"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Países da Alba decidem criar uma moeda comum: o “Sucre”

Fonte: http://www.bolpress.com/

Os presidentes e representantes governamentais dos países membros da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), mais o Equador, deram hoje sinal verde à criação de uma moeda comum, denominada Sistema Único de Compensação Regional (Sucre), que inicialmente circulará de maneira virtual.

A declaração final da III Cúpula extraordinária da Alba aprovada na quarta-feira(26), em Caracas, dá sinal verde à construção da zona monetária unida e um fundo de reservas com contribuições de países membros para sustentar políticas de desenvolvimento, disse o documento lido pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O texto recebeu o apoio dos presidentes Evo Morales, da Bolívia; Rafael Correa, do Equador; Manuel Zelaya, de Honduras; Daniel Ortega, da Nicarágua; e dos representantes governamentais de Cuba e Republica Dominicana, que irão reunir-se novamente em 14 de dezembro, em Caracas, para aprovar os detalhes técnicos da iniciativa.

Os chefes de Estado se comprometeram a articular propostas regionais que busquem a independência dos mecanismos financeiros internacionais, além de ativar estruturas na ONU que respondam aos desafios mundiais.

Os participantes da Cúpula, convocada em urgência por Chávez para avaliar a crise financeira do capitalismo, expressaram sua preocupação pela ausência de propostas reais para solucionar a crise que ameaça todos os povos.

O vice-presidente do Conselho de Ministros de Cuba, Ricardo Cabrisas, advertiu que o plano de resgate do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e da Europa, prioriza os especuladores e banqueiros declarados falidos pelo mercado. “eles destinaram três bilhões de dólares para salvar a estrutura falida, mas durante décadas não foram capazes de cumprir o compromisso de destinar 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) à ajuda oficial de desenvolvimento”.

Tampouco, disse, foram destinados entre os 30 bilhões de dólares para melhorar a produção agrícola no Terceiro Mundo, nem 20 bilhões para o Programa Educação para Todos. O presidente nicaragüense Daniel Ortega considerou imoral o pretexto de que não há recursos para o desenvolvimento, mas sim para guerras como as do Iraque e Afeganistão, e para salvar bancos.

Cabrisas afirmou que a crise atual não é uma repetição das anteriores, pois vem acompanhada de crise energética, alimentar, ecológica e social, e tem lugar quando a globalização econômica é mais extensa e intensa que nunca. Por isso, a crise vai mais além do neoliberalismo e converte-se diretamente no desafio da capacidade dos humanos para salvar a espécie.

De acordo com ele, a crise que a economia mundial vive, é conseqüência dos modos de produção e expansão do sistema capitalista; é de caráter estrutural e não só financeira, como se tem pretendido mostrar. Engloba, por sua vez, outras crises que põem em perigo a humanidade, concluíram dirigentes sociais do México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Argentina, Bolívia e Chile, pertencentes à Aliança Social Continental (ASC), em uma reunião em Quito, em 15 de novembro de 2008, ao mesmo tempo que os líderes do G20 em Washington.

A ASC afirma que esta não é mais uma das crises cíclicas do capitalismo. Para eles, a de hoje é muito mais profunda, pois além da inevitável superprodução que acarreta, significa a explosão de um modelo econômico que tem detido a produção no Sul, gerando desemprego e aprofundando a pobreza.

De acordo com a ASC, ante a incapacidade de resolver por seus próprios esforços a recessão econômica, as potências aprofundaram o receituário neoliberal de maior exploração da mão-de-obra e os recursos naturais, em busca de reativar sua produção. Os dirigentes da ASC exigiram aos governos da região que mudem o modelo de desenvolvimento e que acelerem o processo de integração regional dos povos.

O vice-presidente do conselho de ministros de Cuba ratificou a validez da integração regional e o valor da Alba, uma fórmula baseada em solidariedade, cooperação, vantagens compartilhadas e sensibilidade para a dívida social acumulada.

Segundo Daniel Ortega, a Alba coloca em posição vantajosa a região para enfrentar a crise, porque constitui um modelo de orientação socialista, marcado pela solidariedade, a complementariedade, o comércio justo e a promoção de programas sociais como a saúde e educação gratuita.

Os dirigentes sociais da ASC propuseram combater a instabilidade financeira, a escassez de crédito e a tendência a condicionar a concessão de créditos por parte do sistema financeiro multilateral, acelerando a criação de um sistema financeiro regional que facilite financiamento sem condicionamentos; que permita uma defesa efetiva ante a instabilidade financeira global, e apóie a estabilidade monetária de todos os países ante possíveis ataques especulativos contra moedas nacionais.

Nesse marco, os governos deveriam implementar medidas defensivas imediatas ante a especulação com as moedas e a possível fuga de capitais, tais como o controle de cambio.

Na Cúpula da Alba, o presidente do Equador, Rafael Correa ressaltou que as soluções à crise mundial existem, mas afirmou que é imprescindível tomar decisões políticas. Por isso, pediu aos países da América Latina que criem uma nova arquitetura financeira para serem mais autônomos e soberanos.

Sua proposta tem três pilares fundamentais: um banco de desenvolvimento regional, fundo de reservas da área para enfrentar potenciais crises e eventuais problemas econômicos, e uma moeda comum contábil para os intercâmbios comerciais, a qual, a princípio, pode ser virtual.

A declaração da Alba faz evidente o desejo de seus membros de desvincular o monopólio do dólar nas relações econômicas internacionais. Cabrisas apontou que o sistema monetário internacional baseado no dólar como fator central do nó de contradições da crise. Correa insistiu em que o Sucre não utilize nenhuma divisa estrangeira.

Chávez sugeriu começar a organizar um fundo financeiro de reservas parecidos ao que mantém a Venezuela e Cuba, mediante o qual o intercâmbio comercial cresceu de 200 milhões a cinco bilhões de dólares.

A ASC observa que a crise global visibiliza a vulnerabilidade das economias que tem feito o setor exportador o único motor do crescimento, um setor altamente vulnerável às flutuações de preços e ciclos econômicos das potências. Por isso é preciso fortalecer o comércio intra-regional complementário e o centro da economia deve voltar a ser a produção do que se consome nacional e regionalmente.

sábado, 22 de novembro de 2008

Curta Geni - destaque na Mostra Brasília

Da Secretaria de Cultura/DF
Em tempos de Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, as salas do Teatro Nacional Claudio Santoro também se rendem à Sétima Arte com a exibição de filmes e documentários da Mostra Brasília.
Um dos destaques é o curta-metragem de ficção brasiliense ‘Geni’ (14 minutos) de Marco Alencar, que será exibido hoje, 22, a partir das 14h30, na Sala Martins Pena e às 20h, na Praça do Centro Cultural Itapoã, no Gama.
O curta é resultado do Trabalho Final de Conclusão de Curso Superior de Tecnologia em Produção Audiovisual realizado na Faculdade Unicesp pelo diretor. “Como parte das atividades previstas na disciplina Roteiro, eu e meus colegas de turma tivemos que elaborar um roteiro adaptado a partir da música ‘Geni e o Zepelin’, de Chico Buarque de Holanda”, explicou Marco. Posteriormente, o roteiro transformou-se num projeto maior finalizado em julho deste ano.
Na livre adaptação, o travesti ‘Geni’ é discriminado e subjugado pelo povo da vila onde mora. Porém, por forças das circunstâncias, é chamado a salvar a vida de seu maior desafeto. “É uma história de discriminação e de impacto contra a hipocrisia”, elogiou o sociólogo e militante cultural, Carlos Augusto (Cacá).
A personagem ‘Geni’ ganhou vida com a interpretação do ator Ricardo César, o restante do elenco é formado por amigos e a equipe técnica por universitários do curso. A gravação foi realizada durante três dias, em Olhos D’Água, sem nenhum tipo de investimento financeiro, apenas com a coragem e a disposição de um grupo formado por amigos.
“Só de ter sido selecionado para o Festival de Brasília, o curta já superou todas as minhas expectativas e a abertura para as produções em vídeo digital evidencia uma nova fase no festival: a democratização para produções que antes não tinham oportunidade de participar”, concluiu Marco.
O curta ‘Geni’ já foi exibido na 16ª edição do Festival de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual, em novembro deste ano, em São Paulo. Agora é a vez do público brasiliense prestigiar essa produção local.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Colchetes

O texto abaixo, a Paulinha postou no blog dela e eu achei que vale pra todos nós, amantes dessa arte de contar histórias... O que mais gosto na observação do Lucas, é que, de fato, não é simples reproduzir uma emoção. Só quem vive, sente, pode saber mesmo como é, já que é impossível fazer outra pessoa sentir o que você está sentindo. Essa arte de colocar uma história no papel muitas vezes com o intuito de sensibilizar, de tocar, no entanto, é justamente o que estamos perdendo ao longo do tempo. Numa profissão tão nova (pelo menos de forma regulamentada), estamos perdendo esse "feeling", jornalistas estão se tornando meros reprodutores dos desejos e orientações políticas de seus patrões... infelizmente. Mas para nós (românticos?), ainda vale a pena.
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Por Lucas Doca

Muitas pessoas me perguntam o porquê de ter escolhido o jornalismo. Pessoas que devem perguntar o mesmo pra qualquer outro cidadão, independente da profissão dele.
Respondo muitas respostas diferentes, que no fundo querem dizer a mesma coisa: quero contar histórias. Não qualquer história, as grandes histórias que permeiam a vida de todo mundo. Cada um tem momentos incríveis, lados impressionantes da vida que só seus olhos e seus corações capturaram. É mais que isso. Fazer a diferença com essas histórias. Mudar alguma coisa, pequena que seja.
O engraçado é que eu podia fazer isso em um bocado de profissões, algumas até muito melhor preparadas para isso que o jornalismo. Por que não ser escritor? Cineasta? Músico? Artista plástico? Qualquer atividade onde a expressão não seja regrada por normas da verdade absoluta, da imprecisão imparcial de todos os lados.
A verdade é que o jornalismo caiu de pára-quedas em mim, nas minhas promessas.
Do jeito mais inesperado, bobo e sentimental que existe.

ISRAEL QUER MATAR OS PALESTINOS DE FOME



A ONU informa:


Está faltando alimento para 750 mil palestinos que vivem em Gaza.


A culpa é de Israel que bloqueou todas as entradas e saídas da Faixa.


São um milhão e meio de palestinos vivendo num campo de concentração.


Os palestinos que não são mortos pelas armas israelenses estão morrendo a míngua.


Israel não permite nem a entrada de medicamentos.


São milhares de pacientes que necessitam de atendimento hospitalar.


Nem os portadores de direitos especiais (deficientes físicos) conseguem atendimento.


Enquanto isso, os colonos israelenses continuam roubando as colheitas de azeitonas dos palestinos.


Com apoio dos militares israelenses.


O palestino que tenta defender sua colheita é preso e acaba desaparecendo nos calabouços israelenses.


A prisão de um palestino equivale a quase uma sentença de morte.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

“Repensar o nosso socialismo é a melhor forma de celebrar a Revolução Cubana”





Em entrevista à Carta Maior, Carlos Tablada, professor da Universidade de Havana e autor de livros sobre o pensamento político e econômico de Che Guevara, fala sobre os 50 anos da Revolução Cubana, sobre o marxismo de Che e o socialismo do século XXI.






Clarissa Pont


Com o 50º aniversário da Revolução Cubana se aproximando, Carta Maior conversou com Carlos Tablada, professor da Universidade de Havana e redator da revista Alternatives Sud, do Centro Tri-continental (CETRI), além de Fundador do Fórum Mundial de Alternativas e membro do júri do Prêmio Casa das Américas. Em recente entrevista, quando incitado pela milésima vez a fazer críticas a Cuba, o escritor uruguaio Eduardo Galeano resumiu assim sua análise sobre o país: “Continuo acreditando que a onipotência do Estado não é a melhor resposta à onipotência do mercado e ainda pratico aquele conselho de Fonseca Amador, o fundador do sandinismo na Nicarágua: Amigo, amigo verdadeiro, é quem elogia pelas costas e critica pela frente”. Tablada é da mesma turma, autor de vários livros e dezenas de artigos, licenciado em sociologia, filosofia e doutor em ciências econômicas, ele esteve no Brasil para lançar a primeira edição em português de "O marxismo de Che e o socialismo no século XXI". Na ocasião da entrevista, passava por Cuba o terceiro furacão deste mês, deixando perdas avaliadas em US$ 8,6 bilhões e quatro mortos. “Nós sabemos que não há como reconstruir uma sociedade sem a possibilidade de repartir tuas coisas com outras pessoas e outros povos. Ou seja, o cubano tem um espírito de solidariedade muito forte, de repartir o pão, não somente com outro cubano, mas também com um estrangeiro. Por exemplo, no período em que o Produto Interno Bruto cubano caiu quase 40%, nós tínhamos mais de 25 mil estudantes estrangeiros com bolsa estudando na universidade e nós não mandamos ninguém de volta. A nenhum cubano passou pela cabeça dizer bueno, agora não temos o que comer, vamos mandar esse pessoal embora, como vamos alimentar e educar mais de 25 mil estudantes estrangeiros¿. Mas é normal. E agora, com os furacões, creio que vai ser a mesma coisa, nos recuperamos”.



Nesta conversa, Tablada defende que é a partir da mesma força solidária de reconstruir Cuba que surgem as comemorações de meio século de revolução.



Carta Maior – O mundo está passando por uma crise do modelo capitalista. Como isso é visto desde Cuba?



Carlos Tablada – Na verdade, nós fomos um dos primeiro países a denunciar isso. E nossos dirigentes e acadêmicos cubanos foram os primeiros que denunciaram a natureza do neoliberalismo e o Consenso de Washington. Nós estávamos totalmente convencidos que isso só traria mais pobreza. O Consenso é como um aspirador de pó para sugar riquezas, uma nova colonização dos países do sul, uma imposição ao resto dos países do mundo a grande especulação financeira. Até economistas europeus e capitalistas como Keynes, já nos anos 30, denunciavam a economia cassino. Hoje em dia os próprios capitalistas estão recorrendo a Karl Marx porque é nele que esta a explicação do desenvolvimento do capital. E Karl Marx já nos advertia como o desenvolvimento do capital industrial ia levar ao desenvolvimento do capital fictício. E este capital fictício acaba crescendo a um nível maior que o capital real, industrial, de serviços. Assim, simplesmente se traga a economia real. O desenvolvimento da economia fictícia se dá em detrimento ao crescimento da economia real. Keynes faz essa avaliação a partir do que aconteceu na grande crise de 1929, gerada a partir dos Estados Unidos como esta, e alerta que os estados deveriam ter mais controle para que não se convertessem em economias cassino. Ao invés disso, deixou-se de lado o acordo de Bretton Woods, que de certo modo estabelecia uma ordem. E aí, nos anos 70, quando os Estado Unidos não podiam mais manter economicamente a loucura de Guerra do Vietnã, rompem com Bretton Woods e transladam o custo da guerra que estava chegando ao final ao resto das economias do mundo. Então era evidente o que aconteceria. O neoliberalismo fundamentalmente se converteu em cultura, em domínio nos anos 80 e 90, e foi isso que lhe permitiu o pensamento único, um pensamento pior do que aquele que surgiu do socialismo real do bloco soviético, um dogmatismo incrível. O capital hoje em dia extrai da natureza uma maior quantidade de recursos naturais do que a natureza é capaz de produzir. E, também, a indústria e a forma de vida capitalista devolvem à natureza um nível de contaminação que o planeta não tem capacidade de regenerar. O capitalismo neoliberal gera conseqüências que o planeta não tem mais como encarar, aí estão as mudanças climáticas que são irreversíveis.Essa é uma crise civilizatória, é um bloco de coisas. E isso independe de você ser comunista, ser de esquerda ou de direita. Os exemplos que estou dando, de economia cassino e mudança climática, fazem referência a dois representantes do sistema que não podem nunca ser acusados de terem sido comunistas. Um é Keynes e o outro é Al Gore, vice-presidente de Bill Clinton e candidato à presidência dos Estados Unidos que ganhou as eleições, mas simplesmente perdeu para Bush por uma fraude. Faço referência a duas pessoas sobre as quais não há duvida de seu tom ideológico e que são partidárias do capitalismo, e até eles concordam que, do jeito que está, ficamos sem capital, sem planeta e sem nada.



CM – E o que a experiência de Cuba tem a contribuir nesse cenário?



CT – Em primeiro lugar, é necessário aceitar Cuba como uma experiência de construção de sociedade alternativa à capitalista. Quando Cuba triunfou, as revoluções socialistas, e a que tinha mais anos era a da União Soviética, tinha 30 anos, já tinham cometido erros gravíssimos que determinaram seu desaparecimento. Portanto, quando triunfa a Revolução Cubana a humanidade não tinha receita, não havia sido capaz de criar uma cultura alternativa à capitalista ou uma economia real alternativa à capitalista, nem um sistema político participativo alternativo ao capitalismo. Esses três temas estavam pendentes e nós cubanos fomos descobrindo que permaneciam pendentes. Que o que nos vendiam como uma coisa feita, o modelo soviético que deveria ser copiado, não era assim. Nós cometemos erros próprios e erros semelhantes quando copiamos o modelo soviético. Reproduzimos erros em Cuba cometidos pelos países socialistas e, por outra parte, cometemos erros na busca de um caminho próprio, erros menores, porque sempre que se comete um erro pensando com cabeça própria é melhor. Precisamente é por isso que desaparece o bloco soviético e nós não desaparecemos. Porque a Revolução Cubana se caracterizou sempre por uma grande vitalidade, por uma busca constante de novos caminhos. A outra coisa que não nos fez perder foi o internacionalismo. Quando Cuba surge como uma nação, surge junto uma posição internacionalista, tanto cultural como política. E é precisamente esse internacionalismo que nos ajudou a não nos perdermos e seguirmos a busca de um caminho próprio. E, por outra parte, é necessário avaliar as condições tão difíceis sob as quais nos desenvolvemos, nós estamos submetidos a um bloqueio criminal, econômico político e financeiro. Os Estados Unidos perseguem aos empresários e os ameaça se negociam com Cuba. Um barco mercante que entra em Cuba tem que esperar seis meses para poder entrar em um porto norte-americano. Tu imaginas, nós compramos na Europa várias coisas. Fora as agressões militares, biológicas e o terrorismo que aplicaram. Tudo isso deixou feridas já reconhecidas e se não fossem elas, nosso desenvolvimento teria sido maior. Por dezessete anos consecutivos, a Assembléia Geral das Nações Unidas condenou o bloqueio norte americano a Cuba. E das 192 nações inscritas nas Nações Unidas, 185 votaram contra o bloqueio. Somos uma experiência fora do capitalismo que tem justeza ao redor do mundo.



CM – O senhor está no Brasil para lançar O marxismo de Che e o socialismo no século XXI, livro que nasce de um processo de 15 anos de estudo...



CT – Em toda Revolução Cubana, a pessoa que mais se preocupou com a organização da nova economia foi Ernesto Che Guevara. O Che foi também um dos primeiros dirigentes cubanos que visitou a União Soviética. Ele era comunista e um observador do que acontecia lá, ainda no México antes de vir para Cuba, fazia parte da Associação de Amizade México - União Soviética. E havia estudado desde os 17 anos o marxismo. Com os revolucionários cubanos, como José Martí e Fidel Castro, tinha aprendido que toda revolução que não leva implícita uma mudança na natureza humana não tem sentido, não vale a pena lutar apenas por coisas materiais, uma revolução é verdadeira e justifica o sangue derramado por ela, se implica uma mudança de espiritualidade, de valores, se desenvolve a individualidade e não o individualismo. Desenvolve a coletividade, mas não o coletivismo burocrático, no qual a pessoa se converte em um número. Isso está presente na cultura revolucionária cubana desde o século 19. E Che aprendeu isso. Mas quando ele visita as fábricas e empresas do bloco soviético, descobre que não havia tal mudança. Que após 30 anos de revolução, o espírito capitalista estava presente nessas empresas. As empresas eram estatais, e se dizia que eram de todo o povo, mas o administrador seguia realizando suas funções como se fosse um capitalista, o operário não tinha realmente nenhum participação real na tomada de decisões sobre o que ia produzir ou como ia produzir. E foi isso que o levou a pensar e a repensar o sistema econômico socialista. E Che se dá a tarefa de montar na prática um sistema econômico alternativo ao soviético, e o fez com bastante êxito por quatro anos.Igualmente, começou a teorizar a respeito, dando origem a uma polêmica econômica grande, inclusive com dois intelectuais de renome mundial, Ernest Mandel e Charles Bettelheim. Esse é o ponto principal do Che. Quando ele parte para o Congo e depois para Bolívia a combater com as armas, o Che não havia tido tempo de expor de uma forma positiva e coerente todas essas idéias. E eu me dei a tarefa, em 1969, de descobrir esse pensamento, investigar e recopilar esse material. Isso levou 15 anos. Simultaneamente, comecei a trabalhar no sistema empresarial cubano e apliquei em uma empresa estatal nacional cubana de 2.823 trabalhadores que produzia 20 milhões de dólares ao ano o sistema de Che e vi seus resultados e depois tive que obrigatoriamente estabelecer o modelo soviético e vi seus resultados também.Pude comparar como cada um atuava sobre a consciência das pessoas e como atuava o outro. Quais os resultados econômicos e os resultados humanos. Daí surgiu "O pensamento econômico de Ernesto Che Guevara", em julho de 1984. Eu comecei a escrever em 1º de junho de 1969, no hospital onde nascia minha filha, o que demorou quase 24 horas. Na sala de espera comecei e 15 anos depois terminei. Esperei três anos até que ele fosse publicado, e quando recebi Prêmio Casa das Américas, o livro se independizou. Já são 33 edições e meio milhão de exemplares.



CM – Foi desta obra que surgiu o livro traduzido para o português...



CT – Este livro que eu tive o privilégio de vocês traduzirem para o português, "O marxismo de Che e o socialismo no século XXI", é formado por algumas idéias que não pude expressar no primeiro livro e das minhas reflexões entre 1987 e 2007. O livro tinha algo como 300 e tantas páginas, mas eu disse a mim mesmo que tinha que ser capaz de transformar isso em um livro pequeno. Consegui reduzi-lo a menos de 100 páginas. Eu o coloquei gratuitamente no site Rebelión e para a minha alegria e surpresa vocês aqui no Brasil me escreveram, pediram se poderiam realizar a tradução e eu lhes disse sim, com muito gosto. O livro foi impresso em Cuba e na Bélgica, e atualmente é traduzido em inglês e francês.

Aí está a essência da essência e aí se explica porque é tão importante o pensamento de Che. O Che foi um dos poucos homens do século XX que conseguiu que forças aparentemente contraditórias o atacassem. Foi perseguido por toda máquina cultural do império norte americano e atacado por toda a burocracia do bloco soviético. Todos os pensamentos novos e audazes em essência são perseguidos. Enfim, o pensamento filosófico de Che é muito profundo e inovador, o pensamento econômico é transgressor, o pensamento sociológico é novo. Quando desapareceu o bloco soviético, lembro que diziam que Cuba não resistiria, que éramos um satélite da União Soviética. Não acreditavam que Cuba possuía uma economia própria que poderia levá-la adiante. E mais, era bom para nós que desaparecesse a União Soviética, porque assim nos estávamos num momento de deixar a certeza na qual estávamos vivendo e alcançar nossa soberania econômica, nossa independência econômica total. O Che é a máxima expressão disso e por isso a importância que ele tem para a América Latina e para os povos africanos até hoje. O socialismo futuro não pode ser um só socialismo. Tem que haver tantos socialismos como experiências de participação real das populações, dos trabalhadores, dos sindicatos.



CM – Em janeiro de 2009, comemora-se meio século da Revolução Cubana. Como o país pretende celebrar esta data?



CT – Essa comemoração já está acontecendo, agora, enquanto conversamos. E está acontecendo precisamente do melhor modo. Pensando e repensando o nosso socialismo. A maioria da população cubana não quer voltar ao capitalismo, mas não quer ficar com o socialismo que temos hoje. Há uma insatisfação incrível, gigantesca, em todos os setores da sociedade cubana. A insatisfação é tão grande que inclusive foi manifestada pela máxima direção do nosso país, o companheiro Raúl Castro. Raúl Castro disse:“Eu não entendo porque o leite deve ser somente para as crianças até os sete anos. Por que um velho não pode ter acesso ao leite? Por que nos conformarmos com a garantia do leite para todas as crianças até os sete anos?”E olha que no Terceiro Mundo isso é algo muito grande. Porque tu sabes que agora mesmo, desde que começamos essa entrevista, a cada segundo morrem dez crianças. E dessas crianças que morrem, nenhuma tomou leite na vida. Então, o que o povo cubano conseguiu, apesar deste bloqueio criminoso dos Estados Unidos, de que todas as crianças tenham leite gratuitamente é incrível. Mas Raúl Castro quer dizer que não pode ser apenas isso. “Temos que resolver já, de imediato, que todos tenhamos acesso ao leite”, ele disse.Estou expressando com um exemplo concreto uma grande inconformidade com o que temos, com o nosso sistema econômico e com o nosso sistema político. Então, a melhor forma de celebrar o 50º aniversário do triunfo da Revolução Cubana de 1959 é precisamente tomar esse caráter autocrítico, esse caráter criativo que nos levou ao poder em 1959, no país em que menos se podia pensar isso. Ninguém podia pensar que se poderia tomar o poder a 150 km da costa americana, com uma base militar norte-americana em nosso território. Isso é muito importante. E é assim que o nosso povo recebe o 50º aniversário, mais que com atos grandes, mas com discussões. Neste momento, há milhões de cubanos que estão discutindo em seus sindicatos uma nova lei salarial. Porque nós caímos em um falso igualitarismo. A gente recebia o mesmo, se trabalhasse ou não. E neste momento estamos fazendo uma reforma salarial profunda e não a estamos fazendo por decreto. Estamos discutindo com todos os trabalhadores, com os estudantes, em assembléia. Essa é a melhor forma de festejar o 50º aniversário da Revolução Cubana.

sábado, 15 de novembro de 2008

Duas macroeconomias, dois judiciários

Escrito por Milton Temer no Correio da Cidadania

Para quem, do Brasil neoliberal, pretendia enterrar a luta de classes como dado permanente do desenvolvimento humano: dois exemplos recentes fortíssimos se destacam para incomodar os apóstolos do "pensamento único" que inundam as páginas e espaços de economia nos jornais e telejornais. Dois exemplos que mostram macroeconomias e judiciários distintos, com o funcionamento dependendo de quem é o agente provocador.

O dinheiro público jogado nos bancos privados, sempre sob o argumento de que crise financeira põe em risco o sistema como um todo, comprova existir uma macroeconomia para o grande capital e outra para o mundo do trabalho e da produção. Porque a ninguém ocorre que, na série quase infindável de lucros pantagruélicos, tenham os banqueiros cogitado reduzir seus juros ou suas taxas por serviços inerentes à essência da própria atividade. A despeito de todas as declarações da área econômica do governo, não se tratou de outra coisa que não a privatização do lucro, garantida pela socialização do prejuízo.

Por outro lado, a insólita sessão em que a quase totalidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal se concentrou no ataque ao juiz De Sanctis, pelo pecado mortal de ter decretado a prisão preventiva do predador social Daniel Dantas - simultânea ao inexplicável procedimento em que segmentos da Polícia Federal se empenham para desqualificar o excelente trabalho do delegado Protógenes Queiroz no combate aos inatingíveis de até então - comprova haver uma justiça para o grande capital e outra para o mundo do trabalho e da produção.

Não é de pouca importância lembrar que o presidente daquela egrégia corte, o causídico Gilmar Mendes, vinha de pronunciamento não menos preocupante, ao comparar torturadores e resistentes à ditadura como criminosos anistiados pela mesma lei de anistia. Refutando, então, a opinião dos que não se permitem absolver a tortura da condição de crime imprescritível.

Também não é de menor importância lembrar que na campanha contra o delegado Protógenes surgiu a denúncia de um suposto grampo, flagrando uma conversa de Gilmar Mendes com o senador Demóstenes, do PFL. Bizarro grampo que, divulgado pela sempre suspeita revista Veja, apontava conversa entre dois "virtuosos" homens públicos. Ou seja, estávamos diante de um exemplo raro de grampo a favor, pois, pela divulgação do ali registrado, só trazia benefícios às supostas vítimas do "Estado policial" que o ministro dizia estar se instalando no Brasil.

Bizarro grampo, aliás, porque resultou em fita até hoje nunca comprovada de existência, um verdadeiro ET carente de atestado de existência real.

Como nada ocorre por acaso, sem dúvida, por trás dos dois episódios citados está a conivência do Planalto, por conta da incontestável contaminação de alguns dos seus principais ocupantes, ou de seus parentes próximos, com os fatos citados. Comprovando, enfim, a serviço de que classe social o atual governo está operando.


Milton Temer é jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

I have a dream



Íntegra do discurso de posse de Barack Hussein Obama:

"Olá, Chicago!

Se alguém aí ainda duvida de que os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível, que ainda se pergunta se o sonho de nossos fundadores continua vivo em nossos tempos, que ainda questiona a força de nossa democracia, esta noite é sua resposta.

É a resposta dada pelas filas que se estenderam ao redor de escolas e igrejas em um número como esta nação jamais viu, pelas pessoas que esperaram três ou quatro horas, muitas delas pela primeira vez em suas vidas, porque achavam que desta vez tinha que ser diferente e que suas vozes poderiam fazer esta diferença.

É a resposta pronunciada por jovens e idosos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, indígenas, homossexuais, heterossexuais, incapacitados ou não-incapacitados.

Americanos que transmitiram ao mundo a mensagem de que nunca fomos simplesmente um conjunto de indivíduos ou um conjunto de estados vermelhos e estados azuis.

Somos, e sempre seremos, os EUA da América.

É a resposta que conduziu aqueles que durante tanto tempo foram aconselhados por tantos a serem céticos, temerosos e duvidosos sobre o que podemos conseguir para colocar as mãos no arco da História e torcê-lo mais uma vez em direção à esperança de um dia melhor.

Demorou um tempo para chegar, mas esta noite, pelo que fizemos nesta data, nestas eleições, neste momento decisivo, a mudança chegou aos EUA.

Esta noite, recebi um telefonema extraordinariamente cortês do senador McCain.

O senador McCain lutou longa e duramente nesta campanha. E lutou ainda mais longa e duramente pelo país que ama. Agüentou sacrifícios pelos EUA que sequer podemos imaginar. Todos nos beneficiamos do serviço prestado por este líder valente e abnegado.

Parabenizo a ele e à governadora Palin por tudo o que conseguiram e desejo colaborar com eles para renovar a promessa desta nação durante os próximos meses.

Quero agradecer a meu parceiro nesta viagem, um homem que fez campanha com o coração e que foi o porta-voz de homens e mulheres com os quais cresceu nas ruas de Scranton e com os quais viajava de trem de volta para sua casa em Delaware, o vice-presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

E não estaria aqui esta noite sem o apoio incansável de minha melhor amiga durante os últimos 16 anos, a rocha de nossa família, o amor da minha vida, a próxima primeira-dama da nação, Michelle Obama.

Sasha e Malia amo vocês duas mais do que podem imaginar. E vocês ganharam o novo cachorrinho que está indo conosco para a Casa Branca.

Apesar de não estar mais conosco, sei que minha avó está nos vendo, junto com a família que fez de mim o que sou. Sinto falta deles esta noite. Sei que minha dívida com eles é incalculável.

A minha irmã Maya, minha irmã Auma, meus outros irmãos e irmãs, muitíssimo obrigado por todo o apoio que me deram. Sou grato a todos vocês. E a meu diretor de campanha, David Plouffe, o herói não reconhecido desta campanha, que construiu a melhor campanha política, creio eu, da história dos EUA da América.

A meu estrategista chefe, David Axelrod, que foi um parceiro meu a cada passo do caminho.

À melhor equipe de campanha formada na história da política. Vocês tornaram isto realidade e estou eternamente grato pelo que sacrificaram para conseguir.

Mas, sobretudo, não esquecerei a quem realmente pertence esta vitória. Ela pertence a vocês. Ela pertence a vocês.

Nunca pareci o candidato com mais chances. Não começamos com muito dinheiro nem com muitos apoios. Nossa campanha não foi idealizada nos corredores de Washington. Começou nos quintais de Des Moines e nas salas de Concord e nas varandas de Charleston.

Foi construída pelos trabalhadores e trabalhadoras que recorreram às parcas economias que tinham para doar US$ 5, ou US$ 10 ou US$ 20 à causa.

Ganhou força dos jovens que negaram o mito da apatia de sua geração, que deixaram para trás suas casas e seus familiares por empregos que os trouxeram pouco dinheiro e menos sono.

Ganhou força das pessoas não tão jovens que enfrentaram o frio gelado e o ardente calor para bater nas portas de desconhecidos, e dos milhões de americanos que se ofereceram como voluntários e organizaram e demonstraram que, mais de dois séculos depois, um Governo do povo, pelo povo e para o povo não desapareceu da Terra.

Esta é a vitória de vocês!

Além disso, sei que não fizeram isto só para vencerem as eleições. Sei que não fizeram por mim.

Fizeram porque entenderam a magnitude da tarefa que há pela frente. Enquanto comemoramos esta noite, sabemos que os desafios que nos trará o dia de amanhã são os maiores de nossas vidas - duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira em um século.

Enquanto estamos aqui esta noite, sabemos que há americanos valentes que acordam nos desertos do Iraque e nas montanhas do Afeganistão para dar a vida por nós.

Há mães e pais que passarão noites em claro depois que as crianças dormirem e se perguntarão como pagarão a hipoteca ou as faturas médicas ou como economizarão o suficiente para a educação universitária de seus filhos.

Há novas fontes de energia para serem aproveitadas, novos postos de trabalho para serem criados, novas escolas para serem construídas e ameaças para serem enfrentadas, alianças para serem reparadas.

O caminho pela frente será longo. A subida será íngreme. Pode ser que não consigamos em um ano nem em um mandato. No entanto, EUA, nunca estive tão esperançoso como estou esta noite de que chegaremos.

Prometo a vocês que nós, como povo, conseguiremos.

Haverá percalços e passos em falso. Muitos não estarão de acordo com cada decisão ou política minha quando assumir a presidência. E sabemos que o Governo não pode resolver todos os problemas.

Mas, sempre serei sincero com vocês sobre os desafios que nos afrontam. Ouvirei a vocês, principalmente quando discordarmos. E, sobretudo, pedirei a vocês que participem do trabalho de reconstruir esta nação, da única forma como foi feita nos EUA durante 221 anos, bloco por bloco, tijolo por tijolo, mão calejada sobre mão calejada.

O que começou há 21 meses em pleno inverno não pode acabar nesta noite de outono.

Esta vitória em si não é a mudança que buscamos. É só a oportunidade para que façamos esta mudança. E isto não pode acontecer se voltarmos a ser como éramos antes. Não pode acontecer sem vocês, sem um novo espírito de sacrifício.

Portanto façamos um pedido a um novo espírito do patriotismo, de responsabilidade, em que cada um se ajude e trabalhe mais e se preocupe, não só com si próprio, mas um com o outro.

Lembremos que, se esta crise financeira nos ensinou algo, é que não pode haver uma Wall Street (setor financeiro) próspera enquanto a Main Street (comércio ambulante) sofre.

Neste país, avançamos ou fracassamos como uma só nação, como um só povo. Resistamos à tentação de recair no partidarismo, na mesquinharia e na imaturidade que intoxicaram nossa vida política há tanto tempo.

Lembremos que foi um homem deste estado que levou pela primeira vez a bandeira do Partido Republicano à Casa Branca, um partido fundado sobre os valores da auto-suficiência e da liberdade do indivíduo e da união nacional.

Estes são valores que todos compartilhamos. E enquanto o Partido Democrata conquistou uma grande vitória esta noite, faremos com certa humildade e a determinação para curar as divisões que impediram nosso progresso.

Como disse Lincoln a uma nação muito mais dividida que a nossa, não somos inimigos, mas amigos. Embora as paixões nos tenham colocado sob tensão, não devemos romper nossos laços de afeto.

E àqueles americanos cujo apoio eu ainda devo conquistar, pode ser que eu não tenha conquistado seu voto hoje, mas ouço suas vozes. Preciso de sua ajuda e também serei seu presidente.

E a todos aqueles que nos vêem esta noite além de nossas fronteiras, em Parlamentos e palácios, a aqueles que se reúnem ao redor dos rádios nos cantos esquecidos do mundo, nossas histórias são diferentes, mas nosso destino é comum e começa um novo amanhecer de liderança americana.

A aqueles que pretendem destruir o mundo: vamos vencê-los. A aqueles que buscam a paz e a segurança: apoiamo-nos.

E a aqueles que se perguntam se o farol dos EUA ainda ilumina tão fortemente: esta noite demonstramos mais uma vez que a força autêntica de nossa nação vem não do poderio de nossas armas nem da magnitude de nossa riqueza, mas do poder duradouro de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e firme esperança.

Lá está a verdadeira genialidade dos EUA: que o país pode mudar. Nossa união pode ser aperfeiçoada. O que já conseguimos nos dá esperança sobre o que podemos e temos que conseguir amanhã.

Estas eleições contaram com muitos inícios e muitas histórias que serão contadas durante séculos. Mas uma que tenho em mente esta noite é a de uma mulher que votou em Atlanta.

Ela se parece muito com outros que fizeram fila para fazer com que sua voz seja ouvida nestas eleições, exceto por uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.

Nasceu apenas uma geração depois da escravidão, em uma era em que não havia automóveis nas estradas nem aviões nos céus, quando alguém como ela não podia votar por dois motivos - por ser mulher e pela cor de sua pele.

Esta noite penso em tudo o que ela viu durante seu século nos EUA - a desolação e a esperança, a luta e o progresso, às vezes em que nos disseram que não podíamos e as pessoas que se esforçaram para continuar em frente com esta crença americana: Podemos.

Em uma época em que as vozes das mulheres foram silenciadas e suas esperanças descartadas, ela sobreviveu para vê-las serem erguidas, expressarem-se e estenderem a mão para votar. Podemos.

Quando havia desespero e uma depressão ao longo do país, ela viu como uma nação conquistou o próprio medo com uma nova proposta, novos empregos e um novo sentido de propósitos comuns. Podemos.

Quando as bombas caíram sobre nosso porto e a tirania ameaçou ao mundo, ela estava ali para testemunhar como uma geração respondeu com grandeza e a democracia foi salva. Podemos.

Ela estava lá pelos ônibus de Montgomery, pelas mangueiras de irrigação em Birmingham, por uma ponte em Selma e por um pregador de Atlanta que disse a um povo: "Superaremos". Podemos.

O homem chegou à lua, um muro caiu em Berlim e um mundo se interligou através de nossa ciência e imaginação.

E este ano, nestas eleições, ela tocou uma tela com o dedo e votou, porque após 106 anos nos EUA, durante os melhores e piores tempos, ela sabe como os EUA podem mudar.

Podemos.

EUA avançamos muito. Vimos muito. Mas há muito mais por fazer. Portanto, esta noite vamos nos perguntar se nossos filhos viverão para ver o próximo século, se minhas filhas terão tanta sorte para viver tanto tempo quanto Ann Nixon Cooper, que mudança virá? Que progresso faremos?

Esta é nossa oportunidade de responder a esta chamada. Este é o nosso momento. Esta é nossa vez.

Para dar emprego a nosso povo e abrir as portas da oportunidade para nossas crianças, para restaurar a prosperidade e fomentar a causa da paz, para recuperar o sonho americano e reafirmar esta verdade fundamental, que, de muitos, somos um, que enquanto respirarmos, temos esperança.

E quando nos encontrarmos com o ceticismo e as dúvidas, e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com esta crença eterna que resume o espírito de um povo: Podemos.

Obrigado. Que Deus os abençoe. E que Deus abençoe os EUA da América".

terça-feira, 4 de novembro de 2008

PAPAGAIO DOS CARRASCOS

Por Celso Lungaretti (*)

Comentando a declaração da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) de que a tortura é crime imprescritível, o presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes disse outra obviedade: "Essa discussão sobre imprescritibildade tem dupla face. O texto constitucional também diz que o crime de terrorismo é imprescritível".

Resvalando para a retórica característica das viúvas da ditadura, Gilmar Mendes insinuou que haveria uma equivalência entre a luta armada contra o regime militar e as práticas hediodas cometidas pelos órgãos de repressão política: "Direitos humanos valem para todos: presos, ativistas políticos. Não é possível dar prioridade a determinadas pessoas que tenham determinada atuação política. Direitos humanos não podem ser ideologizados, é bom que isso fique claro".

Também seria bom que ficasse bem claro para Gilmar Mendes que, desde a Grécia antiga, é reconhecido o direito que os cidadãos têm de resistirem à tirania.

Então, a ninguém ocorre qualificar de "terroristas" os membros da Resistência Francesa que descarrilaram trens, explodiram pontes e quartéis, justiçaram colaboracionistas, etc., atuando com violência incomparavelmente superior à dos resistentes brasileiros. São, isto sim, merecidamente reverenciados como heróis e mártires da França.

A situação era a mesmíssima no Brasil, onde um grupo de conspiradores militares obteve sucesso em sua segunda tentativa (1964) de usurpar o poder, aproveitando bem as lições da primeira (1961) para corrigirem os erros cometidos.

Seus governos ilegítimos sempre sufocaram as diversas formas de resistência à tirania mediante a utilização de força maior do que aquela que se-lhes opunha, terminando por impor o terrorismo de estado sem limites a partir da assinatura do Ato Institucional nº 5, ao abrigo do qual foram cometidos o extermínio sistemático de militantes capturados com vida, torturas as mais bestiais e generalizadas, estupros, sequestros de parentes dos opositores (inclusive crianças) para chantageá-los, ocultação de cadáveres e outros horrores.

É claro que, ao enfrentar essas bestas-feras, os resistentes daqui incorreram em alguns excessos, como sempre ocorre nas lutas desse tipo, travadas em condições de extrema desigualdade de forças. À Resistência Francesa também acontecia de errar o alvo ou exagerar na dosagem.

Mas, isto não basta para que uns e outros sejam tidos como "terroristas". O termo, historicamente, designa grupelhos isolados que tentavam, tiros e bombas, intimidar os governantes, disseminando o caos. E não, de nenhuma forma, os combatentes que recorreram à propaganda armada para levantar o povo contra governos tirânicos, como era o óbvio objetivo da resistência ao nazi-fascismo na Europa e ao totalitarismo de direita no Brasil.

Foram os serviços de guerra psicológica da ditadura de 1964/85 que semearam essa confusão, caluniando as vítimas para justificar as atrocidades contra elas praticadas.

Um presidente do STF midiático e que, como papagaio, repete falas dos carrascos, mostra-se indigno da posição que ocupa. Deveria renunciar ou ser expelido, como o corpo estranho que se tornou numa instituição que deve primar pela discrição e compostura.

* Celso Lungaretti, 58 anos, é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém os blogs O Rebate, em que disponibiliza textos destinados a público mais amplo; e Náufrago da Utopia, no qual comenta os últimos acontecimentos.

http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

domingo, 2 de novembro de 2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Cuesta Abajo

Para o companheiro Eduardo Rocha (de Guarulhos, SP), que nos surpreendeu com seus talentos de cantor de tangos e boleros durante a confraternização pós-reunião do DN em Brasília. Essa, de Carlos Gardel, me deixou emocionada porq há anos ouvi um grande amigo cantar essa música e, como ele já não está aqui, essa é a última imagem que tenho dele.

Mas acho que agora ela diz muito sobre o sentimento de velhos comunistas diante de resoluções que alguns membros do partido querem nos fazer engolir a seco sem nem uma vodka pra rebater..
.


Cuesta Abajo

Si arrastré por este mundo
La verguenza de haber sido
El dolor de ya no ser
Bajo el ala del sombrero.
Cuántas veces, embozada,
Una lágrima asomada yo no pude contener

Si crucé por los caminos
Como un paria que el destino
Se empeño en deshacer

Si fui flojo, si fui ciego,
Solo quiero que hoy comprenda
El valor que representa el coraje de querer.

Era, para mi la vida entera
Como un sol de primavera
Mi esperanza y pasión,
Sabía que en el mundo no cabía.
Toda la humilde alegra de mi pobre corazón

Ahora cuesta abajo en mi rodada
Las ilusiones pasadas
Ya no las puedo arrancar.
Sueño, con el pasado que añoro,
El tiempo viejo que hoy lloro
Y que nunca volverá

Por seguir tras de sus huellas
Yo bebí incansablemente.
En la copa de dolor

Pero nadie comprendía
Que si todo yo le daba
En cada vuelta dejaba
Pedazos de corazón.

Ahora triste en la pendiente,
Solitario y ya vencido,
Yo me quiero confesar,
Si aquella boca mentía,
El amor que me ofrecía,
Por aquellos ojos brujos
Yo habra dado siempre más

Era, para mi la vida entera
Como un sol de primavera
Mi esperanza y pasión,
Sabía que en el mundo no cabía
Toda la humilde alegra de mi pobre corazón

Ahora cuesta abajo en mi rodada
Las ilusiones pasadas
Ya no las puedo arrancar

Sueño, con el pasado que añoro,
El tiempo viejo que hoy lloro
Y que nunca volverá

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