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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mandela e Cuba - por Beto Almeida

Mesmo na morte de um gigante da humanidade como o revolucionário Nelson Mandela, o imperialismo não deixa de exibir sua baixeza incorrigível ao buscar manipular a imagem deste líder para mostrá-lo como um conciliador abstrato. A revista Veja, que tem como acionistas empresários sul-africanos  apoiadores do apartheid, o apresenta como “o guerreiro da paz”, o mesmo a quem prenderam e torturaram. Seria o segundo sequestro de Mandela depois de 27 anos de prisão: o da sua imagem, para que não se saiba tratar-se de um dirigente comunista, revolucionário,  que apoiou a luta armada contra o regime racista da África do Sul e a revolução no mundo.

É obrigatório lembrar a posição de Mandela sobre Cuba, sempre sonegada pela mídia do capital, para mostrar seu pensamento por inteiro. Logo após Angola ter conquistado sua independência, em 1975,  foi alvo de agressão militar da África do Sul, que ocupou grande parte de seu território, com o apoio dos EUA e Inglaterra, que hoje fazem declarações hipócritas sobre Mandela. O presidente de Angola, Agostinho Neto, solicitou diretamente a Fidel Castro o apoio militar de Cuba. Imediatamente, se organizou uma das maiores operações de ajuda militar internacionalista, com 400 mil cubanos,  homens e mulheres, tendo lutado em solo angolano, ao longo de  um década, derrotando a agressão  imperialista e libertando Angola e Namíbia. A Batalha decisiva foi a de Cuito Cuanavale quando,  derrotadas, as tropas do regime racista bateram  em retirada.  Mandela a declara: “a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Nós devemos a destruição do Apartheid a Cuba!”

Hoje, Cuba, que foi o único país a se levantar em armas em defesa de Angola e Namíbia e contra o Apartheid, continua a compartilhar internacionalmente, médicos, professores, vacinas e exemplos. Com o reconhecimento e solidariedade do revolucionário Nelson Mandela, que, neste episódio, mostrou sua integridade e grandeza!

Beto Almeida

Diretor de Telesur

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MADIBA

É preciso libertar Nelson Mandela

AO LONGO DE DÉCADAS, Nelson Mandela liderou um movimento de combate ao Apartheid racial da África do Sul por meio de diversos métodos, com destaque para os de ação direta, como greves, manifestações de massas e, inclusive, para se contrapor à violência sistemática do governo, resistência armada. Madiba participou da fundação do braço guerrilheiro do Congresso Nacional Africano (CNA), o “Umkhonto we Sizwe” (Lança da Nação). Preso por 27 anos, recusou-se a aceitar a “liberdade” em troca da rejeição incondicional da violência como instrumento de luta política. Enquanto o governo prosseguisse reprimindo violentamente a população negra, não poderia aceitar tal condição. A luta de Madiba e de milhões de sul-africano(a)s, afinal, era por sua libertação coletiva, e não simplesmente pela liberdade de lideranças individuais.
Não por acaso, Mandela permaneceu como preso político por tanto tempo. Não por acaso, Margaret Thatcher, a poderosa Primeira-Ministra Britânica, amiga e aliada de ditadores como Augusto Pinochet e ícone do neoliberalismo, não apenas recusava-se a sancionar o regime do Apartheid, mas declarou, em 1987, que o CNA (partido de Mandela) era “uma típica organização terrorista”. Parlamentares do partido conservador da “Dama de Ferro” chegaram a pedir publicamente pela morte do líder da resistência ao Apartheid, na mesma época. Um ano antes, em 1986, o Partido Republicano de Ronald Reagan, nos EUA, votara contra uma resolução para reconhecer o CNA como partido político e apelar ao governo para libertar Nelson Mandela. O líder da luta contra o regime de segregação racial só saiu da lista de terroristas do governo norte-americano em 2008.
Esse Mandela, o radical, é o que faço questão de lembrar, hoje, em tempos nos quais, no Brasil, a luta coletiva por direitos ganha cada vez mais corações, mentes, pés e braços; em tempos nos quais um morador de rua, Rafael Vieira, é condenado à prisão por porte de pinho sol em manifestação; tempos nos quais uma gari, Cleonice Vieira de Moraes, morre em Belém do Pará, em junho, como uma das vítimas do gás lacrimogêneo jogado aos montes pela PM contra manifestantes; tempos nos quais partidos governistas e da oposição conservadora mobilizam-se para aprovar, no Congresso, uma lei que cria o tipo penal de “TERRORISMO CONTRA COISA” e agrava penas de “incitação ao terrorismo” (contra coisa?) quando cometidas pela internet…
Quem quer mudar o mundo, quem quer resistir a esta ordem injusta na qual vivemos, precisa estar pronta para ser chamada de terrorista, ainda que seja o oposto disso. Deve preparar-se para ser marginalizada e seguir em luta contra todas as formas de marginalização. Mandela e a vitoriosa luta coletiva contra o Apartheid na África do Sul nos ensinam: “não é da docilidade dos poderosos, mas dos ardores irredutíveis da insubmissão” (como dizia García Linera, outro ex-guerrilheiro e preso político), que nascem os direitos, a liberdade igualitária, a dignidade.
O que temos a aprender com o Mandela conciliador, bem comportado, muitas vezes o único mostrado e incensado pelos discursos oficiais e grande mídia? A estratégia da conciliação com o capitalismo tem sido capaz de aprofundar as conquistas democráticas e em oposição ao racismo, às desigualdades sociais e ao neocolonialismo na África do Sul e no continente africano? Parece-me que não. Não entro nesta discussão agora, porém.
Tampouco interessa-me idealizar acriticamente o Mandela guerrilheiro, ou o movimento armado de que participou. Certamente, ele acertou e errou em diversas medidas em vários momentos, e devemos aprender com suas vitórias e fracassos – não como indivíduo quase beatificado, mas como alguém profundamente comprometido com a ação política coletiva.
É preciso promover a libertação póstuma de Nelson Mandela. Agora, da falsa imagem que têm buscado construir para ele nas últimas décadas e mais ainda na hora de sua morte, enquadrando-o como representante máximo de impotentes exortações morais de combate bem comportado, disciplinado e conciliador ao racismo. Não podemos deixar que se oculte e silencie a memória do Madiba insurgente, militante político da luta coletiva contra o racismo entranhado na colonialidade capitalista.
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Libertem Mandela (das grades da mentira)! 
20/7/2005, Tony Karon (nos 87 anos de Nelson Mandela) [excertos]
http://tonykaron.com/2005/07/20/free-mandela-from-the-prison-of-fantasy/


2ª-feira, Nelson Mandela completou 87 anos e, cá nessas praias, eu às vezes sinto que ele continua preso, precisando de que o libertem de algumas fantasias bizarras que nada têm a ver com a história ou a política deMandela.

Declaro aqui, para que todos saibam desde já: Nelson Mandela é o único político no qual algum dia votei; que o celebro como um gigante de nosso tempo e que mil vezes o declarei meu comandante (quase sempre, cantando, desafinado, cantos xhosa), ao longo dos dez anos durante os quais lutei no movimento de libertação dos negros na África do Sul. Por isso, provavelmente, o “Mandela” que tantas vezes encontrei nas fábulas da mitologia norte-americana me parece absolutamente irreconhecível. Comento aqui as duas das mais repetidas versões dessas fábulas:


Mandela inventado #1: “Como Gandhi, Martlin Luther King e Nelson Mandela…”
Quantas vezes ouviu-se essa frase, aplicada a algum político que, em algum canto do mundo, pregue o pacifismo contra regime assassino! Quem duvide, que pesquise no Google a exata frase (em inglês).

Compreendo a compulsão de associar figuras de grande autoridade moral, mas, aí, há erro importante. Nelson Mandela jamais foi pacifista. Quando a via da desobediência civil não violenta de Ghandi só gerou mais violência do estado, Mandela declarou: “Chega a hora, na vida de qualquer nação, quando só há duas escolhas – submeter-se ou lutar. Essa hora chegou para a África do Sul. Não nos submeteremos e não nos resta escolha além de responder, pelos meios que haja, na defesa de nosso povo, nosso futuro e nossa liberdade.”

Mandela teve papel de liderança na construção do braço armado do Congresso Nacional Africano,[1] e viajou pelo mundo para obter apoio e recursos; ele próprio recebeu treinamento para guerra de guerrilhas na Argélia, de comandantes da FLN que, pouco tempo antes, despachara de lá os franceses colonialistas.


Mas Mandela nunca foi terrorista: sob o comando dele, o braço armado do movimento só atacou símbolos e estruturas do governo da minoria branca e soldados de suas forças de segurança. Jamais atacou civis brancos ou outros não combatentes. E, o mais importante, Mandela sempre viu a ala armada do movimento como diretamente e essencialmente subordinada à liderança política.

Permaneceu, consistente e orgulhoso, sempre fiel a essas ideias. Mesmo quando oposição não violenta de massas tornou-se dominante, como orientação do Congresso Nacional Africano, nos anos 1980s, Mandelareafirmou sua conexão com a ala armada. Escreveu, de uma mensagem enviada clandestinamente de dentro da prisão, que “entre o martelo da luta armada e a bigorna da ação de massas, o inimigo será esmagado.” (Claro que nem sempre funcionou assim – a luta armada jamais foi muito efetiva, e a ação de massas, combinada com sanções internacionais fizeram mais, para derrubar o regime do apartheid.)

Mandela, como as demais lideranças do movimento, nunca deixaram passar qualquer oportunidade de adotar solução política, para benefício de todos os sul-africanos. Mas esse era o mesmo espírito com o qual embarcou em sua luta armada, como disse à corte: “Durante minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Combati contra a dominação dos brancos, e contra a dominação dos negros. Sempre acalentei o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todos vivessem em harmonia e com oportunidades iguais. É ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas também estou preparado para morrer por ele.”


Mandela e sua organização só suspenderam a luta armada depois que o regime do apartheid cedeu à democracia. Mas, não: nunca foi pacifista. Bem diferente disso, jamais hesitou ao pegar em armas, quando percebeu que seu povo estava obrigado a escolher entre a submissão à tirania e a resistência armada. Contudo, jamais foi militarista: sempre que pôde, preferiu a via política. Quanto a isso, também, tem muito a ensinar ao mundo.

Mandela inventado #2: O “Milagre Mandela
Junte na pesquisa pelo Google “Mandela” e “milagre”: há pelo menos 86 mil citações.[2]  Essa ideia entrou no imaginário norte-americano na seguinte versão: a África do Sul teria explodido numa guerra racial, e os brancos teriam sido afogados no mar, não fosse a “miraculosa” generosidade de espírito de Nelson Mandela, que supostamente teria contido as hordas vingativas.

Ah... Por onde começar?!

A ideia de que negros vingam-se da violência que sofram nas mãos de brancos é horrivelmente racista. (Lembrem-se da resposta demolidora de Gandhi, quando um jornalista perguntou-lhe o que pensava da civilização ocidental: “É uma boa ideia...”, mais ou menos nessas palavras.) 

Mas nem precisa tanto. Essa mentira racista ignora a cultura política do Congresso Nacional Africano, que Mandela ajudou a formar e que também o formou, que jamais dependeu só de Mandela ou de qualquer outro indivíduo, por mais força de caráter que tivesse. 

A arquitetura política básica do processo de reconciliação sempre esteve inscrita na política interna do Congresso Nacional Africano, que sempre foi movimento não racial, do qual participavam inúmeros brancos, e cujas políticas distinguiam claramente entre a minoria branca governante e os sul-africanos brancos. 

Nenhum historiador de respeito poderá jamais subestimar o papel do Partido Comunista da África do Sul na constituição e no aprofundamento dessa cultura. 

Já várias vezes escrevi contra o Partido Comunista da África do Sul, mas ninguém pode negar que os comunistas foram a primeira, e por muito tempo a única organização na África do Sul, que pregava um governo da maioria negra; dentro do Congresso Nacional Africano, os comunistas tiveram papel chave na análise e na modelagem do não-racialismo e de incluir brancos na luta contra o governo colonialista da minoria branca.

Quando alguns jovens furiosos, que se haviam juntado às forças da guerrilha armada, quiseram responder com ataques terroristas aos ataques cada vez mais sangrentos do regime contra favelas e guetos da maioria negra nos anos 1980s, foram os comunistas – liderados por Chris Hani, comandante do braço militar do Congresso Nacional Africano e, depois, presidente do Partido Comunista da África do Sul – que conseguiram resgatar o Congresso Nacional Africano, então já muito próximo da beira do abismo.

E, por paradoxal que pareça a muitos, foram os intelectuais comunistas do Congresso Nacional Africano e suarealpolitik leninista, que conseguiram encaminhar o movimento na direção de uma solução política negociada; a crítica de que seriam “rejeicionistas” foi muito fraca, praticamente desprezível. (...)

O que realmente interessa destacar aqui é que não foi alguma epifania que se teria manifestado pela boca de Nelson Mandela, o que levou a África do Sul para o bom rumo que tomou. Não havia massas de negros clamando por vingança. Todos entendiam o que significa a liberdade, e que liberdade nada teria jamais a ver com vingança. Pretender que teria acontecido outra coisa é insultar os milhões de sul-africanos do povo, que lutaram e sacrificaram-se para libertar Mandela e, depois, o levaram ao poder. (...)


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[1] “O Congresso Nacional Africano é uma aliança entre o Partido Comunista da África do Sul (PCAS) e o Congresso dos Sindicatos da África do Sul [orig. South African Trade Unions (COSATU)]. Cada membro dessa aliança é organização independente, com estatutos, membros e programas próprios. A Aliança baseia-se no compromisso de todos com os objetivos da Revolução Nacional Democrática e na necessidade de reunir a maior frente possível de sul-africanos, alinhados com aqueles objetivos” (http://www.anc.org.za/show.php?id=3763). O Congresso Nacional Africano foi declarado “organização terrorista” pelo presidente Reagan, dos EUA, em 1986 (http://www.policymic.com/articles/52029/the-surprising-republican-civil-war-that-erupted-over-nelson-mandela-and-apartheid).
[2] Hoje, 6/12/2013, oito anos depois desse artigo, a mesma pesquisa oferece “Aproximadamente 37.900.000 resultados (0,48 segundos)”, muitas das quais relacionadas ao filme “Reconciliation: Mandela Miracle” (http://www.imdb.com/title/tt1664818/) [NTs]. 

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Do blog do Bourdokan:

Morre o amigo dos palestinos

 Arafat e Mandela, eternos amigos

Nelson Mandela, o homem mais odiado pelos governantes de Israel partiu aos 95 anos.

Nelson Mandela, deixou como legado o apoio incondicional ao povo palestino.

Ficou indignado com a invasão da Líbia e assassinato de Kadafi.

Kadafi, o líder que esteve presente em todas as revoluções de independência das jovens nações africanas.

E dos movimentos revolucionários de todo o mundo, inclusive brasileiros, e que foi barbaramente assassinado pelos truculentos euro-estadunidenses.

É claro que você não lerá uma linha sobre Kadafi e nem sobre o fato de um dos netos de Mandela receber o nome do líder líbio.

Mandela declarou inúmeras vezes que o apartheid israelense contra os palestinos era mais brutal que o apartheid dos brancos sul-africanos contra os negros.

Mas como vivemos num mundo cínico, dominado por monstros travestidos de seres humanos, essas declarações de Mandela serão ignoradas olimpicamente.

Mandela e Kadafi
                      

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Médicos cubanos e integração regional

Por Beto Almeida
“O que brilha com luz própria , ninguém pode apagar / Seu brilho pode alcançar a escuridão de outras costas / Que pagará este pesar do tempo que se perdeu.... / Das vidas que nos custou e das que nos podem custar.. / O pagará a unidade dos povos em questão.... / E a quem negar esta razão, a história condenará...” - Canción por La Unidad Latinoamericana - Pablo Milanez
Não faltaram emoção, lágrimas e dignidade na chegada dos 176 médicos cubanos, que desembarcaram neste sábado à noite em Brasília, para um trabalho indispensável em municípios brasileiros, mais de 700, ainda sem qualquer assistência médica. Quando aqueles cidadãos cubanos, muitos deles negros, muitas mulheres, com bandeirolas brasileiras e cubanas nas mãos, pisaram o solo brasileiro, ali estava o retrato do enorme progresso social, educacional e sanitário alcançado pela Revolução Cubana. Mas, também, uma prova concreta de que a integração da América Latina está avançando; não é só comércio, é também saúde. O Brasil coopera com Cuba na construção do Complexo Portuário de Mariel - sua mais importante obra de infra-estrutura atualmente - e Cuba coopera com o Brasil preenchendo uma lacuna imensa, a falta de médicos.
A campanha conservadora contra a integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais Médicos , começar a apresentar seus efeitos concretos. Esses resultados terão a força para revelar o teor medieval das críticas feitas pelas representações médicas e pela mídia teleguiada pela publicidade da indústria farmacêutica.
Volumosa desinformação
Tendo em vista o volume de desinformação que circulou contra a vinda de médicos estrangeiros, mas contra os médicos cubanos em especial, é obrigatório travar a batalha das idéias, primeiramente, em defesa da Revolução Cubana como uma conquista de toda a humanidade. Cercada, sabotada, agredida, a Revolução Cubana, que antes de 1959, possuía os mais tenebrosos indicadores sociais, analfabetismo massivo, mortalidade infantil indecente, desemprego e atraso social generalizado, consegue libertar-se da condição de colônia, e, mesmo sem ter uma base industrial como a brasileira, por exemplo, e passa a exportar médicos, professores, vacinas, desportistas. Exporta, principalmente, exemplos!
Esse salto histórico da Revolução Cubana deixa desconcertada a crítica, seja emanada pela mídia colonizada pelas lucrativas transnacionais fabricantes de fármacos ou equipamentos hospitalares, seja a crítica oligarquia difundida pelas representações médicas. Os que questionam a qualidade da formação profissional dos médicos cubanos são desafiados a responder por que a mortalidade infantil em Cuba é das mais baixas do mundo, sendo inferior, inclusive, àquela registrada no Estado de Washington, nos EUA?
Cuba e a libertação africana
Vale lembrar que Cuba possuía, antes de 1959, pouco mais de 6 mil médicos, dos quais, a metade deixou o país porque não queria perder privilégios, nem concordava com a socialização da saúde. Apenas cinco décadas depois, é esta mesma Cuba que tem capacidade de exportar milhares de médicos para socorrer o povo brasileiro de uma indigência grave construída por um sistema de saúde ainda determinado pelos poderosos interesses das indústrias hospitalar, farmacêutica e de equipamentos, que privilegiam a noção de uma medicina como um negócio, uma atividade empresarial a mais, não como um direito, como determina nossa constituição.
Já em 1963, quando a Revolução na Argélia precisou, iniciou-se a prática de cubana de enviar brigadas médicas aos povos irmãos. Ensanguentada pela herança da dominação francesa, a Revolução Argelina encontrou em Cuba a fraternidade concreta, quando ainda não havia na Ilha um contingente médico tão numeroso como o existente atualmente. Predominou sempre na Revolução Cubana, a idéia de que em matéria de solidariedade internacional comparte-se o que se tem, não o que lhe sobra. Foi exatamente ali, na Argélia, que se estabeleceram laços indestrutíveis entre a Revolução Cubana e os diversos movimentos de libertação da África. A partir de então, Cuba participou com brigadas militares e médicas em diversos processos de libertação nacional do continente. De tal sorte que, em 1966, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi organizada por médicos cubanos! Os CRMs conhecem esta informação? Sabem que a poliomielite foi erradicada em Cuba décadas antes do Brasil fazê-lo?
Será o Revalida capaz de avaliar a dimensão libertadora da medicina cubana?
Quando Angola foi invadida por tropas do exército racista da África do Sul, baseado nas supremas leis do internacionalismo proletário, Agostinho Neto, presidente angolano, também médico e poeta, solicita a Fidel Castro ajuda militar para garantir a soberania da nação africana. Uma das mais monumentais obras de solidariedade foi realizada por Cuba que, ao todo, enviou a Angola, cerca de 400 mil homens e mulheres para, ao lado dos angolanos e namíbios, expulsar as tropas imperialistas sul-africanas tanto de Angola como da Namíbia. E sob a ameaça de uma bomba atômica, que Israel ofereceu à África do Sul, argumentando que as tropas cubanas tinham que ser dizimadas porque pretendiam chegar até Pretória.....
Na heroica Batalha de Cuito Cuanavale - que todos os jornalistas, historiadores, militantes deveriam conhecer a fundo - lá estavam as tropas cubanas, mas lá estavam também as brigadas médicas de Cuba, que se espalharam por várias pontos de Angola. A vitória de Angola e da Namíbia contra a invasão da África do Sul, foi também a derrota do regime do Apartheid. Citemos Mandela: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos o fim do Apartheid a Cuba!”.
Qual exame Revalida será capaz de dimensionar adequadamente o desempenho de um médico cubano em Cuito Cuanavale, com sua maleta de instrumentos numa das mãos e na outra uma metralhadora, livrando a humanidade da crueldade do Apartheid? Como dimensionar o bem que o fim do Apartheid, com a decisiva participação cubana, proporcionou para a saúde social da História da Humanidade?
As crianças de Chernobyl em Cuba
O sentido de solidariedade internacionalista está tão plasmado na sociedade cubana que, quando aquele terrível acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986, o estado cubano recebeu, das organizações dos Pioneiros - que congregam crianças e adolescentes cubanos - a proposta de oferecer tratamento médico às crianças contaminadas pela radioatividade vazada no desastre. Um documentário realizado pelo extinto Programa Estação Ciência, dirigido pelo jornalista Hélio Doyle, exibido com freqüência na TV Cidade Livre de Brasília, registra como Cuba compartilhou seus recursos médicos e hospitalares, mas, sobretudo, sua fraterna solidariedade com cerca de 3 mil crianças russas que foram levadas para tratamento na Ilha, nas instalações dos Pioneiros, em Tarará.
Destaque-se, primeiramente, que a ideia partiu dos Pioneiros. Segundo, que Cuba não se colocava na condição de doadora, mas apenas cumprindo um dever solidário. Lembravam que o povo soviético havia sido solidário com Cuba quando os EUA iniciaram o bloqueio contra a Ilha cortando a cota de petróleo e do açúcar, suspendendo o comércio bilateral, na década de 60. A URSS passou a comprar todo o açúcar cubano, pelo dobro do preço do mercado internacional, e a abastecer Cuba de petróleo, pela metade do preço de mercado mundial. São páginas escritas, em uma outra lógica, solidária, fraterna, socialista. É de se imaginar o quanto os dirigentes das representações médicas brasileiras poderiam aprender com aquelas crianças cubanas que ofertaram tratamento às 3 mil crianças russas, um contingente menor que o de médicos cubanos que virão para o Brasil?
Impublicável
A cooperação entre Brasil e Cuba, em matéria de saúde, não está iniciando-se agora. Durante o governo Sarney, recém re-estabelecidas as relações bilaterais, em 1986, foram as vacinas cubanas contra a meningite que permitiram ao nosso país enfrentar aquele surto. Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por comprar grandes lotes da vacina desenvolvida pela avançada ciência de Cuba. De modo venenoso, tentou-se desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora atacam a medicina cubana. Na época, foram as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. Mas, também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um pouco dos valores e das conquistas de uma revolução.
Afinal, por que um país com poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas, também desenvolver uma tecnologia com capacidade para produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões, não tinha capacidade para defender seu próprio povo de um surto de meningite? São sagradas as prioridades de uma revolução. E é por isso, que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo, se vê na obrigação de recorrer a Cuba para não permitir a continuidade de um crime social configurado na não prestação de atendimento médico a milhões de brasileiros.
Mais recentemente, quando a Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela que se espalhou pela África, obteve como resposta desta indústria o mais sonoro e insensível NÃO. Os preços que a OMS podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas, apetitosos. Milhões de vidas africanas passaram correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais, o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o Instituto Finley, cubano. Essa cooperação permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado internacional. Onde foi publicada esta informação?
Apenas na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia brasileira em relação ao programa Mais Médicos e à cooperação da Medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação estatal brasileiro-cubana.
Os médicos cubanos e o furacão Katrina
Para dimensionar a inqualificável onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, o que revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão pública. Quando ocorre o trágico furacão Katrina, que devasta Nova Orleans, deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o desinteresse do governo dos EUA em prestar-lhe socorro naquela oportunidade, também foi Cuba que colocou à disposição do governo estadunidense - malgrado toda a hostilidade ilegal deste para com a Ilha - um contingente de 1300 médicos, postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar prestar ajuda à população afetada pelo furacão.
Aguardavam apenas autorização para o embarque, e em questão de 3 horas de vôo estariam em Nova Orleans salvando vidas. Aguardaram horas, mas esta autorização nunca chegou da Casa Branca. A resposta animalesca do presidente George Bush foi um sonoro NÃO à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica, provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco caráter, que tal recusa representava. Os Eua estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo. Mas, são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada pelo furacão.
Uma Escola de Medicina para outros povos
Também não circulam informações aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a América Central e parte do Caribe, decide montar uma Escola Latino-americana de Medicina, que, em pouco mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos estrangeiros, gratuitamente. Entre eles, 500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores dos bairros do Harlem e do Brooklin, de elevados índices de violência. Eles me revelaram que se tivessem continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do narcotráfico. Frisavam que, estar ali em Cuba, formando-se em medicina, gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo não lhes oferecia.
Há, estudando na ELAM, cerca de uma centena de jovens do MST, filhos de assentados da reforma agrária. Isto significa que Cuba compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. Também estudam lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?
Ampliar a integração em outras áreas
Também não se divulgou por aqui: Cuba montou três Faculdades de Medicina na África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial), em pleno funcionamento, com professores cubanos. Toda esta campanha de insultos contra Cuba e os médicos cubanos, abre uma boa possibilidade para discutir e conhecer mais a fundo todas estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas reflitam sobre quantas outras possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras áreas.
Mas, serve também para reavaliar a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se opõe, inexplicavelmente, ao Programa Mais Médicos, alguns chegando, ao absurdo de terem apresentado projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10 anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil. Cuba abre faculdades de medicina na África, parlamentares da esquerda brasileira - padecendo da doença senil do corporativismo tosco - propõe a não abertura de mais cursos de medicina aqui. Realmente, setores de nossa esquerda também precisam da cooperação médica cubana, a começar para curarem-se de espantosa desinformação acerca de Cuba.!
Qualificar o debate sobre a integração
Enfim, um debate democrático e qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também, sobre as conquistas da Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba, pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da América Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população mais pobre. A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e adversas em diversos países.
É preciso expandir esta integração, avançar pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil ainda não esteja conectado com a TeleSur, por exemplo, que tem divulgado amplo material jornalístico informando que 3 milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira graças a Operação Milagro, pela qual médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas em vários países da região. Isso não é notícia relevante? Enquanto o povo argentino, por exemplo, já pode sintonizar gratuitamente a Telesur, por sua tv digital pública, e informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de receber informações que revelam o andamento da integração da América Latina. Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta da agenda do debate político nacional e receberá, certamente, um impulso político e social, notável, pois o povo brasileiro, saberá , com nobreza e humanismo, valorizar e apoiar o programa Mais Médicos. Aliás, é exatamente isto o que tanto apavora a medicina capitalista.
Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!
Segundo dados recentes do Ministério do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e outros projetos, muito lucrativos para as multinacionais. Mas, quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. Por que é aceitável a importação de telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas, vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único pais em condições objetivas de apresentar-se prontamente e de maneira eficaz com profissionais experimentados. Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota ideia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina socialista de Cuba?
Quem pagará a conta da demora?
A presidenta Dilma tem inteira razão em convocar os Médicos Cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo, amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. Aliás, com a determinação da presidenta Dilma, está absolutamente revelada a importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para que esta modalidade de integração nas esferas sociais, não avance também para outras áreas, como a educação, por exemplo.
Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”, que Venezuela, Bolívia, Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores cubanos. Muito em breve, será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão, que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista, mas depois perdeu, na era neoliberal. Por quanto tempo o Brasil terá apenas projetos pilotos, em apenas 3 cidades, com o método de alfabetização cubano, que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais? Que espera a sexta economia do mundo em convocar ainda mais a cooperação cubana para erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora? Como diz a canção de Pablo, será paga pela unidade latino-americana. Pero, cuantas vidas puede custar?
Termino com a declaração da Dra Milagro Cárdenas Lopes, cubana, negra, 61 anos “Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou. Em seguida, dirigiu-se com seus companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de seu alojamento. Sinal eloquente de que a integração está escrevendo uma nova página na história da América Latina.
* Beto Almeida é jornalista da TV senado, formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em grandes jornais, entre eles Última Hora, O Globo e Correio Braziliense e foi vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). Atualmente, é membro da Junta Diretiva da La Nueva Televisión Del Sur (Telesur), do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato e da Comissão de Justiça e Paz da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

PS: os grifos são deste blog

sábado, 10 de março de 2012

Cobertura ao vivo da Conferência de Tunis



"Nossas vidas começam a terminar no dia em que nos silenciamos para as coisas que realmente importam" - Martin Luther King, Jr.


11:12 Cobertura ao vivo da Conferência de Túnis: "Os líbios sob a autoridade de milícias e gangues armadas".


Já é possível acompanhar pelo video aqui:  http://www.mathaba.net/go/live/


Pedimos desculpas, porque atualmente temos uma transmissão de vídeo ao vivo intermitente e ainda não temos comunicação com o nosso correspondente na conferência.

Como é habitual em eventos importantes como este que contradizem as redes que se submetem à agenda da "nova ordem mundial", não há qualquer referência na grande mídia para esse evento, que seria notícia em qualquer canal sério de televisão. Portanto, é importante apoiar agências independentes como Mathaba, para que seja possível continuar a cobrir eventos de tamanha importância para o público mundial.


Várias autoridades européias, africanas e árabes estão presentes, bem como membros de organizações mundiais e grupos de ajuda internacionais, representantes das tribos líbias e vários advogados, escritores e jornalistas da Tunísia além de meios de comunicação internacionais.


Agradecemos seus comentários, eles serão publicados ao longo do tempo durante todo o evento.


Se você não consegue ver o vídeo, por favor, atualize a página  http://www.mathaba.net/go/live


Vamos agora dar aos espectadores algumas informações sobre os eventos na Líbia no ano passado e a razão para esta Conferência ter lugar hoje na vizinha Tunísia.

Antes de um ataque total da aérea executado pelos EUA, Europa e jatos de combate do Golfo Árabe, disparando mísseis e soltando dezenas de milhares de bombas sobre a Libya durante a maior parte de 2011, este país foi governado por um sistema de democracia popular direta, conhecido como "Jamahiriya".



Desde o início de 2011, o povo líbio tem resistido à invasão do seu país pela Al-Qaeda e elementos treinados por franceses, britânicos, e tropas dos EUA além de outras"agências de inteligência", juntamente com mercenários e ex-exilados da Líbia, da era pré-Jamahiriya. Período anterior a 1969, quando a Líbia era um dos países mais pobres do mundo, governado por um rei fantoche dos Estados Unidos, sendo na época a maior base aérea no exterior, onde os norte-americanos tinham o controle da Bacia do Mediterrâneo, África Central e Oriente Médio.


Nós vamos tentar postar aqui e depois colocar atualizações no mesmo post, portanto, para os que tiverem interesse em ler aqui em português, basta ir atualizando a página principal do blog.


Analistas acreditam que os objetivos da elite falida ocidental em travar esta guerra na Líbia, inclusive destruindo exemplos como a Jamahiriya, silenciando também a voz do coronel Muammar Kadafi, era pôr fim ao enorme investimento e apoio para a independência econômica, política e militar da África (dinheiro que a Líbia emprestou aos países vizinhos sem jamais cobrar por isso) e aproveitar-se também da maior oferta mundial de água pura do rio que há embaixo do Sahara - a maior parte sob território líbio - onde agora se sustentam as esperanças francesas de saírem da crise econômica, vendendo trilhões de dólares em petróleo e água líbios.

Nós estamos acompanhando desde o início a Conferência e na medida do possível vamos transmitir o nome dos presentes e as resoluções que serão tiradas de lá. Continuem acompanhando e postando seus comentários.


As atrocidades mais terríveis foram cometidas por criminosos perigosos que foram libertados das prisões na Líbia por terroristas armados, conhecidos entre os líbios como "ratos". Essas ações, incluindo as formas mais brutais de tortura, desmembramentos, abusos, humilhação e assassinato, foram freqüentemente filmados nos telefones celulares dos criminosos e carregados para o YouTube (e muitos ainda podem ser encontrados lá). No entanto, o mundo das assim chamadas organizações de direitos humanos têm permanecido em grande parte em silêncio sobre este assunto.

Pedimos àqueles que não entendem árabe, para se inscrever em http://www.mathaba.net/go/daily com seus e-mails e imediatamente conferir o email para confirmar a inscrição gratuita, de modo que você será capaz de ler um relatório ampliado na próxima semana sobre a conferência em Francês, Inglês e Português, que será enviado a você se você entrar nessa lista.

O abuso de líbios negros e outros africanos trabalhadores imigrantes,tem sido particularmente evidente. Qualquer pessoa de pele negra passou a ser alvo de maneira semelhante ao abuso de negros africanos nos Estados Unidos pela Ku Klux Klan durante o século passado. Os governos africanos também permaneceram praticamente em silêncio sobre esta questão, para o choque e desânimo das suas populações.

A Líbia foi o único país a ter um sistema de democracia direta. Todos os outros regimes árabes, a maioria dos quais são monarquias ou ditaduras, ou permaneceram como estão, ou foram substituídos por novos subservientes aos financistas globais (como George Soros), e isso inclui vizinhos árabes da Líbia, da Tunísia e Egito.


Na Tunísia, onde a conferência de hoje promovida por juristas internacionais, ativistas de direitos humanos e pró-democracia apoiadores da Jamahiriya Líbia está ocorrendo, também ocorreram manifestações pacíficas em apoio ao povo da Líbia.

Hoje analistas já acreditam que o objetivo das elites da "Nova Ordem Mundial", não é a criação de um regime fantoche na Líbia, uma impossibilidade, em qualquer caso, dada a forte oposição popular ao "Conselho Nacional de Transição" e que já admitiram ter uma proposta insustentável. 

Hoje acredita-se que o objetivo é a criação de uma Líbia fraca e dividida, como parte do plano para criar um arco de completo caos por todo o caminho da Nigéria até a China, em toda a região central rica em recursos naturais. Não à toa, há décadas assistimos pela televisão o êxodo de fome em países como a Somália ou Etiópia que todos os estudos comprovam poderiam ser alimentados com uma parcela ínfima do investimento bélico contra esses países. Mas também é verdade que os países mais pobres da África estão hoje assentados em reservas petrolíferas cujos governos não tem condições de explorar.

Nós temos agora a comunicação com o nosso correspondente que está presente na Conferência, e irá informar aos telespectadores os nomes e cargos das pessoas que têm falado até agora.

Agora um momento de silêncio para os muitos mártires da Líbia.

O primeiro a falar foi um príncipe da França, Henry VI de Bourbon.

Em seguida, fala uma testemunha da Líbia, descrevendo os horrores da guerra e afirmando que não irá perdoar o que a OTAN fez com seus filhos, todos mortos agora.

"Muitos acreditam que a única maneira de contrariar esta situação, é tomar consciência de nossos verdadeiros direitos e responsabilidades, para espalhar a consciência de princípios fundamentais importantes e organizar uma Jamahiriya universal, um sistema alternativo paralelo ao da ordem mundial capitalista em decadência."

Enquanto estamos à espera de mais notícias da Conferência "Os líbios sob a autoridade de milícias e gangues armadas" que realiza-se hoje em Tunis, congratulamo-nos com quaisquer comentários e perguntas dos telespectadores. Faremos o possível para publicar os seus comentários e responder às perguntas.


Um homem líbio de Misrata, tira a camisa e mostra suas feridas causadas por um bombardeio da OTAN. 


A Conferência irá fazer uma pausa até a sessão da tarde. Esperamos ser capazes de transmitir à eles as pergutnas dos espectadores. Agradecemos a sua paciência.

13:23 Reinício da Conferência

Neste momento, um comentário ao vivo do correspondente Smain Bedrouni, um anúncio em francês, pedindo desculpas em nome de Mathaba.Net para a qualidade do áudio, e explicando que vários advogados têm falado até agora na conferência.


Nós devemos ser capazes de dar uma lista dos nomes daqueles que falaram esta manhã e  suas posições, em algum momento durante as próximas horas, durante a sessão da tarde após a pausa para o almoço. 

Recebemos informações de que os ratos líbios pressionaram para o cancelamento da Conferência, e que esta está ocorrendo em um local diferente, já que o Diplomat Hotel cancelou a cessão do espaço. É por isso também que parte do trabalho está mal organizado, ainda há pessoas chegando no local. Teremos mais detalhes do nosso Correspondente nas próximas horas.

O Presidente da Comissão Internacional de Juristas em Defesa do Oprimido e os líbios exilados, Sr. Mohiedine Ben Jemaa, anunciou que suas perguntas serão respondidas ao vivo no próximo bloco.

Por favor continuem postando perguntas via http://mathaba.net/go/live ou aqui nos comentários do blog, elas serão enviadas para os participantes da Conferência.

A senhora que falou agora é Ginette Scandrani, uma francesa que atuou em apoio à resistência argelina e em seguida, falou o tenor italiano e ativista de direitos humanos Joe Fallisi.

Joe Fallisi é um amigo de longa data da Jamahiriya, um tenor e poeta italiano, que também respondeu a um processo legal do governo italiano por divulgar que este violou a Constituição italiana ao atacar a Líbia, com a qual tinha um tratado de paz.

Joe Fallisi, apesar de italiano, está falando em francês como a maioria dos participantes falam francês ou árabe, porque a conferência está ocorrendo em Tunis.

Lamentamos que o áudio francês não é alto, ainda que o árabe seja alto e claro. Foi-nos prometido um tradutor de Inglês, mas isso ainda não se concretizou.

Os sites Oficiais da JAMAHIRIA estão sendo reconstruídos pela resistência líbia como o www.AlGaddafi.org e o www.Aljamahiria.org (jornal líbio jamahiria). A Jamahirya tem tido muito trabalho para ressurgir, mas vai acontecer. Os sites não tinham sido "hackeados" como alegado, mas, webmasters de alguns dos sites usaram de seu "poder" para alterá-los. Alguns foram fechados contra qualquer lei internacional por parte das empresas de hospedagem! No entanto, informam os participantes da Conferência que há um grande movimento para reorganizar o país que não irá se submeter a essa "autoridade" que foi imposta por forças estrangeiras.



Presidente de l'Académis des Sciences d'Outre Mer (Academia de Ciências do Ultramar), Adel Ben Hsin, falou há pouco tempo, seguido por Professeur JouveEdmond de Université Paris Descartes, na França, que agora está falando.

Não há ainda qualquer estação de TV / rádio transmitindo o encontro. Quanto aos espectadores on-line, centenas ficaram por um tempo curto, já que 99% do tempo o áudio só foi claro em árabe, e em francês, e ausente em Inglês. 

Conforme anunciado pelo Sr. Mohiedine Ben Jemaa, Presidente da Comissão Internacional de Juristas em Defesa dos líbios Oprimidos e Exilados, as perguntas serão respondidas a partir das 19:00. 

17:30 O correspondente Smain Bedrouni acaba de anunciar em francês que haverá uma pausa antes da Conferência continuar com sua sessão da noite.

Esta conferência foi convocada por advogados para analisar a situação dos líbios sob o regime do CNT.

Os organizadores, palestrantes e visitantes da Conferência estão agora se preparando para o momento da oração da noite, a Conferência vai continuar em cerca de 25 minutos.


Acabamos de receber informações de que além da Conferência ter sido forçada a mudar-se para outro lugar, porque o Diplomat Hotel cancelou mais cedo o uso do espaço, como  resultado da pressão dos "líbios ratos da OTAN", o hotel atual para onde se deslocaram,  também ordenou agora que a Conferência terminasse. Nosso correspondente Smain Bedrouni mencionou que há guardas em todos os lugares e ele foi forçado a ficar offline. Assim que possível, iremos transmitir informações mais precisas sobre o que aconteceu.


No momento, estamos tentando entrar em contato com o responsável pela organização do evento, Mohieddin Ben Jemaa para obter mais informações sobre a situação. Nem o deputado Mohieddin Ben Jemaa nem o nosso correspondente Smain Bedrouni estão respondendo seus telefones, o que provavelmente significa que eles estão sendo entrevistados ou detidos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Convite do Comitê Internacional de Juristas em Defesa do Oprimido



Mulher líbia sobre os escombros de sua casa após bombardeio da OTAN

Amanhã, 10 de março de 2012, em Túnis, capital da Tunísia, vizinha à Libya (país que está sob um regime instalado pelo que George Soros chama de "Nova Ordem Mundial"), haverá uma conferência sobre a reconstrução da Jamahirya Líbia, num grande movimento de resistência que aos poucos começa a tomar conta do país, depois que as forças estrangeiras desocuparam o território.

O portal Mathaba irá transmitir o evento, ao vivo, provavelmente em francês, árabe e inglês (idiomas confirmados até o momento). Este blog vai - a partir deste banner localizado aí ao lado no topo à direita - realizar a cobertura do evento em português - tentando também obter informações com jornalistas colaboradores que estarão no local. Se a transmissão não estiver boa durante o evento, vamos postar aqui um relatório posterior.

O convite oficial, segue abaixo.


CONVITE

O Presidente e os membros da Comissão Internacional de Juristas em Defesa do Oprimido, com a participação da Associação de Exilados da Líbia, têm a honra de convidá-lo para a conferência: "Os líbios sob a autoridade de milícias e gangues armadas ", a ser realizada neste sábado, 10 de março no Diplomat Hotel em Tunis às 11h da manhã.

Autoridades e diplomatas Europeus, Africanos e Árabes estarão presentes, bem como membros de organizações mundiais e grupos de ajuda internacional, além de representantes das tribos líbias e advogados, escritores e jornalistas da Tunísia e outros meios de comunicação internacionais.

Na expectativa de sua visita, por favor, aceite os nossos cumprimentos.

Mohieddin Ben Jemaa 
Tel: 0021622013102 email: a.bjm@hotmail.fr



RESIST AFRICOM

Do blog de Lizzie Phelan:



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Wa Libya Obas!


Mapeamento da Resistência Líbia


A chamada grande imprensa não vai divulgar a informação a seguir, transmitida por jornalistas independentes que acompanham a guerra de agressão à Líbia pela OTAN, a mando de potências imperialistas.
Mesmo após os bombardeios terroristas da OTAN que destruiu diversas cidades líbias, assassinando mais de 150.000 pessoas, o povo árabe líbio não está disposto a se submeter a um governo fantoche dos imperialistas. Tudo mostra que a luta pela libertação da Líbia do domínio estrangeiro será longa e renhida. A situação atual pode ser melhor compreendida a partir das cores do mapa publicado acima:
O sul da Líbia (cor verde) é local de resistência, graças às tribos Tuareg e Tubruk, partidários da Jamahiriya (o Poder Popular). O Exército Popular de Libertação da Líbia, comandado por Saif Al Islam Al Kadafi, está se deslocando pela região e se fortalecendo com o apoio de outras tribos e povos do deserto.
O centro do país (cor branca) é a zona disputada pelo CNT e Exército Popular de Libertação da Líbia. Sem o apoio das bombas da OTAN os rebeldes da CNT sofrem baixas diárias e não tem perspectiva alguma de controlar o país.
O norte da Líbia (cor preta) é território aparentemente dominado pela CNT, forças especiais (mercenários) da OTAN e grupos fundamentalistas islâmicos, comandados pela Al Qaeda.
As manchas vermelhas representam as forças de resistência líbia atomizadas no território ocupado pela CNT. A guerrilha urbana, organizada em células independentes, provoca baixas entre os rebeldes e evitam – por enquanto - o enfretamento corpo a corpo.
Tudo isto ocorre enquanto as promessas dos imperialistas que invadiram a Líbia não são cumpridas. Os mercenários estrangeiros e rebeldes não estão recebendo os salários prometidos pelos dirigentes do CNT (o dinheiro está sendo desviado para paraísos fiscais porque eles sabem que não se manterão no poder por muito tempo). A situação é explosiva e ninguém pode prever o que pode acontecer nas próximas horas.
O governo fantoche da Líbia, CNT, pediu ao governo dos Estados Unidos da América que mantenha a OTAN no país, bombardeando a população civil líbia, para tentar evitar o crescimento da resistência. Mas os governos dos países que comandam a OTAN não estão dispostos a continuar gastando fortunas com a guerra de ocupação porque o que eles desejavam já conseguiram: gerentes (traidores) para administrar o roubo do petróleo líbio.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Líbia que eu conheci

O relato que se segue abaixo, foi publicado no blog do jornalista e professor Georges Bourdokan que conheceu a Líbia, quando trabalhava para a Rede Globo e foi ao país com a missão de produzir um Globo Repórter (que não foi ao ar), e desde o início dos conflitos vem publicando artigos com sua visão muito diferente da maioria dos veículos de imprensa.

O relato dele só aumenta minha enorme sensação de melancolia e tristeza pelo que as "grandes nações do mundo" acabaram de fazer. Uma música do System of a Down diz algo como: "você também paga pela guerra e pelas mortes, seus impostos, seu dinheiro também financia a guerra". 

Foi a nação descrita abaixo que vocês acabaram de, tacitamente, destruir. Por ação ou omissão, colaboraram com cada morte, cada ato de barbárie que hoje temos em material farto na internet. O anúncio do CNT de que trará a sharia de volta é a cereja do bolo de todo esse bizarro e macabro massacre que as nações e povos do mundo acabaram de patrocinar. Parabéns a todos os envolvidos! 

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Nelson Mandela assim que foi libertado foi agradecer a Kadafi 
o seu apoio ao povo sul-africano contra o regime do aparheid.

Estive na Líbia em setembro de 1979, por ocasião do décimo aniversario da Revolução que levou Kadafi ao poder. Me acompanharam na ocasião o cinegrafista Luis Manse e o operador de Nagra Nelson Belo, Belo (por onde andarão?).
Estávamos ali pelo Globo Repórter, do qual eu era o diretor em São Paulo.
Primeira surpresa. O hotel, para onde o governo nos enviou, estava totalmente ocupado por diplomatas.
Perguntei ao embaixador do Brasil a razão dessa concentração.
A resposta me surpreendeu ainda mais.
Na Líbia de Kadafi, os aluguéis estavam proibidos.
Os líbios que não tivessem casa, era só solicitar que o governo imediatamente providenciava a construção de uma. O pais era um imenso canteiro de obras.
E mais: Uma lei em vigor, a Lei do Colchão, determinava que, qualquer cidadão líbio que soubesse da existência de casa alugada, era só atirar um colchão no quintal que a casa passava a ser sua.
Inúmeras embaixadas sofreram com essa lei já que foram ocupadas por líbios.
O próprio embaixador me contou na ocasião que a embaixada brasileira não ficou imune a essa lei.
Um motorista líbio que ali trabalhava informou a um amigo que ainda não tinha casa, que a embaixada do Brasil era alugada.
Imediatamente esse amigo atirou um colchão e reivindicou a propriedade (uma mansão que pertencia a um italiano que retornou à Itália apos a subida ao poder de Kadafi).
O governo líbio precisou intervir para evitar maiores dissabores. O Brasil acabou ganhando a embaixada e o líbio uma casa nova.
Isto tudo aconteceu na década de 70, quando a Líbia era uma potência riquíssima, com apenas 3 milhões de habitantes, em quase 1.800.000 quilômetros quadrados.
Os líbios, por lei, eram proibidos de trabalhar como empregados de estrangeiros. O líbio que não quisesse trabalhar recebia o equivalente, valores de hoje, a cerca de 7 mil dólares por mês. E mais: médico, hospital e remédios era tudo de graça.
Ninguém pagava escola e o líbio que quisesse aperfeiçoar seus estudos fora do país ganhava uma substancial bolsa. Conheci muitos desses líbios na França, Itália, Espanha e Alemanha, e outros países onde estive como jornalista.

Tripoli antes da invasão da OTAN





Estamos em Tripoli, ano 1979.

Esta noite quase não consegui pegar no sono.
No hotel onde estava hospedado, alem dos diplomatas e alguns jornalistas, estavam também delegações de países africanos de língua portuguesa.
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.
E foram eles que não me deixaram pegar no sono já que, sabendo que eu teria um encontro com Kadafi no dia seguinte, queriam que eu lhe pedisse mais explicações sobre o socialismo Líbio.
Disseram que nunca haviam visto algo igual. Nem mesmo em livros.
Ficaram admirados com a Lei do Colchão, com a assistência medica, remédios e educação tudo gratuito.
E pelo fato de ninguém ser obrigado a trabalhar na Líbia e mesmo assim receber uma remuneração “ fantástica” no dizer de um angolano.
Prometi que tentaria obter uma resposta, desde que, de fato, eu conseguisse falar com Kadafi, por saber que ele era imprevisível e não poucas vezes deixou jornalistas aguardando ad infinitum.
Antes, preciso esclarecer que as portas dos apartamentos dos hotéis não possuíam fechaduras.
Por isso todos podiam entrar no apartamento de todos razão pela qual nossos apartamentos eram sempre “visitados”.
Perguntei ao gerente do hotel a razão da falta de fechaduras.
Respondeu que na Líbia não havia ladrões como na “época da colonização italiana e por isso as fechaduras eram prescindíveis”.
Mas um diplomata me esclareceu que a falta de fechaduras era para que os “fiscais” do governo pudessem entrar a qualquer hora do dia ou da noite para ver se não havia mulheres “convidadas” nos apartamentos.
“Porque, prosseguiu o diplomata, os líbios até hoje falam que durante a colonização italiana e o reinado de Idris, os hotéis serviam apenas para orgias”.
No dia seguinte me preparo para o encontro com Kadafi.
Manse, com a sua câmera e Belo com seu gravador Nagra me aguardavam ao lado do elevador.
Com cara de sono, reclamaram que seus apartamentos foram “penetrados” umas três vezes de madrugada e foi um susto só.
O carro enviado pelo governo nos esperava na entrada, mas Manse queria tomar mais um cafezinho.
Entrei no carro e aguardei.
Cinco minutos depois Luis Manse, com sua inseparável câmera chegava sozinho.
Perguntei pelo Belo, ele disse que o imaginava comigo.
Perguntei ao nosso acompanhante se ele havia visto o nosso companheiro.
Imediatamente ele foi à portaria perguntar.
Um rapaz simpático respondeu que tinha visto Belo acompanhado por dois policiais uniformizados a caminho da praça que ficava a uns cinqüenta metros do hotel.
Fiquei preocupado, imaginando o pior.
Jornalista acompanhado por policiais no Brasil nunca era um bom augúrio.

Kadafi ao lado do presidente Nasser do Egito


Belo e os dois policiais estão parados ao lado de um reluzente carro Mercedes Benz novinho em folha.
Perguntei o que estava acontecendo.
Um dos policiais me disse que o meu companheiro não parava de apontar a chave do carro na ignição. E que eles não sabiam a razão, pois Belo não falava o árabe e nem eles o “brasileiro”.
Então era por isso que eles saíram juntos do hotel.
Nada preocupante.
Belo me explicou e eu traduzi para o policial que ele, ao ver a chave na ignição, ficou preocupado de alguém roubar o carro.
Os dois policiais começaram a rir e disseram tratar-se de um carro abandonado.
Era um costume no país.
Quem não gostasse do carro bastava abandoná-lo com a chave dentro. O interessado podia levá-lo.
Essa era a Líbia da época.
Muita fartura, nenhuma miséria e a abundância ao alcance de todos.
Alias isso podia se observar nas pessoas.
Os mais velhos, que viveram sob o domínio dos colonialistas e durante a monarquia, eram pessoas alquebradas, corpo seco.
As crianças e os jovens eram saudáveis e alegres.
Só para se ter uma idéia da Líbia sob Kadafi, tudo custava mais ou menos o equivalente a 3 dólares.
Havia supermercados gigantescos, mas nada era vendido a varejo.
Quem quisesse arroz, por exemplo, pagava 3 dólares pelo saco de 50 quilos.
Tudo era nessa base.
Fomos visitar o parque industrial de Trípoli e eu pedi para conhecer uma tecelagem.
Perguntei como era a relação com os clientes e um técnico alemão que ali se encontrava para montar o maquinário, começou a rir.
“Os líbios são loucos”, me disse. E completou: “eles não vendem nada aqui por metro, somente a peça inteira. E para qualquer um que entrar na fábrica e pedir”.
Perguntei o preço da peça: 3 dólares a peça de 50 metros...
Mas se você, por exemplo, quisesse comprar uma gravata, qualquer uma, o preço mínimo era o equivalente a 200 dólares.
Um cachimbo, 300 dólares.
Ou seja, todo produto que que lembrasse os colonizadores e, de acordo com eles, representasse ou sugerisse consumo supérfluo, era altamente taxado.
Bebida alcoólica, nem pensar. Dava prisão sumária.
E foi o que aconteceu com dois jornalistas argentinos, cuja “esperteza” os remeteu ao porto e ali compraram de um cargueiro, uma garrafa de uísque.
Um dos funcionários do hotel sentiu o bafo e os denunciou.
É verdade que eles não foram presos, porque eram convidados do governo.
Mas não puderam entrevistar ninguém, muito menos o Kadafi...
E nós só soubemos disso porque o embaixador do Brasil, uma figura simpaticíssima, uma noite nos convidou para a Embaixada e, ali, nos ofereceu um uísque de não sei quantos anos (guardado a sete chaves num cofre), que Manse e Belo acharam delicioso.
Claro que eu também bebi um gole, apesar de detestar uísque.
Seja de que marca for, de que ano for.
Sempre me lembrou o gosto de iodo.
Evidentemente não faria uma desfeita ao embaixador tão solícito.
Não estalei a língua porque aí seria demais.
Antes de nos despedirmos, o embaixador nos ofereceu um litro de leite para cada um, pois segundo ele o leite disfarçaria o nosso hálito.
Na porta, perguntei ao embaixador se ele poderia nos dar um depoimento.
“O Kadafi é um Gênio”, respondeu.
Surpreso, perguntei.
O senhor considera o Kadafi um Gênio?
Sim! Um Gênio!


Kadafi permitiu que as mulheres se alistassem



Então o senhor considera Kadafi um Gênio?

Sim! Respondeu o embaixador. Um Gênio! E amanhã o senhor vai ter uma prova disso.
Não entendi.
Amanhã vai haver um desfile em comemoração ao décimo aniversario da Revolução. Assista e veja se não tenho razão.
O dia seguinte amanheceu glorioso. E eu já estava preocupado.
Se o país vai parar para comemorar o décimo aniversário da Revolução, será que Kadafi vai encontrar tempo para a entrevista?
A população lotava a praça e as ruas onde seriam realizados os desfiles.
Um fato me chamou a atenção.
Havia milhares de meninas adolescentes com uniformes militares prontas para o desfile.
Sorriam um sorriso que somente as adolescentes possuem.
Impressionante a sua alegria.
Foi assim que Kadafi libertou as mulheres, que antes não podiam atravessar a porta de casa e nem tirar as vestimentas que cobriam seu corpo de cima abaixo, me confidenciou o embaixador.
É ou não um gênio?
Essas adolescentes saem de casa bem cedinho usando o uniforme militar e retornam para suas casas no fim do dia. Elas só não dormem no quartel.
E têm autorização para não tirar o uniforme.
Depois do serviço militar elas jamais voltam a se vestir como anteriormente.
Então é por isso que as mulheres líbias se vestem como as ocidentais?
Mas vez ou outra deparamos com mulheres com roupas tradicionais.
Terminado o desfile, um membro do governo me diz que Kadafi nos receberia não mais em Trípoli, mas em Benghazi, a bela cidade mediterrânea.
E que nos buscariam de madrugada pra viajarmos os 600 quilômetros que separam as duas cidades.
Fico sabendo nesse dia que a energia elétrica que ilumina o país é de graça.
Ninguém recebe a conta de luz, seja em casa ou no comércio.
E quem tiver aptidão para empresário, pode buscar os recursos necessários no banco estatal e não paga nenhum centavo de juros.
A divisão da riqueza do país com sua população, em nome do islamismo, criou um sério problema para os demais países muçulmanos, principalmente Arábia Saudita.
E desde então, Kadafi nunca poupou os dirigentes sauditas que acusou de terem se apossado de um país que jamais lhes pertenceu e de serem “infiéis que conspurcavam o verdadeiro islamismo”.
“Trocaram o Profeta pelo petróleo”.
Pela primeira vez usava-se o Alcorão contra aqueles que se diziam seus defensores.
Os sauditas, acuados, só conseguiam dizer que ele era “comunista”.
Kadafi respondia que ele apenas seguia o Alcorão ao pé da letra.
Várias revoltas começaram a eclodir na Arábia Saudita e países do Golfo.
Estados Unidos e mídia associada começaram a arregaçar as mangas.
Era preciso defender a vassala Arábia Saudita e transformar Kadafi num pária.
Na volta ao hotel, dou de cara com revolucionários da África do Sul. Estavam na Líbia em busca de fundos para lutar contra o apartheid.

A bela Benghazi antes da invasão da OTAN

Vamos falar francamente.
Eu estava me esforçando para realizar um programa que dificilmente seria exibido.
Naquela época o Globo Repórter registrava uma audiência enorme, entre 50 e 65, com pico de 72.
Alem do mais, vivíamos sob o tacão da ditadura.
Mas já que estávamos lá, vamos tocar o barco e ver no que vai dar.
À noite, no hotel, alguém abre a porta e me pergunta se posso conversar um pouco.
Era o chefe da delegação de Guiné-Bissau e estava empolgado. Nunca imaginara conhecer um país como a Líbia.
Perguntou como foi o meu encontro com Kadafi.
Respondi que o encontro seria no dia seguinte em Benghazi.
Enquanto conversávamos, um “fiscal” do governo, entra no quarto e nos cumprimenta sorridente.
Dá uma olhada rápida e com aquele sorriso de comissária de bordo, nos agradece e vai embora.
Mal passaram 10 minutos e a porta novamente é aberta. Um jornalista do Rio de Janeiro, meu vizinho de quarto entra desesperado.
- Uma coca cola pelo amor de Deus. Meu reino por uma coca-cola. Vou descer até saguão, alguém precisa me informar onde consigo comprar coca cola nesse país de birutas.
E nem esperou o elevador. Desceu pela escada mesmo.
- Maluco esse seu vizinho, me confidenciou o guine-bissauense (é assim mesmo que se diz?). E além do mais ainda ofendeu Shakespeare.
Em seguida ele me revela que conheceu muitos revolucionários de países diferentes que se encontravam na Líbia em busca de recursos.
Inclusive sul africanos.
- Entregaram uma carta de Nelson Mandela para o Kadafi pedindo para ele não esquecer seus irmãos africanos, respondeu feliz dando a entender que eles foram atendidos.
Novamente o “fiscal” com sorriso de comissária de bordo entra. Desta vez para nos convidar a assistir no salão do hotel a um filme sobre os “horrores” da herança colonialista.
Na verdade não era um filme, mas um documentário de 15 minutos e se a ideia era para que a plateia se indignasse, o efeito foi o contrário.
O documentário mostrava a noite em Trípoli. Garotas seminuas andando nas ruas em busca de clientes, “inferninhos”, cabarés, bebidas alcoólicas, muitas bebidas, e por aí vai.
E o pior, terminada a exibição vários aplausos da plateia, principalmente de jornalistas, pedindo a volta dos colonizadores...
Isso sim é que era época boa, exclamou o jornalista carioca, agora ao lado de um colega mineiro que completou: “eta paizinho que nem coca-cola tem”.
Quatro da manhã somos acordados. Do aeroporto de Tripoli seguimos para Benghazi, onde finalmente vamos entrevistar Kadafi.

Omar Mukthar, herói nacional líbio, preso por colonizadores italianos


Quando desembarcamos em Benghazi, a belíssima Benghazi, tamareiras enfeitavam suas praias.
Estavam ali como os coqueiros nas praias do nordeste.
Era colher e comer tâmaras dulcíssimas.
Um jornalista suíço que chegara a Benghazi uma semana antes, me confidenciou que não deveria perder um casamento. Qualquer um, disse.
Estava realmente deslumbrado com a festa e o que o deixou mais impressionado, é que os noivos, depois da cerimônia, recebem um envelope do governo com o equivalente a 50 mil dólares de presente.
Bem, essa era a Líbia que pouca gente conhecia e a mídia ocidental não fazia nenhuma questão de mostrá-la.
E não poderia, pois como explicar a seus leitores que havia ascendido ao poder um jovem coronel que não utilizou a riqueza em benefício próprio?
Pelo contrario.
Havia dividido a riqueza com a população do país.
Que não queria ver ninguém sem teto, sem fome, sem educação e sem muitas outras coisas mais.
Eu, naturalmente, iria sem dúvida nortear a minha entrevista a partir desses pontos.
Mas antes da entrevista, fomos a três festas com músicos árabes de diversos países.
E haja doce.
E haja suco.
E nem um “uisquinho”, lamentavam alguns jornalistas que, sinceramente, acho que estavam no país sem saber porque e para que.
As festas corriam em tendas beduínas, algo que Kadafi sempre prezou.
Finalmente cara a cara com Kadafi.
Em sua tenda.
Aparentava cansaço.
Alguns dos assuntos discutidos:
1 - Socialismo líbio;
2 - Educação;
3 - Reforma agrária;
4 - Moradia
5 - Alinhamento
6 - Arabismo
7 - Socialismo chinês, soviético, cubano;
8 - Apoio aos movimentos revolucionários;
9 - Che Guevara;
10 - Estados Unidos;
11 - Brasil;
12 - Liberação feminina
13 - Reencarnaçao de Omar Moukhtar.
A entrevista, que seria de 40 minutos, durou mais de duas horas e creio que passaríamos a noite conversando se ele não fosse a toda hora solicitado.
Naturalmente a Globo achou melhor não colocar o programa no ar, pois poderia melindrar a ditadura.
Foi feita uma proposta para que um programa de 15 minutos fosse ao ar no Fantástico.
Foi realizada a reedição, mas o programa teria sido proibido pelos censores oficiais da ditadura (civil-militar-midiatica.)
Tudo culpa da ditadura.
Será?
Óh céus! óh terrra! Quando nos livraremos desse sistema putrefato?

Qual foi o grande erro de Kadafi?

Eu não tenho a menor dúvida.


Foi acreditar nos euro-estadunidenses e desistir de sua bomba atômica.

Os pacifistas que me perdoem.
Aqui não se trata de incentivar a produção de ogivas nucleares, mas de persuasão.
O Brasil que tome jeito e comece a produzir a sua.
Caso contrário, a própria mídia brasileira, associada ao Império, fará de tudo para que o país seja invadido e ocupado.
Kadafi não ficou rico, como os produtores de petróleo do Golfo.
Dividiu a riqueza do país com a população.
Apoiou todos os movimentos revolucionários de esquerda do mundo.
Inclusive os brasileiros.
Em nenhum momento esqueceu a população negra da África.
E da África do Sul, onde, em agradecimento, um neto de Nelson Mandela chama-se Kadafi.
Quando Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente da África do Sul em 1994, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton fez de tudo para que Mandela parasse com os agradecimentos quase diários a Kadafi pelo seu apoio à luta dos revolucionários africanos.

"Os que se irritam com nossa amizade com o presidente Kadafi podem pular na piscina", respondeu Mandela.
O presidente de Uganda Yoweri Museveni afirmou que "quaisquer que sejam as falhas de Kadafi, ele é um verdadeiro nacionalista. Prefiro nacionalistas do que marionetes de interesses estrangeiros".
E disse mais:
" Kadafi deu contribuições importantes para a Líbia, para a África e para o Terceiro Mundo. Devemos lembrar ainda que, como parte desta forma independente de pensar, ele expulsou bases militares britânicas e americanas da Líbia após tomar o poder".
Alem disso, o ex-líder líbio também teve papel importante na formação da União Africana (UA).
A principal coordenadora da guerra contra a Líbia, Hillary Clinton, andou pela África pregando abertamente o assassinato de Muamar Kadafi.
Como não teve sucesso, começou a recrutar mercenários.
Alias foram esses mercenários que lutaram na Líbia. E eles não foram dizimados graças à Organização Terrorista do Atlântico Norte (OTAN) e EUA.
Quem puder pesquisar, quando Kadafi nacionalizou as empresas petrolíferas e os bancos, a mídia Ocidental referia-se a ele com "Che Guevara Árabe".
Antes de ser deposto e linchado pelos mercenários a mando dos terroristas OTAN e EUA, a Líbia possuía o maior índice de desenvolvimento humano da África, e até hoje maior que o do Brasil.
E o que pouca gente sabe, em 2007 inaugurou o maior sistema de irrigação do mundo.
Transformou o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.
Alias, assim que subiu ao poder os líbios que quiseram produzir alimentos receberam terra, equipamentos, sementes e 50 mil dólares para sobreviver até a safra.
Foi uma Reforma Agrária total e irrestrita.
Ele também pressionou pela criação dos Estados Unidos da África (EUA) para rivalizar com os eua e união européia.
Ele lutou por uma África una: “Queremos militares africanos para defender a África. Queremos uma moeda única. Queremos um só passaporte africano".
Lamentavelmente esqueceu a Bomba Atômica. E pagou por isso.
As nações que pretendem se emancipar que pensem nisso.
E abaixo você ouve os presidentes Hugo Chaves, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo...cantando Hasta Siempre, em homenagem a Che Guevara. Eles também que se cuidem.


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