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sábado, 25 de junho de 2011

Anisitia não encontra evidências sobre as acusações de abusos cometidos por apoiadores de Gaddafi

Desde que a Anistia Internacional recebeu as primeiras denúncias de violações na Líbia, ainda em fevereiro (procurem no Google), declarações de seus representantes dizendo que "iniciariam imediatamente investigações na região" ou de que "estavam encontrando evidências de que as tropas líbias usavam o estupro como arma" correram mundo afora em todos os canais midiáticos.

Agora, que o relatório com o resultado das investigações da mesma entidade foi divulgado, praticamente não vi notícias sobre ele com exceção de um ou outro comentário breve que, ou tenta desqualificá-lo ou destaca apenas os dados que refletem "dúvidas" sobre as informações coletadas. 

Essa "estranha coincidência" pode ser compreendida com vídeos (disponíveis aos montes na internet) como o que oferece  uma detalhada descrição de como as grandes redes de TV legendam as cenas de ataque de rebeldes contra o povo líbio (claramente identificados pelas bandeiras verdes dos apoiadores do governo) como sendo o oposto, ou seja, "ataques das forças pró-governo contra os rebeldes". Um vídeo mostra um menino recebendo atendimento médico (imagens fortes), capturado por forças rebeldes de Misurata e empalado com a haste da bandeira verde (pró-governo) que carregava. Não há imagens semelhantes de tais práticas por parte das tropas líbias. Mesmo assim, violações cometidas pela oposição, muitas postadas na internet com "orgulho" pelos próprios rebeldes, não são consideradas pautas relevantes para a maior parte da imprensa.

Esta mesma "linha editorial" que distorce os fatos ao invés de apenas narrá-los como deveria, é a que ajuda a produzir outras atrocidades pelo mundo como as que vem ocorrendo em Gaza. O governo israelense declarou hoje que os jornalistas que pretendem participar da próxima flotilha humanitária ficarão dez anos sem permissão para entrar em Israel. Sobre o fato do maior aliado do projeto americano ameaçar toda a imprensa internacional, também não há muita repercussão.


Anisitia não encontra evidências sobre as acusações de abusos cometidos por apoiadores de Gaddafi


Fonte: http://www.independent.co.uk/news/world/africa/amnesty-questions-cl...

Por Patrick Cockburn

Organizações de direitos humanos lançaram dúvidas sobre as alegações de violações em massa e outros abusos cometidos por forças leais ao coronel Muammar Gaddafi, que têm sido amplamente utilizados para justificar a guerra da Otan na Líbia.

Os líderes da Otan, os grupos de oposição e da mídia produziram um fluxo de histórias desde o início da insurreição em 15 de Fevereiro, alegando dentre outras coisas que o governo líbio havia ordenado estupros em massa utilizando mercenários estrangeiros e empregando helicópteros contra manifestantes civis.

Mas a investigação da Anistia Internacional não conseguiu encontrar provas para essas acusações de violação dos direitos humanos e na maioria dos casos lançou dúvidas sobre elesA anistia encontrou também indícios de que em várias ocasiões, os rebeldes em Benghazi parecem ter deliberadamente feito declarações falsas ou manipulado as evidências.

As descobertas pelos investigadores parecem estar em desacordo com o parecer do procurador do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno-Ocampo, que há duas semanas, disse em uma coletiva de imprensa que "nós temos a informação de que havia uma política de estupro na Líbia contra os que eram contrários ao governo. Aparentemente, ele [o coronel Gaddafi] usou os estupros para punir o povo."

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton disse na semana passada que estava "profundamente preocupada" com o fato de que as tropas de Gaddafi estavam participando de estupros na Líbia.

Donatella Rovera, conselheira sênior de crise da Anistia Internacional, que estava na Líbia nos últimos três meses desde o início do levante, disse que "nós não encontramos qualquer evidência ou uma única vítima de estupro ou um médico que tenha informações a respeito de alguém que fora estuprada".

Liesel Gerntholtz, chefe dos direitos da mulher da Human Rights Watch, que também investigou a acusação de estupro em massa, disse: "Nós não fomos capazes de encontrar provas".

Em um exemplo, dois soldados pró-Gaddafi capturados pelos rebeldes e apresentados à imprensa internacional, acusaram seus oficiais, e mais tarde se reconheceram culpados, de terem estuprado uma família com quatro filhas. Ms Rovera diz que quando ela e um colega, ambos fluentes em árabe, entrevistaram os dois detidos, um de 17 anos e um 21, sozinho e em quartos separados, eles mudaram suas histórias e deram diferentes versões do que tinha acontecido. "Os dois disseram que não haviam participado do estupro e apenas ouviram falar sobre isso", disse ela.

Aparentemente a mais forte evidência de estupros em massa parecia vir de um psicólogo, líbio, Dr Seham Sergewa, que diz que distribuiu 70 mil questionários em áreas controladas pelos rebeldes e ao longo da fronteira da Tunísia. 259 mulheres voluntariamente declararam que haviam sido estupradas. Mas perguntado por Diana Eltahawy, especialista da Anistia Internacional para a Líbia, se seria possível encontrar qualquer uma dessas mulheres, Dr Sergewa respondeu que "tinha perdido o contato com elas" e foi incapaz de fornecer provas documentais.

As acusações que o remédio Viagra foi distribuído às tropas Gaddafi para incentivá-los a estuprar mulheres em áreas rebeldes surgiu pela primeira vez em março, depois que a Otan destruiu tanques avançando sobre Benghazi. Ms Rovera afirmou que rebeldes falando com a imprensa estrangeira em Benghazi, começaram a mostrar aos jornalistas pacotes de Viagra, alegando que eles foram obtidos nos tanques queimados, embora não esteja claro por que os pacotes não estavam carbonizados.

Rebeldes têm repetidamente acusado de que tropas mercenárias da África Central e Ocidental têm sido usadas contra eles. A investigação da Anistia também descobriu que não havia evidências para isso. "Aqueles apresentados para jornalistas estrangeiros como mercenários foram mais tarde libertados discretamente", diz Ms Rovera. "A maioria era de sub-saarianos que trabalhavam na Líbia sem documentos". Outros não tiveram tanta sorte e foram linchados ou executados. A Anistia Internacional encontrou corpos de migrantes no necrotério de Benghazi e outros  jogados na periferia da cidade. Nenhum deles trabalhava para as tropas do governo.

A intervenção da Otan se iniciou em 19 de Março com ataques aéreos para proteger as pessoas em Benghazi de um massacre das tropas pro-Gaddafi. Não há dúvida de que muitos civis esperavam serem mortos. "Mas não há nenhuma prova de assassinato em massa de civis na escala do que acontece no Iêmen, por exemplo".

A maioria dos combates durante os primeiros dias da revolta estava em Benghazi, onde de 100 a 110 pessoas foram mortas em conflitos diretos com as tropas, e na cidade de Baida, para o leste, onde 59-64 foram mortos, diz a Anistia. A maioria deles eram manifestantes armados.

Vídeos amadores mostram soldados líbios capturados sendo mortos e esfolados. Oito corpos carbonizados foram encontrados nas ruínas do quartel-general militar em Benghazi, podendo alguns serem de meninos que desapareceram naquela época. O que reforça as denúncias de moradores das regiões em conflito que alegam que os rebeldes  ameaçavam as famílias da região caso demonstrassem apoio ao coronel Gaddafi.

Não há nenhuma evidência de que aeronaves ou pesadas armas anti-aéreas foram utilizadas contra a multidão. Cartuchos encontrados por manifestantes eram de de Kalashnikovs ou armas de calibre similar. 



O relatório da Anistia Internacional acrescenta que "a maior parte da cobertura da mídia ocidental, desde o início apresentou uma visão unilateral na lógica dos eventos, retratando o movimento de protesto como inteiramente pacífico e repetidamente sugerindo que as forças do regime de segurança inexplicavelmente massacravam manifestantes desarmados".

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