Por Omar Nasser Filho
A guerra contra a República Islâmica do Irã já começou e o primeiro território já foi ocupado pelos exércitos invasores. Nos gabinetes da CIA e do M16, o serviço secreto britânico, a produção de press releases fabricados com o objetivo de fabricar a imagem do inimigo e criar um ambiente favorável à volúpia belicista dos falcões de Washington e Downing Street corre a todo vapor. O resultado foi estampado nas capas dos principais jornais brasileiros na manhã do dia 17 de abril: Nova ameaça do Irã: exército de suicidas O Estado de São Paulo ; Irã prepara camicases contra ação do Ocidente Folha de São Paulo ; Irã teria 40 mil homens em pelotão suicida' Gazeta do Povo (de Curitiba).
Derrotar o inimigo nos campos de batalha não é conseqüência, apenas, de uma bem traçada estratégia militar, mas dependente, em grande medida, da mobilização de mentes e corações. Fica muito mais fácil conquistar objetivos militares se o exército invasor tem a simpatia da opinião pública. Por isso, normalmente, a batalha pela informação precede o morticínio dos inocentes. Forjar a imagem negativa do inimigo, desenhando-o como terrível assassino imbuído das mais perversas intenções é parte fundamental do jogo tático. O noticiário dos principais veículos de comunicação brasileiros é a mais clara demonstração de manipulação da mídia. Assim como, provavelmente, seus congêneres em todo o mundo, nossos jornais reproduziram segunda-feira informações publicadas originalmente no final de semana no londrino The Sunday Times e na agência Reuters , segundo as quais pelotões de homens-bomba, fanáticos e barbudos, estariam sendo armados na República Islâmica para explodir o Ocidente em atentados terroristas, caso o país seja atacado pelos defensores da democracia e da liberdade.
Interessante notar que as informações nunca vêm de fontes facilmente identificáveis, mas são imputadas às impessoais fontes, supostamente indivíduos que estão dentro do círculo de poder e que, para preservar sua segurança, não declinam seus nomes. Ou trata-se de informações simplesmente inventadas com o objetivo puro e simples de criar um clima de comoção e preparar psicologicamente os do lado de cá sobre a urgência e a correção do ato civilizatório do Império nos do lado de lá. Desta vez, ao lado de funcionários iranianos, tanto o periódico londrino quanto a agência noticiosa citam os nomes de supostas fontes. Vá saber se estas pessoas existem, mesmo, ou se as informações que elas, em sendos eres reais, deram não foram distorcidas de maneiras a caber no esquema difamatório disparado por Washington e Downing Street.
O que mais assombra ou o que pelo menos deveria assombrar as pessoas de bom senso e escrúpulos morais é que nós, habitantes do planeta terra medianamente interessados em saber o que vai pelo mundo, fomos bombardeados há não mais que dois anos por uma avalanche de notícias sensacionalistas sobre o suposto arsenal de WMD de Saddam Hussein. O general Collin Powel inclusive compareceu diante do Conselho de Segurança (?) da ONU ostentando fotos de satélite e organogramas provando a existência de laboratórios de armas químicas e biológicas que colocavam em risco a segurança do Ocidente e de Israel. O que sobrou de todo este teatro senão, hoje, a certeza de que tudo não passou de fanfarronice, de uma peça de fantasia que teve o único objetivo de convencer a opinião pública sobre a urgência e correção de um ataque fulminante contra o regime iraquiano? Qualquer semelhança como que se passa hoje com a República Islâmica não é mera coincidência.
É preciso criar a imagem de um regime insano, violento, fanático e cheio de ódio contra o Ocidente. O que nos restará, então, se não aplaudir a ação heróica dos bravos defensores da democracia e da liberdade e dar graças a Deus por mais um tirano ter sido varrido da face da Terra, mesmo que para isso milhares de inocentes tenham perdido sua vida e outros tantos carreguem em seus corpos eternamente as marcas da guerra?
Omar Nasser Filho , jornalista, economista e mestrando em História pelaUniversidade Federal do Paraná. Assessor de Comunicação Social da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná e co-autor do livro Um diálogo sobre o Islamismo, editado pela Criar, em 2000.
A guerra contra a República Islâmica do Irã já começou e o primeiro território já foi ocupado pelos exércitos invasores. Nos gabinetes da CIA e do M16, o serviço secreto britânico, a produção de press releases fabricados com o objetivo de fabricar a imagem do inimigo e criar um ambiente favorável à volúpia belicista dos falcões de Washington e Downing Street corre a todo vapor. O resultado foi estampado nas capas dos principais jornais brasileiros na manhã do dia 17 de abril: Nova ameaça do Irã: exército de suicidas O Estado de São Paulo ; Irã prepara camicases contra ação do Ocidente Folha de São Paulo ; Irã teria 40 mil homens em pelotão suicida' Gazeta do Povo (de Curitiba).
Derrotar o inimigo nos campos de batalha não é conseqüência, apenas, de uma bem traçada estratégia militar, mas dependente, em grande medida, da mobilização de mentes e corações. Fica muito mais fácil conquistar objetivos militares se o exército invasor tem a simpatia da opinião pública. Por isso, normalmente, a batalha pela informação precede o morticínio dos inocentes. Forjar a imagem negativa do inimigo, desenhando-o como terrível assassino imbuído das mais perversas intenções é parte fundamental do jogo tático. O noticiário dos principais veículos de comunicação brasileiros é a mais clara demonstração de manipulação da mídia. Assim como, provavelmente, seus congêneres em todo o mundo, nossos jornais reproduziram segunda-feira informações publicadas originalmente no final de semana no londrino The Sunday Times e na agência Reuters , segundo as quais pelotões de homens-bomba, fanáticos e barbudos, estariam sendo armados na República Islâmica para explodir o Ocidente em atentados terroristas, caso o país seja atacado pelos defensores da democracia e da liberdade.
Interessante notar que as informações nunca vêm de fontes facilmente identificáveis, mas são imputadas às impessoais fontes, supostamente indivíduos que estão dentro do círculo de poder e que, para preservar sua segurança, não declinam seus nomes. Ou trata-se de informações simplesmente inventadas com o objetivo puro e simples de criar um clima de comoção e preparar psicologicamente os do lado de cá sobre a urgência e a correção do ato civilizatório do Império nos do lado de lá. Desta vez, ao lado de funcionários iranianos, tanto o periódico londrino quanto a agência noticiosa citam os nomes de supostas fontes. Vá saber se estas pessoas existem, mesmo, ou se as informações que elas, em sendos eres reais, deram não foram distorcidas de maneiras a caber no esquema difamatório disparado por Washington e Downing Street.
O que mais assombra ou o que pelo menos deveria assombrar as pessoas de bom senso e escrúpulos morais é que nós, habitantes do planeta terra medianamente interessados em saber o que vai pelo mundo, fomos bombardeados há não mais que dois anos por uma avalanche de notícias sensacionalistas sobre o suposto arsenal de WMD de Saddam Hussein. O general Collin Powel inclusive compareceu diante do Conselho de Segurança (?) da ONU ostentando fotos de satélite e organogramas provando a existência de laboratórios de armas químicas e biológicas que colocavam em risco a segurança do Ocidente e de Israel. O que sobrou de todo este teatro senão, hoje, a certeza de que tudo não passou de fanfarronice, de uma peça de fantasia que teve o único objetivo de convencer a opinião pública sobre a urgência e correção de um ataque fulminante contra o regime iraquiano? Qualquer semelhança como que se passa hoje com a República Islâmica não é mera coincidência.
É preciso criar a imagem de um regime insano, violento, fanático e cheio de ódio contra o Ocidente. O que nos restará, então, se não aplaudir a ação heróica dos bravos defensores da democracia e da liberdade e dar graças a Deus por mais um tirano ter sido varrido da face da Terra, mesmo que para isso milhares de inocentes tenham perdido sua vida e outros tantos carreguem em seus corpos eternamente as marcas da guerra?
Omar Nasser Filho , jornalista, economista e mestrando em História pelaUniversidade Federal do Paraná. Assessor de Comunicação Social da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná e co-autor do livro Um diálogo sobre o Islamismo, editado pela Criar, em 2000.
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