Desesperar jamais
Pode parecer inevitável, mas existe sempre a opção "não desesperar". Aperte o botão!
Pode parecer inevitável, mas existe sempre a opção "não desesperar". Aperte o botão!
por Soninha Francine
Já se passaram dez dias do prazo de entrega do texto. São 11h20 da noite, e o que eu mais queria agora era dormir, mas não vai dar. Também preciso escrever alguma coisa no blog, que há dias não vê um texto novo. E ler aquele e-mail urgente, que chegou semana passada. Não posso deixar de imprimir aquele artigo sobre antidepressivos antes da gravação do programa de amanhã.
Ainda não marquei o almoço que prometi para o Rodrigo. Tomara que ele ainda se lembre das coisas que queria me contar. O cartão com o telefone estava em cima da mesa. Quando é que vou terminar de arrumar as gavetas do escritório? Ah, e não posso deixar de escrever um recado pedindo para a faxineira não mexer nas pilhas de papel no chão, por misericórdia.
Fiquei devendo para a síndica aquela pesquisa sobre a coleta seletiva aqui no bairro. Se eu não preparar hoje a aula de quinta-feira, não preparo mais amanhã e depois não vai sobrar um mísero espaço de tempo. Tenho de marcar logo o dentista antes que o dente quebrado não tenha mais conserto. Será que eu já mandei tudo o que precisava para o contador fazer o imposto de renda?
Nossa, essa parede está horrível. Não sei o que faço primeiro: mandar pintar, trocar o piso ou comprar o armário novo. Será que eu mando fazer uma cortina ou instalar uma persiana? É ridículo ter isso tudo de colar se eu não uso nem metade. No próximo bazar do centro budista, já tenho o que doar.
Anotações mentais: ligar para Heloísa (sobre empréstimo), passar as fotos da câmera para o computador, colocar a conta do telefone em débito automático. Pedir roupas usadas para as meninas do projeto de Belo Horizonte customizarem.
Dúvidas: tomei ou não tomei o remédio da homeopatia? A que horas mesmo começa a reunião amanhã? (Onde será que eu anotei o endereço?) Faltam só 200 quilômetros para a primeira revisão da moto.
Já passa de 11h40, e perdi o sono. Eu disse para o pessoal da VIDA SIMPLES que ia fazer uma coluna sobre viagens, mas vou deixar para o mês que vem. Prefiro escrever sobre a minha maior necessidade no momento: não desesperar. As gavetas, os papéis, as contas, os e-mails, as paredes e janelas, as filhas e o cachorro, a grana, o trabalho, os amigos... Embora pareçam se encontrar todos em uma festa ruidosa dentro da minha cabeça, cada um tem sua hora e lugar. Calma.
O coração fica apertado de aflição, o tempo parece estreito como uma porta entreaberta, mas cada problema tem sua hora e sua vez. Agora só preciso ter uma preocupação: escrever. Depois, dormir. Depois, resolver uma coisa de cada vez.
Por mais complicada e difícil que seja a vida, a opção não desesperar está sempre presente no menu. Vou apertar esse botão e fazer o que for possível. Daqui a um, dois, dez ou 90 dias, estarei deitada na rede lendo um livro e todos os motivos para o desespero serão fantasmas distantes. Por que me deixar assombrar por eles agora?
Não desesperar. A vida não fica mais simples, mas fica menos difícil.
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Soninha Francine, jornalista e apresentadora é outra pessoa quando consegue aplicar os conselhos que dá.
Fonte deste artigo: Revista Vida Simples
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