Por Milton Severiano
Revista Caros Amigos
Canto somente o que não pode mais se falar
Noutras palavras, sou muito romântico.
Caetano Veloso, Muito Romântico, 1978
Cuba
Outra enfermaria
Apóie o CAC – Clube Amigos de Cuba
Seria trotskista Cuba? Revolução permanente? Ilha afora vemos cartazes, nas estradas, cidades, Fidel, Che, José Martí. Uns lemas: Quem é valente luta, não se rende. É a hora da serenidade e da coragem. É hora de gritar revolução. Sempre um passo à frente. A dignidade como bandeira. Seguimos em combate.
José Martí (1853-1895) era advogado, poeta:
Cultivo una rosa blanca,
en julio como en enero,
para el amigo sincero
que me da su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
el corazón con que vivo,
cardo ni ortiga cultivo:
cultivo una rosa blanca.
Mártir da independência. Franzino, inábil nas armas, no primeiro combate a espanholada o matou. Poesia pura. Che era médico. Asmático. Tratava-se com maconha, dizem. Argentino. Há quem diga em Cuba que, vivo, estaria insatisfeito. Seria trotskista? No sentido também de acreditar que um pode fazer a diferença, sendo, como Trotski, um solitário – o homem mais forte é o mais só? Trotski, ferido nas pernas, comandou ataque de baionetas contra tanques. Sucumbiu com uma picaretada na cabeça a mando de Stalin. Che a tiros a mando da CIA.
Ministro da Economia de Cuba, Che pediu aos imediatos dados sobre os quadros com que contavam. Recebeu relação com medidas dos quadros do acervo, tipos de moldura, técnica de cada pintura. A estes burocratas enviava ao campo, cortar cana, ver o que é bom. Assassinado na Bolívia quando tentava insurreição partida do campo, este bolivariano virou mártir. Vemos seu rosto pelos quatro cantos do mundo.
Chego a Santa Clara depois de viajar dez horas. O Santa Clara Libre está sem água. Che tomou a cidade graças a tática genial. O hotel guarda marcas. Porta do elevador baleada. A moreninha ascensorista se orgulha de relatar: Esto es histórico. O que acharia o comandante Che de faltar água no maior hotel de Santa Clara?
Seu corpo repousa aqui. O memorial emociona. Na semi-obscuridade, antúrios, avencas, folhagens, recém-aguadas. Na parede de “pedra-mineira”, 38 medalhões em alto-relevo, os libertadores de Santa Clara. Sob cada efígie, gladíolo (palma-de-santa-rita) colhido naquela manhã. Uma só mulher, boina à Che: Tania. Ao fundo, sobre suporte em forma de pirâmide, arde a pira. Proibido fotografar, filmar. O ambiente impõe respeito.
Lá fora, monumento duns 20 metros de altura, ao pé do qual se chega por uma escadaria. Che de pé, discursando, uniforme de combate. Do lado, menir de 3 metros de altura em que se lê a carta de despedida para Fidel, quando lhe diz que só se arrepende de não ter confiado em sua liderança de cara; que parte para outras lutas; que daria a vida para libertar outros povos da América Latina.
Saí aturdido. Liguei o rádio. Música e serviços. Jorge Felix perdeu uma pequinesa. Passa-se um berço. Se compra refrigerador queimado, se vendem cachorros, se compram móveis usados. Idalia troca sua casa por outra. Alguém perdeu na rua Alemán chaveiro rosado com a foto de “una muchacha”, entregar no Hotel Santa Clara. E segue um merengue.
Pedra de Responsa: encontro entre Bush e Fidel. Não pode haver confusão por lá. Será que não dá para se comportar como adultos? Por que Cuba fora da ALCA? Que história é essa? Ali tem um povo bem legal. Clube Amigos de Cuba, que tal? Ajudemos uns aos outros – ou salve-se quem puder?
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