"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
Mostrando postagens com marcador Dilma Roussef. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dilma Roussef. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Por que voto em Dilma - por João Brant

Compartilho aqui no blog, uma excelente análise do João Brant (publicada no Facebook) e que vai de encontro aos mesmos argumentos que tenho para votar em Dilma Roussef novamente. Obrigada João, por nos ajudar a organizar as ideias! ;)

PS: grifos meus.

--------------------------------------------------

Por que voto em Dilma (post longo, advirto)

Eu teria muitos motivos para não votar em Dilma: seu governo é mais conservador do que eu gostaria, houve poucas tentativas articuladas para mudar a cultura política do país e sua interlocução com a sociedade é muito limitadaNo meu tema histórico de atuação, a comunicação, permaneceu tudo como dantes, sem nenhum esforço real para incidir sobre um sistema de mídia concentrado e conservador. Na cultura, houve retrocessos notáveis em relação ao governo Lula.

Mas a realidade é mais complexa. É preciso lembrar onde estávamos em 2002 e o que significou o ciclo inaugurado em 2003. O Brasil abandonou a rota neoliberal e reorganizou seu rumo na economia e no campo social para buscar diminuir a miséria e a pobreza no país. Fez isso, é verdade, sem romper com o capital financeiro e sem aprofundar processos de mudanças estruturais necessários para avançar mais. Mas não há dúvidas de que PT e PSDB fizeram opções muito distintas, que colocaram o Brasil em rumos opostos nos governos Lula e FHC.

O governo Dilma manteve as bases do governo Lula. No essencial, naquilo que tem capacidade de influir em escala na vida dos trabalhadores, houve poucas mudanças significativas. A conjuntura internacional mudou, e o governo teve méritos e deméritos no processo de adaptação. Conseguiu retardar e mitigar os efeitos da crise de 2008, mas seguiu apostando numa política de exportação de commodities que, aliada à falta de uma política industrial, tem efeitos negativos para o país em médio e longo prazo. De toda forma, diminuímos a desigualdade, mantivemos o desemprego em níveis bem baixos e 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema.

Explico porque, pra mim, Marina Silva e Luciana Genro não são opções. Em relação à Marina, vejo três problemas centrais. O primeiro é que ela opta por um programa econômico claramente liberal, vinculado à agenda do setor financeiro, que aponta na direção contrária do caminho de enfrentamento às desigualdades que tortuosamente estamos seguindo. Essa opção é estrutural, e com ela vêm todo um pacote cujos efeitos são sentidos diretamente pelos trabalhadores. Não que o programa de Dilma não assuma parte da agenda liberal, mas é só ver a resistência do setor financeiro à sua candidatura para ver que ela contraria interesses poderosos. Além disso, essa opção de Marina tende a neutralizar a oportunidade real de avanços que dependem de outra estrutura econômica. Seu programa tem vários pontos progressistas, alguns mais do que os do programa de Dilma, mas o papel aceita qualquer combinação. No mundo real, não vejo condições de a maior parte da agenda progressista ser mantida com essas bases.

O segundo problema é que a maneira como ela monta o discurso de mudanças na política é ilusória e, a meu ver, despolitizante. Ao dizer que vai governar com os melhores do PSDB e os melhores do PT, ela propõe ao Brasil ignorar que estes são dois projetos opostos para o Brasil, inconciliáveis se mantidas suas características essenciais. Ao mesmo tempo, ao se fixar no bordão da ‘nova política’, Marina transforma as necessárias mudanças na cultura política em um ato de vontade, que pula toda a parte de dar respostas concretas a problemas duros e reais. Não gosto da lógica de governabilidade assumida pelo PT e não acho que ela seja a única maneira de se governar, mas acho que sua superação só pode acontecer em um processo complexo de enfrentamento a essa lógica, que depende de uma articulação social potente. Que nova política é essa a que só teremos acesso depois das eleições? Por que ela depende de se estar no governo para ser praticada? Como acreditar em uma nova política que é mais personalista (baseia-se em quadros) e individualista e menos coletiva? No que Heraclito Fortes, Bornhausen e Roberto Freire se diferenciam de Renan, Maluf e Crivella?

O terceiro problema é o mais explorado nas redes, e tem a ver com um conservadorismo comportamental da candidata. Confesso que esse ponto nem é pra mim o principal, não porque não o considere importante, mas porque não me parece que Dilma e seu governo tenham feito (ou farão) avançar essa agenda de qualquer forma. São necessários casos emblemáticos e comoções gerais com muita luta social para que haja qualquer chance de mudança.

Mas frente a esse cenário por que não votar no PSOL? A opção feita pelo PSOL nos seus 10 anos de existência foi se fixar como um partido que não busca dialogar com um número significativo de brasileiros. Faz um discurso voltado para o eleitorado de extrema esquerda, que não alcança 2% da população, e não se propõe a construir um discurso e um programa que o aproxime das massas. Enquanto parte do petismo exagera na interpretação sobre a correlação de forças, o PSOL parece ignorar esta avaliação.

É preciso compreender como pensa o país. Mesmo sendo considerado um moderado por alguns amigos, eu estou provavelmente nos 2% mais à esquerda do Brasil. Não por ser extremamente radical, mas porque o povo, mesmo com valores de esquerda, é moderado. Essa opção de enclausuramento do partido é aceitável na atuação parlamentar, onde em geral o partido vai bem e cumpre um papel fundamental (vide Ivan Valente e Jean Wyllis), mas é insustentável no âmbito da disputa pelo Poder Executivo.

Ajuda a explicar a situação o fato de parte significativa do PSOL entender que o principal adversário a ser combatido é o PT. Psicanaliticamente dá pra aceitar, politicamente não. 

Frente a esse quadro, acho que a opção por Dilma significa uma opção viável pelos mais pobres. Significa também ir por um caminho em que algumas mudanças estruturais podem vir a ser disputadas (embora o governo tenha se fixado em bases nas quais há pouco espaço para elas). E significa deixar longe do governo o PSDB, que representa a agenda orgânica do setor financeiro. Parecem-me motivos suficientes.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Venezuela se torna membro pleno do Mercosul

Do portal OperaMundi:

A Venezuela já faz parte do Mercosul. Os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, da Argentina, Cristinha Kirchner, e do Uruguai, José Mujica, oficializaram a inclusão do país ao bloco regional na tarde desta terça-feira (31/07), em cerimônia realizada em Brasília.


Dilma Rousseff, Hugo Chávez, Cristina Kirchner e José Mujica formalizam a incorporação da Venezuela no Mercosul
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, agradeceu aos pares sul-americanos e ressaltou que o evento, histórico, se assemelha à primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Brasil. "Sinto que o evento de hoje, a entrada da Venezuela no Mercosul, tem alguma semelhança com o dia em que este povo querido do Brasil elegeu como seu presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O povo do Brasil elegeu o Lula, e começou a mudar sua história", disse Chávez.

De acordo com o presidente venezuelano, "há tempos a Venezuela devia ter entrado" no Mercosul. "Isso coincide com um novo ciclo político, constitucional que se iniciará em breve na Venezuela. Nada mais oportuno para isto que o evento de hoje, que é, sem dúvida, do interesse nacional de todos os países do Mercosul", declarou.

Chávez também exaltou a democracia na Venezuela, que realiza em outubro próximo eleições presidenciais, nas quais o presidente tentará um outro mandato. "A Venezuela hoje, apesar de seguirem nos taxando de ditadura, tem um processo democrático que amadureceu bastante", disse. "É positivo o ingresso da Venezuela no Mercosul(...) Começamos a nos situar na nossa exata dimensão geopolítica".


Dilma Rousseff, que falou na cerimônia antes de Chávez, afirmou que "o Mercosul consolida-se como potência energética e potência alimentar global", e que a incorporação da Venezuela "amplia as potencialidades do bloco". A presidente argentina também criticou o golpe de Estado contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, há cerca de um mês. Segundo Dilma, os países que integram o bloco "têm um compromisso inequívoco com a democracia" e agem de forma coordenada. "Nossa perspectiva é que o Paraguai normalize sua situação."

O Paraguai foi expulso do Mercosul após desrespeitar a cláusula democrática que rege o bloco. A decisão de incluir a Venezuela na união aduaneira aconteceu na última cúpula do Mercosul, em Mendoza, Argentina, em reunião de nível presidencial.

Antes da reunião, os chanceleres de Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela acertaram os termos para adesão do país de Chávez ao bloco. Dentre as ações mais importantes estão a fixação de Tarifa Externa Comum e a eliminação de tributos de importação entre os demais membros plenos do bloco.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

E falando em Comissão da Verdade....

Já que estamos em meio aos trabalhos da Comissão da Verdade, dois vídeos que falam por si..... 


"Não há espaço para nenhuma verdade na ditadura, porque não há espaço para a vida. Até as mais banais podem conduzir à morte" - Dilma Roussef humilhando, com a verdade, representantes da ditadura militar e torturadores.




... e para não dizer que não falei das flores, com vocês, Geraldo Vandré e alguns personagens dessa história.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Discurso de Dilma Roussef na cerimônia de instalação da Comissão da Verdade

"Ulisses Guimarães disse uma vez que 'a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem'. A verdade de fato não morre por ter sido escondida. A verdade é só e sobretudo o contrário do esquecimento" - Dilma Roussef, presidenta do Brasil na instalação da Comissão da Verdade. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Brasil afasta-se dos Brics e vota contra a Síria na ONU


Às vésperas do carnaval, a representante do Brasil na ONU votou resolução de condenação ao governo sírio, afastando-se dos BRICS, dos países da ALBA , emitindo contraditória e perigosa mensagem de aproximação com as potências que sustentam intervencionismo militar crescente em escala internacional.

Às vésperas do carnaval, a representante do Brasil na ONU votou resolução de condenação ao governo sírio, afastando-se dos BRICS, dos países da ALBA , emitindo contraditória e perigosa mensagem de aproximação com as potências que sustentam intervencionismo militar crescente em escala internacional, especialmente contra países com políticas independentes e emergentes. Um voto que pode ser um tiro no próprio pé futuramente.

O Brasil ficou ao lado dos EUA, Inglaterra, França, Canadá, Espanha, Austrália, Alemanha, que deram sustentação à agressão ao Iraque, ao Afeganistão e , mais recentemente, à Líbia. Contra esta resolução que tendenciosamente condena e responsabiliza apenas o governo da Síria pela escalada de violência generalizada que atinge o país - na qual há farta evidência de ingerência estrangeira - estão a Rússia, China, Índia, África do Sul, países do grupo Brics - do qual o Brasil faz parte - e nove países da Alba, além do Irã, da Argélia, do Líbano, da Coréia do Norte. Este grupo reivindica que a solução da crise síria deve ser exclusiva dos sírios, que escolherão, nos próximos dias, pelo voto popular direto, um novo modelo de Constituição.

A votação na ONU ocorre em meio a pressões das grandes potências de realizarem uma ação de armar a oposição síria. A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Victória Nulandi declarou a insatisfação de seu país diante do veto da Rússia e da China a uma intervenção militar internacional aos moldes da Fórmula Líbia. Ela afirmou, entretanto, que seu país não descarta o fornecimento de armas ao autodenominado Exército Livre da Síria, que, conforme demonstra abundante informação, conta com armamentos, apóio logístico, de comunicações, recursos financeiros e a presença de mercenários que atuaram e atuam na Líbia, com apoio dos principais aliados norte-americanos na região, especialmente da Arábia Saudita e do Qatar.

O papel intervencionista da TV Al-Jazeera

A participação da oligarquia do Qatar no conflito sírio inclui a sistemática falsificação midiática da situação síria por parte da TV Al-Jazeera, emissora que foi fundamental também na sustentação midiática da invasão neocolonial à Líbia, com sofisticada over dose de desinformação, reproduzida ad nauseun por toda a mídia comercial internacional como única fonte informativa, questionada apenas pela Telesur que informava sobre o monumental massacre promovido pela Otan. Aliás, completamente confirmado. A TV Al-Jazeera é uma emissora capturada e plenamente a serviço da oligarquia petroleira internacional e nem mesmo o elogio de certas vozes da esquerda guiada pela Otan ou de ongs internacionais metidas no movimento de democratização da mídia, podem mais evitar esta constatação. O Qatar é um enclave oligárquico onde tem sede uma das mais importantes bases militares dos EUA na região.

Estaria o Itamaraty entrando em algum desconhecido estado de hipnose para não prestar a devida atenção ao público e assumido propósito intervencionista das grandes potências ocidentais na Síria, como revelam as declarações da porta-voz do Departamento de Estado? Em entrevista recente à BBC, o Ministro de Relações Exteriores da Inglaterra, Willian Hauge, disse estar preocupado com uma guerra civil na Síria, mas, confessando o sentido e a sinceridade de sua preocupação, afirmou, na mesma entrevista: “Como todos viram, não conseguimos aprovar uma resolução no Conselho de Segurança por causa da oposição da China e da Rússia. Não podemos intervir como fizemos na Líbia, mas podemos fazer muitas coisas”. Declarações semelhantes, anunciando a disposição para apoio militar à oposição no conflito foi dada pelo Chanceler da Holanda, Uri Rosenthal. Com o emblemático silêncio do Itamaraty. Pior ainda, com a adesão do Brasil à resolução patrocinada por este grupo de países historicamente marcados pelo intervencionismo colonial.

Autorização para a matança

Sinais de que algo está se movendo negativamente no Itamaraty de Dilma Roussef surgiram quando, logo no início de seu governo, o Brasil absteve-se na votação da ONU que decidiu - tomando por base informações não confirmadas prestadas por emissoras como a Al Jazeera - pela gigantesca intervenção armada contra a Líbia. Aproveitando-se da frágil e acovardada posição da chancelaria brasileira naquele episódio, o presidente Barack Obama, o inacreditável Prêmio Nobel da Paz, desrespeitou a Presidenta Dilma e a todos os brasileiros ao declarar guerra à Líbia estando em Brasília! O que mereceu reparos posteriores da própria Dilma. E, pouco depois, uma espécie de confissão governamental sobre o trágico erro da posição brasileira então, quando o Assessor Internacional do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, afirmou que aquela resolução foi na verdade uma “autorização para a matança”. 

Foram 203 dias de bombardeios para “salvar civis”, destruindo toda a infraestrutura construída pelo povo líbio em 40 anos, o que levou aquela nação a registrar o mais elevado IDH da África. Hoje, o petróleo líbio, antes nacionalizado, e utilizado com alavanca para sustentar um sistema de eliminou o analfabetismo, socializou a educação e a saúde, já está nas mãos das transnacionais petroleiras, evidenciando a guerra de rapina. Nem mesmo a esquerda otanista, que apoiou a invasão, pode negar os 200 mil mortos líbios, as prisões abarrotadas, a dizimação sumária das populações negras em cidades totalmente calcinadas, as torturas. Qual é o balanço que o Itamaraty faz de seu próprio voto que, em última instância, encorajou semelhante massacre? 

Também é sinal de involução na posição do Itaramaty em relação à gestão de Lula-Celso Amorim, o voto brasileiro na ONU contra o Irã na temática direitos humanos, sobretudo quando é conhecidíssima a descarada manipulação desta esfarrapada bandeira humanista pelo militarismo imperial. Aliás, aquele voto contra o Irã, só não foi acrescido de vexame diplomático internacional porque o governo persa advertiu com informações objetivas ao governo brasileiro de que a tão difundida cidadã iraniana Sakhiné foi condenada por ter assassinado seu marido e não porque teria praticado adultério como tantas vezes se repetiu no sempre duvidoso jornalismo global. E também de que era apenas uma grosseira mentira a “notícia” de que os livros de Paulo Coelho eram censurados no Irã, quando são vendidos livremente, e muito, em todas as livrarias das grandes cidades persas. A ministra da cultura de um país com taxas de leituras raquíticas e analfabetismo vergonhoso quase comete o papelão de um protesto oficial. Desistiu a tempo.

Telhados de vidro

Que diferença da postura firme do Itamaraty no governo que condenou veemente a criminosa guerra imperialista contra o Iraque! Agora, observa-se uma gradual aproximação das posições do Itamaraty aos conceitos e valores daqueles países que promoveram aquelas intervenções indefensáveis contra o Iraque, o Afeganistão e a Líbia. O que indicaria uma contradição evidente também diante das próprias declarações da presidenta Dilma Roussef sobre direitos humanos em Cuba, rejeitando, com justeza, a pressão das grandes potências para a condenação unilateral e descontextualizada de países com posturas independentes. 

“Todos temos telhados de vidro”, lembrou a mandatária verde-amarela. Corretíssimo! Mas por que então só o Irã foi alvo de voto da delegação brasileira na ONU? Por que não há voto brasileiro na ONU contra Guatânamo, as torturas praticadas pelos dispositivos militares dos EUA, os seqüestros de cidadãos islâmicos em várias partes do mundo, com a conivência dos países europeus que se gabam de serem professores em matéria de democracia e direitos humanos mas que oferecem seu território, seu espaço aéreo e suas instalações militares para, submissos, colaborarem com as repressivas leis exclusivas dos EUA? Será que o Itamaraty vai fazer algum protesto na ONU diante de declarações de autoridades do Pentágono de que comandos militares dos EUA que executaram Bin Laden no Paquistão poderão atuar também na América Latina?

Não estará havendo um descolamento de algumas posturas do Itamaraty em relação à posição estratégica que a política externa vem construindo ao longo de décadas, reforçada de modo mais elevado e coerente no governo Lula? Neste período, formatou-se uma estratégica prioridade para uma relação cooperativa com os países do sul, uma integração concreta com a América Latina e Caribe, agora consolidada na criação da Celac, a igual prioridade para o fortalecimento da Unasul (inclusive de seu Conselho de Defesa), a defesa da legítima soberania argentina sobre as Malvinas contra a ameaçadora pretensão colônia inglesa e, finalmente, a coordenação e inclusão do Brasil no Grupo do Brics, sem esquecer os objetivos que levaram Lula a promover a Cúpula de Países Árabes e América do Sul. 

O Brasil diversificou prudentemente suas relações internacionais tendo agora como maior parceiro comercial a China e não os EUA, com quem possui perigoso e crescente déficit comercial, além de ser um país que já promoveu sanções contra o Brasil por causa do Acordo Nuclear, por causa da Projeto Nacional da Informática, , sem esquecer, claro, o nefasto golpe militar de 64, confessamente apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA.

A sinistra mensagem da Líbia

Enquanto o Itamaraty parece hipnotizado por uma relação de aproximação com os países que mais promovem intervencionismo militar unilateral e ilegal no mundo, nos círculos militares brasileiros se ouviu e se entendeu com clareza e concretude a ameaçadora mensagem enviada pelas grandes potências com a agressão à Líbia, inclusive, aplicando arbitrariamente, ao seu bel prazer, os termos da Resolução aprovada na ONU. Especialistas militares brasileiros já discutem em organismos superiores a abstração de uma visão política que não considera que a intervenção rapinadora sobre as riquezas da Líbia são também ensaios e testes para ações mais amplas e generalizadas que podem ser aplicadas contra todo e qualquer país que também possua riqueza energética e alguma posição independente no cenário internacional. O figurino não serve para o Brasil? Tal como Kadafi, que se desarmou, que abandonou seu programa nuclear, que se aproximou perigosamente dos carrascos de seu próprio projeto de nação, e que não pode organizar uma linha estratégica de defesa em coordenação com países como Rússia e a China, o Brasil também desarmou-se unilateralmente durante o vendaval neoliberal. A indústria bélica brasileira foi levada ao chão praticamente, configurando-se, agora, um perigoso cenário: é possuidor de imensas reservas de petróleo descobertas, como também de urânio, de nióbio, de água, de biodiversidade, e , simultaneamente, não possuidor da mais mínima capacidade de defesa para controlar eficientemente suas fronteiras ou até mesmo a Baía da Guanabara como porta de entrada do narcotráfico internacional, cujas noticiadas vinculações com organismos como a Cia deveria merecer a preocupação extrema do Itamaraty. Será que a robusta e impactante revisão pela Rússia e China de suas posições adotadas quando admitiram a agressão imperial contra a Líbia para uma nova postura de veto a qualquer repetição da fórmula líbia que a Otan confessa pretender aplicar contra a Síria não deveria alertar os formuladores da política do Itamaraty?

Da mesma forma que se ouviu estrondoso a acovardado silêncio itamaratiano quando um avião Drone dos EUA foi capturado, em dezembro pelos sistemas de defesa iranianos quando invadia ilegalmente o espaço aéreo do Irã, agora, repercute novo silêncio brasileiro diante das jorrantes informações de infiltração de armas e de mercenários da Al-Qaeda em território, como admitem autoridades de países membros da Otan. O que pretende o Itamaraty? Defender os direitos humanos dos mercenários da Al-Qaeda subvencionados por países como a Arábia Saudita e o Qatar, que já haviam violado a soberania da Líbia, com o conivente voto brasileiro na ONU?

Manifestações populares defendem posição da Rússia e da China

Que significado terá para o Itamaraty a gigantesca manifestação popular em Damasco para receber o Chanceler russo , Sergei Lavrov, e agradecer a posição da Rússia e da China contra qualquer intervenção militar na Síria? Não estará a própria Rússia saindo de uma fase de hipnose de anos que, baseada na insustentável credulidade em torno dos acordos de redução de arsenais firmados com os EUA, levou-a, de fato, apenas a um desarmamento unilateral enquanto os orçamentos militares norte-americanos multiplicam-se e já suplantam os orçamentos militares de todos os países do mundo somados? Que significa para o Itamaraty a contundente declaração do Primeiro Ministro da China, Hu Jin Tão, propondo uma aliança militar sino-russa, após advertir que os EUA “só entendem a linguagem da força”? 

Enquanto o Brasil vota com os países intervencionistas contra a Síria, a Inglaterra eleva sua presença militar nuclear no Atlântico Sul e os organismo militares brasileiros, como já tinham detectado durante da guerra das Malvinas nos anos 80, percebem que não há suficiente e adequada capacidade de defesa nacional para as riquezas do pré-sal. 

Naquela época, embora posicionando-se pela neutralidade, o Brasil assumiu uma posição de neutralidade imperfeita que não o impediu de dar ajuda logística e de material de reposição militar à Argentina em sua guerra contra o imperialismo inglês, ocasião em que Cuba também ofereceu tropas ao governo portenho para lutar contra a Inglaterra. Compare-se com a posição atual no caso sírio. Será que é motivo de preocupação concreta para o Itamaraty, tendo como base o princípio sustentado pelo Brasil, de que quantidades indeterminadas de aviões drones dos EUA vasculham o território sírio, como anunciam autoridades norte-americanas, violando, portanto, sua soberania? Esta ingerência externa não merece posicionamento formal do Brasil na ONU? Mas, na rasteira filosofia dos dois pesos e duas medidas, o Brasil vota em aliança os países intervencionistas para intimidar o Irã em matéria de direitos humanos, mesmo quando a presidenta Dilma anuncia que todos têm telhado de vidro e que a discussão sobre os direitos humanos deve iniciar-se pela sistemática câmara de torturas que os EUA mantém na base de Guantânamo. Será que as palavras de Dilma não são ouvidas no Itaramaty?

O governo do Líbano já está adotando posições políticas, que incluem manobras militares, para evitar que suas fronteiras com a Síria sejam utilizadas pelas nações que estão patrocinando o armamento e a infiltração de mercenários, com o apoio ostensivo de países intervencionistas, com o objetivo de derrubar o governo de Damasco. O mesmo está ocorrendo na Turquia, inclusive, com a ocorrência de uma grande manifestação popular em cidade turca fronteiriça à Síria, em apoio ao governo de Damasco. Em Curitiba, a Igreja Ortodoxa realizou Missa de Ação de Graças, organizada pelas comunidade sírio-libanesa e palestina, em agradecimento à Rússia e a China, gesto parecido ao ocorrido em Brasília, quando a mesma comunidade levou flores e agradecimento à embaixada da Rússia no Brasil.

Partidos e sindicatos

É importante que os partidos e sindicatos, sobretudo a aliança dos partidos progressistas e antiimperialistas que sustentam o governo Dilma, discutam atentamente as sombrias involuções da política do Itamaraty. Os militares brasileiros, certamente, já estão discutindo em seus organismos de estudo e planejamento, como indica a quantidade de textos e participações de autoridades militares brasileiras em audiências públicas e em publicações especializadas, sobretudo a partir da sinistra mensagem da Líbia. 

Enquanto o Brasil é alvo de uma guerra cambial desindustrializadora, como advertem membros do governo, enquanto especialistas militares advertem para o período de nosso desarmamento unilateral frente a nossas gigantescas e cobiçadas riquezas naturais, observa-se, enigmaticamente, um reposicionamento do Itaramaty distanciando-se não apenas dos princípios e posturas aplicadas mais acentuadamente durante o governo Lula, mas, distanciando-se também do conjunto de países com os quais vem construindo uma linha de cooperação para escapar dos efeitos da crise que as nações imperialistas tentam descarregar sobre a periferia do mundo. E aproximando-se dos sinais e valores impregnados nos discursos e atos da sinistra Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, aquela que comemorou com uma gargalhada hienística quando viu as imagens de Muamar Kadafi sendo sodomizado e executado graças a informações prestadas pelos comandos militares dos EUA, conforme denunciou Vladimir Putin.

Ponto alto da campanha eleitoral de Dilma Roussef foi a declaração de Chico Buarque em defesa de sua candidatura porque com Lula e Dilma, disse ele, “o Brasil não fala fino com os EUA e não fala grosso com a Bolívia”. O que explicaria então esta enigmática e contraditória aproximação do Itamaraty com as posturas ingerencistas de Hillary Clinton com relação à Síria e ao Irã? Seria afastamento em relação à genial síntese feita pelo poeta e revolucionário Chico Buarque?

Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

sábado, 21 de maio de 2011

Brasil à venda. E há quem compre

Fonte: Pátria Latina
Por Frei Betto*




Quem costuma ir à feira, ao mercado ou ao supermercado para comprar alimentos sabe muito bem que eles têm subido de preços. A inflação começa a ficar fora de controle. O governo Dilma está consciente de que este é o seu calcanhar de Aquiles.

Os juros tendem a subir e a União anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal (espero que programas sociais, Saúde e Educação escapem da tesoura). Tudo para impedir que o dragão desperte e abocanhe o pouco que o brasileiro ganhou a mais de renda nos oito anos de governo Lula.

Lá fora, há uma crise financeira, uma hemorragia especulativa difícil de estancar. Grécia, Irlanda e Portugal andam de pires nas mãos. Na Europa, apenas a Alemanha tem crescimento significativo. Nos EUA, o índice de crescimento é pífio, três vezes inferior ao do Brasil.

Por que a alta do preço dos alimentos? Devido à crise financeira, os especuladores preferem, agora, aplicar seu dinheiro em algo mais seguro que papéis voláteis. Assim, investem em compra de terras.

Outro fator de alta dos preços dos alimentos é a expansão do agrocombustível. Mais terras para plantar vegetais que resultam em etanol, menos áreas para cultivar o que necessitamos no prato.

Produzem-se alimentos para quem pode comprá-los, e não para quem tem fome (é a lógica perversa do capitalismo). Agora se planta também o que serve para abastecer carros. O petróleo já não é tão abundante como outrora.

Nas grandes extensões latifundiárias adota-se a monocultura. Planta-se soja, trigo, milho... Para exportar. O Brasil tem, hoje, o maior rebanho do mundo e, no entanto, a carne virou artigo de luxo. Soma-se a isso o aumento dos preços dos fertilizantes e dos combustíveis e a demanda por alimento na superpopulosa Ásia. Mais procura significa oferta mais cara. A China desbancou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil.

Soma-se a essa conjuntura a desnacionalização do território brasileiro. Já não se pode comprar um país, como no período colonial. Ou melhor, pode, desde que de baixo para cima, pedaço a pedaço de suas terras.

Há décadas o Congresso está para estabelecer limites à compra de terras por estrangeiros. Enquanto nossos deputados e senadores engavetam projetos, o Brasil vai sendo literalmente comido pelo solo.

Em 2010, a NAI Commercial Properties, transnacional do ramo imobiliário, presente em 55 países, adquiriu no Brasil, para estrangeiros, 30 fazendas nos estados de GO, MT, SP, PR, BA e TO. Ao todo, 96 mil hectares! Muitas compradas por fundos de investimentos sediados fora do nosso país, como duas fazendas de Pedro Afonso, no Tocantins, somando 40 mil hectares, adquiridas por R$ 240 milhões. Pagou-se R$ 6 por hectare. Hoje, um hectare no estado de São Paulo vale de R$ 30 mil a R$ 40 mil. É mais negócio aplicar em terras que em ações da Bolsa.

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ano passado cerca de US$ 14 bilhões foram destinados, no mundo, a compras de terras para a agricultura. As brasileiras constaram do pacote. Estima-se que a NAI detenha no Brasil mais de 20% das áreas de commodities para a exportação.

O escritório da NAI no Brasil conta com cerca de 200 fundos de investimentos cadastrados, todos na fila para comprar terras brasileiras e destiná-las à produção agrícola.

O alimento é, hoje, a mais sofisticada arma de guerra. A maioria dos países gasta de 60% a 70% de seu orçamento na compra de alimentos. Não é à toa que grandes empresas alimentícias investem pesado na formação de oligopólios, culminando com as sementes transgênicas que tornam a lavoura dependente de duas ou três grandes empresas transnacionais.

O governo Lula falou muito em soberania alimentar. O de Dilma adota como lema "Brasil: país rico é país sem pobreza". Para tornar reais tais anseios é preciso tomar medidas mais drásticas do que apertar o cinto das contas públicas.

Sem evitar a desnacionalização de nosso território (e, portanto, de nossa agricultura), promover a reforma agrária, priorizar a agricultura familiar e combater com rigor o desmatamento e o trabalho escravo, o Brasil parecerá despensa de fazenda colonial: o povo faminto na senzala, enquanto, lá fora, a Casa Grande se farta à mesa às nossas custas.


* Frei Betto é escritor, autor de "Comer como um frade – divinas receitas para quem sabe por que temos um céu na boca" (José Olympio), entre outros livros. Página e Twitter do autor: http://www.freibetto.org/ - twitter:@freibetto

Feed do Substantivu Commune