"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Piadinha...


Cartunista: Novaes

sábado, 20 de outubro de 2007

Como endireitar um esquerdista

Reproduzo abaixo o artigo publicado hoje no Correio Braziliense. Frei Betto está cada dia melhor. É exatamente isso que ele descreve que diluiu, desagregou completamente a militância dos partidos de esquerda do país e deu certeza a uma nefasta desconfiança que havia no imaginário dos brasileiros, a de que os políticos e os partidos são todos iguais, farinhas do mesmo saco, não importa a "coloração". TODOS os partidos e agremiações políticas, sem exceção, estão repletos desses personagens. Esse artigo está perfeito. Principalmente em sua conclusão, os valores estão tão invertidos que ser reacionário está quase se tornando sinônimo de resistência revolucionária!


Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social. Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros.
Ser esquerdista — patologia diagnosticada por Lênin como “doença infantil do comunismo” — é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças...
O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito!
Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concede mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal. Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários. Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada — a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas. Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do “chato”. Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.
Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto-socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz-de-conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu...). Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, cruzei num evento com um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa “gente da periferia”. E pontificou: “Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo”. Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: “Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles.”


Frei Betto - Escritor, é autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Bolívia, Diário de Viagem III - En La Higuera

Dormimos no Hotel Teresita na praça de Vallegrande. Pela manhã bem cedo, nos encontramos com o resto da delegação no Joanita e fomos para o ônibus para tentarmos continuar rapidamente nossa viagem rumo a La Higuera. O Ato Principal na praça começará às 14h e já estamos atrasados. Chegamos já no final das manifestações e do discurso de Evo Morales. A cidade está lotada. O que não é difícil. La Higuera fica literalmente no pico de uma das mais altas montanhas da Bolívia, a quase 4000m, e é muito pequena mesmo. Cerca de 150 habitantes, umas poucas casas com chão de terra e nada mais. Na entrada da cidade, uma grande estátua de bronze do Che com uniforme militar, uma praça com um busto, uma lanchonete onde encontramos maçãs e água quente (aqui nem se sabe o que é uma geladeira), uma outra pedra com outro busto do Che e algumas inscrições. Mais à frente, no final da cidade, apenas alguns passos depois, a escolinha onde executaram el comandante que hoje é um museu com objetos que pertenceram à ele e seus companheiros. É um vilarejo muito, muito pobre. A maioria dos locais sorri para nós com bocas sem dentes e a pele marcada pelo clima andino.

Na escolinha de La Higuera, filmamos e fotografamos outra bonita manifestação. Representantes de várias entidades com suas bandeiras entoam canções de protesto. Até a Internacional Comunista foi lembrada por militantes brasileiros. Cada um recebe um pequeno saquinho de pano com a foto do Che e todos são convidados a pegarem um pouco dessa terra "sagrada" e levar para casa, como lembrança. Muitos discursos pela construção da Revolução Socialista Bolivariana são ouvidos. Esta aliás, é a palavra de ordem na América Latina agora. Simón Bolívar é o referencial dos que pretendem construir o Socialismo do Século XXI. E o povo latino está unido neste propósito. Chavez, Morales, Rafael Correa, Fidel Castro, Daniel Ortega aguardam ansiosamente o resultado das eleições no Paraguai onde o futuro presidente ex-bispo Fernando poderá se juntar a eles nesse eixo da Alba que se fortalece como uma alternativa à política norteamericana que vem engolindo a cultura latina ao longo dos tempos.

Canais de TV apenas da América Latina (excetuando o Brasil) cobrem a movimentação. Bandeiras de todas as nações são vistas pelas ruas, também nas camisetas e bonés. Da Europa, vimos turistas da Holanda e da Suíça apenas. Os pouquíssimos americanos costumam dizer por aqui que são canadenses para evitar hostilidades. O povo latino rejeita a cultura norteamericana e não se furta em demonstrar isso. Os brasileiros são vistos, aliás, como "serviçais", Lula por aqui não tem moral alguma, para a maioria ele representa alguém do povo que chegou ao poder mas depois se rendeu aos encantos do capitalismo selvagem e vendeu o Brasil à política neoliberal. O PT é visto como um partido que se preparou para o poder apenas pela via institucional e agora não sabe o que fazer pois perdeu suas bases. E, claro, ouvimos muitas piadas dos "hermanos" argentinos, especialmente relativas ao futebol.

Ao pararmos em Samaipata para almoçar, vejo um anúncio na TV de um documentário que passará a noite no Discovery Latino. Imagens do tempo em que el Che era ministro em Cuba e do famoso discurso na ONU onde ele disse que "os EUA teriam que se render ao crescimento do socialismo latinoamericano". Também vimos o anúncio da avant premier do filme "Miranda regressa" realizado pela produtora venezuelana Villa Del Cine, criada por Chavez para "competir" com a indústria hollywoodiana. O presidente do Equador, o intelectual Rafael Correa, será condecorado nesta festa de lançamento do primeiro longametragem bolivariano.

Vimos muitos estudantes com a camiseta "La hoja de coca no es droga" (a folha de coca nao é droga) num protesto silencioso contra o preconceito que prejudica a maior produção agrícola do país. Os maiores compradores da produção cocaleira são as indústrias farmacêuticas e as de refrigerantes (como a Coca-cola, claro, vc pensou que era feita de que?), os produtores que vendem ao narcotráfico ficam escondidos nas montanhas em locais de difícil acesso geralmente próximos a aeroportos clandestinos. Nesta região montanhosa não é difícil se esconder. O povo boliviano definitivamente não apóia o narcotráfico e, de certa forma, são os turistas, principalmente europeus, que alimentam esse mercado, vindo à Bolívia para comprar a "pura".

Encontramos outra senhora que conviveu com o Che na escola em La Higuera. Ela diz que na época se oferecia uma recompensa equivalente ao peso da pessoa em ouro para quem entregasse o paradeiro do combatente. Diz também que ele bebia pouco líquido para não ter que urinar. Isso ajudava a despistar os que andavam à sua procura. Hoje, diz ela, ninguém por aqui pensa mais nele, ficou no passado. Com exceção de pessoas como ela que rezam a San Ernesto para "trazer turistas à cidade e ajudar o povo daqui".

Um fato interessante do povo boliviano é que existe uma separação étnica velada. De um lado os coile, descendentes dos indígenas e campesinos que vivem em cidades como La Paz e Potosí, de outro os camba que vivem a maioria em Santa Cruz de la Sierra e descendem das raças brancas, isso segundo eles mesmos porque para nós que viemos de fora, todos tem traços indígenas. A diferença é que os camba são mais altos, têm rostos menos marcados e possuem melhor poder aquisitivo. Por uma série de questões, históricas principalmente, são financeiramente mais bem-sucedidos e chegaram a realizar uma tentativa de movimento separatista após a vitória de Evo Morales. Para eles, um presidente indígena é algo vergonhoso e que eles não engolem. Em todos os lugares em Santa Cruz - que é a Nação Camba por excelencia - onde perguntei, não há opinião formada sobre a política de Evo, apenas uma rejeição por ele ser de origem indígena. Os cruceños (povo de Santa Cruz) se enxergam como descendentes de espanhóis e não gostam dessa referência indígena. A diferença entre nós, basicamente, é que por aqui nós praticamente eliminamos as nações indígenas, lá elas sobreviveram e representam maioria, a maioria que elegeu Evo, diga-se. Nas montanhas por onde andamos agora, a maioria é de origem coile e não visita muito a cidade justamente por se sentirem discriminados.

Ao entardecer, inicamos nossa viagem de volta a Santa Cruz, onde só chegaremos por volta de 23h e de onde o pessoal que está conosco rumará quase que imediatamente para o aeroporto. Nós, da equipe de filmagem, ainda ficaremos mais um dia e vamos aproveitar para ver a exposição no museu de Santa Cruz feita por um artista boliviano (ou seria bolivariano?). O cartaz da mostra diz "Yo maté el Che" e tem vários rostos do Che em sua foto mais famosa mas com o carimbo de empresas como McDonald´s, Goodyear, Hollywood, etc no lugar dos olhos. A mostra foi recomendada pelo amigo Maurício, membro do MIR Chileno que nos contou coisas absurdas sobre a repressão que acontece no Chile da que pensávamos socialista Michele Bachelet. No Chile hoje estão proibidas quaisquer manifestações de rua, passeatas, protestos, etc. A censura é total em todos os meios de comunicação e nas universidades. Eles se preparam para disputar as próximas eleições já que até o Partido Comunista se aliou à direita lá. Pensando bem, não fizemos muito diferente no Brasil...

Nos despedimos aos poucos desta tierra boliviana, destas montanhas, da tierra sagrada onde luchou e tombou el Che, sabendo que nenhum de nós voltará o mesmo. É interessante lembrar que aprendemos na escola quem foram os presidentes americanos (lembra de roosevelt ou kennedy?) mas nunca terem nos falado de Simon Bolivar. Fomos colonizados por portugueses e nunca houve um movimento real de libertação, de independência brasileiro. Somos até hoje colonizados por culturas que não são as nossas. E ao mesmo tempo, somos babacas, arrogantes, donos da verdade. Eles, ao contrário, tiveram sucessivas batalhas para se libertar dos colonizadores. Desde as civilizações mais antigas como as incas e maias. Acho que essa é uma diferença fundamental entre nossas culturas. Isso lapidou o caráter dos povos latinoamericanos. Para o relatório da CIA o Brasil é o único país que aparece como expoente da América Latina no século XXI, porque será? Talvez porque boa parte dos que teorizam o pensamento científico, político, econômico e social de hoje sejam somente pensadores, intelectuais (ou intelectualóides?) que nunca estiveram em um front pela libertação de seu país. Temos desprezo por algo que não conhecemos. Em todos os canais brasileiros, os presidentes latinos são vistos como idiotas desequilibrados, com matérias que recebem recortes e edições favoráveis à imagem diminutiva que querem construir deles. Aqui, na Bolívia, vimos entrevistas na íntegra, sem cortes, de pessoas que para nós, nos pareceram muito lúcidas e, diferente dos políticos das terras tupiniquins, realmente comprometidas com os povos que representam. Pode-se até discutir o método, mas existe um componente de dignidade, força e respeitabilidade nestes líderes que não vejo mais em nenhum dos representantes brasileiros. Aliás, a maior pena sentida por nós foi justamente a ausência do nosso presidente nesta aliança, no abraço fraterno destes líderes latinos que se unem agora nesse eixo de força política pelo resgate da América Latina.

Juli de Souza
Encerrando o Diário de Viagem pela Bolívia
Viva La Revolucion Bolivariana
Hasta la vitória! Siempre!

Atos marcam lançamento nacional de campanha por democracia

Observatório do Direito à Comunicação

Democracia, transparência e respeito à Constituição Federal. Estas foram as principais reivindicações das diversas organizações que promoveram o lançamento nacional da Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV, que aconteceu nesta sexta-feira, 5 de outubro, em 16 capitais brasileiras.

Movimentos sociais, sindicatos, estudantes e ONGs saíram às ruas para marcar o início de uma série de ações que pretendem pressionar Governo Federal e Congresso Nacional a instituírem mecanismos de participação popular e critérios claros e transparentes para a renovação das concessões de radio e televisão.

É a primeira vez que grandes organizações como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), UNE (União Nacional dos Estudantes), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CMP (Central de Movimentos Populares), ABONG (Associação Brasileira de Ongs) e Marcha Mundial de Mulheres se unem a entidades que atuam diretamente no campo das comunicações – como o Intervozes e a Campanha pela Ética na TV - para promover o debate público sobre as concessões públicas de rádio e televisão.

Segundo as organizações, as manifestações marcam somente o início da campanha, que pretende promover uma série de iniciativas durante os próximos meses, como audiências públicas, manifestações populares e ações no campo jurídico. Com a campanha, o movimento busca discutir critérios para a outorga e a renovação das concessões e também ações contra irregularidades no cumprimento das responsabilidades pelos atuais concessionários, como excesso de publicidade, outorgas vencidas (mas ainda em funcionamento) e o controle ilegal de emissoras por parte de parlamentares. Também está na pauta de propostas do movimento o fim da renovação automática das outorgas; a instalação de uma comissão de acompanhamento das renovações composta por integrantes da sociedade civil e; a convocação imediata da Conferência Nacional de Comunicação, que dará as linhas gerais de um novo marco regulatório para as comunicações.

O movimento faz questão de deixar claro que não quer promover nenhum tipo de ‘caça às bruxas’, nem buscar aplicar sanções às emissoras que cumprem a legislação. “Os movimentos sociais não estão reivindicando nenhum tipo de censura. Queremos que se cumpram as leis do país e se construam mecanismos para avaliar se a Constituição está sendo cumprida. Isso é que é democracia. Não podemos aceitar o vale-tudo”, diz Luana Bonone, diretora de Comunicação da UNE. “Queremos que a sociedade seja a protagonista daquilo que a ela pertence. Não dá para aceitarmos que a sociedade fique refém de um sistema onde interesses que não são legítimos prevaleçam”, diz Antonio Carlos Spis, da Central Única dos Trabalhadores.

“Faltam critérios claros, baseados no interesse público, e também mecanismos que comprometam as emissoras com estes princípios”, lembra João Brant, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. Segundo ele, mesmo os poucos limites impostos pelas regulamentações atuais não são observados pelas emissoras. Um dos mais óbvios é a restrição ao tempo destinado à publicidade. A legislação permite que apenas 25% da programação seja usada para este fim. “No entanto, temos verdadeiros supermercados eletrônicos funcionando em canal aberto”, lembra Brant.

Atos pelo Brasil
Em São Paulo, cerca de 500 pessoas ocuparam o vão livre do Masp e a avenida Paulista. Com a presença lideranças de sindicatos, movimentos sociais, organizações estudantis e parlamentares como a deputada Luiza Erundina (PSB) e Ivan Valente (PSOL), a manifestação percorreu a principal avenida da cidade. Durante o trajeto, representantes da campanha protocolaram na Justiça Federal Ação Civil Publica contra três emissoras que excedem o limite de 25% de tempo dedicado à publicidade comercial em sua programação.

Em Recife (PE), outras 500 pessoas se reuniram na Praça do Derby, no centro da cidade. No local, diversos movimentos sociais protestaram contra as irregularidades nas concessões e pediram democracia e transparência no modelo de outorgas.

Em Porto Alegre (RS), mais de 250 pessoas realizaram ato em frente a sede da RBS, onde realizaram a leitura de um Contrato Popular proposto às emissoras para as concessões. O ato contou com a presença de representantes de centrais sindicais, como CUT e Conlutas, estudantes e do movimento negro.

No Rio de Janeiro, uma panfletagem no centro da cidade distribuiu o jornal Hora Inteira, com matérias sobre democratização da comunicação. O jornal é uma sátira do Meia Hora, ligado ao grupo O Dia. Houve também exibição de vídeos sobre rádios livres e sobre o monopólio das comunicações. 

Em Vitória (ES), o lançamento da campanha foi realizado na Universidade Federal do Espírito Santo. No norte do estado, na cidade de Linhares, mais de 300 pessoas marcharam até a porta da TV Gazeta (Globo) e fizeram um enterro simbólico da emissora representando a necessidade de discutir critérios para a sua renovação.

Em Belo Horizonte (MG), mais de 300 pessoas participaram de ato em frente ao Palácio do Governo, de onde partiram para a Praça Sete. 

Em Curitiba (PR), ativistas realizaram uma panfletagem na Boca Maldita ao meio dia e seguiram para o Festival de Cultura da UFPR, onde cerca de 200 pessoas receberam materiais explicativos da campanha.

Em Maceió (AL), houve manifestação no centro da cidade, com a participação de diversos movimentos sociais, sindicatos e organizações não governamentais locais.

Em São Luís (MA), representantes de diversas organizações distribuíram panfletos no centro da cidade e realizaram debate publico sobre democracia, política e mídia. 

Em Cuiabá (MT), uma panfletagem no centro da cidade e um cortejo fúnebre da revista Veja marcaram o dia.

Em Brasília (DF), as manifestações ocorreram na quinta-feira, por conta do calendário da capital federal. Cerca de 200 pessoas foram ao Ministério das Comunicações reivindicar que o órgão cumpra a lei e fiscalize as concessões de radio e TV. O movimento também foi recebido pelo presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Na capital de Santa Catarina, Florianópolis, os manifestantes entregaram nas mãos do presidente Lula uma carta reivindicando a realização da Conferência Nacional de Comunicação.

Em Salvador e Manaus também aconteceram atos de lançamento da campanha.

Quebrada Del Churo

Entrevistando D. Crescencia.
Foto: Sérgio Alberto

Igreja de Vallegrande


Igreja construída ao redor das lápides, no aeroporto de Vallegrande, local onde encontraram os corpos do Che e alguns companheiros combatentes.

Foto: Miguel Bento

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Bolivia, Diario de Viagem II - En la tierra onde tombou el comandante

Estamos seguindo por esta estrada empoeirada num calor absurdo pelas montanhas da Bolivia. No caminho podemos ver que o país ainda é muito pobre. Pequenas casas feitas de adobe aparecem vez ou outra na paisagem que lembra um pouco o cerrado mas bem mais árida, com cactos e uma vegetaçao rasteira cheia de grandes espinhos. Os animais parecem até gordinhos mas nao se vê água de forma alguma. Muitas e muitas montanhas e nenhum córrego, cachoeira ou rio. Éste, aliás foi um dos motivos da queda do Che. Quando o exército boliviano o encontrou, ele e seus companheiros estavam debilitados pela falta de água e comida. Mas a paisagem ainda assim é exuberante. Vamos conversando, rindo muito, todos animados nesta viagem a 3600m acima do nível do mar. Alguns mascam folhas de coca para aguentar a pressao e tivemos uma pequena parada porque um dos meninos cantores da familia gaucha "Guedes" se sentiu mal. Nada serio. Muitas curvas fechadas, solavancos, algumas cholas (índias da regiao) no caminho com seus pequenos bebes enrolados em mantas coloridas nas costas.

Uma parada na Quebrada del Churro para o depoimento de D. Crescencia que vive nas terras onde capturaram o Che. Ela conta que tinha 18 anos na epoca e que levava escondida comida para eles a pedido de sua mae. El Che era um homem alto que sorria pouco e estava naquele momento sofrendo com constantes crises de asma. Ao ser baleado, caminhou ate Vallegrande, cerca de 6km estrada acima com a ajuda dos companheiros sobreviventes e de alguns militares. Estava sujo, maltrapilho e com muitas feridas. Ela diz que acredita que ele seja um santo e que reza sempre para San Ernesto.

Depois de cerca de quatro horas vimos ao longe e acima alguns telhados que aos poucos vao se desenhando. Vallegrande começa a surgir na paisagem quando parecia que nao chegaríamos mais. Uma pequena cidade que poderia ser confundida com qualquer outra do interior do Brasil com arquitetura colonial com influências espanholas e um pouco de barroco, pequenas casas, uma praça central e uma grande igreja. Muitos estudantes, viajantes, hippies, apenas por um detalhe podemos ver que nao estamos no Brasil: o sotaque dos que passam por nós. Chilenos, peruanos, argentinos, uruguaios, com exceçao dos companheiros da delegaçao ainda nao encontrei nenhum brasileiro nesta viagem. E isto porque me disseram que Santa Cruz era o lugar na Bolivia onde mais se concentram brasileiros, em especial os que vao para estudar medicina em sua universidade mais famosa. Fico pensando no porque de nao visitarmos nossos hermanos e preferirmos tanto, com nosso gosto pequeno burguês, a Europa ou os Estados Unidos. À parte minhas convicçoes ideológicas que de fato me fazem me emocionar mais por estar aqui, posso dizer com segurança que a Bolívia é um país que todos nós devíamos visitar. Além de muito bonito, incluindo seu povo que tem no rosto o traço inconfundível da herança indígena, é um lugar extremamente acolhedor onde as pessoas sorriem para vc o tempo todo e onde nao se escutam palavroes ou xingamentos. Sim, leitores, o povo boliviano é extremamente educado. Algumas coisas sao estranhas para nós como o fato de nao se exigir muito carteira de motorista e vermos tantos adolescentes dirigindo caminhonetes, o carro que mais vimos aqui, principalmente os de origem japonesa e chinesa. Mas as pessoas sao mesmo muito educadas, falam baixo, nao usam em nenhum momento o que eles chamam de grosserias. Nossa amiga e guia Yaqueline nos conta que o unico xingamento que se usa aqui, e mesmo assim so em casos extremissimos, e culumin que quer dizer que "sua mae traiu seu pai" e que eles consideram como muito feio.

Mas voltando à estrada, entrando agora em Vallegrande, deixamos nossas malas no Hotel Joanita e voltamos todos correndo para o ônibus para aproveitar a luz (conosco viaja também um jornalista da Tv Paraná e um cinegrafista) e nos dirigimos para o aeroporto, onde foram encontrados depois de 30 anos os restos do Che e alguns companheiros combatentes.

Salvo engano, acho que este foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Ao entrarmos naquela igreja, construída ao redor das lápides em homenagem aos combatentes, pude sentir a energia que existe na crença de cada peregrino como nós que ali esteve. Foi como se pudéssemos sentir a presença dos combatentes e de cada pessoa que por ali passou após todos esses anos e até hoje. Inexplicável.

Nossos queridos companheiros fizeram um ato ecumênico em homenagem ao Che. Cada representante, Dom Tomaz Balduíno, o monge beneditino Marcelo Barros, o Bispo anglicano Almir Silva e o Monge Jo Shin disseram uma oraçao ou proferiram palvras de reflexao sobre a importancia de se estar ali de se continuar acreditando que e possivel reduzir as desigualdades, de que e preciso lutar por uma America Latina livre. Fizemos uma oraçao coletiva, tocamos a terra, nos abraçamos. Marcial, do assentamento modelo do MST, cantou em castelhano um trecho de uma musica que fala no guerrilheiro combatente Che. Foi especial mesmo. E enquanto isso, corriamos tambem para filmar tudo, captar cada cena. Conseguimos depoimentos de alguns na area externa da igreja. O enfoque foi a mistica espiritual que existe na memoria do Che.

Seguimos viagem nos despedindo desse lugar magico em direçao ao Hospital onde, na lavanderia, lavaram o corpo do heroi e cortaram suas maos para que sua digitais fossem examinadas pela CIA e a partir dai se tivesse certeza de que o Che estava morto. Tambem ali um momento de silencio, a lavanderia agora desativada tem em suas paredes as inscricoes de milhares de pessoas de varias partes do mundo. Em diversos idiomas pudemos ler e fotografar mensagens de devoçao e palavras de ordem. O lugar é frio e tem um aspecto macabro, triste. Paira no ar um cheiro velho, de um tempo que ficou pra tras. Muitas velas, flores. O governador Capiberibe nos deu um depoimento emocionado. Ele e sua Janete estiveram na Bolivia ha muitos anos quando fugiram do Brasil, depois de presos e torturados, em um caminhao de carga pelas mesmas estradas perigosas que percorremos agora. Ele explica o porque de ter feito naquele momento sua opçcao pela luta armada e ela se diz realizada por saber que sobreviveram e se multiplicaram. Seus filhos seguem hoje seus passos.

Voltamos ao Hotel para descansar um pouco, comermos e andar um pouco pela praça, vamos visitar a Fundaçao Che Guevara e a Casa de Cultura. Muitos mochileiros, ambulantes, criancas... e a vida que segue. Amanha seguimos para La Higuera, onde mataram El Che. Volto a escrever depois.

Juli de Souza
Vallegrande - La Higuera - La Ruta del Che
E nao conseguiram calar nossa voz.
Hasta la revolucion. Siempre.

P.S.: em breve postarei as fotos da viagem. Aqui na Bolivia a internet é um pouco precária, apesar de relativamente barata.

Oração para lembrar os guerreiros

Oração ecumênica ao redor das lápides dos companheiros combatentes tombados na Bolívia. Momento emocionante com pessoas que respeito e admiro.
Em sentido horário: eu, de costas, de mochila e chapéu, Marcial (MST), Daniela (Fundação Che Guevara), Lúcia (MST), Família Guedes (músicos gaúchos), Acilino Ribeiro (diretor do filme Aleluia Che), Bispo Almir (Igreja Anglicana), Gov. Capiberibe, Monge Beneditino Marcelo Barros, Monge Jo Shin, Dom Tomaz Balduíno, Stédile (MST), Dep. Janete Capiberibe e Chico Batera.
Foto: Sérgio Alberto

Bandeira do MST ao lado do Che


Foto: Sérgio Alberto

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Bolívia, Diário de Viagem - Yo creo en signos (em espanhol: eu acredito em sinais)

Estou viajando rumo a Vallegrande, município de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, em um microônibus cheio de representantes do MR-8 (antigo), do MST, da ALN, do PT, do PSB do PCdoB, de movimentos sociais diversos, de correntes religiosas diversas, além é claro da nossa equipe. Posso dizer que estou entre amigos. Mas, a pessoa mais importante que encontrei nesse lugar, foi eu mesma há 15 anos atrás. E eu estou muito feliz com esse "reencontro".

Bom, melhor começar do início... Há cerca de um mês fui convidada por um amigo e ex-companheiro de partido, Acilino Ribeiro, a trabalhar na produçao de um documentário sobre Che Guevara. Topei na hora, claro. Além de mim, dois outros amigos entraram na produçao: o Sérgio (direçao de fotografia) e o Miguel (fotógrafo e produtor). Mergulhamos na literatura disponível, analisamos as quase 40h de imagens que ele acumulou em anos de pesquisa, o material fornecido pela famìlia do Che, enviamos mais de 50 ofícios e fizemos um sem número de reunioes com possiveis patrocinadores. O problema é que o tempo que tivemos para nos planejar para esta viagem foi quse nenhum já que exatamente hoje, 08 de outubro de 2007, se realizaria em Cuba e na Bolivia, as homenagens aos 40 anos da morte do Che. Ou seja, tínhamos que estar lá (ou melhor aqui) de qualquer jeito. Corre-corre geral para conseguir um apoio mirrado e muitas promessas. Mas, como nesse caso nao tínhamos escolha, viemos com a cara, a coragem e apenas a grana das passagens. Existia, claro, a perspectiva de que sendo a Bolívia um país relativamente barato para alguns dias (cerca de U$ 20/dia pra quem encara o mochilao), reservamos alguns trocados para despesas "menos importantes" como hospedagem e alimentaçao e.. estamos aqui!

Agora, essa é a parte boa porque a parte que deu errado... aff... chegamos a pensar que uma grande "uruca" tinha pousado de vez sobre nós, ou seria a "maldiçao dos inimigos do Che"? Como tínhamos certeza de que éramos todos admiradores dele entao, realmente chegamos a pensar que alguém nao queria que chegassemos... Nao vou entrar em detalhes porq nao vale a pena, até porq agora está tudo bem. Mas imaginem que além de todos os percalços para conseguir apoio financeiro e logístico para o filme, ainda enfrentamos 12h de viagem para entrar na Bolívia. Como assim? Brasília - Santa Cruz com escala dura no máximo oito horas! O que aconteceu foi que na hora do embarque, ou como diz meu amigo Trappa, na cara do gol, nos barraram por estarmos com 9 dias de vacina contra febre amarela quando deveríamos ter 10. E nao teve jeito, tivemos que trocar as passagens (o que conseguimos depois de brigar por cerca de 4 horas com diversos funcionários da Gol que simplesmente nos disseram que perderíamos as passagens pagas à vista). Só que apenas haviam passagens para a outra semana e tinhamos q estar na Bolivia em no máximo 2 dias!... Resumo: trocamos por passagens para Cuiabá na intençao de fazer o resto do trajeto de ônibus, a partir de Cárceres, mas quando chegamos lá nao dava p/passar na fronteira e tivemos que voltar, pegar um aviao para Campo Grande e dali para Santa Cruz. Encontramos no ônibus de Cárceres um jornalista brasileiro que vive em Londres e que, vendo como estávamos um pouco "perdidos" nos deu... um guia da América Latina! Ele achou incrível estarmos sem um guia... nós também! Com tanto planejamento ninguém pensou no óbvio ululante...

Nesse meio tempo quebramos o pau algumas vezes, ficamos de molho em quatro aeroportos, teve gente que pensou em desistir e voltar para casa e ficamos todos exaustos. Eu, como tenho aquele componente psicológico obsessivo e nao desisto nunca, ficava só no "discurso de resistencia" e conseguia com jeitinho convencer a galera a continuar. Vamos pensar numa alternativa! E agora em outra! E podemos achar uma soluçao (de novo)!... Claro que meus companheiros de viagem também foram todos, cada um à sua hora, providenciais. Todo mundo em algum momento "salvou" a viagem de alguma forma. Mas acho que o mais complicado foi lidar com o péssimo atendimento da Gol, com raríssimas exceçoes. Tao raras que acho até que vale citar pelo mérito: a gerente Raquel que estava no plantao da última sexta-feira em Brasília, dois rapazes do check-in em Campo Grande quando embarcávamos para a Bolívia e só. Acreditem, foram os únicos. Aliás, entre todos os brasileiros que encontrei na Bolívia, nao faltam piadas sobre o atendimento cada vez mais decadente da companhia aérea "dos Constantino". Foi tao desgastante esse processo, que quando chegamos na Bolivia só pensávamos que estávamos entrando no país às 3 da manha (claro que o vôo atrasou) e ainda tinhamos que procurar um hotel. Foi aí que tudo mudou (incluindo nossa sorte). Descobrimos o porque de termos dado tantas voltas...

Encontramos o Stédile no mesmo aviao e o Acilino foi por muitos anos advogado do MST lá no Piauí, ou seja, eles ja se conheciam. Daí que o Stedile estava com a delegaçao que falei no início desse texto. Todos convidados pela Fundaçao Che Guevara para participar das homenagens e foi nesse ônibus que entramos - acolhidos calorosamente por todos que la estavam -, fomos para o mesmo hotel e estamos com eles até hoje. Detalhe: alguns, como o monge Marcelo Barros, eram pessoas com quem eu já tinha trabalhado há muitos anos quando diagramava o Boletim da Rede em Petrópolis. Pessoas ligadas aos articulistas daquela época, das mesmas entidades estao agora nesse momento viajando comigo para essa excursao por um pedaço da historia da América Latina. Me vi entrando num ônibus em Petrópolis, numa noite chuvosa (sem avisar minha mae) descendo sozinha para o Rio de Janeiro para assistir ao Jose Rainha receber a medalha da Câmara Legislativa. Me vi fazendo o mesmo outra noite, com apenas uma mochila e um punhado de cópias de um texto do Guilherme Delgado (IPEA) contra a venda da Vale e entrando no meio da multidao que protestava na mesma praça da Camara Legislativa e sentidndo pela primeira (e ate agora unica) vez o gosto amargo do gás lacrimogeneo.

Sei que mantive meus ideais (e minha militância) ao longo desses anos. Mas acho que em alguns momentos esqueci dessa "outra" pessoa. Especialmente quando encontrei pelo caminho companheiros que trocaram sua militancia e sua historia por alguns trocados ou benesses do poder. Hoje, sentada no fundo desse ônibus e olhando as cabeças brancas a minha frente fico pensando que além de sobreviventes, eles nao desistiram e se mantiveram coerentes com suas historias, como Dom Tomaz Balduíno do alto dos seus 84 anos nesta viagem com pouquissimo conforto para chegar ao ato de homenagem ao Che, como o casal Capiberibe injustiçados mas firmes nos seus ideais revolucionarios, como o Monge Jo Shin que apóia a resistencia pacífica no Tibet... e todos os outros. Vi o Acilino encontrando ali com velhos companheiros de luta e combate de uma epoca que deixou poucas lembranças mas deixou sementes. Olhei para o Trappa e o Miguel e concordamos: estamos no lugar certo e na hora certa. E se tínhamos alguma dúvida do que estávamos fazendo, agora nao resta mais nenhuma.

Volto com a descriçao da viagem, do culto ecumenico realizado no local onde enterraram Che e outros boletins emocionantes desta viagem que só está começando. E, claro, fotos. Muitas fotos. A única coisa que tenho a lamentar agora é nao ter me empenhado em aprender castelhano tanto quanto o inglês. 

Juli de Souza
Vallegrande - Bolívia
Nos 40 anos da queda em combate do guerrilheiro heróico Che Guevara.

P.S.: companheiro Homero, essa é p/vc.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Ouça a defesa de Roberto Freire

Julgamento no STF continua nesta quinta: Ouça sustentação oral de Freire

Continua nesta quinta-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), o julgamento dos mandados de segurança do PPS, DEM e PSDB que pedem a perda de mandatos dos deputados federais que deixaram as legendas para ingressar em partidos da base aliada, com a imediata convocação dos suplentes de cada partido. A corte já acolheu a admissibilidade dos mandados e passará a julgar o mérito da questão.
O presidente do PPS, Roberto Freire, defendeu, nesta quarta-feira, os interesses do partido durante sustentação oral no plenário do tribunal, fato inédito em julgamentos no STF. Na história recente do país, nunca um presidente de legenda tomou a frente da defesa de seu próprio partido na tribuna da mais alta corte do país.

Fidelidade Partidária: para que e porquê?

Disponibilizo aqui uma análise desta notícia. O texto é do Prof. Carlos Hugo Santander* (especial para o Diário do Congresso http://www.diariodocongresso.com.br/), Dr. pela UnB em Estudos Comparados e Prof. de Direitos Humanos no curso de Mestrado em Ciência Política do Unieuro.
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A decisão do STF sobre o mandato de segurança deve se converter em uma decisão histórica na política do Brasil. O otimismo de alguns se baseia na decisão interposta pelo então PFL, hoje DEM, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que por seis votos a um, decidiu que o parlamentar que trocar de partido depois da eleição pode perder o mandato.

Antes disso é pertinente responder: Por que os parlamentares trocam de partido? É óbvio: pelas vantagens que obtêm do governo na perspectiva de se elegerem nas eleições futuras. Mas a questão é, por que são recrutados esses parlamentares nesses partidos antes das eleições? São recrutados em função do interesse do próprio partido que, em vista da ausência de bases ideológicas ou programáticas, não consegue a coesão dos parlamentares, até por que a eleição para muitos parlamentares é um investimento de interesse para o partido e para o próprio candidato. Além do que os partidos políticos são estimulados a funcionar assim pelo sistema eleitoral, pois o custo de uma campanha é altíssimo. Assim, as eleições internas nas convenções partidárias terminam sendo um teatro de mamulengo onde a ratificação se impõe a favor daqueles investidores que entendem que a política é um mercado, daí a precariedade dos partidos.

É claro que a infidelidade partidária é questionável, não só desde o ponto de vista ético, pela erosão que sofrem as instituições democráticas representativas, como pela natureza das trocas de recursos por apoio político ao governo. Os parlamentares trocam apoio político por cargos púbicos ou outros recursos. E é público que o governo para poder governar deve construir maioria no Legislativo por meio da provisão desses recursos burocráticos aos parlamentares, sejam estes legais ou ilegais. Ou seja, a “república” a serviço do projeto de poder pessoal de alguém ou de um grupo partidário.

Clientelismo – O dilema se o mandato do parlamentar pertence ou não ao cidadão, ou se pertence ao partido, domina o debate. Ao contrário, o parlamentar quando candidato atende à população com critérios clientelistas se “apropriando” dos votos dos eleitores. Ou pior ainda, o fato ocorre num contexto onde a maioria dos eleitores nem lembram em qual candidato votou. Os partidos, por outro lado, reivindicam para si o controle sobre o parlamentar quando em uma votação como a da prorrogação da CPMF já que, para enfraquecer o governo, hoje combatem a proposta, quando antes eram a favor.

Não obstante, a questão do STF deve ir além de nossos próprios desejos. Se a Corte Suprema declarar a perda do mandato dos deputados federais eleitos pelo PPS, PSDB e do DEM poderá confrontar a própria Constituição, da qual é guardiã. Isso porque ela define claramente (art. 55) em que casos os senadores ou deputados devem perder o mandato, e quando infringirem os artigos (art. 53 e 54). Só que a infidelidade partidária não está prevista nesses artigos. Depois porque contraria o próprio espírito da Constituição, que declara que os representantes não estão sujeitos a mandato imperativo, ou seja, imediatamente depois de eleitos, seus mandatos são invioláveis civil e penalmente por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (EC nº 35/2001).

Ao mesmo tempo, se o STF negar o pedido demandado pelo DEM (ex-PFL) o país não conseguirá modificar o que os próprios parlamentares não querem no fundo reformar – incluindo os próprios demandantes. Ou ainda, se “houver” interesse – o que realmente não existe – de modificar os meios pelos qual se faz política no Brasil, seria necessário democratizar os partidos, definir se a lista será fechada ou aberta, o financiamento de campanhas, o poder dos parlamentares de efetuar emendas ao orçamento da República, entre outros, obviamente que a fidelidade partidária teria um outro impacto. Mas parte dos próprios membros do PSDB e outros do DEM não querem nem uma coisa e nem a outra.

Governabilidade em risco – É preciso reconhecer que a infidelidade partidária, gostem ou não, serve e serviu para montar maiorias nos diversos governos pós transição, passando pelo governo de Fernando Henrique Cardoso como do atual governo. No país, de acordo com o sistema eleitoral, é impossível converter maiorias em razão da natureza do sistema eleitoral que centra a disputa nas pessoas e não nos partidos e nem nos programas. Então, não considerar este contexto político – e não jurídico – implicará um sério problema de governabilidade para o país, pois tornará rígida a viabilidade das votações no Congresso e a previsibilidade da ação do governo, o que será de provável conflito. Então, o mandato de segurança tem outro sentido. Seria ingênuo acreditar que significa a recuperação da função parlamentar ou o aperfeiçoamento do estado de Direito, quando o objetivo real é atingir indiretamente o governo.

Acreditamos que a decisão do STF deverá ser salomônica, e a regulamentação da fidelidade partidária deverá valer para as próximas eleições. Isto é na verdade um retalho da reforma política que deixa nus os próprios parlamentares, já que os interessados jamais se auto-reformaram por que as “virtudes” dos vícios nos procedimentos eleitorais é o berço de sua própria reprodução como classe política.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

UM NOVO HINO PARA NOSSOS FILHOS

Só ouviram em Brasília as frases tácitas
De um povo conformado irretumbante,
E o sol da impunidade, em solos lúbrigos,
Brilhou no céu da Pátria estagnante.
Se o penhor da desigualdade
Consentimos assistir com ócio forte,
Em teu seio, a impunidade,
Desafia o nosso peito à própria sorte!
Ó Pátria desamada,Idiotizada,Salve! Salve!
Brasil, um pesadelo intenso, um raio vívido
De desamor e de desesperança à terra desce,
Se em teu formoso céu risonho e límpido,
A impunidade no Congresso resplandece.
Berrante é a nossa impotência,
De inércia forte, pávido colosso,
E o teu futuro espelha só pobreza
Terra manipulada,
Entre outras milÉs tu, Brasil.
Ó Pátria roubada!
Dos corruptos deste solo és mãe gentil,
Pátria desamada,Brasil!
Dormindo eternamente de modo esplêndido
Ao som da mídia paga por um véu profundo,
Ofuscas, ó Brasil, florão da América,
Observado ao sol de todo Mundo!
Nesta terra tanta intriga
Teus risonhos, lindos campos têm poucos donos,
"Nossos governantes têm mais vida"
"Nossa vida", no teu seio, "mais credores"
Ó Pátria desamada,Idiotizada,Salve! Salve!
Brasil, da impunidade seja símbolo
As falcatruas que comete o teu senado,
E diga o corporativismo desta trama
- Paz no futuro sem mandatos cassados.
E, se erguem da injustiça a clava forte,
Verás que os filhos teus fogem da luta
E temem quem os rouba até a morte,
Terra idiotizada
Entre outras mil,És tu Brasil,Pátria manipulada!
Dos corruptos deste solo és mãe gentil,
Pátria desamada,Brasil!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira
http://historiasparacuidardoser.blogspot.com/2007/09/novo-hino-nacional-brasileiro.html

Frase da semana


"Vencemos, estou sofrendo
muito, mas em paz"

Senador Renan Calheiros, após o resultado da votação
no telefone com a esposa.

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