"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Abertura do Pan


Por Latuff

quinta-feira, 5 de julho de 2007

De como ser jornalista na era da informação

Desesperar jamais
Pode parecer inevitável, mas existe sempre a opção "não desesperar". Aperte o botão!


por Soninha Francine



Já se passaram dez dias do prazo de entrega do texto. São 11h20 da noite, e o que eu mais queria agora era dormir, mas não vai dar. Também preciso escrever alguma coisa no blog, que há dias não vê um texto novo. E ler aquele e-mail urgente, que chegou semana passada. Não posso deixar de imprimir aquele artigo sobre antidepressivos antes da gravação do programa de amanhã.

Ainda não marquei o almoço que prometi para o Rodrigo. Tomara que ele ainda se lembre das coisas que queria me contar. O cartão com o telefone estava em cima da mesa. Quando é que vou terminar de arrumar as gavetas do escritório? Ah, e não posso deixar de escrever um recado pedindo para a faxineira não mexer nas pilhas de papel no chão, por misericórdia.

Fiquei devendo para a síndica aquela pesquisa sobre a coleta seletiva aqui no bairro. Se eu não preparar hoje a aula de quinta-feira, não preparo mais amanhã e depois não vai sobrar um mísero espaço de tempo. Tenho de marcar logo o dentista antes que o dente quebrado não tenha mais conserto. Será que eu já mandei tudo o que precisava para o contador fazer o imposto de renda?

Nossa, essa parede está horrível. Não sei o que faço primeiro: mandar pintar, trocar o piso ou comprar o armário novo. Será que eu mando fazer uma cortina ou instalar uma persiana? É ridículo ter isso tudo de colar se eu não uso nem metade. No próximo bazar do centro budista, já tenho o que doar.

Anotações mentais: ligar para Heloísa (sobre empréstimo), passar as fotos da câmera para o computador, colocar a conta do telefone em débito automático. Pedir roupas usadas para as meninas do projeto de Belo Horizonte customizarem.

Dúvidas: tomei ou não tomei o remédio da homeopatia? A que horas mesmo começa a reunião amanhã? (Onde será que eu anotei o endereço?) Faltam só 200 quilômetros para a primeira revisão da moto.

Já passa de 11h40, e perdi o sono. Eu disse para o pessoal da VIDA SIMPLES que ia fazer uma coluna sobre viagens, mas vou deixar para o mês que vem. Prefiro escrever sobre a minha maior necessidade no momento: não desesperar. As gavetas, os papéis, as contas, os e-mails, as paredes e janelas, as filhas e o cachorro, a grana, o trabalho, os amigos... Embora pareçam se encontrar todos em uma festa ruidosa dentro da minha cabeça, cada um tem sua hora e lugar. Calma.

O coração fica apertado de aflição, o tempo parece estreito como uma porta entreaberta, mas cada problema tem sua hora e sua vez. Agora só preciso ter uma preocupação: escrever. Depois, dormir. Depois, resolver uma coisa de cada vez.

Por mais complicada e difícil que seja a vida, a opção não desesperar está sempre presente no menu. Vou apertar esse botão e fazer o que for possível. Daqui a um, dois, dez ou 90 dias, estarei deitada na rede lendo um livro e todos os motivos para o desespero serão fantasmas distantes. Por que me deixar assombrar por eles agora?

Não desesperar. A vida não fica mais simples, mas fica menos difícil.

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Soninha Francine, jornalista e apresentadora é outra pessoa quando consegue aplicar os conselhos que dá.

Fonte deste artigo: Revista Vida Simples

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Coisas para fazer em 12 horas nos aeroportos brasileiros

Na última sexta-feira fiquei cerca de 12 horas passeando (um passeio meio forçado, pra falar a verdade...) por três aeroportos brasileiros, JK-Brasília, Congonhas-SP e Galeão-RJ. Passo a narrar aqui minha saga para sair de Brasília e chegar à Petrópolis, região serrana do Rio, o objetivo da viagem. Em dias "normais", eu levaria 2 horas (de avião) até o Rio e cerca de 1 hora até Petrópolis (de carro ou ônibus interestadual).

Mesmo sabendo do caos nos aeroportos, resolvi arriscar e comprei uma passagem para ir ao Rio onde faria uma prova no domingo pela manhã. Tomei algumas precauções. Como sabia que poderia atrasar "um pouco", pedi à chefe para sair mais cedo do trabalho na sexta (começo às 7 da manhã, ou seja, deu p/trabalhar até as 10) e preferi a sexta-feira pela manhã porque ainda teria (em caso extremo) o sábado inteiro como "reserva" (também porque peguei o último horário com tarifa promocional na sexta). Como ia pela Varig, sabia que ia demorar porque não tem vôo direto DF-RJ e eu calculei com a escala em Congonhas um acréscimo nos meus planos de, talvez... 3 horas no máximo?... Claro que não esperava que o atraso fosse ser tão pior. Eu estava apenas querendo ir com um pouco mais de "conforto" já que em véspera de prova, é bom estar "descansado". Então, saí às 10h do trabalho e, como é perto, cheguei (de carro) antes das 10h30 no aeroporto. O vôo sairia às 11h20, tempo de sobra para o check in.... ai, ai, doce ilusão...

Chego no aeroporto e encontro um colega do trabalho que iria fazer a mesma prova e deveria ter embarcado às 9h... (opss...) fui ao balcão de informações, em frente ao do check in onde havia uma fila gigantesca. "Por favor, o check in é ali mesmo?". "Sim, senhora, naquela confusão ali" (corta para um risinho da atendente da companhia, não sei se notei um tonzinho irônico no comentário dela, talvez tenha sido impressão)... "Olha, eu tô chegando com antecedência, será que vai dar p/fazer o check in?". "Não se preocupe senhora, naquela fila ainda tem gente do avião das 9h30 e ele nem chegou de SP ainda"... claro, claro... ok, respiro fundo... vamos lá então.

Ainda bem que o Fernando estava comigo (me acompanhando até o embarque apenas)... ele fez assim, uma expressão que ficou entre a indignação, o enfado e a resignação mas, eu entendi, (tudo por amor, deve ser isso que ele pensou) e fomos. Enquanto isso, meu colega me dava os últimos boletins do seu vôo das 9... "nenhuma previsão", "a aeronave não saiu de Congonhas ainda" é tudo que ele sabia. Deixei o Fê na fila do check in e voltei ao balcão de informações... "tem alguma previsão para algum vôo que deveria ter saído depois de 7 horas?"... "Bem, o que eu sei, senhora, é que Congonhas está fechado, estão trasladando os passageiros para Guarulhos de onde partirão p/Brasilia já que não temos nenhum avião no pátio aqui. Acredito que o primeiro deva chegar por volta de 12h30 e provavelmente quem está aqui vai para Garulhos também"... Esse foi mais ou menos o horário em que saí da fila do check in já com o informe de que meu vôo estava previsto pras 14h30, talvez...

Fomos almoçar. Nessas horas, se puder, é melhor comer alguma coisa, como eu não tinha recebido ainda nenhuma barrinha (acho que o atraso ainda era pequeno para isso), subimos para a praça de alimentação (em Brasília tem até cinema, mas não queríamos ser tão pessismistas). Durante o almoço, ouvimos que o vôo das 9h iria partir às 13h, então meu colega já devia estar embarcando. Comprei umas 5 revistas na livraria (não sei porque fiquei com a sensação de que o dia ia ser longo), lemos um pouco..

Desci para a sala de embarque quando nos chamaram às 14h (o pessoal do vôo das 11h), me despedi do Fernando e do carrinho (que não puderam entrar no embarque) e fui. Eu não quis despachar a mala porque era pequena, mas não pensei que ia ficar tantas horas abraçada com ela... se bem que talvez tenha sido melhor...

Às 14h40 obtivemos autorização pra decolar, estávamos no avião desde as 14h20, mais ou menos 10 pessoas! Acredite, o avião foi quase vazio pra São Paulo. Eu fico impressionada com essas companhias aéreas, quase quebrando e vendendo passagens a preços absurdos, cada vez mais caras, mas ainda preferem voar vazias a baixar os preços... melhor pra mim que fiquei com três poltronas só p/mim... Chegamos em São Paulo quase 16 horas e.. tchanã! Meu avião de conexão, claaaarooo, já havia partido. Ok, respiro fundo novamente, um rapaz da segurança diz pra eu ir pro balcão ali na frente onde poderia trocar o bilhete, passo pelo Arnaldo Jabor com cara de poucos amigos (eu entendo companheiro) também carregando sua mala, olho para ele com cara de sofrida solidariedade e tento encontrar alguém da companhia porque no tal balcão não tinha ninguém. Junto comigo uma menina quase chorando reclamava que queria pegar sua mala, que acha que perdeu o vôo e que não tinha muita experiência em voar, que a empresa tinha colocado uma observação em sua passagem sobre isso, mas ninguém lhe dava atenção... fui ajudá-la, expliquei que sua mala seguiria no vôo em que ela fosse, que ela não se preocupasse (espero que tenha dado certo Elaine!), passa um carinha da empresa correndo (literalmente) com um rádio na mão, tentei pará-lo: "acho que meu avião já foi, onde troco meu bilhete?". "Senhora, aguarde aqui que eu já volto!" E nos larga no corredor recomeçando a correr não sei pra onde. Surge uma aeromoça que estava no nosso avião e ao contar-mos nossa história ela fica abismada: "não tem niguém no balcão de conexão?" Não... "...me sigam que vou tentar achar alguém". A menina que antes parecia tão frágil diz: "vem comigo, se meu avião ainda estiver aí, vc vai comigo!" Fui atrás dela. Encontramos uma moça num dos portões de um vôo para Curitiba que trocou meu bilhete e a menina foi encaixada em outro vôo diferente. O dela pra daqui alguns minutos, o meu pra, quem sabe, 17:00...

Comprei mais um monte de revistas. Vi umas carinhas conhecidas, acho que eram atores da novela Malhação da Globo, todos tensos, aliás, tensão era a palavra naquele saguão...

Encontro o meu colega do trabalho! "O que tu tá fazendo aqui ainda?!" "Perdi o avião, acho que vou em outro, por volta de 16h30"... começo a perder as esperanças. Minha mãe me liga e digo pra ela subir a serra (ela trabalha no Rio e estava preocupada em subir a serra porque o tempo não estava bom no Rio com chuva na estrada). Se eu chegar no Rio a tempo, vou pra rodoviária e pego o ônibus pra Petrópolis, do contrário fico no Rio na casa de alguma amiga ou parente.

Em outro portão escutei alguém dizer que iam cancelar o vôo em que a menina (a da mala perdida) estava, parece que iam encaixar em outro onde já estavam "encaixando" mais dois aviões recém-chegados. Uma coisa que percebi nesses "desencontros" é que podemos conseguir informações mais precisas de outros passageiros do que de funcionários das companhias, mais perdidos do que nós. Fui lá avisar o pessoal que estava no outro portão (era isso mesmo, já deviam ter ido pro ouro portão) sai todo mundo correndo e uma fila gigantesca se forma no portão onde iam "encaixar" os três aviões que chegaram, incluindo o meu! Pego o final da fila. Quando a fila já está no meio, uma voz anuncia para os passageiros (nós mesmos) se dirigirem para o portão tal, vôo tal... uma coisa assim, "muito" organizada.

Vejo o meu colega embarcar em outro junto com o Arnaldo Jabor, que bom, pelo menos eles vão pra algum lugar. A fila vai, vai, vai e, de repente.. "está lotado senhores, queiram aguardar o próximo", virou uma confusão... já estava próxima da porta, resolvi perguntar pro rapaz "espero o das 17h mesmo"? Sou empurrada por um grandalhão que diz, bufando: "deixa eu passar, esse é meu avião!" saí da frente: "calma amigo, o avião não vai sem você", ele bufa olhando pra mim com uma cara que me lembrou um desenho do Pateta (lembra do episódio do jogador de beisebol furioso?) todo mundo quer saber porque o bufador passou já que tá lotado. O rapaz explica que vai pedir pra um funcionário da empresa que ia de carona voltar porque o bufante estava "alterado"... fiquei pensando se fazia uma cara "alterada" para ele me deixar entrar também, mas pelo jeito todo mundo ia ter a mesma idéia. Deixa pra lá. Ninguém tava parecendo querer seguir os conselhos da nossa Ministra do Turismo Sexual...

Volto pro saguão de espera. Olho pra lojinha de conveniência, penso em pegar um café mas a fila lá tá maior que de avião de "encaixe". Na espera conheci a Luciana, de Niterói, estava em Sampa a trabalho. Também já aguardava há algumas horas. Sua preocupação é que a empresa havia avisado ao táxi p/esperá-la no Rio, mas ele devia ter esperado já por mais de uma hora, com certeza nao estava mais lá. Ficamos conversando, conversando, conversando, lá pelas 18h30 nos chamaram, ufa! Entramos no aviao, mais meia-hora pra receber autorização pra decolar, cerca de 20h30 estávamos no Rio procurando o táxi que, claro, já tinha ido. Eu ia pegar um frescão ate a Rodo mas a Lu me ofereceu uma carona providencial em outro táxi. Fui com ela (obrigada! sem palavras!). Compro uma passagem pro onibus das 21:30, chego em Petropolis por volta de 22h40... fiquei com a ligeira impressão de que estaria chegando agora caso tivesse ido de ônbibus. Por via das dúvidas, é de ônibus que eu volto pra Brasília na segunda. Cansativo mas pelo menos tenho a certeza de que vou chegar. Saldo da viagem: alguns reais a menos comprando revistas, cafezinho, salgadinho... talvez uma sequela psicológica. E uma certeza: não relaxei nem gozei.

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Juliana Medeiros é servidora pública e viajante nas horas vagas

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