Aproveitando o texto "No mínimo patético" postado dia 17/09/07 no blog http://prenhederazao.blogspot.com/ do amigo Flávio Costa, em que ele faz algumas considerações sobre os filhos fora do casamento de pessoas como Renan, FHC, Pelé, etc e como cada assunto foi tratado pela mídia, fiz um comentário no texto dele que repoduzo aqui com maiores detalhes. Esse assunto é delicado e, para mim, que me tornarei em breve jornalista, é fundamental. Que tipo de jornalistas estão sendo formados hoje nas universidades? Ou ainda, que tipo de jornalista quero ser?
Este mês, na edição especial de aniversário da revista Imprensa, há uma entrevista com o Otávio Frias Filho, como diz a revista, "O Filho da Folha". Nela, ele declara, dentre outras coisas, que os jornalistas da Folha trabalham sempre para manter-se "imparciais a todo custo", que a Folha é "apartidária". Aí, mais a frente, numa frase que é também a chamada de capa da revista, ele diz que a imprensa foi "complacente e ingênua com o PT". Ora bolas, a imprensa não tem que ser complacente com ninguém, ela não tem que ter esse tipo de postura, contra ou a favor. A imprensa tem que informar. O problema é que a imprensa não é mais a mesma. E é óbvio que a Folha não é apartidária. E nenhum jornal hoje no país o é. Todos obedecem a algum grupo, ou no mínimo, ao capital, ao mercado.
Numa matéria para a revista Caros Amigos em maio deste ano, Marcos Zibordi, traçou o que ele chamou de "Paisagem mental dos estudantes de jornalismo". Ele mesmo classifica a pauta de "epinhosa", afinal, "vasculhar a mentalidade dos futuros jornalistas" não é tarefa p/qualquer um. O pior foi a constatação de que a maioria dos professores nunca pisaram numa redação. Hoje, os caras saem do curso e caem nas universidades para dar aulas teóricas de algo que eles não conhecem na prática. Outro fato interessante é perceber que os estudantes iniciam o curso sem grandes ilusões quanto ao curso ou ao mercado. Talvez reflexo do que o Otávio Frias discorre em sua entrevista, sobre a mudança do "jornalismo romântico" para o "dos manuais". O discurso do "filho da Folha" aliás, em toda a entrevista, é obviamente o discurso do dono de jornal e não de um jornalista. E definitivamente estou convencida de que não é possível exercer os dois lados da moeda nesta profissão.
O mercado de jornalismo não mudou, o jornalismo é que se adequou de forma inexorável ao mercado. O fato é que o jornalista hoje, é um profissional que sai da faculdade com a meta de se tornar um âncora de TV, alguém como o William Bonner ou a Fátima Bernardes ou pior, sem a menor perspectiva mas certo de que o que importa é o salário que vai receber, se vai ter uma "boa colocação no mercado".
No texto do blog do Flávio, ele fala sobre o tratamento diferenciado que foi dado aos casos extraconjugais de celebridades diversas. Conseguiram, certa vez, como ele lembra bem, derrubar a candidatura do Lula (que liderava as pesquisas) com a história da menina que engravidou dele e ele pediu que ela abortasse. Na época ele era viúvo e não tinha mandato. A história de Tomás, filho de FHC, nunca apareceu de fato na mídia, mas Renan foi execrado publicamente e a jornalista envolvida será capa da Playboy. Pelé e Roberto Carlos também penaram com seus filhos não planejados. Dizer que a imprensa é imparcial e dá o mesmo tratamento para todos é de uma miopia atroz.
Ontem participei de uma entrevista na rádio da faculdade com um diretor de um documentário. No estúdio, vários estudantes puderam ouvir as histórias de um sujeito interessante que foi membro do partido comunista e agora prepara um filme sobre a vida do Che. Ao final da entrevista que durou cerca de 40 minutos, quando ele já tinha ido embora, o professor, um jornalista experiente que aliás, já trabalhou como editor na mesma Folha de S. Paulo, descascou com todos que ali estavam. Ninguém havia feito perguntas sobre o filme! Todos ficaram encantados com o fato de conhecer alguém com uma história fascinante e cheia de ideologia e acabaram fazendo perguntas sobre a vida do próprio entrevistado. Os países que ele conheceu em situação de guerra, o Prestes com quem ele conviveu, o Che, Fidel, sobre religião, marxismo, tudo menos o filme. Então, é aí que começa, ninguém conseguiu se distanciar, ser imparcial. Ainda que tenha sido de uma outra forma, mais positiva. E isso se reproduz na vida profissional. Claro que é muito difícil não emitir alguma opinião no momento em que se está redigindo uma matéria ou fazendo uma entrevista. O "espírito", os valores, as crenças de cada um sempre vão estar um pouco no trabalho de cada jornalista. O problema é que se escrevo imbuída de ideologia, jamais serei imparcial. Etimologicamente, aliás, a palavra ideologia se refere a uma idéia que se quer dominante. Não importa se para o bem ou para o mal. Se há ideologia não é imparcial.
Mas hoje, o que acontece no mercado é ainda pior, porque pagando, alguns grupos e pessoas conseguem até que o jornalista escreva o que é de interesse de alguém, ainda que não seja verdadeiro. Fora a onda de "denuncismo" que é real e séria. Ninguém tem o direito, nem mesmo o jornalista, de burlar a lei para conseguir um furo, mas isso tem acontecido com frequência. No afã de conseguir algo que "ninguém tem" ou "antes dos outros", os jornalistas grampeiam telefones, fazem escutas ilegais, tiram cópias de documentos sigilosos em poder da justiça com a ajuda de algum "amigo" por dentro da estrutura, usam fotos para extorquir dinheiro ou informações comprometedoras. E tudo isso, as pessoas chamam de jornalismo. Existe até um discurso de que vale tudo porque a população "tem que saber". A qualquer custo? Isso definitivamente não é jornalismo, muito menos imparcial. É, como diz meu amigo Flávio, pra dizer o mínimo, patético.
3 comentários:
De fato, opinião sem tomar partido não é opinião. Toda informação carrega um conteúdo e todo conteùdo é ideológico. Como na música de Zé Keti: Podem me bater, poder me prender mas eu não mudo de opinião...
Não esperava entrar em seu blog e encontrar uma referência ao Prenhe... Minha vaidade não permite, então gostaria de agradecê-la por duas coisas: a gentileza e a palavra “amigo”, em tão pouco tempo que nos “conhecemos”.
Quando for uma famosa jornalista utilizarei esse momento como troféu, ok? Tenho certeza de que será uma jornalista parcial, com capacidade e caráter suficientes para admitir por qual corrente, ideologia, orientação, tendência, whatever, que siga e defenda.
Escrever (para mim) serve não só para informar, mas sobretudo iluminar. Qualquer pessoa, não só jornalistas, deveriam saber que palavras são ditas/escritas e há consequências diretas. Você pode se orgulhar de tê-las pronunciado, porém, o contrário também ocorre frequentemente. O importante não é estar certo ou errado, mas defender seu ponto de vista, se este o representa, hoje. Enfim, amanhã você poderá se contradizer, porque não é idiota. Mais uma que devo ao Francis...
O importante é que se tenha uma posição, sempre. Senão, tire o time de campo e boca fechada. Não é o seu caso. Fale, escreva, sempre!
Sou do grupo que acha que para a verdade aparecer quase tudo é válido, inclusive os grampos, as ameaças... Mas desde que seja a verdadeira verdade, e não a verdade ideal de alguém. Mas hoje a imprensa está realmente num momento caótico (falando de outras coisas). Alguns procuram o que escrever, e vão atrás de coisas menores, quando existem coisas importantes por aí...
Postar um comentário