Como noticiado pelo portal da Agencia Boliviana de Información, organizações indígenas, camponesas e movimentos sociais da Bolívia, realizam hoje um Dia Nacional de Mastigação da Folha de Coca em defesa do uso tradicional e para exigir a descriminalização pela Organização das Nações Unidas (ONU) desta antiga prática.
O dia da mastigação "acullico" ou "pijcheo" como é chamado em aymara ou quechua (idiomas indígenas locais), é realizado nas ruas de várias cidades, com degustação na estrada antiga e exposição dos produtos desenvolvidos com base em coca, como refrigerantes (sim, "aquele" que você consome em sua casa também), bolos, tortas, biscoitos, xaropes, sabonetes, produtos de beleza e pão.
Foto: Alter-Latina
A coca é um arbusto usado principalmente pelos povos indígenas dos países andinos em suas práticas e cerimônias tradicionais. Ela também é consumida para combater doenças como diabetes, reumatismo, arteriosclerose e outras. Lembrando que a indústria farmacêutica compra barato boa parte da produção cocaleira boliviana para fabricar medicamentos que depois compramos a preços absurdos em várias partes do mundo, incluindo o Brasil.
A Bolívia apresentou à ONU um projeto de alteração da Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, que criminaliza o ato de mastigar folhas de coca.
Quando estive na Bolívia trouxe uma camiseta como esta abaixo, que infelizmente algum FDP amigo querido levou emprestado passou a mão grande e ainda não devolveu:
O que mais se vê, passeando pelas estradas que beiram as montanhas bolivianas são vendedores de folhas de coca. Por experiência própria, afirmo que faz muita diferença mastigar algumas (lembrando de cuspir depois, jamais engolir) antes de subir. A sensação é de alívio, como tomar algo gelado num dia de muito calor. Já sem mascar a folha, a sensação é muito parecida com a de estar bêbado e enjoado (não é meio bêbado, é muito e não, não é agradável como encher a cara no boteco de domingo). O chá de coca que encontramos em diversos lugares, incluindo algumas marcas industrializadas que podem ser compradas aqui no Brasil, também é uma delícia (vai lá, opine depois de experimentar).
A camiseta, que pode ser vista nas ruas em turistas mas também muito usada pelo povo boliviano, é um manifesto pelo direito de produzir uma folha que é parte significativa da economia do país. Infelizmente existem produtores que a cultivam para a produção de cocaína, mas é minoria e jamais subsidiados pelo governo. O Sindicato dos Cocaleiros - que já foi presidido pelo presidente Evo Morales - também nunca teve ligações com os cartéis de produção da cocaína (chamados de "firmas" pelos bolivianos). E, para qualquer turista mais atento, fica claro que o povo boliviano reprova o comportamento de (principalmente) europeus e brasileiros que viajam para comprar a "pura" por lá nas mãos de traficantes.
Em uma das ruas, ao me ver conversando com um grupo de ambulantes (dos que vendem redes, mantas e casacos lindos feitos com tear manual), um branquelo com cara de viking sueco veio me perguntar se eu sabia onde encontrar os "drug dealers". Vergonha alheia mode on.
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