Texto de Roberto Mangabeira Unger
QUANDO , em resposta ao maior colapso econômico do século 20, o presidente Roosevelt lançou projeto maciço de obras públicas na esperança de reativar a economia americana, o resultado foi quase nulo. Em 1937, a situação piorou.Valeram as novas garantias individuais contra os efeitos do desemprego e da pobreza. O que recuperou a economia americana, porém, não foram as obras de Roosevelt. Foi a guerra. Ela mobilizou, à força e em dimensão enorme, os recursos naturais, financeiros e sobretudo humanos do país. De 1941 a 1945, o PIB dos Estados Unidos dobrou. Já na Alemanha, ao mesmo tempo que Roosevelt tentava sua estratégia, o governo de Hitler, livre dos limites impostos pela democracia, conseguiu o que Roosevelt não alcançara. Hitler impôs economia de guerra antes da guerra.
Grandes obras públicas, tipicamente voltadas para transporte e energia, podem justificar-se por si mesmas para derrubar obstáculos à expansão das atividades econômicas. Não devolvem, porém, qualquer economia moderna ao crescimento acelerado e includente se não ocorrerem em escala gigantesca, a escala característica das guerras. Como rumo ao crescimento, são insuficientes. Transposta para a realidade brasileira, essa lição não significa que devamos deixar de empreender obras públicas de vulto. Elas formam componente indispensável de uma estratégia nacional de desenvolvimento, porém apenas isso. Em nossa circunstância, ajudarão a viabilizar o crescimento somente se combinadas com dois outros elementos: um, preliminar; o outro, decisivo.
O elemento preliminar é o rebaixamento persistente do juro real. E, em parte por conta do tensionamento com o mercado financeiro que resulte do indispensável jogo de empurra entre o Tesouro e os representantes dos rentistas, a desvalorização do câmbio. Tudo sob a a condição, penosa e necessária, de reafirmar os compromissos com o realismo fiscal e com a estabilidade monetária. O elemento decisivo é a ampliação de oportunidades econômicas e educativas.Tirar 60% dos trabalhadores da informalidade, abolindo os encargos sobre a folha de salários. Usar os poderes e os recursos do Estado para abrir acesso ao crédito, à tecnologia e ao conhecimento em favor de multidão de empreendedores emergentes. Fazer da melhora da qualidade do ensino básico, sob responsabilidade federal, a causa sagrada e prioritária da nação. Nessa convergência de preliminares, de obras e de oportunidades está hoje o caminho de nossa libertação.
"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
Oportunidade primeiro
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário