"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mandela e Cuba - por Beto Almeida

Mesmo na morte de um gigante da humanidade como o revolucionário Nelson Mandela, o imperialismo não deixa de exibir sua baixeza incorrigível ao buscar manipular a imagem deste líder para mostrá-lo como um conciliador abstrato. A revista Veja, que tem como acionistas empresários sul-africanos  apoiadores do apartheid, o apresenta como “o guerreiro da paz”, o mesmo a quem prenderam e torturaram. Seria o segundo sequestro de Mandela depois de 27 anos de prisão: o da sua imagem, para que não se saiba tratar-se de um dirigente comunista, revolucionário,  que apoiou a luta armada contra o regime racista da África do Sul e a revolução no mundo.

É obrigatório lembrar a posição de Mandela sobre Cuba, sempre sonegada pela mídia do capital, para mostrar seu pensamento por inteiro. Logo após Angola ter conquistado sua independência, em 1975,  foi alvo de agressão militar da África do Sul, que ocupou grande parte de seu território, com o apoio dos EUA e Inglaterra, que hoje fazem declarações hipócritas sobre Mandela. O presidente de Angola, Agostinho Neto, solicitou diretamente a Fidel Castro o apoio militar de Cuba. Imediatamente, se organizou uma das maiores operações de ajuda militar internacionalista, com 400 mil cubanos,  homens e mulheres, tendo lutado em solo angolano, ao longo de  um década, derrotando a agressão  imperialista e libertando Angola e Namíbia. A Batalha decisiva foi a de Cuito Cuanavale quando,  derrotadas, as tropas do regime racista bateram  em retirada.  Mandela a declara: “a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Nós devemos a destruição do Apartheid a Cuba!”

Hoje, Cuba, que foi o único país a se levantar em armas em defesa de Angola e Namíbia e contra o Apartheid, continua a compartilhar internacionalmente, médicos, professores, vacinas e exemplos. Com o reconhecimento e solidariedade do revolucionário Nelson Mandela, que, neste episódio, mostrou sua integridade e grandeza!

Beto Almeida

Diretor de Telesur

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MADIBA

É preciso libertar Nelson Mandela

AO LONGO DE DÉCADAS, Nelson Mandela liderou um movimento de combate ao Apartheid racial da África do Sul por meio de diversos métodos, com destaque para os de ação direta, como greves, manifestações de massas e, inclusive, para se contrapor à violência sistemática do governo, resistência armada. Madiba participou da fundação do braço guerrilheiro do Congresso Nacional Africano (CNA), o “Umkhonto we Sizwe” (Lança da Nação). Preso por 27 anos, recusou-se a aceitar a “liberdade” em troca da rejeição incondicional da violência como instrumento de luta política. Enquanto o governo prosseguisse reprimindo violentamente a população negra, não poderia aceitar tal condição. A luta de Madiba e de milhões de sul-africano(a)s, afinal, era por sua libertação coletiva, e não simplesmente pela liberdade de lideranças individuais.
Não por acaso, Mandela permaneceu como preso político por tanto tempo. Não por acaso, Margaret Thatcher, a poderosa Primeira-Ministra Britânica, amiga e aliada de ditadores como Augusto Pinochet e ícone do neoliberalismo, não apenas recusava-se a sancionar o regime do Apartheid, mas declarou, em 1987, que o CNA (partido de Mandela) era “uma típica organização terrorista”. Parlamentares do partido conservador da “Dama de Ferro” chegaram a pedir publicamente pela morte do líder da resistência ao Apartheid, na mesma época. Um ano antes, em 1986, o Partido Republicano de Ronald Reagan, nos EUA, votara contra uma resolução para reconhecer o CNA como partido político e apelar ao governo para libertar Nelson Mandela. O líder da luta contra o regime de segregação racial só saiu da lista de terroristas do governo norte-americano em 2008.
Esse Mandela, o radical, é o que faço questão de lembrar, hoje, em tempos nos quais, no Brasil, a luta coletiva por direitos ganha cada vez mais corações, mentes, pés e braços; em tempos nos quais um morador de rua, Rafael Vieira, é condenado à prisão por porte de pinho sol em manifestação; tempos nos quais uma gari, Cleonice Vieira de Moraes, morre em Belém do Pará, em junho, como uma das vítimas do gás lacrimogêneo jogado aos montes pela PM contra manifestantes; tempos nos quais partidos governistas e da oposição conservadora mobilizam-se para aprovar, no Congresso, uma lei que cria o tipo penal de “TERRORISMO CONTRA COISA” e agrava penas de “incitação ao terrorismo” (contra coisa?) quando cometidas pela internet…
Quem quer mudar o mundo, quem quer resistir a esta ordem injusta na qual vivemos, precisa estar pronta para ser chamada de terrorista, ainda que seja o oposto disso. Deve preparar-se para ser marginalizada e seguir em luta contra todas as formas de marginalização. Mandela e a vitoriosa luta coletiva contra o Apartheid na África do Sul nos ensinam: “não é da docilidade dos poderosos, mas dos ardores irredutíveis da insubmissão” (como dizia García Linera, outro ex-guerrilheiro e preso político), que nascem os direitos, a liberdade igualitária, a dignidade.
O que temos a aprender com o Mandela conciliador, bem comportado, muitas vezes o único mostrado e incensado pelos discursos oficiais e grande mídia? A estratégia da conciliação com o capitalismo tem sido capaz de aprofundar as conquistas democráticas e em oposição ao racismo, às desigualdades sociais e ao neocolonialismo na África do Sul e no continente africano? Parece-me que não. Não entro nesta discussão agora, porém.
Tampouco interessa-me idealizar acriticamente o Mandela guerrilheiro, ou o movimento armado de que participou. Certamente, ele acertou e errou em diversas medidas em vários momentos, e devemos aprender com suas vitórias e fracassos – não como indivíduo quase beatificado, mas como alguém profundamente comprometido com a ação política coletiva.
É preciso promover a libertação póstuma de Nelson Mandela. Agora, da falsa imagem que têm buscado construir para ele nas últimas décadas e mais ainda na hora de sua morte, enquadrando-o como representante máximo de impotentes exortações morais de combate bem comportado, disciplinado e conciliador ao racismo. Não podemos deixar que se oculte e silencie a memória do Madiba insurgente, militante político da luta coletiva contra o racismo entranhado na colonialidade capitalista.
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Libertem Mandela (das grades da mentira)! 
20/7/2005, Tony Karon (nos 87 anos de Nelson Mandela) [excertos]
http://tonykaron.com/2005/07/20/free-mandela-from-the-prison-of-fantasy/


2ª-feira, Nelson Mandela completou 87 anos e, cá nessas praias, eu às vezes sinto que ele continua preso, precisando de que o libertem de algumas fantasias bizarras que nada têm a ver com a história ou a política deMandela.

Declaro aqui, para que todos saibam desde já: Nelson Mandela é o único político no qual algum dia votei; que o celebro como um gigante de nosso tempo e que mil vezes o declarei meu comandante (quase sempre, cantando, desafinado, cantos xhosa), ao longo dos dez anos durante os quais lutei no movimento de libertação dos negros na África do Sul. Por isso, provavelmente, o “Mandela” que tantas vezes encontrei nas fábulas da mitologia norte-americana me parece absolutamente irreconhecível. Comento aqui as duas das mais repetidas versões dessas fábulas:


Mandela inventado #1: “Como Gandhi, Martlin Luther King e Nelson Mandela…”
Quantas vezes ouviu-se essa frase, aplicada a algum político que, em algum canto do mundo, pregue o pacifismo contra regime assassino! Quem duvide, que pesquise no Google a exata frase (em inglês).

Compreendo a compulsão de associar figuras de grande autoridade moral, mas, aí, há erro importante. Nelson Mandela jamais foi pacifista. Quando a via da desobediência civil não violenta de Ghandi só gerou mais violência do estado, Mandela declarou: “Chega a hora, na vida de qualquer nação, quando só há duas escolhas – submeter-se ou lutar. Essa hora chegou para a África do Sul. Não nos submeteremos e não nos resta escolha além de responder, pelos meios que haja, na defesa de nosso povo, nosso futuro e nossa liberdade.”

Mandela teve papel de liderança na construção do braço armado do Congresso Nacional Africano,[1] e viajou pelo mundo para obter apoio e recursos; ele próprio recebeu treinamento para guerra de guerrilhas na Argélia, de comandantes da FLN que, pouco tempo antes, despachara de lá os franceses colonialistas.


Mas Mandela nunca foi terrorista: sob o comando dele, o braço armado do movimento só atacou símbolos e estruturas do governo da minoria branca e soldados de suas forças de segurança. Jamais atacou civis brancos ou outros não combatentes. E, o mais importante, Mandela sempre viu a ala armada do movimento como diretamente e essencialmente subordinada à liderança política.

Permaneceu, consistente e orgulhoso, sempre fiel a essas ideias. Mesmo quando oposição não violenta de massas tornou-se dominante, como orientação do Congresso Nacional Africano, nos anos 1980s, Mandelareafirmou sua conexão com a ala armada. Escreveu, de uma mensagem enviada clandestinamente de dentro da prisão, que “entre o martelo da luta armada e a bigorna da ação de massas, o inimigo será esmagado.” (Claro que nem sempre funcionou assim – a luta armada jamais foi muito efetiva, e a ação de massas, combinada com sanções internacionais fizeram mais, para derrubar o regime do apartheid.)

Mandela, como as demais lideranças do movimento, nunca deixaram passar qualquer oportunidade de adotar solução política, para benefício de todos os sul-africanos. Mas esse era o mesmo espírito com o qual embarcou em sua luta armada, como disse à corte: “Durante minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Combati contra a dominação dos brancos, e contra a dominação dos negros. Sempre acalentei o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todos vivessem em harmonia e com oportunidades iguais. É ideal pelo qual espero viver e que espero alcançar. Mas também estou preparado para morrer por ele.”


Mandela e sua organização só suspenderam a luta armada depois que o regime do apartheid cedeu à democracia. Mas, não: nunca foi pacifista. Bem diferente disso, jamais hesitou ao pegar em armas, quando percebeu que seu povo estava obrigado a escolher entre a submissão à tirania e a resistência armada. Contudo, jamais foi militarista: sempre que pôde, preferiu a via política. Quanto a isso, também, tem muito a ensinar ao mundo.

Mandela inventado #2: O “Milagre Mandela
Junte na pesquisa pelo Google “Mandela” e “milagre”: há pelo menos 86 mil citações.[2]  Essa ideia entrou no imaginário norte-americano na seguinte versão: a África do Sul teria explodido numa guerra racial, e os brancos teriam sido afogados no mar, não fosse a “miraculosa” generosidade de espírito de Nelson Mandela, que supostamente teria contido as hordas vingativas.

Ah... Por onde começar?!

A ideia de que negros vingam-se da violência que sofram nas mãos de brancos é horrivelmente racista. (Lembrem-se da resposta demolidora de Gandhi, quando um jornalista perguntou-lhe o que pensava da civilização ocidental: “É uma boa ideia...”, mais ou menos nessas palavras.) 

Mas nem precisa tanto. Essa mentira racista ignora a cultura política do Congresso Nacional Africano, que Mandela ajudou a formar e que também o formou, que jamais dependeu só de Mandela ou de qualquer outro indivíduo, por mais força de caráter que tivesse. 

A arquitetura política básica do processo de reconciliação sempre esteve inscrita na política interna do Congresso Nacional Africano, que sempre foi movimento não racial, do qual participavam inúmeros brancos, e cujas políticas distinguiam claramente entre a minoria branca governante e os sul-africanos brancos. 

Nenhum historiador de respeito poderá jamais subestimar o papel do Partido Comunista da África do Sul na constituição e no aprofundamento dessa cultura. 

Já várias vezes escrevi contra o Partido Comunista da África do Sul, mas ninguém pode negar que os comunistas foram a primeira, e por muito tempo a única organização na África do Sul, que pregava um governo da maioria negra; dentro do Congresso Nacional Africano, os comunistas tiveram papel chave na análise e na modelagem do não-racialismo e de incluir brancos na luta contra o governo colonialista da minoria branca.

Quando alguns jovens furiosos, que se haviam juntado às forças da guerrilha armada, quiseram responder com ataques terroristas aos ataques cada vez mais sangrentos do regime contra favelas e guetos da maioria negra nos anos 1980s, foram os comunistas – liderados por Chris Hani, comandante do braço militar do Congresso Nacional Africano e, depois, presidente do Partido Comunista da África do Sul – que conseguiram resgatar o Congresso Nacional Africano, então já muito próximo da beira do abismo.

E, por paradoxal que pareça a muitos, foram os intelectuais comunistas do Congresso Nacional Africano e suarealpolitik leninista, que conseguiram encaminhar o movimento na direção de uma solução política negociada; a crítica de que seriam “rejeicionistas” foi muito fraca, praticamente desprezível. (...)

O que realmente interessa destacar aqui é que não foi alguma epifania que se teria manifestado pela boca de Nelson Mandela, o que levou a África do Sul para o bom rumo que tomou. Não havia massas de negros clamando por vingança. Todos entendiam o que significa a liberdade, e que liberdade nada teria jamais a ver com vingança. Pretender que teria acontecido outra coisa é insultar os milhões de sul-africanos do povo, que lutaram e sacrificaram-se para libertar Mandela e, depois, o levaram ao poder. (...)


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[1] “O Congresso Nacional Africano é uma aliança entre o Partido Comunista da África do Sul (PCAS) e o Congresso dos Sindicatos da África do Sul [orig. South African Trade Unions (COSATU)]. Cada membro dessa aliança é organização independente, com estatutos, membros e programas próprios. A Aliança baseia-se no compromisso de todos com os objetivos da Revolução Nacional Democrática e na necessidade de reunir a maior frente possível de sul-africanos, alinhados com aqueles objetivos” (http://www.anc.org.za/show.php?id=3763). O Congresso Nacional Africano foi declarado “organização terrorista” pelo presidente Reagan, dos EUA, em 1986 (http://www.policymic.com/articles/52029/the-surprising-republican-civil-war-that-erupted-over-nelson-mandela-and-apartheid).
[2] Hoje, 6/12/2013, oito anos depois desse artigo, a mesma pesquisa oferece “Aproximadamente 37.900.000 resultados (0,48 segundos)”, muitas das quais relacionadas ao filme “Reconciliation: Mandela Miracle” (http://www.imdb.com/title/tt1664818/) [NTs]. 

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Do blog do Bourdokan:

Morre o amigo dos palestinos

 Arafat e Mandela, eternos amigos

Nelson Mandela, o homem mais odiado pelos governantes de Israel partiu aos 95 anos.

Nelson Mandela, deixou como legado o apoio incondicional ao povo palestino.

Ficou indignado com a invasão da Líbia e assassinato de Kadafi.

Kadafi, o líder que esteve presente em todas as revoluções de independência das jovens nações africanas.

E dos movimentos revolucionários de todo o mundo, inclusive brasileiros, e que foi barbaramente assassinado pelos truculentos euro-estadunidenses.

É claro que você não lerá uma linha sobre Kadafi e nem sobre o fato de um dos netos de Mandela receber o nome do líder líbio.

Mandela declarou inúmeras vezes que o apartheid israelense contra os palestinos era mais brutal que o apartheid dos brancos sul-africanos contra os negros.

Mas como vivemos num mundo cínico, dominado por monstros travestidos de seres humanos, essas declarações de Mandela serão ignoradas olimpicamente.

Mandela e Kadafi
                      

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Líbia que eu conheci

O relato que se segue abaixo, foi publicado no blog do jornalista e professor Georges Bourdokan que conheceu a Líbia, quando trabalhava para a Rede Globo e foi ao país com a missão de produzir um Globo Repórter (que não foi ao ar), e desde o início dos conflitos vem publicando artigos com sua visão muito diferente da maioria dos veículos de imprensa.

O relato dele só aumenta minha enorme sensação de melancolia e tristeza pelo que as "grandes nações do mundo" acabaram de fazer. Uma música do System of a Down diz algo como: "você também paga pela guerra e pelas mortes, seus impostos, seu dinheiro também financia a guerra". 

Foi a nação descrita abaixo que vocês acabaram de, tacitamente, destruir. Por ação ou omissão, colaboraram com cada morte, cada ato de barbárie que hoje temos em material farto na internet. O anúncio do CNT de que trará a sharia de volta é a cereja do bolo de todo esse bizarro e macabro massacre que as nações e povos do mundo acabaram de patrocinar. Parabéns a todos os envolvidos! 

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Nelson Mandela assim que foi libertado foi agradecer a Kadafi 
o seu apoio ao povo sul-africano contra o regime do aparheid.

Estive na Líbia em setembro de 1979, por ocasião do décimo aniversario da Revolução que levou Kadafi ao poder. Me acompanharam na ocasião o cinegrafista Luis Manse e o operador de Nagra Nelson Belo, Belo (por onde andarão?).
Estávamos ali pelo Globo Repórter, do qual eu era o diretor em São Paulo.
Primeira surpresa. O hotel, para onde o governo nos enviou, estava totalmente ocupado por diplomatas.
Perguntei ao embaixador do Brasil a razão dessa concentração.
A resposta me surpreendeu ainda mais.
Na Líbia de Kadafi, os aluguéis estavam proibidos.
Os líbios que não tivessem casa, era só solicitar que o governo imediatamente providenciava a construção de uma. O pais era um imenso canteiro de obras.
E mais: Uma lei em vigor, a Lei do Colchão, determinava que, qualquer cidadão líbio que soubesse da existência de casa alugada, era só atirar um colchão no quintal que a casa passava a ser sua.
Inúmeras embaixadas sofreram com essa lei já que foram ocupadas por líbios.
O próprio embaixador me contou na ocasião que a embaixada brasileira não ficou imune a essa lei.
Um motorista líbio que ali trabalhava informou a um amigo que ainda não tinha casa, que a embaixada do Brasil era alugada.
Imediatamente esse amigo atirou um colchão e reivindicou a propriedade (uma mansão que pertencia a um italiano que retornou à Itália apos a subida ao poder de Kadafi).
O governo líbio precisou intervir para evitar maiores dissabores. O Brasil acabou ganhando a embaixada e o líbio uma casa nova.
Isto tudo aconteceu na década de 70, quando a Líbia era uma potência riquíssima, com apenas 3 milhões de habitantes, em quase 1.800.000 quilômetros quadrados.
Os líbios, por lei, eram proibidos de trabalhar como empregados de estrangeiros. O líbio que não quisesse trabalhar recebia o equivalente, valores de hoje, a cerca de 7 mil dólares por mês. E mais: médico, hospital e remédios era tudo de graça.
Ninguém pagava escola e o líbio que quisesse aperfeiçoar seus estudos fora do país ganhava uma substancial bolsa. Conheci muitos desses líbios na França, Itália, Espanha e Alemanha, e outros países onde estive como jornalista.

Tripoli antes da invasão da OTAN





Estamos em Tripoli, ano 1979.

Esta noite quase não consegui pegar no sono.
No hotel onde estava hospedado, alem dos diplomatas e alguns jornalistas, estavam também delegações de países africanos de língua portuguesa.
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.
E foram eles que não me deixaram pegar no sono já que, sabendo que eu teria um encontro com Kadafi no dia seguinte, queriam que eu lhe pedisse mais explicações sobre o socialismo Líbio.
Disseram que nunca haviam visto algo igual. Nem mesmo em livros.
Ficaram admirados com a Lei do Colchão, com a assistência medica, remédios e educação tudo gratuito.
E pelo fato de ninguém ser obrigado a trabalhar na Líbia e mesmo assim receber uma remuneração “ fantástica” no dizer de um angolano.
Prometi que tentaria obter uma resposta, desde que, de fato, eu conseguisse falar com Kadafi, por saber que ele era imprevisível e não poucas vezes deixou jornalistas aguardando ad infinitum.
Antes, preciso esclarecer que as portas dos apartamentos dos hotéis não possuíam fechaduras.
Por isso todos podiam entrar no apartamento de todos razão pela qual nossos apartamentos eram sempre “visitados”.
Perguntei ao gerente do hotel a razão da falta de fechaduras.
Respondeu que na Líbia não havia ladrões como na “época da colonização italiana e por isso as fechaduras eram prescindíveis”.
Mas um diplomata me esclareceu que a falta de fechaduras era para que os “fiscais” do governo pudessem entrar a qualquer hora do dia ou da noite para ver se não havia mulheres “convidadas” nos apartamentos.
“Porque, prosseguiu o diplomata, os líbios até hoje falam que durante a colonização italiana e o reinado de Idris, os hotéis serviam apenas para orgias”.
No dia seguinte me preparo para o encontro com Kadafi.
Manse, com a sua câmera e Belo com seu gravador Nagra me aguardavam ao lado do elevador.
Com cara de sono, reclamaram que seus apartamentos foram “penetrados” umas três vezes de madrugada e foi um susto só.
O carro enviado pelo governo nos esperava na entrada, mas Manse queria tomar mais um cafezinho.
Entrei no carro e aguardei.
Cinco minutos depois Luis Manse, com sua inseparável câmera chegava sozinho.
Perguntei pelo Belo, ele disse que o imaginava comigo.
Perguntei ao nosso acompanhante se ele havia visto o nosso companheiro.
Imediatamente ele foi à portaria perguntar.
Um rapaz simpático respondeu que tinha visto Belo acompanhado por dois policiais uniformizados a caminho da praça que ficava a uns cinqüenta metros do hotel.
Fiquei preocupado, imaginando o pior.
Jornalista acompanhado por policiais no Brasil nunca era um bom augúrio.

Kadafi ao lado do presidente Nasser do Egito


Belo e os dois policiais estão parados ao lado de um reluzente carro Mercedes Benz novinho em folha.
Perguntei o que estava acontecendo.
Um dos policiais me disse que o meu companheiro não parava de apontar a chave do carro na ignição. E que eles não sabiam a razão, pois Belo não falava o árabe e nem eles o “brasileiro”.
Então era por isso que eles saíram juntos do hotel.
Nada preocupante.
Belo me explicou e eu traduzi para o policial que ele, ao ver a chave na ignição, ficou preocupado de alguém roubar o carro.
Os dois policiais começaram a rir e disseram tratar-se de um carro abandonado.
Era um costume no país.
Quem não gostasse do carro bastava abandoná-lo com a chave dentro. O interessado podia levá-lo.
Essa era a Líbia da época.
Muita fartura, nenhuma miséria e a abundância ao alcance de todos.
Alias isso podia se observar nas pessoas.
Os mais velhos, que viveram sob o domínio dos colonialistas e durante a monarquia, eram pessoas alquebradas, corpo seco.
As crianças e os jovens eram saudáveis e alegres.
Só para se ter uma idéia da Líbia sob Kadafi, tudo custava mais ou menos o equivalente a 3 dólares.
Havia supermercados gigantescos, mas nada era vendido a varejo.
Quem quisesse arroz, por exemplo, pagava 3 dólares pelo saco de 50 quilos.
Tudo era nessa base.
Fomos visitar o parque industrial de Trípoli e eu pedi para conhecer uma tecelagem.
Perguntei como era a relação com os clientes e um técnico alemão que ali se encontrava para montar o maquinário, começou a rir.
“Os líbios são loucos”, me disse. E completou: “eles não vendem nada aqui por metro, somente a peça inteira. E para qualquer um que entrar na fábrica e pedir”.
Perguntei o preço da peça: 3 dólares a peça de 50 metros...
Mas se você, por exemplo, quisesse comprar uma gravata, qualquer uma, o preço mínimo era o equivalente a 200 dólares.
Um cachimbo, 300 dólares.
Ou seja, todo produto que que lembrasse os colonizadores e, de acordo com eles, representasse ou sugerisse consumo supérfluo, era altamente taxado.
Bebida alcoólica, nem pensar. Dava prisão sumária.
E foi o que aconteceu com dois jornalistas argentinos, cuja “esperteza” os remeteu ao porto e ali compraram de um cargueiro, uma garrafa de uísque.
Um dos funcionários do hotel sentiu o bafo e os denunciou.
É verdade que eles não foram presos, porque eram convidados do governo.
Mas não puderam entrevistar ninguém, muito menos o Kadafi...
E nós só soubemos disso porque o embaixador do Brasil, uma figura simpaticíssima, uma noite nos convidou para a Embaixada e, ali, nos ofereceu um uísque de não sei quantos anos (guardado a sete chaves num cofre), que Manse e Belo acharam delicioso.
Claro que eu também bebi um gole, apesar de detestar uísque.
Seja de que marca for, de que ano for.
Sempre me lembrou o gosto de iodo.
Evidentemente não faria uma desfeita ao embaixador tão solícito.
Não estalei a língua porque aí seria demais.
Antes de nos despedirmos, o embaixador nos ofereceu um litro de leite para cada um, pois segundo ele o leite disfarçaria o nosso hálito.
Na porta, perguntei ao embaixador se ele poderia nos dar um depoimento.
“O Kadafi é um Gênio”, respondeu.
Surpreso, perguntei.
O senhor considera o Kadafi um Gênio?
Sim! Um Gênio!


Kadafi permitiu que as mulheres se alistassem



Então o senhor considera Kadafi um Gênio?

Sim! Respondeu o embaixador. Um Gênio! E amanhã o senhor vai ter uma prova disso.
Não entendi.
Amanhã vai haver um desfile em comemoração ao décimo aniversario da Revolução. Assista e veja se não tenho razão.
O dia seguinte amanheceu glorioso. E eu já estava preocupado.
Se o país vai parar para comemorar o décimo aniversário da Revolução, será que Kadafi vai encontrar tempo para a entrevista?
A população lotava a praça e as ruas onde seriam realizados os desfiles.
Um fato me chamou a atenção.
Havia milhares de meninas adolescentes com uniformes militares prontas para o desfile.
Sorriam um sorriso que somente as adolescentes possuem.
Impressionante a sua alegria.
Foi assim que Kadafi libertou as mulheres, que antes não podiam atravessar a porta de casa e nem tirar as vestimentas que cobriam seu corpo de cima abaixo, me confidenciou o embaixador.
É ou não um gênio?
Essas adolescentes saem de casa bem cedinho usando o uniforme militar e retornam para suas casas no fim do dia. Elas só não dormem no quartel.
E têm autorização para não tirar o uniforme.
Depois do serviço militar elas jamais voltam a se vestir como anteriormente.
Então é por isso que as mulheres líbias se vestem como as ocidentais?
Mas vez ou outra deparamos com mulheres com roupas tradicionais.
Terminado o desfile, um membro do governo me diz que Kadafi nos receberia não mais em Trípoli, mas em Benghazi, a bela cidade mediterrânea.
E que nos buscariam de madrugada pra viajarmos os 600 quilômetros que separam as duas cidades.
Fico sabendo nesse dia que a energia elétrica que ilumina o país é de graça.
Ninguém recebe a conta de luz, seja em casa ou no comércio.
E quem tiver aptidão para empresário, pode buscar os recursos necessários no banco estatal e não paga nenhum centavo de juros.
A divisão da riqueza do país com sua população, em nome do islamismo, criou um sério problema para os demais países muçulmanos, principalmente Arábia Saudita.
E desde então, Kadafi nunca poupou os dirigentes sauditas que acusou de terem se apossado de um país que jamais lhes pertenceu e de serem “infiéis que conspurcavam o verdadeiro islamismo”.
“Trocaram o Profeta pelo petróleo”.
Pela primeira vez usava-se o Alcorão contra aqueles que se diziam seus defensores.
Os sauditas, acuados, só conseguiam dizer que ele era “comunista”.
Kadafi respondia que ele apenas seguia o Alcorão ao pé da letra.
Várias revoltas começaram a eclodir na Arábia Saudita e países do Golfo.
Estados Unidos e mídia associada começaram a arregaçar as mangas.
Era preciso defender a vassala Arábia Saudita e transformar Kadafi num pária.
Na volta ao hotel, dou de cara com revolucionários da África do Sul. Estavam na Líbia em busca de fundos para lutar contra o apartheid.

A bela Benghazi antes da invasão da OTAN

Vamos falar francamente.
Eu estava me esforçando para realizar um programa que dificilmente seria exibido.
Naquela época o Globo Repórter registrava uma audiência enorme, entre 50 e 65, com pico de 72.
Alem do mais, vivíamos sob o tacão da ditadura.
Mas já que estávamos lá, vamos tocar o barco e ver no que vai dar.
À noite, no hotel, alguém abre a porta e me pergunta se posso conversar um pouco.
Era o chefe da delegação de Guiné-Bissau e estava empolgado. Nunca imaginara conhecer um país como a Líbia.
Perguntou como foi o meu encontro com Kadafi.
Respondi que o encontro seria no dia seguinte em Benghazi.
Enquanto conversávamos, um “fiscal” do governo, entra no quarto e nos cumprimenta sorridente.
Dá uma olhada rápida e com aquele sorriso de comissária de bordo, nos agradece e vai embora.
Mal passaram 10 minutos e a porta novamente é aberta. Um jornalista do Rio de Janeiro, meu vizinho de quarto entra desesperado.
- Uma coca cola pelo amor de Deus. Meu reino por uma coca-cola. Vou descer até saguão, alguém precisa me informar onde consigo comprar coca cola nesse país de birutas.
E nem esperou o elevador. Desceu pela escada mesmo.
- Maluco esse seu vizinho, me confidenciou o guine-bissauense (é assim mesmo que se diz?). E além do mais ainda ofendeu Shakespeare.
Em seguida ele me revela que conheceu muitos revolucionários de países diferentes que se encontravam na Líbia em busca de recursos.
Inclusive sul africanos.
- Entregaram uma carta de Nelson Mandela para o Kadafi pedindo para ele não esquecer seus irmãos africanos, respondeu feliz dando a entender que eles foram atendidos.
Novamente o “fiscal” com sorriso de comissária de bordo entra. Desta vez para nos convidar a assistir no salão do hotel a um filme sobre os “horrores” da herança colonialista.
Na verdade não era um filme, mas um documentário de 15 minutos e se a ideia era para que a plateia se indignasse, o efeito foi o contrário.
O documentário mostrava a noite em Trípoli. Garotas seminuas andando nas ruas em busca de clientes, “inferninhos”, cabarés, bebidas alcoólicas, muitas bebidas, e por aí vai.
E o pior, terminada a exibição vários aplausos da plateia, principalmente de jornalistas, pedindo a volta dos colonizadores...
Isso sim é que era época boa, exclamou o jornalista carioca, agora ao lado de um colega mineiro que completou: “eta paizinho que nem coca-cola tem”.
Quatro da manhã somos acordados. Do aeroporto de Tripoli seguimos para Benghazi, onde finalmente vamos entrevistar Kadafi.

Omar Mukthar, herói nacional líbio, preso por colonizadores italianos


Quando desembarcamos em Benghazi, a belíssima Benghazi, tamareiras enfeitavam suas praias.
Estavam ali como os coqueiros nas praias do nordeste.
Era colher e comer tâmaras dulcíssimas.
Um jornalista suíço que chegara a Benghazi uma semana antes, me confidenciou que não deveria perder um casamento. Qualquer um, disse.
Estava realmente deslumbrado com a festa e o que o deixou mais impressionado, é que os noivos, depois da cerimônia, recebem um envelope do governo com o equivalente a 50 mil dólares de presente.
Bem, essa era a Líbia que pouca gente conhecia e a mídia ocidental não fazia nenhuma questão de mostrá-la.
E não poderia, pois como explicar a seus leitores que havia ascendido ao poder um jovem coronel que não utilizou a riqueza em benefício próprio?
Pelo contrario.
Havia dividido a riqueza com a população do país.
Que não queria ver ninguém sem teto, sem fome, sem educação e sem muitas outras coisas mais.
Eu, naturalmente, iria sem dúvida nortear a minha entrevista a partir desses pontos.
Mas antes da entrevista, fomos a três festas com músicos árabes de diversos países.
E haja doce.
E haja suco.
E nem um “uisquinho”, lamentavam alguns jornalistas que, sinceramente, acho que estavam no país sem saber porque e para que.
As festas corriam em tendas beduínas, algo que Kadafi sempre prezou.
Finalmente cara a cara com Kadafi.
Em sua tenda.
Aparentava cansaço.
Alguns dos assuntos discutidos:
1 - Socialismo líbio;
2 - Educação;
3 - Reforma agrária;
4 - Moradia
5 - Alinhamento
6 - Arabismo
7 - Socialismo chinês, soviético, cubano;
8 - Apoio aos movimentos revolucionários;
9 - Che Guevara;
10 - Estados Unidos;
11 - Brasil;
12 - Liberação feminina
13 - Reencarnaçao de Omar Moukhtar.
A entrevista, que seria de 40 minutos, durou mais de duas horas e creio que passaríamos a noite conversando se ele não fosse a toda hora solicitado.
Naturalmente a Globo achou melhor não colocar o programa no ar, pois poderia melindrar a ditadura.
Foi feita uma proposta para que um programa de 15 minutos fosse ao ar no Fantástico.
Foi realizada a reedição, mas o programa teria sido proibido pelos censores oficiais da ditadura (civil-militar-midiatica.)
Tudo culpa da ditadura.
Será?
Óh céus! óh terrra! Quando nos livraremos desse sistema putrefato?

Qual foi o grande erro de Kadafi?

Eu não tenho a menor dúvida.


Foi acreditar nos euro-estadunidenses e desistir de sua bomba atômica.

Os pacifistas que me perdoem.
Aqui não se trata de incentivar a produção de ogivas nucleares, mas de persuasão.
O Brasil que tome jeito e comece a produzir a sua.
Caso contrário, a própria mídia brasileira, associada ao Império, fará de tudo para que o país seja invadido e ocupado.
Kadafi não ficou rico, como os produtores de petróleo do Golfo.
Dividiu a riqueza do país com a população.
Apoiou todos os movimentos revolucionários de esquerda do mundo.
Inclusive os brasileiros.
Em nenhum momento esqueceu a população negra da África.
E da África do Sul, onde, em agradecimento, um neto de Nelson Mandela chama-se Kadafi.
Quando Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente da África do Sul em 1994, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton fez de tudo para que Mandela parasse com os agradecimentos quase diários a Kadafi pelo seu apoio à luta dos revolucionários africanos.

"Os que se irritam com nossa amizade com o presidente Kadafi podem pular na piscina", respondeu Mandela.
O presidente de Uganda Yoweri Museveni afirmou que "quaisquer que sejam as falhas de Kadafi, ele é um verdadeiro nacionalista. Prefiro nacionalistas do que marionetes de interesses estrangeiros".
E disse mais:
" Kadafi deu contribuições importantes para a Líbia, para a África e para o Terceiro Mundo. Devemos lembrar ainda que, como parte desta forma independente de pensar, ele expulsou bases militares britânicas e americanas da Líbia após tomar o poder".
Alem disso, o ex-líder líbio também teve papel importante na formação da União Africana (UA).
A principal coordenadora da guerra contra a Líbia, Hillary Clinton, andou pela África pregando abertamente o assassinato de Muamar Kadafi.
Como não teve sucesso, começou a recrutar mercenários.
Alias foram esses mercenários que lutaram na Líbia. E eles não foram dizimados graças à Organização Terrorista do Atlântico Norte (OTAN) e EUA.
Quem puder pesquisar, quando Kadafi nacionalizou as empresas petrolíferas e os bancos, a mídia Ocidental referia-se a ele com "Che Guevara Árabe".
Antes de ser deposto e linchado pelos mercenários a mando dos terroristas OTAN e EUA, a Líbia possuía o maior índice de desenvolvimento humano da África, e até hoje maior que o do Brasil.
E o que pouca gente sabe, em 2007 inaugurou o maior sistema de irrigação do mundo.
Transformou o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.
Alias, assim que subiu ao poder os líbios que quiseram produzir alimentos receberam terra, equipamentos, sementes e 50 mil dólares para sobreviver até a safra.
Foi uma Reforma Agrária total e irrestrita.
Ele também pressionou pela criação dos Estados Unidos da África (EUA) para rivalizar com os eua e união européia.
Ele lutou por uma África una: “Queremos militares africanos para defender a África. Queremos uma moeda única. Queremos um só passaporte africano".
Lamentavelmente esqueceu a Bomba Atômica. E pagou por isso.
As nações que pretendem se emancipar que pensem nisso.
E abaixo você ouve os presidentes Hugo Chaves, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo...cantando Hasta Siempre, em homenagem a Che Guevara. Eles também que se cuidem.


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