"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

terça-feira, 16 de junho de 2009

Debate sobre jornalismo científico

O livro Guia Prático para "camelôs" e "bailarinas", editado pela Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, chama o debate para o complexo tema do jornalismo científico. Da Série "Brasil Ciência", que visa à "divulgação de conferências, entrevistas, artigos e documentos considerados importantes para o amplo debate sobre o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil", o livro foi organizado por Paulo Lyra e publicado em 1989.

Abordando temas ainda muito atuais como qual é o papel do jornalismo científico, como se estabelece a relação jornalista-cientista, aspectos em torno da linguagem e da abordagem, limites e postura crítica, o pequeno manual é indispensável para jornalistas que pretendem cobrir assuntos relacionados à pesquisa científica. Resultado do I Curso de Especialização em Divulgação Científica promovido pela UnB, a compilação reúne a memória do evento com comentários dos vários palestrantes e convidados.

O grande questionamento que resultou na organização do Curso e da publicação em questão, centra-se em torno do fato de vivermos em uma sociedade em permanente estado de mutação e que a cada momento histórico encontra-se vivenciando uma "modernidade" subjetiva sentida apenas por quem vive o tempo presente. Trabalhar a divulgação das pesquisas científicas de forma que estas sejam compreendidas pela população leiga, é uma das tarefas do jornalista que cobre ciência e tecnologia.

Do desafio do jornalista, depende também o desenvolvimento de toda a sociedade, se pensarmos no papel social que executa a partir da divulgação da informação. Também a elaboração da temática científica entre os meios próprios acadêmicos-científicos, é tarefa de jornalistas que se relacionam diretamente com os autores das pesquisas e estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. "Se ciência e tecnologia são importantes hoje em dia, um tratamento no mesmo nível deve ser dado à sua divulgação", afirma o Coordenador do Núcleo de Política Científica e Tecnologia da Universidade de Brasília, Bernardo Kipnis, na apresentação do manual. O foco, portanto, é também democratizar a informação, atribuição de máxima nobreza do exercício da profissão de jornalista.

A comparação entre "jornalistas e cientistas" e "camelôs e bailarinas", é de autoria do físico Luiz Piunguelli Rosa, que chama a atenção para a velocidade das informações nos tempos modernos. Tudo se torna obsoleto numa velocidade cada vez mais ascendente. Aspectos científicos diversos sofriam mutações com muito menos celeridade e hoje a velocidade entre as descobertas e a divulgação das mesmas, pode resultar em uma inadequação entre as duas coisas, dado o risco de se divulgar algo que jã tenha sido desmentido no minuto seguinte por outra pesquisa, por exemplo. O formato do Curso e da presente publicação é o resultado da comunicação entre palestrantes e debatedores, por vezes realizada de forma virtual com o envio de perguntas e respostas. Algumas das respostas, dadas por jornalistas e editores de revistas científicas, acabaram se tornando interessantes debates entre visões críticas opostas do papel do jornalista-cientista e dos leitores, que recebem as informações.

Dentre perguntas e respostas, muitos temas foram abordados e tratados tanto por cientistas quanto por jornalistas que cobrem a área. O papel do jornalismo científico foi o tema escolhido para abertura dos debates, com a pergunta inicial que visava encontrar uma diferenciação entre o jornalismo científico e outras áreas do jornalismo, no que tange à sua contribuição para a sociedade. André Motta Lima, responde com um importante questionamento: a contribuição do jornalismo para a sociedade independe ou não do assunto? Dentro disso, um fato fica claro ao longo do Guia, o de que a ciência precisa do jornalismo tanto quanto o inverso. A ciência precisa, além das descobertas que realiza, garantir que as informações sejam publicizadas e mais ainda desmistificadas, já que o avanço científico sem o avanço da sociedade, acaba por se tornar um entrave no desenvolvimento da própria ciência.

Como assinala Júlio Abramczyk, a divulgação científica através do jornalismo, também chama a atenção para as dificuldades que permeiam o universo do cientista como remuneração e falta de apoio governamental às pesquisas. Ele também aponta para a importância do conhecimento sendo repassado à camada mais jovem da população. Na era da informação, esse conceito se amplia, já que é possível hoje - mais até do que quando o livro foi editado - encontrar informações científicas através de revistas eletrônicas e sites de ciência e tecnologia, mais do que no meio impresso o que aumenta a velocidade da transmissão da informação. Ainda que o jornalismo impresso ainda tenha um papel relevante e essencial na sociedade atual, com o avanço dos blogues e sites de relacionamento, possivelmente o jornalismo científico deverá sofrer mutações diversas também no que diz respeito ao seu formato.

É fato que existe um fosso entre o jornalista científico e o pesquisador, mas também é verdade que nos últimos anos tem-se conseguido muitos êxitos na construção de uma ponte entre as duas atividades. E um dos principais problemas citados, que é também um dos primeiros aspectos apontados pelos pesquisadores, é a falta de formação e entendimento do jornalista na área que cobre. Esse é, unâmimente o maior desafio do jornalista que deseja cobrir essa área, a necessidade constante de especialização e atualização científica dos temas que costuma cobrir. Sem isso, fica quase impossível garantir a credibilidade tanto do leitor quanto da comunidade científica que lhe serve de fonte.

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