"Somos acusados de ladrões dentro de nossa própria terra (...)muitos chegam para me perguntar o que nós cometemos para sermos julgados, qual foi nosso crime? (...)"
Joênia Batista, índia Wapichana
Hoje dois eventos marcam o Dia do Índio (instituído em 1943 pelo ex-presidente Getúlio Vargas) e a vida de nações indígenas de regiões próximas, no Norte do país.
De um lado, comunidades da Raposa Serra do Sol comemoram um ano da histórica decisão do STF que garantiu a demarcação da área de Terra Indígena (TI) na disputa com produtores de arroz. A festa terá a presença do presidente Lula e da candidata Marina Silva em Roraima.
De outro lado, representantes de nações indígenas da Amazônia, atraem para suas manifestações até mesmo o cineasta James Cameron, contra a construção da usina de Belo Monte. Ele participou na Amazônia e em Brasília de reuniões e protestos em favor das comunidades que vivem próximas à área onde o governo pretende construir a hidrelétrica de Belo Monte. O gigantesco projeto exigirá escavar uma área maior que o canal do Panamá em plena Amazônia, cujo seu maior rio, o Xingu, terá seu curso desviado em mais de 100km.
O leilão dos consórcios empreendedores, está previsto para acontecer amanhã. O presidente, que estará em Roraima, defensor do desenvolvimento a qualquer custo, diz que irá construir a usina, mesmo sem a iniciativa privada. E se por um lado, ajudou um grupo de indígenas a terem suas terras demarcadas, por outro, não quer nem ouvir falar no apelo daqueles que vivem no rio Xingu.
Desde 1500 até hoje, o que os primeiros moradores dessa terra chamada Brasil tem a comemorar?
Se você é brasileiro, a chance é de pelo menos 90% de haver sangue indígena em suas veias, fruto da miscigenação ocorrida no início da história do país que, em termos históricos, é bastante recente. Essa "mistura" está presente em nossos traços, nosso comportamento, nossa música, culinária, costumes, mas também ocasionou a perda de parte da identidade cultural dos índios.
Historiadores afirmam que antes da chegada dos Europeus à América, havia cerca de 100 milhões de índios. Hoje não passam de 400 mil em todo o território brasileiro. Mais de 700 nações indígenas foram extintas nesse processo.
As Nações Unidas dedicaram uma década aos povos indígenas e mesmo assim isso não foi suficiente para evitar que eles continuem sendo tratados como estrangeiros em sua própria terra.
O vídeo abaixo é a defesa da advogada Joênia Batista de Carvalho, primeira índia formada em direito no país, da tribo Wapichana, que sustentou oralmente diante de 11 ministros do STF em defesa da Raposa Serra do Sol em 27/08/2008.
Sugiro aos leitores do blog que prestem atenção nas palavras de Joênia e no simbolismo que elas contém.
P.S.: Esse post é uma homenagem, também, à um grande amigo, cacique de uma tribo Xavante em Sangradouro-MT. E à todos os guerreiros indígenas que, como ele, são parte também da minha história e dos meus antepassados.
4 comentários:
Update do post: a Justiça Federal acaba de suspender mais uma vez, o leilão de Belo Monte
Leiam em:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/web/ebc-agencia-brasil/enviorss/-/journal_content/56/19523/202824
Cada um de nós tem um pedaço indígena. Lutar pela questão indígena é defender nosso sangue também e dar o direito à eles de se manterem com os pés sobre a terra que os gerou antes que outra parte de nossas origens (os europeus) chegassem por aqui. parabéns pelo post!
Nossa, chorei com a fala dela..
Não atualizei depois o fato do leilão ter sido realizado. Esse foi o presente do governo à semana do índio. Não vou nem comentar...
Postar um comentário