesse momento, os líbios enfrentam pilhagem em grande escala. A "responsabilidade de proteger" está convertida em razão para pilhar, enquanto a matança, a destruição, prosseguem.

O que está planejado para a Líbia é "o capitalismo de desastre", como Naomi Klein explicou em "A doutrina do Choque". A democracia do 'livre mercado' é mito. Os neoliberais saqueadores exploram a seu favor as ameaças à segurança, os ataques terroristas, as quebradeiras e falências, todos os desastres naturais e, sobretudo, exploram a seu favor todas as guerras.

O que se deve temer para a Líbia é o fim dos serviços públicos, privatizações gerais, a liberdade com a cabeça sobre o cepo, à espera da lâmina do carrasco. O ocidente espera impor uma versão neoliberal da Líbia, que substituirá a Líbia socialmente responsável da era Gaddafi.

Essa foi a principal razão pela qual Gaddafi foi 'condenado' pelo ocidente. Foi preciso derrubá-lo do governo da Líbia, para que os predadores corporativos pudessem alimentar-se do cadáver da Líbia.

Resultado disso, o ocidente já disputa os despojos. Até que definam o alvo seguinte, e o outro, e o outro, até que toda a África, todo o Oriente Médio, toda a Ásia Central sejam, afinal colonizadas, seja como for, ocupadas de um modo ou de outros, e, claro, saqueadas.

Para Washington, a pilhagem parasitária é definição triunfalista do livre mercado, incluindo sempre a privatização ensandecida de empresas públicas, nenhuma regulação, cortes de impostos para os ricos e de salários para os pobres, exploração desenfreada, geração incansável de miséria, cada vez maior; e controle militarizado sobre os explorados.

É o que Bilderberg quis dizer ao falar de "sociedade global sem classes" – uma nova ordem mundial onde só haveria senhores armados e servos. Nada de classe média, nada de sindicatos, nada de democracia, nenhuma igualdade e nenhuma justiça, só oligarcas armados, autorizados a fazer o que bem entendam, protegidos por leis que os beneficiam e acobertam.

Está bem claro no livro de Milton Friedman, de 1962, Capitalismo e liberdade. Lá se lê:


"só uma crise – real ou pressuposta – produz mudança verdadeira. Quando ocorre uma crise, as ações a tomar dependem das ideias que haja à volta. Nossa função básica é desenvolver alternativas às políticas existentes (e nos preparar para suspendê-las) quando o impossível passar a ser politicamente inevitável."


Para Friedman, as únicas funções do governo seriam "proteger nossa liberdade do assalto de inimigos externos e de outros cidadãos; preservar a lei e a ordem, para garantir que contratos privados sejam cumpridos; preservar a propriedade privada; e promover a competição nos mercados."

Tudo em mãos públicas é socialismo, ideologia, para Friedman, blasfema. Dizia que os mercados funcionam melhor quando funcionam sem regras, regulações, impostos, barreiras protecionistas, "interesses entrincheirados", interferência humana. De tal modo que o melhor governo seria, na prática, o nenhum governo.

Em outras palavras, o business faria melhor, tudo o que qualquer governo faça. Ideias sobre democracia, justiça social e sociedade cuidada ou protegida, dizia Friedman, seria tabu, porque interfeririam no capitalismo solto ladeira abaixo, na banguela.

Disse que a saúde pública deveria ser posta em mãos privadas, a acumulação de lucros, ilimitada, abolidos todos os impostos cobrados de todas as empresas, e os serviços sociais reduzidos, ou completamente abolidos. Acreditava que "a liberdade econômica é um fim em si mesma e meio indispensável para que se chegue a liberdade política".

Em relação à Líbia, nem a liberdade econômica nem a liberdade política são sequer pensáveis, a menos que a resistência popular impeça que prossiga o saque e retome, dos saqueadores ocidentais e seus aliados, o que já saquearam e venham a saquear. Sem resistência, nada restará aos líbios além da servidão.

Essa dura realidade tem de ser mudada, é preciso resistir, não importa o que custe ou quanto tempo dure a resistência. Temos de esperar que os líbios estejam à altura do sacrifício e da luta que se exige deles. Que se alimentem da fúria contra a planejada ocupação pela OTAN e o saque em andamento. Desistir é via que não poderão sequer considerar.

A resistência bem pode ser o coringa contra o qual Washington espera não ser obrigado a disputar. Em outro artigo, escrevi "Líbia: Manter viva a chama da liberdade" [5]. Em outro, "Nada acaba antes de terminar".
[6]

Lembremos os versos de John Lennon, "Imagine nada por que matar ou morrer. Viver a vida em paz. Esperar que um dia o mundo viva como um só mundo."
[7] É preciso tentar.

É preciso tempo para alcançar coisas importantes. O impossível demora um pouco mais.

O primeiro passo é detonar a visão de Friedman do que seria o melhor dos mundos, a OTAN, Washington ocupada pelas grandes corporações.

Conseguindo isso, teremos dado um primeiro passo para ajudar a libertar os líbios e, talvez, mais gente, em outros pontos do mundo, lutando pelo mundo em que todos merecem viver. Não é difícil. Está aí fora, à espera de que nos decidamos a ir buscá-lo.






[1] 22/8/2011, "Discurso do presidente sobre a Líbia", em http://m.whitehouse.gov/the-press-office/2011/08/22/statement-president-libya (em inglês).
[2] 25/8/2011, "Declaração da secretária de Estado sobre a Líbia", em http://bangkok.usembassy.gov/082511_secstate_statement.html (em inglês).
[3] 27/8/2011, "Libya: on brink of humanitarian disaster", em http://rt.com/news/libya-humanitarian-disaster-un-311/ (em inglês)
[4] 29/8/2011, em Global Research, em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26231 (em inglês).
[6] "It Ain't Over Till It's Over"; é título de uma canção de Leni Kravitz (vídeo e letra em http://letras.terra.com.br/lenny-kravitz/21863/). O artigo (24/8/2011) está em http://sjlendman.blogspot.com/2011/08/libya-war-it-aint-over-till-its-over.html (em inglês).   

Leonor na Líbia


Estou acrescentando aqui um link permanente para o blog da Leonor, jornalista que vive na Líbia desde 2008 e escrevia sobre o país até que foi surpreendida pela guerra.

sábado, 27 de agosto de 2011

R2P: de 'responsabilidade de proteger' a 'razão para pilhar"

R2Ps: De "Responsabilidade de Proteger" a "Razão para Pilhar"
27/8/2011, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MH27Ak03.html 

A tarefa-carga do homem branco[1] não prevê perguntar aos africanos o que pensam do massacre ocidental/monárquico em curso contra os árabes nas praias do norte do continente. Mas alguns, pelo menos, decidiram pôr fim à enrolação.

Mais de 200 líderes e intelectuais africanos distribuíram carta aberta em Johannesburg, África do Sul, chamando a atenção para o "uso distorcido do Conselho de Segurança da ONU para a prática da diplomacia militarizada, com o objetivo de derrubar o governo na Líbia" e para "marginalizar a União Africana".

Quanto aos 'vencedores' ocidentais na Líbia, já nem tentam disfarçar. Richard Haass, presidente daquele almanaque de Gotha do establishment dos EUA que é o Conselho de Relações Exteriores, assina coluna no Financial Times na qual diz claramente que "a intervenção humanitária introduzida para salvar vidas que se acreditava que estivessem ameaçadas foi, de fato, intervenção política para derrubar o governo".
[2]

Quanto à chusma de atores locais – líbios da Cirenaica – Haass já os despachou para a lata do lixo da história: "Os líbios não conseguirão administrar a situação e emergir por conta própria" e, com "dois milhões de barris de petróleo por dia" em jogo, a única solução é uma "força internacional". Tradução: exército de ocupação – como no Afeganistão e no Iraque. Bem-vindos ao neocolonialismo 2.0.

A hora da vingança

Por tudo isso, o establishment norte-americano já está tão atrevido quanto a direita rica cabeça de noz da variedade Donald "aquela coisa no cocuruto" Trump. Trump disse à Fox News: "Nós somos a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Nós apoiamos a OTAN com dinheiro e armas. E ganhamos o quê? Por que não ficaríamos com o petróleo?"

Em termos de Dia da Marmota geopolítico, é de fato o Afeganistão e o Iraque, tudo outra vez – uma orgia de saques, destruição de estátuas, segmentos de reality show televisivo para não deixar ninguém descolar o olho das telinhas, até faixas de uma torcida pró-OTAN (mais ou menos como os americanos agradeceriam aos chineses que bombardeassem New York City até reduzi-la a ruínas, para 'libertá-la').

E nem se fala da imbecilidade da grande mídia-empresa. A CNN deslocou Trípoli para o leste – para o Mediterrâneo leste, em algum ponto perto do Líbano. A BBC mostrou uma festa 'rebelde' numa praça Verde em Trípoli localizada na Índia, com bandeiras da Índia. Homenagem e prova da total integração entre a OTAN e a mídia do CCG, Conselho de Cooperação do Golfo, também conhecido como Clube Contrarrevolucionário do Golfo – as seis ricas satrapias fundamentalistas da região.

Considerando que o CCG virtualmente ordena à Liga Árabe o que fazer, não surpreende que a Liga já tenha reconhecido o sinistro Conselho Nacional de Transição 'rebelde' como governo legítimo, embora só represente a Cirenaica e apesar de o Grande Gaddafi
[3] continuar vivo (embora com a cabeça a prêmio: 1,6 milhão de dólares). Digamos que é o troco da Liga Árabe, por Gaddafi ter chamado o rei saudita Abdullah de "estúpido", nas preliminares para a guerra do Iraque.

Também é como se a Líbia agora fosse um emirado árabe em construção, sem nada ter a ver com a África. O CCG financiou e armou os 'rebeldes'. A União Africana era quase unanimemente contra a guerra OTAN/CCG. Ergo, no que dependa de OTAN/CCG, a África que se dane; a única coisa que realmente importa – estrategicamente – é meter uma base militar/naval do Africon/OTAN na Líbia.

E lá nos vamos, para outra Zona Verde

Já não é segredo para ninguém que agentes dos serviços secreto britânico, francês, da CIA, do Qatar e mercenários de todos os tipos choveram (de paraquedas) sobre território líbio como força de invasão, há meses, planejando e treinando 'rebeldes' e em estreita coordenação com a OTAN, essa entidade prodígio da filantropia universal.

Nunca se tratou de mandado da ONU, mas... quem liga?! OTAN/CCG pagam as contas, a OTAN cuida do bombardeio e OTAN/CCG "estabilizarão" a confusão toda, como se lê em plano de 70 páginas vazado pelo Times de Londres e de Rupert Murdoch. [4]

Só tolos acreditarão na notícia-boato previsível de que o plano teria sido elaborado pelo Conselho Nacional de Transição com "ajuda ocidental". A OTAN não se atreverá – não, pelo menos, no começo – a pôr os pés em terra; daí a proposta de "uma força-tarefa de 10.000-15.000 soldados em Trípoli", a ser fornecida pelos Emirados Árabes Unidos, que, mais dia menos dia, lá estará. A pergunta mais eletrizante é: na folha de pagamento dos Emirados Árabes Unidos haverá mercenários estrangeiros (jordanianos, sul-africanos, colombianos) treinados pela Blackwater, ou mercenários tribais?

E – adivinhem o quê! – uma Zona Verde remix, como no Iraque, próxima da praça Verde. São notícias quase tão deliciosas quanto o embaixador do Conselho Nacional de Transição nos Emirados Árabes Unidos, Aref Ali Nayed, a desmentir compungido o plano vazado, no mesmo momento em que Benghazi confirmava a coisa toda.

Todos já sabem também que a rendosa reconstrução de tudo que a OTAN destruiu beneficiará – e quem poderia ser?! – os 'vencedores': os países da OTAN/CCG.
[5] O líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jail já confirmou, em Benghazi.

Devem-se esperar ruidosas comemorações locais – e globais –, no que tenha a ver com pôr a mão no butim. Sem considerar a riqueza (ainda inexplorada) em gás e petróleo, a Líbia tem mais de 150 bilhões de dólares em bancos estrangeiros. E o Banco Central da Líbia – agora em vias de ser privatizado – guarda nada menos que 143,8 toneladas de ouro. Há também por lá água doce suficiente para um milênio, que Gaddafi começava a tornar acessível via o espetacular multibilionário Projeto "Grande Rio Feito pelo Homem" [orig. Great Man-Made River (GMR) project].

Aí está também mais uma sólida resposta à pergunta sobre por que a França decidiu, tão freneticamente, derrubar Gaddafi: as maiores empresas mundiais de exploração de água são francesas; e a possibilidade de privatizar suprimento de água doce a ser comercializado por mil anos deixou os executivos daquelas empresas, digamos... babando.

Por tudo isso, como vasto novo mercado potencialmente muito lucrativo para empresas europeias, e bem ali, na outra margem do Mediterrâneo, a Líbia é artigo de primeira, o que dá novo significado à doutrina do imperialismo humanitário e sua "responsabilidade de proteger" [orig. R2P ("responsibility to protect")], que passa a significar "direito de pilhar" [orig. R2P ("right 2 plunder")] – como escreveu um leitor de Asia Times Online.

O primeiro-ministro italiano Silvio "bunga bunga" Berlusconi foi gentil: encontrou-se em Milão com o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição, bem à frente da nova bandeira da Líbia (de fato, é a velha bandeira monárquica do rei Idris), posta ao lado das bandeiras da Itália e da União Europeia.

E dizer que há apenas um ano, Silvio B. oferecia fantástica festa ao seu camaradinha cujas mãos adorava beijar –, precisamente nosso Grande G. –, com desfile de 30 beduínos montando cavalos puros-sangues importados.

Em 2008, Silvio B. e o Grande Gaddafi assinaram tratado para enterrar a infeliz era colonial (1911-1942), pelo qual a Itália gastaria $5 bilhões ao longo de 25 anos em investimento na infraestrutura da Líbia – estradas e ferrovias; graças a esse tratado, 180 empresas italianas conseguiram contratos fabulosos na Líbia, e a Itália passou a ser  principal parceira comercial da Líbia.

Por isso, o líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jalil estava obrigado a confirmar para Berlusconi que a nova Líbia manterá "relações especiais" com todos os "vencedores" da guerra de OTAN/CCG contra a Líbia; e destacou a Itália.

Semana que vem, será a vez do Xeique Abdullah bin Zayed, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, que visitará Benghazi para passar a mão em fatia bem gorda do bolo da reconstrução. Depois do estouro da bolha imobiliária, os Emirados Árabes Unidos pululam de empresários prontos a saltar sobre qualquer oportunidade.

E quanto ao mapa do caminho

Mas e se o Grande Gaddafi tiver carregado seu ouro? O ex-presidente do Banco Central da Líbia garante que, em Trípoli, estão fisicamente guardadas reservas equivalentes a nada menos que $10 bilhões em ouro.

Assim, enquanto os britânicos do serviço secreto metidos em trajes civis árabes e brandindo Kalashnikovs idênticas às dos 'rebeldes' procuram Gaddafi "vivo ou morto", ao estilo texano de George W Bush, o Grande Gaddafi pode bem estar comprando aliados tribais e pagando, literalmente, em ouro. Para não dizer que já conta com o apoio da tribo Gaddafi (habilíssimos caçadores noturnos), da tribo al-Magarha (atiradores de primeiríssima) e de quase toda a tribo da esposa de Gaddafi, os Warfallah (a maior do país, com mais de 2 milhões de pessoas).

Dado que o Conselho Nacional de Transição anda dizendo por todos os cantos que a Líbia pós-Gaddafi será pluralista e multicultural, já se veem sinais claros de que já começaram a construir mais uma Areia Movediça City.

Os árabes do norte absolutamente desprezam os berberes do sul – e vice-versa. A gente da Tripolitania absolutamente despreza os salafitas da Cyrenaica – e vice-versa.

Com tanta coisa em jogo, é fácil visualizar um mapa do caminho que será, com pequenas variações, o seguinte:

– Um governo do Conselho Nacional de Transição muito fraco, governo-fantoche; as tropas da doutrina do neoliberalismo de desastre distanciar-se-ão cada vez mais dos líbios habituados a 40 anos de ensino gratuito, atendimento gratuito à saúde e moradia gratuita; logo se organizará movimento de guerrilha contra a ocupação estrangeira; salafitas-jihadistas de outras latitudes árabes acorreram para a Líbia; cidades do deserto facilmente se tornarão bases de grupos guerrilheiros; os oleodutos do sudeste do país serão atacados; será réplica de Bagdá, de 2004 a 2007; haverá uma 'avançada' [surge] em cenário de guerra civil/tribal sem fim; e lá estará o Afeganistão 2.0, como frente-gêmea guerrilheira – o grupo de Gaddafi contra os 'rebeldes'/OTAN, e os salafitas contra a OTAN, porque o ocidente nunca admitirá que a Líbia converta-se em estado islâmico.

Gaddafi, hoje, aposta que os espiões e mercenários de OTAN/CCG converterão a Líbia em novo Iraque/Afeganistão. (É bem possível, aliás, que a OTAN adore a ideia.) Com isso, forçarão Gaddafi a entrincheirar-se mais fundo no norte da África. Voltarão as mesmas velhas táticas imperiais de dividir-para-reinar, enquanto as empresas ocidentais exercerão seus direitos de saquear.

Simultaneamente darão nova vida, numa espécie de trama secundária, à "guerra ao terror", enquanto a recessão devora o que resta das respectivas economias nacionais. Mas o complexo industrial-militar e empresários do ramo de armas/segurança continuarão felizes da vida. Iraque/Afeganistão, tudo outra vez? Vamos ver quem pode mais.
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[1] White man's burden é poema de Rudyard Kipling, de 1899, um apelo para que os EUA assumam a tarefa de promover o desenvolvimento das Filipinas que acabavam de ser derrotadas na Guerra hispano-americana; é considerado o 'hino' do imperialismo britânico (pode ser lido em http://public.wsu.edu/~wldciv/world_civ_reader/world_civ_reader_2/kipling.html) [NTs].

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