Por Zuenir Ventura em No Mínimo
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29.08.2006 Acho que o primeiro a estabelecer a conexão entre o ex-planeta Plutão e o romancista alemão Günter Grass foi Luis Fernando Verissimo: “Taí. Plutão não era planeta e Günter Grass era nazista”, escreveu o cronista. Os dois perderam o que custa a ser construído, uma boa reputação: um ao ser rebaixado da primeira divisão do Sistema Solar e o outro ao confessar que, quanto tinha 17 anos, pertencera às Waffen SS, tropas de elite de Hitler. No primeiro caso, foram precisos 76 anos para se descobrir o engano. No segundo, o Prêmio Nobel demorou 61 para fazer sua confissão.
Em matéria de revelações e de maus antecedentes, porém, nada se compara ao que vem acontecendo nestes últimos tempos na terra dos mensaleiros, vampiros e sanguessugas. Talvez nunca, como agora, se tenha assistido a um desmoronamento tão geral e sistemático de reputações políticas. Por enquanto não se tem certeza do que essa falta de confiança pode causar no ânimo do país. Os efeitos só se farão sentir claramente daqui a um mês, com as eleições. De que forma os eleitores vão reagir a isso, se é que vão? Num originalíssimo livro lançado há pouco, “A reputação”, o jornalista Mario Rosa estuda a fundo a questão da ética na era digital, mostrando como estamos longe daquele mundo em que a propaganda era a alma do negócio. “Propagar” com rapidez, tornar-se conhecido, era a maneira de se levar vantagem sobre a concorrência. Agora, diz o autor, a reputação é que é a alma do negócio. “Um laboratório produz remédios, mas o que a indústria farmacêutica vende mesmo é confiança (...). A rigor, pessoas físicas e jurídicas não vendem produtos ou serviços. Vendem confiança”. “Um médico vende a confiança em seu tratamento”, exemplifica Rosa. “Um engenheiro vende a confiança de que um prédio não vai cair. Um jornalista vende confiança a seus leitores e suas fontes. Políticos vendem confiança. O que todos nós vendemos é confiança.” Não que não fosse assim antes, mas é que a revolução tecnológica mudou nossa relação com o mundo, e aumentou a rapidez com que a comunicação se dá. “A propagação de uma imagem não é mais um diferencial (...). Não basta apenas ser famoso e ter seu nome massificado: é preciso ser respeitado.”
Ser respeitado ou ter “perfil moral”, para usar a expressão empregada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, ao cassar o direito à reeleição de quatro deputados envolvidos com escândalos de corrupção. O responsável pela medida foi o desembargador Roberto Wider, recém-empossado na presidência do TRE. Vendo nos jornais e na TV a indignação da população, como confessou, ele se informou junto à CPI dos sanguessugas e verificou que os candidatos estavam sendo acusados, “e com provas, por seus pares e não por seus inimigos”. Era do que precisava para consagrar o bom e velho princípio da moralidade. Sem uma boa reputação, não se pode representar o povo. Daí o seu recado ao eleitor: “Acredite que as coisas estão mudando. Vote consciente”.
"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
terça-feira, 19 de setembro de 2006
De boa e má reputação
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