"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Irã: Quem atira a primeira pedra?

Sobre o artigo do Frei Betto abaixo, quero acrescentar que considero a demonização do Irã uma espécie de perseguição midiática seletiva. Sob vários aspectos, países como a Arábia Saudita, Israel e outros parceiros dos EUA, são tratados de forma diferente da mídia. Todos os dias, mulheres afegãs, palestinas, iraquianas, são estupradas por soldados americanos e israelenses e ninguém se pronuncia sobre isso. Além disso, não há movimentos de direitos humanos determinados a derrubar práticas de tortura militar e pena de morte aplicadas em Israel e nos EUA, como fazem em relação ao Irã.

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O presidente Lula empreendeu uma delicada operação diplomática para evitar que o Irã utilize a energia nuclear para fins bélicos. As nações mais poderosas do mundo, capitaneadas pelos EUA, logo expressaram sua indignação e discordância: como um “paiseco” como o Brasil ousa querer ditar regras na política internacional?
Marx, Reich e Erich Fromm já nos haviam prevenido que preconceito de classe costuma ser um tabu arraigado. Como alguém que nasceu na cozinha tem o direito de ocupar a sala de jantar?
Pelo critério de George Bush, lamentavelmente preservado por Obama, o Irã faz parte das nações que integram o “eixo do mal”. Não morro de amores pela terra dos aiatolás, considero o governo iraniano uma autocracia fundamentalista e discordo do modo patriarcal que o Irã trata as suas mulheres, como seres de segunda classe. Diga-se de passagem, assim também faz o Vaticano, razão pela qual as mulheres são impedidas de acesso ao sacerdócio.
Mas não custa questionar o cinismo dos senhores do mundo com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU: por que Israel tem o direito de possuir arsenal nuclear e o Irã não? Ele jogaria uma bomba nuclear sobre outras nações? Ora, isso os EUA já fez, em 1945, sacrificando milhares de vidas inocentes em Hiroshima e Nagasaki.
O Irã desencadearia uma guerra mundial? Ora, o Ocidente civilizado já promoveu duas, a segunda vitimando 50 milhões de pessoas. O nazismo e o fascismo surgiram  no Oriente? Todos sabemos: foram criação diabólicas de dois países considerados altamente civilizados, Alemanha e Itália.
Os árabes, ao longo de 800 anos, ocuparam a Península Ibérica. Deixaram um lastro de cultura e arte. A Europa ocupou e saqueou a África e a Ásia, e o lastro é de miséria, mortandade e extorsão. O Irã é uma ditadura? Quantas não foram implantadas na América Latina pela Casa Branca? Inclusive a do Brasil, que durou 21 anos (1964-1985). Há pouco a Casa Branca apoiou o golpe militar que derrubou o governo democrático de Honduras.
Fortalecido belicamente o Irã poderia ocupar países vizinhos? E o que dizer da ocupação usamericana de Porto Rico, desde 1898, e agora do Iraque e do Afeganistão? E com que direito os EUA mantêm uma base naval, transformada em cárcere clandestino de supostos terroristas, em Guantánamo, território cubano?
Respaldado em que lei internacional os EUA implantaram 700 bases militares em países estrangeiros? Só na Itália existem 14. Na Colômbia, 5. E quantas bases militares estrangeiras há nos EUA?
Há que admitir: o Irã não está preparado para se integrar no seio das nações civilizadas... Nações que financiam, pelo consumo, os cartéis das drogas, tratam imigrantes estrangeiros como escória da humanidade, fazem do consumismo o ideal de vida.
E convém lembrar: fundamentalismo não é apenas uma síndrome religiosa. É, sobretudo, uma enfermidade ideológica, que nos induz a acreditar que o capitalismo é eterno, fora do mercado não há salvação e a desigualdade social é tão natural quanto o inverno e o verão.
Lula candidato era discriminado pelo elitismo brasileiro por não dominar idiomas estrangeiros. Surpreendeu a todos por falar a linguagem dos pobres e revelar-se exímio negociador em questões internacionais.
Sem o apoio do Brasil não avançaria essa primavera democrática que, hoje, semeia esperança de tempos melhores em toda a América Latina. Os eleitores dão as costas às velhas oligarquias políticas e escolhem governantes progressistas.
Essa nova geopolítica latino-americana, que oficializará em 2011 a União das Nações Latino-Americanas e Caribenhas, certamente preocupa Washington. A crise financeira bate as portas das nações mais poderosas do mundo e a Europa entra num período de recessão. O livre mercado, o Estado mínimo, a moeda única (euro), a ciranda  especulativa, mergulham numa crise sem precedentes.
Tudo indica que, daqui pra frente, o mundo será diferente. Se melhor ou pior, depende do resultado do embate entre duas forças contrárias: os que pensam a partir do próprio umbigo, interessados apenas em obter fortunas, e os que buscam um projeto alternativo de sociedade, menos desigual e mais humano. É a antiética em confronto com a ética.

O artigo foi originalmente publicado no Jornal Brasil de Fato.
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Lula rebate acusações do TCU sobre a Petrobrás

Lula sancionou o orçamento de 2010 incluindo obras do PAC que estão na "lista negra" do TCU. Ouça a entrevista, feita com um técnico do orçamento da Câmara para a Rádio Cultura FM:



quinta-feira, 10 de junho de 2010

CONVITE - Exposição Bolívia



Jornalista e repórter fotográfico, o jovem Sergio Alberto e mais três amigos, embarcaram numa aventura pela Bolívia - mais precisamente pela Ruta Del Che - em outubro de 2007, mês em que se completaram 40 anos da morte de Ernesto Che Guevara. 

Na viagem rumo a La Higuera, uma pequena vila de Vallegrande, município de Santa Cruz de La Sierra, percorreram de carona em um microônibus (com representantes de diversos movimentos sociais do Brasil) uma parte significativa da estrada que hoje é também rota histórica e turística no país. Pelo caminho o contraste social é evidenciado nas fotografias em preto e branco.

O resultado dessa viagem você confere nas imagens da Exposição Bolívia - Um olhar sobre a Bolívia 40 anos após a morte de Che Guevara no Café com Letras Brasília. A abertura da exposição será no próximo dia 11 de junho a partir das 19h. A exposição poderá ser visitada todos os dias das 10h da manhã às 2h  da madrugada, até o dia 30 de junho.

Serviço:
Exposição Bolívia - Um olhar sobre a bolívia 40 anos após a morte de Che Guevara
Local: Café com Letras, 203 sul, Bl. C Lj. 19
Abertura: 11 de junho às 19h
Fotografias: Sérgio Alberto
Curadoria: Juliana Castro
Colaboração: Acilino Ribeiro & Miguel Mello

Apoio logistico: Fundação Che Guevara

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A complexidade que simplifica






Norbert Fenzl



Aquecimento global, sustentabilidade, economia e outras idéias



Traduzir o conceito de “sustentabilidade” para o público leigo e propor formas de inserir o debate – do ponto de vista científico – no âmbito da sociedade, são os principais desafios da obra: “A Sustentabilidade de Sistemas Complexos: conceitos básicos para uma ciência do desenvolvimento sustentável”.

O livro, dos autores Norbert Fenzl, com colaboração de José Alberto da Costa Machado (Doutor em Desenvolvimento Sustentável e professor da Faculdade de Estudos Sociais da Universidade Federal do Amazonas), lançado em 2009 pela UFPA,  é o resultado de pesquisas realizadas no âmbito do projeto Amazônia 21, da participação em conferências e congressos internacionais sobre Desenvolvimento Sustentável e de inúmeras aulas, pesquisas e orientações de teses de doutorado voltadas para estudos do meio ambiente e sustentabilidade.

"A natureza criou a complexidade para simplificar o complicado”

Em suas pesquisas, Norbert tenta demonstrar que existe uma enorme distância entre o debate sobre desenvolvimento sustentável e a capacidade humana (e da sociedade atual) de enfrentar, na prática, as conseqüências nefastas decorrentes da insustentabilidade dos processos econômicos e sociais. Para ele, essa distinção entre discussão e prática, ocorre pela “falta de uma matriz teórica que estabeleça conceitos científicos mais claros, capazes de unificar a linguagem em torno da questão do desenvolvimento sustentável”.
Norbert aponta alguns desafios para traduzir os conceitos inerentes ao tema e propõe ações concretas, tais como: sintonizar as diversas linguagens científicas, percebendo que conhecimentos isolados e separados não geram inovação; encontrar métodos que possam medir a insustentabilidade com base em parâmetros científicos consistentes e, principalmente, compreender que esses problemas são os principais desafios científicos da atualidade.
Um dos primeiros questionamentos da obra é sobre o significado do conceito “desenvolvimento sustentável”, que parece ser apenas um modismo de nossa época, mas se tornou de fato uma necessidade científica realmente válida. E mais: uma necessidade imperativa para nossa sobrevivência. Em especial, se forem considerados todos os estudos que apontam para a capacidade de renovação da biosfera, inversamente proporcional à fragilidade da espécie humana.
Fenzl aponta o cerne da questão quando afirma que a integração mundial proporcionada pela globalização amplia as conseqüências nefastas do crescimento econômico dos países e aumenta o impacto ambiental, bem como a injustiça social, que juntos, intensificam o aumento da exploração irracional dos recursos naturais.
Sendo assim, polemiza: o “desenvolvimento sustentável é um contra-conceito”, já que o desenvolvimento econômico e social são – por si mesmos – insustentáveis.
Como frisa Norbert Fenzl “é consenso que esta insustentabilidade é conseqüência do modelo econômico neoliberal, entretanto, após a queda do chamado ‘socialismo real’ há uma lacuna significante em relação a modelos sociais e econômicos que sejam capazes de enfrentar a devastadora onda neoliberal da globalização”.
Ao longo do livro, o professor-pesquisador faz uma apurada e profunda análise sobre as respostas possíveis para o futuro do “meio ambiente” a partir do nosso modelo de desenvolvimento, demonstrando que é preciso um esforço para construir uma ciência inovadora para uma sociedade sustentável e, mais, um esforço para compreender os sistemas complexos que são interdependentes em nosso planeta.
Na prática, é impossível pensar, por exemplo, na solução para a fome (um problema que afeta a todos os países, ainda que de forma desigual), sem repensar os meios de produção de um modo geral, ou ainda, as possibilidades de reutilização dos inúmeros materiais resultantes da cadeia produtiva.

Fenzl faz uma apurada e profunda análise sobre as respostas possíveis para o futuro do “meio ambiente” a partir do nosso sistema de desenvolvimento

Segundo o autor, pode-se definir o desenvolvimento sustentável da seguinte forma: a taxa de consumo de recursos renováveis não deve ultrapassar sua capacidade de renovação; os resíduos produzidos não devem ultrapassar a capacidade de absorção dos ecossistemas (aqui um destaque para o fato de que o autor entende o lixo como apenas uma matéria transformada, também fruto da própria cadeia produtiva) e, finalmente, os recursos não renováveis devem ser utilizados somente na medida em que possam ser substituídos por outros renováveis.
Deve-se levar em conta o código de conduta de cada comunidade, lembrando que valores éticos mudam entre grupos sociais e que é cultural para os seres humanos, se utilizar dos recursos naturais de acordo com sua necessidade, atentando apenas para o resultado positivo favorável a si mesmo. Ou seja, além da distância do tempo (a não observância das conseqüências para gerações futuras), também nos impomos uma distância social. Em função disso, a crise do sistema financeiro mundial amplia a desigualdade enquanto, por outro lado, o uso dos recursos naturais está acima da capacidade de renovação futura.

Desenvolvimento sustentável = biosfera + antroposfera

O mais importante economicamente, é que o raciocínio (especialmente o empresarial e de governos envolvidos na exploração direta de recursos naturais) segue uma lógica própria que apenas avalia o impacto de forma superficial. Se, por exemplo, ele só ocorrer daqui a cem anos, eliminam-se os cálculos de inviabilidade no investimento (ex: a negativa por parte dos EUA, à assinatura do Protocolo de Kyoto). No entanto, só podemos garantir o ecossistema para gerações futuras se os serviços ligados à preservação dos ecossistemas forem garantidos hoje, independentemente dos interesses.
A ciência criou uma lei da substitucionalidade, não admitindo soluções sustentáveis e partindo do princípio que pode criar novas tecnologias para substituir recursos naturais que se tornaram caros ou raros. Mas esse conceito tem limites também da própria ciência (do ponto de vista físico, químico e biológico) e podemos valorizar, ou seja, criar valores mensuráveis para o uso futuro dos recursos, tanto quanto o presente.
Se for verdade que a raça humana depende de toda energia proveniente da terra, esta deve pensar também em formas de transformar essa exploração em algo benéfico e renovável. O ambiente não é uma fonte infinita de recursos e, de certa forma, já atingiu seu limite no tocante ao alarme que indica o momento de avaliarmos nossa responsabilidade sobre ele.
Portanto, até o momento, nenhum modelo econômico – do ponto de vista ideológico – conseguiu solucionar o problema. Até porque se pensarmos o socialismo da ex- URSS como um conceito oposto ao neoliberalismo, este surgiu em plena era industrial quando não se considerava que os recursos pudessem ter fim. Além disso, eles precisavam reinventar a produção industrial porque na época, na Rússia havia 90% de analfabetos, uma população predominantemente rural, e o “socialismo” existia mais na cabeça dos pensadores e intelectuais que como um projeto viável socialmente. O que havia era o domínio quase absoluto do estado sobre a economia e certamente uma maior distribuição da renda. Porem, entraves burocráticos, a corrida armamentista e a baixíssima produtividade acabaram implodindo o sistema econômico do bloco socialista.

O foco da problemática mundial não é somente a emissão de carbono.

Nos modelos atuais de desenvolvimento econômico, sabe-se que é impossível atingir um dia o equilíbrio social em que pobres possam desfrutar das formas de vida dos povos ricos (como já apontavam economistas como Celso Furtado), no entanto, isso que se poderia chamar de distributivismo igualitário é totalmente ilusório no tocante aos recursos naturais. O estudo realizado por Norbert e inúmeros outros pesquisadores mostra que, simplesmente, não dá para todas as pessoas do planeta consumir de acordo com o modelo norte-americano, que, aliás, está entrando numa crise profunda.
Todos concordam que o desenvolvimento baseado exclusivamente no aumento e consumo da produção material junto com o crescimento demográfico é impossível de ser sustentado. Além disso, o ordenamento natural entrópico cria formas não controláveis de transformação natural como, por exemplo, o grande problema da desertificação que atinge vários pontos do planeta e mesmo a questão do aquecimento global, causado, dentro outros fatores, pelo aumento da emissão de carbono. Nesse ponto, é importante frisar que o autor é um crítico do modelo de discussão estabelecido na última Conferência de Copenhagen, justamente por entender que o foco da problemática mundial não é somente a emissão de carbono, mas, antes, o debate acerca do modo de produção.


No entanto, é um equívoco considerar – como defendem alguns economistas – que alcançar os Objetivos do Milênio das Nações Unidas (um exemplo claro da insustentabilidade do atual modelo econômico global) pode ser um perigo no tocante ao uso dos recursos naturais. Isso porque, como Norbert Fenzl defende em sua pesquisa, para atingir metas como reduzir a proporção da população que sofre de fome; reduzir a mortalidade materna e de crianças ou ainda o número de seres humanos sem acesso a água potável, é preciso integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas econômicas e reverter o enorme desperdício de recursos naturais, além de transformar a dívida externa de países em desenvolvimento humano, e em formas de compensação sustentável para longo prazo.
Hoje, a dinâmica da economia global é determinada pela especulação financeira e expansão da indústria bélica, cuja lógica exige necessariamente a criação de conflitos armados e guerras em parte financiadas através do tráfico de drogas ilegais. Ou seja, os conflitos em larga escala, torna as economias bélicas dependentes tanto da dinâmica de fornecimento – no caso de países produtores de armamentos – quanto na fase de reconstrução de países arrasados.
Outra questão importante verificada na pesquisa é a falta de clareza sobre a contradição determinante entre os setores produtivos e especulativos da fase atual do capitalismo globalizado. Nas 4 ultimas décadas o setor financeiro acumulou somas astronômicas de capital de forma especulativa.  No Brasil, por exemplo, o lucro dos bancos cresceu em proporções absurdamente maiores que o PIB. No entanto, a economia ecológica demonstra que não é possível pensar o desenvolvimento e os recursos naturais apenas em termos financeiros de crescimento do PIB. Existem inúmeros exemplos de transformação de matérias primas em produtos, que ocasionam o aumento do PIB, mas não trazem qualquer benefício social.
De acordo com o estudo Avaliação Ecossistêmica do Milênio, da ONU, é possível entender como “serviços ambientais”, todos os prestados pela natureza, tais como a regulação atmosférica e climática, a produção de oxigênio, o controle do carbono circulante, a manutenção da biodiversidade, a preservação dos sistemas hídricos, dentre outros. No livro, Norbert Fenzl e José Alberto apontam para o desenvolvimento de sistemas indicadores, ou seja, métodos para medir o fluxo energético-material através dos sistemas socioeconômicos e a elaboração anual de mapas e estatísticas sobre as pegadas ecológicas da humanidade. Entender o fluxo dos recursos naturais, desde a obtenção da matéria prima, a produção e após o consumo, a transformação em resíduo, é o grande cerne da compreensão dos sistemas complexos que perfazem toda a cadeia integrada entre ecossistemas e o impacto da presença humana.
Com isso constatam-se duas correntes de entendimento: uma que compreende o desenvolvimento de forma convencional (com administração centralizada, decisões de governo e empresariado e domínio das elites) e outra que procura o modelo de desenvolvimento sustentável (de forma descentralizada, com decisões tomadas a partir da sociedade civil e o estímulo à participação democrática). Com isso, a maioria dos estudiosos aponta para o fato de que somente sociedades mais democráticas e livres, poderão promover o debate da sustentabilidade de forma justa e coerente com os desafios que a humanidade irá enfrentar a partir de agora. E isso compreende, inclusive, o abandono à longo prazo, das economias de guerra.
Na construção de indicadores, o professor aponta para três enfoques: o Causalístico, que se baseia na idéia de que ações humanas exercem pressões ambientais responsáveis por um estado do ambiente que induz respostas adaptativas da sociedade; o Funcionalista, que se baseia nas funções desenvolvidas pelos ecossistemas (regulação, suporte, produção e informação) e o enfoque Condição Humana, utilizado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que considera a condição humana como o alvo mais importante de qualquer política de desenvolvimento e que norteia o chamado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano): Saúde (medida pela expectativa de vida ao nascer); Educação (combinação do percentual de adultos alfabetizados e a escolaridade) e Renda (per capita).
Finalmente, o debate sobre mudanças climáticas – principal personagem da Conferência de Copenhagen – possui um problema de fundo que precisa ser colocado em evidência: por razões políticas e poderosos interesses econômicos, com a ajuda de uma mídia irresponsável, o debate está sendo levado para o campo estéril e pantanoso da redução das emissões de CO2 (como se isto fosse a grande solução para futuros problemas da humanidade) que não conduz a nenhuma solução concreta e a nenhum compromisso político ou econômico consistente. Enquanto a humanidade não for capaz de resolver problemas intrinsecamente humanos, como a fome e as guerras, não será capaz de modificar o clima global que depende de muitos fatores que fogem completamente ao controle do ser humano.
Além disso, não há ainda um esforço concreto para unificar as linguagens científicas que consiga encontrar um caminho integrador entre os sistemas, um referencial teórico para a sustentabilidade de um sistema complexo como um todo.

sábado, 5 de junho de 2010

FEMINISMO OU SEXISMO??

O texto abaixo é de Jordana Lima Duarte e faz algumas reflexões sobre a luta por uma sociedade que reconheça o valor de homens e mulheres de forma mais igualitária. É um texto aberto ao debate. Comentem!

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Dia desses, um amigo se queixou que este espaço tinha se tornado um local excludente, voltado apenas às mulheres...
Eu redargui, ofendida - afinal, ele me acusara de feminismo!!
E as feministas que me perdoem: houve tempo em que tal palavra aludia ao direito de as mulheres se unirem a fim de defender-se do machismo, de todas as formas cabíveis e possíveis.
O Feminismo conquistou para nós alguns direitos, mas ainda faltam muitos. Leis foram criadas. Mentes mudaram, é verdade - mas não todas; e isso vai levar um tempo, considerando que  sabotamos a nós próprias e umas às outras, e isso é uma tradição.


Não é segredo que mulheres são mais competitivas (entre si) e lutar pelo direito delas não é diferente de lutar pelo direito de qualquer ser que esteja em desvantagem. Afinal não somos minoria como os índios, os negros enfim: na verdade somos maioria em praticamente tudo - entre os chefes de família, entre os eleitores, somos maioria em números absolutos. O que nos leva a concluir que, basicamente, temos o poder?? Rsrs... Alguém quer o poder? E pra que?
Quem tem o poder? Os homens?? E não foi o poder deles que nos oprimiu por milênios?? 
E honestamente: alguém acha que, com o poder nas mãos, seríamos magnânimas, superiores em qualquer coisa, generosas e justas??

Não, não estou confusa; não estou sendo machista e não estou defendendo os homens.
Tampouco estou sendo FEMINISTA. O feminismo difere do machismo em quê, necessariamente?
Não importa quantas sejam as respostas - a verdade só aparecerá quando o poder estiver em nossas mãos.

O prognóstico não é bom: mulheres são, comprovadamente, menos solidárias entre si do que os homens. Isso é fato. Mulheres são menos corruptíveis? É uma teoria - discutível.

Uma coisa é haver uma ou duas mulheres trabalhando com um grupo grande de homens n'uma empresa. Outra, bem diferente, é ter um grande grupo de mulheres trabalhando juntas.
 
Não faz muito tempo, tive a experiência de presenciar um evento só de mulheres, durante três dias... E havia lá meia dúzia de homens. Não vou dar relatório de tudo, mas posso dizer que, em determinado momento, depois de muitos bate-bocas entre as senhoras - praticamente arruinando o evento por conta de vaidades pessoais e fome de poder - uma delas apontou um dos homens presentes e acusou a organização de machismo por permitir entre elas figuras masculinas...

Então é assim que se combate o machismo...? Então isso é feminismo?? O feminismo é o machismo do avesso? Pois vamos classificar direito as coisas: não se trata de machismo ou feminismo - se trata de sexismo. E não se combate o sexismo sendo sexista...! 

Devemos sim, continuar batalhando nossos espaços na sociedade, no mundo, na vida, no tempo. 
Mas como diria Ivan Alves - amigo querido - a luta pelos direitos das mulheres é parte da luta, e não uma luta à parte.

A questão feminina é uma questão humanista e interessa a todos -  não só à classe feminina
Nós, que somos mães, temos papel fundamental nisso: que tipo de homens e mulheres estamos preparando para o mundo? Em países latinos, ainda se criam meninos de modo diferente das meninas. Meninos não podem brincar com bonecas e só meninas crescem ajudando as mães nas tarefas de casa. O resultado disso é um homem que não sabe o que fazer com um bebê e uma mulher cumprindo dupla ou tripla jornada como se isso fosse normal. Porque comum não é a mesma coisa que normal.

Devemos repensar nosso papel na luta pela real democracia que, por si só, denota igualdade entre TODOS. Entenda-se: igualdade de gênero, raça, classe social enfim - TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA, reza o artido 5º da Constituição Federal.


Então devemos dar aos homens o mesmo tratamento que nos deram até hoje? Isso apenas nos torna piores que eles. Sim, piores, considerando que conhecemos a opressão. Exatamente por isso devíamos ser... diferentes. E somos? Se não podemos ser generosas e justas umas com as outras, como o seremos com os homens?

Estou preparando um evento em Santos - SP, que pretende discutir algumas questões femininas fundamentais. E me perguntaram: 'mas é exclusivo para mulheres, não?'... Mas é claro que não, a não ser que eu queira mostrar que tais questões são questões femininas - e elas são de toda a sociedade. Até quando se deixará de fora o homem nessa discussão? Ou só nos dirigiremos a eles para apresentar cobranças e queixas? 


Inteligente é ser progressista. E ser progressista é andar pra frente. E não se pode andar pra frente, carregando o passado nas costas. 

Vamos combater o sexismo com debate inteligente. Vamos VENCER o sexismo tratando ao outro como igual.

Vivemos outra era, em que já não há espaço para separatismos contraproducentes - temos um mundo para mudar, cheio de fome e misérias, cheio de violências de todo o tipo. Sim, como mulheres, sofremos violência: então usemos as leis e lutemos contra essa violência em todas as suas facetas.


Mas não é contra a classe masculina essa luta - não são eles os detentores exclusivos do preconceito, do mau uso do poder e das injustiças sociais: mulheres - e isso vemos todos os dias nos jornais - são igualmente capazes de todo o tipo de crueldade, e isso também é fato.


Sejamos honestos.
Sejamos verdadeiros.
Sejamos democráticos - sejamos: IGUAIS.
A partir disso, lutemos juntos - homens e mulheres. Os tempos pedem isso.
E já passa da hora.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Desabafo II - Do consumismo

Tem uma coisa que me deixa tão chocada quanto a violência, intolerância e demais anomalias humanas que vivenciamos por aí, todos os dias. É o CONSUMISMO exagerado que é estimulado na TV e em todos os veículos de mídia e nas rodas sociais, sejam elas o trabalho, a escola, os grupos de amigos, a internet... Fico sinceramente estarrecida com a quantidade de pessoas que acreditam realmente que uma família precisa ter um carro para cada pessoa, mesmo vivendo todos no mesmo endereço e, muitas vezes, cumprindo o mesmo percurso para o trabalho e demais atividades. O que há de errado com andar a pé ou de bicicleta quando se vive perto de onde se pretende chegar? Porque em algumas cidades (Brasília para mim é referência campeã, mas sei que existem outras), usar o transporte coletivo é visto com preconceito tamanho que faz a classe média se envergonhar de utilizá-lo? E porque não se usa mais a boa e velha carona? Onde você (que dirige sempre), pode descansar um pouco e aproveitar para ir papeando com seus companheiros de trajeto?

Para piorar mais ainda, os shoppings se multiplicam aos milhares. Espaços de ode ao consumismo, com cheiro, som e cores que estimulam a compra desenfreada. Tanto que existem pessoas que divulgam blogs na internet para vender aquilo que compraram e que jamais vão usar! Tentam conseguir alguma compensação pelo ato de ter entrado em uma loja e comprado aquilo que não precisavam. Por um impulso, uma vontade de ter aquilo que está pendurado num manequim montado exatamente para atrair seu cérebro a gastar. É tão difícil assim perceber as mensagens subliminares que estimulam o consumismo em cada espaço urbano?

E o que é ainda mais estranho para mim: vivemos num mundo em que, quanto mais você tem, mais você é "alguém". O "famoso quem" é sempre alguém que tem mais coisas que outro alguém ao lado. O último tênis, o último carro, o último modelo de celular são itens de status, tornam você alguém à ser admirado. Impressionante.

Sinceramente, tudo isso para mim é um mistério. A forma como a sociedade se organizou dividindo as pessoas a partir do que se tem, é muito insólito para meu entendimento. Juro.

O que é mais impressionante é que ninguém enxerga a história que as coisas tem. Antes de criarem o Story of Stuffs que agora é disseminado aos montes na internet, jamais deixei de olhar para cada coisa que tenho e tentar imaginar como ela tinha chegado até mim. Um objeto, uma roupa, qualquer coisa, sei que nada surgiu no espaço sem que tenha sido antes, uma matéria transformada. Uma blusa, um dia foi uma semente, plantada, colhida, armazenada, fiada, tecida, distribuída, comercializada e depois consumida por mim. Ou seja, cada coisa que chega em minhas mãos, passou antes por muitas outras mãos, talvez dezenas, centenas, algumas talvez estejam mortas ou seriamente doentes. Quantos trabalhadores escravos, muitos ainda crianças, estão por aí em fazendas/empresas que promovem esse tipo de relação de trabalho? Disseminando doenças e infelicidade extrema que depois se tornarão seu mórbido objeto de desejo e consumo. Irônico não? Fora os produtos que foram testados em animais em rituais de tortura "científica", ou ainda os que vieram de outros países, produzidos por pessoas submetidas à condições de trabalho muitas vezes mais cruéis que as de nossas fazendas tupiniquins.

Os meios de produção estão nos transformando em gafanhotos, consumindo o planeta até o último talo. E mesmo assim ainda vejo a todo momento a velha propaganda: "compre, compre, compre....". Existe publicidade responsável? Que me perdoem os publicitários, mas por favor, alguém me convença disso.

As crianças (principalmente elas) são induzidas a consumirem de forma descontrolada. Difícil uma que não se pendure na barra dos pais e diga: "eu queeeerooooooo...." e muitas vezes esse "querer" é meramente temporário. Algo que ela vai conseguir com seu poder infantil de barganha e esquecer num canto da casa em menos de 24 horas. E mesmo assim, no dia seguinte, vão querer algo diferente, mais novo, uma novidade maior ainda do que a do dia anterior.

Será que ninguém vê o que está acontecendo? Será mesmo que as pessoas não percebem o quanto estamos caminhando para um colapso e que não há planeta substituto? Não teremos para onde ir. Simples assim.

O encontro em Copenhagen foi uma falácia, o principal assunto a ser discutido, país nenhum pensou em debater: uma mudança nos meios de produção. Os EUA gastaram trilhões (isso mesmo, TRILHÕES) de dólares somente na Guerra no Afeganistão (a indústria bélica é uma das maiores causadoras de impactos sobre o clima) e cada país presente na Conferência (inclusive EUA e Brasil) ofereceu suas migalhas à título de "ajuda aos países afetados pelo clima". Isso gente, é uma piada. E de muito mau gosto.

Cada um de nós precisa pensar em como seu modo de vida impacta o planeta e o que cada um pode fazer para conter isso. Hoje. Agora. Todos os estudos indicam que uma mudança iniciada nesse momento não irá conter o avanço de destruição que já causamos, mas pode evitar desastres de proporções ainda maiores dos que os que temos visto, as famosas "respostas" da natureza. Por favor, pensem nisso.

Recomendo, pra ajudar a pensar, a série de programas abaixo (no Youtube tem outros como esse):

Sobre o budismo

O texto abaixo, pode ser considerado um "clássico". Para quem é budista, ele não é novo. Mas como descreve bem o conceito do "ser budista", resolvi postar aqui. Talvez como uma resposta a tantas pessoas que me perguntam como é, porque sou, o que significa...





DESFAZENDO EQUÍVOCOS


(Monja Yvonette Silva Gonçalves)



Se você quer milagres, não procure o Budismo. O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.

Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.

Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.

Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.

Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.

Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.

Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.

Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.

Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.

Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.

Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.

Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.

Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.

Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.

Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.

Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.




Para os que pretendem saber mais, recomendo o: http://www.terrapuradf.org.br/ onde também é possível saber sobre as atividades do Templo Budista da 316 sul, para quem mora em Brasília.

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