O jornalista Pepe Escobar é um dos maiores especialistas em Oriente Médio e conflitos nas regiões próximas. O depoimento dele no #BlogMundoFoz é fundamental para entender os meandros do que ocorreu na Líbia. Para quem pretende entender os detalhes históricos de todo o ocorrido, vale a pena assistir.
"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Eu, ficha suja?
31/10/2011 4:20, Por Congresso em Foco
João Capiberibe*
Fui prefeito de Macapá (1989-1992) e governador do Amapá por dois mandatos (1995-2002). No período em que governei o estado, tive profundas divergências com o Legislativo e o Judiciário, sempre por questões orçamentárias. Essas divergências chegaram a provocar a manifestação corporativa de 23 dos 27 presidentes de Tribunais de Justiça do país que, reunidos em um congresso em São Luís do Maranhão (em 2001), assinaram uma nota me declarando “inimigo público” do Judiciário.
Mesmo tendo uma relação distante e, em alguns momentos, pouco amistosa com o Tribunal de Justiça do Amapá, nunca fui condenado, nem mesmo respondi a processo por improbidade administrativa ou criminal. Tampouco carrego qualquer pendência nos burocráticos Tribunais de Contas, do Estado ou da União.
Nas oportunidades em que a sociedade me confiou gerir seu dinheiro, eu o fiz com zelo e transparência. Por que então me custa tanto assumir um mandato de senador da República, conquistado democraticamente em 2010 em sufrágio universal?
Alguém pode se perguntar: mas se ele nunca foi condenado, por que então o TSE o enquadrou na Lei Ficha Limpa e lhe cassou o registro de candidato no dia 30 de setembro de 2010, a 48 horas da eleição?
É verdade! Não vou omitir: tenho duas condenações, ocorridas em momentos históricos antagônicos. A primeira condenação aconteceu nos tempos sombrios de coturnos e baionetas. Em 1971, um tribunal militar me sentenciou a seis anos de prisão por atividades subversivas. Fiquei onze meses preso. Um dia, meus carcereiros cochilaram, fugi e fui bater no Chile de Salvador Allende. Depois de nove anos, a Lei da Anistia pôs fim ao meu exílio e retornei ao Brasil.
Tempos depois, na democracia, com as feridas do passado já cicatrizadas, fui sentenciado por outro tribunal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como única prova, o depoimento de duas mulheres que me acusavam de lhes ter comprado os votos por R$ 26, pagos em duas parcelas – história rocambolesca que uma busca simples no Google revela os bigodes por detrás da trama.
O TSE reformou então a decisão do TRE-AP, que havia decidido pela improcedência da acusação, e, por cinco votos a dois, cassou-me o mandato de senador conquistado nas eleições de 2002. Mas não só o meu: com a mesma acusação leviana ceifaram o mandato de uma deputada federal, simplesmente por ter Capiberibe no nome. Janete, minha companheira de vida e luta, depois de consagrada nas urnas como a deputada federal mais votada para a Câmara Federal nas eleições de 2002, também perdeu seu mandato.
Dizem que um raio não cai duas vezes na mesma cabeça, mas depois de caçado e preso pela ditadura, cassado sem processo criminal na democracia, o TSE conseguiu o inusitado. Com base em uma lei aprovada por um Parlamento acuado, o tribunal decidiu jogar para a plateia e, afrontando a Constituição, fez valer a Lei da Ficha Limpa, o que me impôs uma terceira cassação. Mas desta vez escapei por um triz. Em 23 de março deste ano, o STF decidiu que essa lei, por ferir o art. 16 da Constituição Federal, que determina que uma lei que modifique o processo eleitoral não pode ser aplicada no ano em que foi promulgada, não valeria para as eleições de 2010, quando me elegi senador.
Escapei? Em tese sim, mas na prática ainda não.
No dia 1o de setembro deste ano, o ministro Luiz Fux, dando consequência à decisão do pleno do STF, anulou a decisão do TSE, restabelecendo meu registro de candidato e comunicando ao TRE do Amapá que procedesse à diplomação e abrisse caminho à posse no senado.
No entanto, pasmem! O presidente do TRE/AP, desembargador Ednardo Sousa, considerando obscura a decisão do ministro Luiz Fux, negou-se a emitir o diploma. Claro que “agravei de sua decisão”, terminologia jurídica para a ação de recorrer de uma decisão, e também fiz uma reclamação ao STF. Mesmo tendo obtido votos suficientes e sem qualquer impedimento legal, a posse não acontece. Que força estranha é essa que impede a materialização da vontade do povo do Amapá?
Aguardo o desfecho que pode vir de dois lados, da reclamação feita junto ao STF e do pleno do TRE/AP, que brevemente julgará meu recurso contra a decisão monocrática do desembargador. Lembro que, no ano passado, por quatro votos a dois, o TRE/AP homologou minha candidatura ao Senado. E, como dizia Torquato Neto: “Quem espera sempre alcança, três vezes salve a esperança!”
* Ex-prefeito de Macapá, ex-governador, senador eleito no pleito de 2010
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
A Líbia que eu conheci
O relato que se segue abaixo, foi publicado no blog do jornalista e professor Georges Bourdokan que conheceu a Líbia, quando trabalhava para a Rede Globo e foi ao país com a missão de produzir um Globo Repórter (que não foi ao ar), e desde o início dos conflitos vem publicando artigos com sua visão muito diferente da maioria dos veículos de imprensa.
Eu não tenho a menor dúvida.
O relato dele só aumenta minha enorme sensação de melancolia e tristeza pelo que as "grandes nações do mundo" acabaram de fazer. Uma música do System of a Down diz algo como: "você também paga pela guerra e pelas mortes, seus impostos, seu dinheiro também financia a guerra".
Foi a nação descrita abaixo que vocês acabaram de, tacitamente, destruir. Por ação ou omissão, colaboraram com cada morte, cada ato de barbárie que hoje temos em material farto na internet. O anúncio do CNT de que trará a sharia de volta é a cereja do bolo de todo esse bizarro e macabro massacre que as nações e povos do mundo acabaram de patrocinar. Parabéns a todos os envolvidos!
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Nelson Mandela assim que foi libertado foi agradecer a Kadafi o seu apoio ao povo sul-africano contra o regime do aparheid. |
Estive na Líbia em setembro de 1979, por ocasião do décimo aniversario da Revolução que levou Kadafi ao poder. Me acompanharam na ocasião o cinegrafista Luis Manse e o operador de Nagra Nelson Belo, Belo (por onde andarão?).
Estávamos ali pelo Globo Repórter, do qual eu era o diretor em São Paulo.
Primeira surpresa. O hotel, para onde o governo nos enviou, estava totalmente ocupado por diplomatas.
Perguntei ao embaixador do Brasil a razão dessa concentração.
A resposta me surpreendeu ainda mais.
Na Líbia de Kadafi, os aluguéis estavam proibidos.
Os líbios que não tivessem casa, era só solicitar que o governo imediatamente providenciava a construção de uma. O pais era um imenso canteiro de obras.
E mais: Uma lei em vigor, a Lei do Colchão, determinava que, qualquer cidadão líbio que soubesse da existência de casa alugada, era só atirar um colchão no quintal que a casa passava a ser sua.
Inúmeras embaixadas sofreram com essa lei já que foram ocupadas por líbios.
O próprio embaixador me contou na ocasião que a embaixada brasileira não ficou imune a essa lei.
Um motorista líbio que ali trabalhava informou a um amigo que ainda não tinha casa, que a embaixada do Brasil era alugada.
Imediatamente esse amigo atirou um colchão e reivindicou a propriedade (uma mansão que pertencia a um italiano que retornou à Itália apos a subida ao poder de Kadafi).
O governo líbio precisou intervir para evitar maiores dissabores. O Brasil acabou ganhando a embaixada e o líbio uma casa nova.
Isto tudo aconteceu na década de 70, quando a Líbia era uma potência riquíssima, com apenas 3 milhões de habitantes, em quase 1.800.000 quilômetros quadrados.
Os líbios, por lei, eram proibidos de trabalhar como empregados de estrangeiros. O líbio que não quisesse trabalhar recebia o equivalente, valores de hoje, a cerca de 7 mil dólares por mês. E mais: médico, hospital e remédios era tudo de graça.
Ninguém pagava escola e o líbio que quisesse aperfeiçoar seus estudos fora do país ganhava uma substancial bolsa. Conheci muitos desses líbios na França, Itália, Espanha e Alemanha, e outros países onde estive como jornalista.
Tripoli antes da invasão da OTAN |
Estamos em Tripoli, ano 1979.
Esta noite quase não consegui pegar no sono.
No hotel onde estava hospedado, alem dos diplomatas e alguns jornalistas, estavam também delegações de países africanos de língua portuguesa.
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, etc.
E foram eles que não me deixaram pegar no sono já que, sabendo que eu teria um encontro com Kadafi no dia seguinte, queriam que eu lhe pedisse mais explicações sobre o socialismo Líbio.
Disseram que nunca haviam visto algo igual. Nem mesmo em livros.
Ficaram admirados com a Lei do Colchão, com a assistência medica, remédios e educação tudo gratuito.
E pelo fato de ninguém ser obrigado a trabalhar na Líbia e mesmo assim receber uma remuneração “ fantástica” no dizer de um angolano.
Prometi que tentaria obter uma resposta, desde que, de fato, eu conseguisse falar com Kadafi, por saber que ele era imprevisível e não poucas vezes deixou jornalistas aguardando ad infinitum.
Antes, preciso esclarecer que as portas dos apartamentos dos hotéis não possuíam fechaduras.
Por isso todos podiam entrar no apartamento de todos razão pela qual nossos apartamentos eram sempre “visitados”.
Perguntei ao gerente do hotel a razão da falta de fechaduras.
Respondeu que na Líbia não havia ladrões como na “época da colonização italiana e por isso as fechaduras eram prescindíveis”.
Mas um diplomata me esclareceu que a falta de fechaduras era para que os “fiscais” do governo pudessem entrar a qualquer hora do dia ou da noite para ver se não havia mulheres “convidadas” nos apartamentos.
“Porque, prosseguiu o diplomata, os líbios até hoje falam que durante a colonização italiana e o reinado de Idris, os hotéis serviam apenas para orgias”.
No dia seguinte me preparo para o encontro com Kadafi.
Manse, com a sua câmera e Belo com seu gravador Nagra me aguardavam ao lado do elevador.
Com cara de sono, reclamaram que seus apartamentos foram “penetrados” umas três vezes de madrugada e foi um susto só.
O carro enviado pelo governo nos esperava na entrada, mas Manse queria tomar mais um cafezinho.
Entrei no carro e aguardei.
Cinco minutos depois Luis Manse, com sua inseparável câmera chegava sozinho.
Perguntei pelo Belo, ele disse que o imaginava comigo.
Perguntei ao nosso acompanhante se ele havia visto o nosso companheiro.
Imediatamente ele foi à portaria perguntar.
Um rapaz simpático respondeu que tinha visto Belo acompanhado por dois policiais uniformizados a caminho da praça que ficava a uns cinqüenta metros do hotel.
Fiquei preocupado, imaginando o pior.
Jornalista acompanhado por policiais no Brasil nunca era um bom augúrio.
Kadafi ao lado do presidente Nasser do Egito |
Belo e os dois policiais estão parados ao lado de um reluzente carro Mercedes Benz novinho em folha.
Perguntei o que estava acontecendo.
Um dos policiais me disse que o meu companheiro não parava de apontar a chave do carro na ignição. E que eles não sabiam a razão, pois Belo não falava o árabe e nem eles o “brasileiro”.
Então era por isso que eles saíram juntos do hotel.
Nada preocupante.
Belo me explicou e eu traduzi para o policial que ele, ao ver a chave na ignição, ficou preocupado de alguém roubar o carro.
Os dois policiais começaram a rir e disseram tratar-se de um carro abandonado.
Era um costume no país.
Quem não gostasse do carro bastava abandoná-lo com a chave dentro. O interessado podia levá-lo.
Essa era a Líbia da época.
Muita fartura, nenhuma miséria e a abundância ao alcance de todos.
Alias isso podia se observar nas pessoas.
Os mais velhos, que viveram sob o domínio dos colonialistas e durante a monarquia, eram pessoas alquebradas, corpo seco.
As crianças e os jovens eram saudáveis e alegres.
Só para se ter uma idéia da Líbia sob Kadafi, tudo custava mais ou menos o equivalente a 3 dólares.
Havia supermercados gigantescos, mas nada era vendido a varejo.
Quem quisesse arroz, por exemplo, pagava 3 dólares pelo saco de 50 quilos.
Tudo era nessa base.
Fomos visitar o parque industrial de Trípoli e eu pedi para conhecer uma tecelagem.
Perguntei como era a relação com os clientes e um técnico alemão que ali se encontrava para montar o maquinário, começou a rir.
“Os líbios são loucos”, me disse. E completou: “eles não vendem nada aqui por metro, somente a peça inteira. E para qualquer um que entrar na fábrica e pedir”.
Perguntei o preço da peça: 3 dólares a peça de 50 metros...
Mas se você, por exemplo, quisesse comprar uma gravata, qualquer uma, o preço mínimo era o equivalente a 200 dólares.
Um cachimbo, 300 dólares.
Ou seja, todo produto que que lembrasse os colonizadores e, de acordo com eles, representasse ou sugerisse consumo supérfluo, era altamente taxado.
Bebida alcoólica, nem pensar. Dava prisão sumária.
E foi o que aconteceu com dois jornalistas argentinos, cuja “esperteza” os remeteu ao porto e ali compraram de um cargueiro, uma garrafa de uísque.
Um dos funcionários do hotel sentiu o bafo e os denunciou.
É verdade que eles não foram presos, porque eram convidados do governo.
Mas não puderam entrevistar ninguém, muito menos o Kadafi...
E nós só soubemos disso porque o embaixador do Brasil, uma figura simpaticíssima, uma noite nos convidou para a Embaixada e, ali, nos ofereceu um uísque de não sei quantos anos (guardado a sete chaves num cofre), que Manse e Belo acharam delicioso.
Claro que eu também bebi um gole, apesar de detestar uísque.
Seja de que marca for, de que ano for.
Sempre me lembrou o gosto de iodo.
Evidentemente não faria uma desfeita ao embaixador tão solícito.
Não estalei a língua porque aí seria demais.
Antes de nos despedirmos, o embaixador nos ofereceu um litro de leite para cada um, pois segundo ele o leite disfarçaria o nosso hálito.
Na porta, perguntei ao embaixador se ele poderia nos dar um depoimento.
“O Kadafi é um Gênio”, respondeu.
Surpreso, perguntei.
O senhor considera o Kadafi um Gênio?
Sim! Um Gênio!
Kadafi permitiu que as mulheres se alistassem |
Então o senhor considera Kadafi um Gênio?
Sim! Respondeu o embaixador. Um Gênio! E amanhã o senhor vai ter uma prova disso.
Não entendi.
Amanhã vai haver um desfile em comemoração ao décimo aniversario da Revolução. Assista e veja se não tenho razão.
O dia seguinte amanheceu glorioso. E eu já estava preocupado.
Se o país vai parar para comemorar o décimo aniversário da Revolução, será que Kadafi vai encontrar tempo para a entrevista?
A população lotava a praça e as ruas onde seriam realizados os desfiles.
Um fato me chamou a atenção.
Havia milhares de meninas adolescentes com uniformes militares prontas para o desfile.
Sorriam um sorriso que somente as adolescentes possuem.
Impressionante a sua alegria.
Foi assim que Kadafi libertou as mulheres, que antes não podiam atravessar a porta de casa e nem tirar as vestimentas que cobriam seu corpo de cima abaixo, me confidenciou o embaixador.
É ou não um gênio?
Essas adolescentes saem de casa bem cedinho usando o uniforme militar e retornam para suas casas no fim do dia. Elas só não dormem no quartel.
E têm autorização para não tirar o uniforme.
Depois do serviço militar elas jamais voltam a se vestir como anteriormente.
Então é por isso que as mulheres líbias se vestem como as ocidentais?
Mas vez ou outra deparamos com mulheres com roupas tradicionais.
Terminado o desfile, um membro do governo me diz que Kadafi nos receberia não mais em Trípoli, mas em Benghazi, a bela cidade mediterrânea.
E que nos buscariam de madrugada pra viajarmos os 600 quilômetros que separam as duas cidades.
Fico sabendo nesse dia que a energia elétrica que ilumina o país é de graça.
Ninguém recebe a conta de luz, seja em casa ou no comércio.
E quem tiver aptidão para empresário, pode buscar os recursos necessários no banco estatal e não paga nenhum centavo de juros.
A divisão da riqueza do país com sua população, em nome do islamismo, criou um sério problema para os demais países muçulmanos, principalmente Arábia Saudita.
E desde então, Kadafi nunca poupou os dirigentes sauditas que acusou de terem se apossado de um país que jamais lhes pertenceu e de serem “infiéis que conspurcavam o verdadeiro islamismo”.
“Trocaram o Profeta pelo petróleo”.
Pela primeira vez usava-se o Alcorão contra aqueles que se diziam seus defensores.
Os sauditas, acuados, só conseguiam dizer que ele era “comunista”.
Kadafi respondia que ele apenas seguia o Alcorão ao pé da letra.
Várias revoltas começaram a eclodir na Arábia Saudita e países do Golfo.
Estados Unidos e mídia associada começaram a arregaçar as mangas.
Era preciso defender a vassala Arábia Saudita e transformar Kadafi num pária.
Na volta ao hotel, dou de cara com revolucionários da África do Sul. Estavam na Líbia em busca de fundos para lutar contra o apartheid.
A bela Benghazi antes da invasão da OTAN |
Vamos falar francamente.
Eu estava me esforçando para realizar um programa que dificilmente seria exibido.
Naquela época o Globo Repórter registrava uma audiência enorme, entre 50 e 65, com pico de 72.
Alem do mais, vivíamos sob o tacão da ditadura.
Mas já que estávamos lá, vamos tocar o barco e ver no que vai dar.
À noite, no hotel, alguém abre a porta e me pergunta se posso conversar um pouco.
Era o chefe da delegação de Guiné-Bissau e estava empolgado. Nunca imaginara conhecer um país como a Líbia.
Perguntou como foi o meu encontro com Kadafi.
Respondi que o encontro seria no dia seguinte em Benghazi.
Enquanto conversávamos, um “fiscal” do governo, entra no quarto e nos cumprimenta sorridente.
Dá uma olhada rápida e com aquele sorriso de comissária de bordo, nos agradece e vai embora.
Mal passaram 10 minutos e a porta novamente é aberta. Um jornalista do Rio de Janeiro, meu vizinho de quarto entra desesperado.
- Uma coca cola pelo amor de Deus. Meu reino por uma coca-cola. Vou descer até saguão, alguém precisa me informar onde consigo comprar coca cola nesse país de birutas.
E nem esperou o elevador. Desceu pela escada mesmo.
- Maluco esse seu vizinho, me confidenciou o guine-bissauense (é assim mesmo que se diz?). E além do mais ainda ofendeu Shakespeare.
Em seguida ele me revela que conheceu muitos revolucionários de países diferentes que se encontravam na Líbia em busca de recursos.
Inclusive sul africanos.
- Entregaram uma carta de Nelson Mandela para o Kadafi pedindo para ele não esquecer seus irmãos africanos, respondeu feliz dando a entender que eles foram atendidos.
Novamente o “fiscal” com sorriso de comissária de bordo entra. Desta vez para nos convidar a assistir no salão do hotel a um filme sobre os “horrores” da herança colonialista.
Na verdade não era um filme, mas um documentário de 15 minutos e se a ideia era para que a plateia se indignasse, o efeito foi o contrário.
O documentário mostrava a noite em Trípoli. Garotas seminuas andando nas ruas em busca de clientes, “inferninhos”, cabarés, bebidas alcoólicas, muitas bebidas, e por aí vai.
E o pior, terminada a exibição vários aplausos da plateia, principalmente de jornalistas, pedindo a volta dos colonizadores...
Isso sim é que era época boa, exclamou o jornalista carioca, agora ao lado de um colega mineiro que completou: “eta paizinho que nem coca-cola tem”.
Quatro da manhã somos acordados. Do aeroporto de Tripoli seguimos para Benghazi, onde finalmente vamos entrevistar Kadafi.
Omar Mukthar, herói nacional líbio, preso por colonizadores italianos |
Quando desembarcamos em Benghazi, a belíssima Benghazi, tamareiras enfeitavam suas praias.
Estavam ali como os coqueiros nas praias do nordeste.
Era colher e comer tâmaras dulcíssimas.
Um jornalista suíço que chegara a Benghazi uma semana antes, me confidenciou que não deveria perder um casamento. Qualquer um, disse.
Estava realmente deslumbrado com a festa e o que o deixou mais impressionado, é que os noivos, depois da cerimônia, recebem um envelope do governo com o equivalente a 50 mil dólares de presente.
Bem, essa era a Líbia que pouca gente conhecia e a mídia ocidental não fazia nenhuma questão de mostrá-la.
E não poderia, pois como explicar a seus leitores que havia ascendido ao poder um jovem coronel que não utilizou a riqueza em benefício próprio?
Pelo contrario.
Havia dividido a riqueza com a população do país.
Que não queria ver ninguém sem teto, sem fome, sem educação e sem muitas outras coisas mais.
Eu, naturalmente, iria sem dúvida nortear a minha entrevista a partir desses pontos.
Mas antes da entrevista, fomos a três festas com músicos árabes de diversos países.
E haja doce.
E haja suco.
E nem um “uisquinho”, lamentavam alguns jornalistas que, sinceramente, acho que estavam no país sem saber porque e para que.
As festas corriam em tendas beduínas, algo que Kadafi sempre prezou.
Finalmente cara a cara com Kadafi.
Em sua tenda.
Aparentava cansaço.
Alguns dos assuntos discutidos:
1 - Socialismo líbio;
2 - Educação;
3 - Reforma agrária;
4 - Moradia
5 - Alinhamento
6 - Arabismo
7 - Socialismo chinês, soviético, cubano;
8 - Apoio aos movimentos revolucionários;
9 - Che Guevara;
10 - Estados Unidos;
11 - Brasil;
12 - Liberação feminina
13 - Reencarnaçao de Omar Moukhtar.
A entrevista, que seria de 40 minutos, durou mais de duas horas e creio que passaríamos a noite conversando se ele não fosse a toda hora solicitado.
Naturalmente a Globo achou melhor não colocar o programa no ar, pois poderia melindrar a ditadura.
Foi feita uma proposta para que um programa de 15 minutos fosse ao ar no Fantástico.
Foi realizada a reedição, mas o programa teria sido proibido pelos censores oficiais da ditadura (civil-militar-midiatica.)
Tudo culpa da ditadura.
Será?
Óh céus! óh terrra! Quando nos livraremos desse sistema putrefato?
Qual foi o grande erro de Kadafi?
Foi acreditar nos euro-estadunidenses e desistir de sua bomba atômica.
Os pacifistas que me perdoem.
Aqui não se trata de incentivar a produção de ogivas nucleares, mas de persuasão.
O Brasil que tome jeito e comece a produzir a sua.
Caso contrário, a própria mídia brasileira, associada ao Império, fará de tudo para que o país seja invadido e ocupado.
Kadafi não ficou rico, como os produtores de petróleo do Golfo.
Dividiu a riqueza do país com a população.
Apoiou todos os movimentos revolucionários de esquerda do mundo.
Inclusive os brasileiros.
Em nenhum momento esqueceu a população negra da África.
E da África do Sul, onde, em agradecimento, um neto de Nelson Mandela chama-se Kadafi.
Quando Nelson Mandela tornou-se o primeiro presidente da África do Sul em 1994, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton fez de tudo para que Mandela parasse com os agradecimentos quase diários a Kadafi pelo seu apoio à luta dos revolucionários africanos.
"Os que se irritam com nossa amizade com o presidente Kadafi podem pular na piscina", respondeu Mandela.
O presidente de Uganda Yoweri Museveni afirmou que "quaisquer que sejam as falhas de Kadafi, ele é um verdadeiro nacionalista. Prefiro nacionalistas do que marionetes de interesses estrangeiros".
E disse mais:
" Kadafi deu contribuições importantes para a Líbia, para a África e para o Terceiro Mundo. Devemos lembrar ainda que, como parte desta forma independente de pensar, ele expulsou bases militares britânicas e americanas da Líbia após tomar o poder".
Alem disso, o ex-líder líbio também teve papel importante na formação da União Africana (UA).
A principal coordenadora da guerra contra a Líbia, Hillary Clinton, andou pela África pregando abertamente o assassinato de Muamar Kadafi.
Como não teve sucesso, começou a recrutar mercenários.
Alias foram esses mercenários que lutaram na Líbia. E eles não foram dizimados graças à Organização Terrorista do Atlântico Norte (OTAN) e EUA.
Quem puder pesquisar, quando Kadafi nacionalizou as empresas petrolíferas e os bancos, a mídia Ocidental referia-se a ele com "Che Guevara Árabe".
Antes de ser deposto e linchado pelos mercenários a mando dos terroristas OTAN e EUA, a Líbia possuía o maior índice de desenvolvimento humano da África, e até hoje maior que o do Brasil.
E o que pouca gente sabe, em 2007 inaugurou o maior sistema de irrigação do mundo.
Transformou o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.
Alias, assim que subiu ao poder os líbios que quiseram produzir alimentos receberam terra, equipamentos, sementes e 50 mil dólares para sobreviver até a safra.
Foi uma Reforma Agrária total e irrestrita.
Ele também pressionou pela criação dos Estados Unidos da África (EUA) para rivalizar com os eua e união européia.
Ele lutou por uma África una: “Queremos militares africanos para defender a África. Queremos uma moeda única. Queremos um só passaporte africano".
Lamentavelmente esqueceu a Bomba Atômica. E pagou por isso.
As nações que pretendem se emancipar que pensem nisso.
E abaixo você ouve os presidentes Hugo Chaves, Evo Morales, Rafael Correa e Fernando Lugo...cantando Hasta Siempre, em homenagem a Che Guevara. Eles também que se cuidem.A Polícia de Nova York está na lista de pagamentos dos gigantes financeiros
Fonte: Carta Maior
Repressão policial em Wall Street |
Wall Street é o único setor que conta com um sistema de justiça privado, no qual se resolvem crimes fora dos tribunais, em processos de arbitragem secretos, que sugaram já bilhões de dólares dos cofres públicos, que escaparam de serem julgados pelo colapso financeiro e que pode pôr a polícia municipal nas rédeas, para intimidar os manifestantes que buscam ajustar a sua democracia. O artigo é de Pam Partens.
Pam Martens - SinPermiso
Na internet estão surgindo novos vídeos que mostram membros uniformizados da polícia de Nova York com camisa branca (à diferença dos típicos uniformes da Polícia de Nova York), jogando spray de pimenta e com atitudes brutais contra manifestantes pacíficos que não representam qualquer ameaça e que tentar fazer parte da marcha Ocupa Wall Street. Os grandes meios de comunicação informaram que essas camisas brancas são supervisores da polícia e não oficiais. No entanto, os documentos recentemente descobertos sugerem que isso não é totalmente verdadeiro.
Os gigantes de Wall Street contam com um número sem fim de oportunidades para privatizarem seus lucros e socializarem as perdas, além de recolhem bilhões de dólares em resgates, dos contribuintes. Um dos métodos mais engenhosos que passaram despercebidos foi iniciado no governo de Rudy Giuliani, em Nova York, em 1998. Chama-se a Unidade de Serviço Policial Pago, que permite que a Bolsa de Nova York e as corporações de Wall Street, inclusive aquelas acusadas de múltiplas fraudes, contratem um contingente e agentes policiais de Nova York, com a mesma facilidade com que pedem uma pizza.
As empresas pagam em média 37 dólares por hora (sem assistência médica, direito a aposentadoria e sem horas extras) por policial de Nova York, com arma, esposas e poder de polícia. O policial é indenizado pelo contribuinte, não pela corporação.
Nova York recebe uma cota de 10% por gastos de administração adicionais aos 37 dólares por hora que se paga à políica. O orçamento de 2011 da cidade inclui um milhão, cento e oitenta e quatro mil dólares em receita, pela Unidade de Serviço Policial Pago, quer dizer, as empresas privadas estavam pagando 11,8 milhões de dólares em salários aos policiais da Unidade Paga. A contribuição do programa ao orçamento mais do que duplicou, desde 2002.
O contribuinte paga o treinamento dos policiais de aluguel, seus uniformes e pistolas e paga os custos das demandas judiciais contra o abuso de força policial cometido por esses agentes ao aplicarem as instruções legais de seus amos corporativos. E olhem que há demandas desse tipo.
Quando se deu início ao programa originalmente, um membro perspicaz da polícia de Nova York publicou o seguinte num foro eletrônico: “...em relação ao oficial que trabalha e é pago por algumas das pessoas e organizações mais ricas da cidade, senão do mundo, cumprir as ordens da empresa privada, de fato converte o oficial da polícia numa guarda pretoriana da elite da cidade. Assim, a corrupção deixa de ser um problema. A quem eles pensam que enganam?”
Só este ano o Departamento de Justiça revelou sérios problemas com a unidade de polícia paga de Nova Orleans onde se enfrenta um tsunami de acusações de corrupção que revelam pagamentos em dinheiro aos policiais e a criação, por parte de membros do Departamento, de sociedades de responsabilidade limitada para executar mais de 250 000 dólares em trabalhos da unidade paga, na conta do orçamento municipal.
Quando o banco tristemente célebre de Nova York, a Lehman Brotheres, em 15 de setembro de 2008, sua declaratória de quebra de 2009 revelou que devia dinheiro a 21 membros da Unidade de Polícia Paga de Nova York (o departamento não respondeu às nossas solicitações por telefone nem ao correio eletrônico em que solicitamos informação sobre as firmas de Wall Street que participam do programa. Os sindicatos policiais afirmam ter escassa informação sobre o programa).
Outras empresas de Wall Street que se sabe que utilizou o serviço policial pago são a Goldman Sachs, o complexo do World Financial Center, que alberga múltiplas empresas financeiras e a Bolsa de Nova York.
A Bolsa de Nova York é o edifício na frente do qual os manifestantes do Ocupa Wall Street tentaram protestar, sem êxito, sendo conduzidos para trás das barricadas de metal, golpeados com cassetetes e chutes na cara e levados presos para impedirem que a última plantação dos Estados Unidos fosse contaminada com cânticos e cartazes cidadãos (cartazes politicamente inconvenientes e cantos que repetem: “os corruptos tem medo de nós, os honrados nos apoiam, os heroicos, nos unem”, “Diz-me como é a democracia, assim é a democracia”, “Acreditarás que uma corporação é uma pessoa quando o Texas execute a uma”. Este último cartaz se refere à decisão da Corte Suprema dos EUA de 2010, do caso Cidadãos Unidos versus a Comissão Federal Eleitoral, que outorgou as corporações a qualidade de pessoa sob a Primeira Emenda, o que lhes permite gastar quantidades ilimitadas de dinheiro nas campanhas eleitorais).
Em 8 de setembro de 2004, Robert Britz, então Presidente e codiretor de operações da Bolsa de Nova York, declarou o seguinte à Comissão Estadunidense de Serviços Financeiros: “Implementamos novas normas de contratação que requerem experiência policial ou militar para o pessoal da segurança...Estabelecemos um perímetro de vigilância dos centros de dados com Unidades Policiais Pagas...Pusemos em marcha o controle do tráfico e a detenção de veículos em postos de controle. Instalamos barreiras móveis e fixas”.
Antecedentes militares, policiais nova-iorquinos a um salário de 24-7, postos de controle, barreiras para veículos? É inacreditável pensar que a Bolsa de Nova York originalmente negociava as ações com um aperto de mãos debaixo de uma árvore ao ar livre, na Rua do Muro.
Em seu testemunho, o executivo da Bolsa de Nova York, Britz, indicou que “nós” fizemos isso ou “nós” fizemos aqui, ao falar de funções que claramente pertenciam à municipalidade de Nova York. Nesse momento, a Bolsa de Valores de Nova York não era de capital difundido e pertencia a quem tinha comprado ativos – principalmente às maiores empresas de Wall Street. Por acaso a Bolsa passou a ter poder de polícia para fechar ruas e estabelecer pontos de controle com policiais de aluguel? De golpear manifestantes nas calçadas?
Apenas seis meses antes do testemunho de Britz frente a uma comissão do Congresso, sua organização estava sendo demandada judicialmente na Corte Suprema do Condado de Nova York por tomar o controle de maneira ilegal da via pública. Esta ação tinha paralisado o negócio de um estacionamento, o Wall Street Parking Garage Corp, o demandante do caso.
O juiz Walter Tolub disse que em sua opinião “uma entidade privada, a Bolsa de Nova York, tinha assumido a responsabilidade de patrulha e manutenção de bloqueios em sete encruzilhadas ao redor da Bolsa de Nova York...ao que tudo indica sem a concessão de qualquer autoridade formam para manter esses bloqueios e ou para realizar registros de segurança em tais pontos de controle...o fechamento dessas encruzilhadas pela Bolsa de Nova York proporcionou uma alteração da ordem pública...A Bolsa de Nova York ainda não ofereceu a este Tribunal qualquer evidência de um acordo que lhe dê autoridade para manter um perímetro de segurança ou para realizar as batidas policiais que sua força de segurança privada comete todos os dias. Portanto, as ações da Bolsa de Nova York são ilegais e judicialmente demandáveis, já que violam direitos civis do demandante como cidadão privado”.
Houve apelação, a sentença foi revogada e retornou ao mesmo juiz que não teve outra opção que indeferir o caso ante a sentença de apelação, já que o demandante “não tinha sofrido nenhum dano maior que aquele da comunidade em geral”. Todo mundo em Manhattan que tem uma vaga numa garagem de estacionamento que está perdendo os seus clientes porque as ruas estão bloqueadas?
Alguns acreditam que Wall Street tem privilégios e proteção porque o prefeito de Nova York, Michael Bllomberg, deve-lhes 18 bilhões de dólares (sim, ele é dos 1% que protesta contra os 99%) a Wall Street. O prefeito foi em sua vida pregressa agenda do Salomon Brothers, o banco de investimentos que se tornou famoso por tentar enganar o Tesouro dos EUA com bônus de dois anos.
O império comercial do prefeito, que leva o seu nome, inclui o impressionante terminal Bloomberg, que aloja enormes quantidades de dados sobre os preços das ações e os bônus, pesquisa, notícias, funções de gráficos e muito mais. Atualmente, estima-se que há 290 000 terminais nos pisos de negociação das bolsas ao redor do mundo, que geral aproximadamente 1500 dólares em aluguel por terminal, por mês. Isso significo uns nada desprezíveis 435 milhões ao mês, ou 5,2 bilhões ao ano, a galinha dos ovos de ouro de Bloomberg.
Os negócios de Bloomberg funcionam independentemente da prefeitura, mas sem dúvida o prefeito sabe que seus terminais são um componente essencial de sua riqueza.
No entanto, o prefeito não é nenhum títere de Wall Street. Com frequência, a Bloomberg Publishing está na vanguarda das denúncias de fraude em Wall Street, assim como aconteceu em 2001, com o artigo “Os flautistas de Hamelin de Wall Street”, de Benjamin Mark Cole, que expôs a prática de publicar investigações fraudulentas sobre ações. E o canal Bloomberg News foi responsável pela ação judicial que obrigou o Federal Reserve a publicar os detalhes do que fez com os bilhões de dólares do resgate dos contribuintes para empresas, fundos de cobertura e bancos estrangeiros de Wall Street.
O comissário de Polícia Ray Kelly também pode ter um fraco por Wall Street. Ele já foi Diretor de Gestão de Segurança Corporativa Global de Bear, Sterans & Co.Inc., a firma de Wall Street que caiu nos braços do JPMorgan em março de 2008.
Também foi uma porta giratória entre os milionários de Wall Street e a polícia de Nova York. Uma das decisões profissionais mais desconcertantes foi a de Stephen L. Hammerman, que deixou um forte pacote que compensação como vicepresidente da Merrill Lynch & Co., em 2002, para trabalhar como Comissário Adjunto de Assuntos Jurídicos da Polícia de Nova York, entre 2002 e 2004. Essa medida deixou a todos em Wall Street com os cabeços em pé, na época. Merrill caiu nos braços do Bank of America em 15 de setembro de 2008, o mesmo dia da quebra do Lehman.
Wall Street não é o único setor que aluga policiais em Manhattan. Os grandes armazéns, os parques, os bancos comerciais e as atrações, como o Rockefeller Centre, o Centro Jacob Javits e a Catedral de São Patrício também têm participado da Unidade de Polícia Paga, segundo uma informação privilegiada. Mas Wall Street é o único setor que conta com um sistema de justiça privada no qual se resolvem crimes foram dos tribunais, em processos secretos de arbitragem, que sugou bilhões de dólares dos cofres públicos, que escapou de ser julgado pelo colapso financeiro e que pode pôr a força policial municipal nas calçadas para intimidar manifestantes que buscam ajustar a sua democracia.
Vamos aprender muito mais no futuro sobre as táticas que Wall Street e a Polícia de Nova York adotaram contra os manifestantes do movimento Ocupa Wall Street. A prestigiada associação Partneship for Civil Justice Fund apresentou uma ação coletiva contra as aproximadamente 700 detenções efetuadas na Ponte do Brooklyn em 1 de outubro. A denúncia e a informação relacionada estão disponíveis na página da organização www.justiceonline.org
A organização foi fundada por Carl Messineo e Mara Verheyden-Hilliard. O Washington Post os chamou de “os xerifes constitucionais para uma nova geração de protesto”.
A demanda envolverá o prefeito Bloomberg, o comissariado de Polícia, a Cidade de Nova York e uns 30 membros da Polícia de Nova York e, provocativamente, 10 agentes de segurança não identificados que não são vinculados à polícia de Nova York.
A demanda estabelece algo que restringiu os direitos constitucionais dos manifestantes por muito tempo na cidade de Nova York.
“Como se pôde apreciar nos movimentos por mudança social no Oriente Médio e na Europa, todos os movimentos por justiça social, emprego e democracia necessitam de espaço para respirar e crescer, e é imprescindível que haja um basta às ações das forças da lei utilizadas para impedir as reuniões em massa e a livre expressão das pessoas que tratar de reparar os insultos”.
“Depois de escoltar e dirigir um grupo de manifestantes e outros até a lateral da Ponto do Brooklyn, a polícia de Nova York repentinamente interrompeu o passo e passou a prender centenas de manifestantes na ausência de causa provável [para prisão]. Tinham recorrido a uma forma de embuste, tanto ilegal como físico.”
“O fato de que a mentira e as prisões massivas tinha sido uma operação policial por ordem dos comandos, intencional e calculada, evidencia-se em que os agentes da ordem pública que guiáramos manifestantes através da ponte eram oficiais conhecidos como “camisas brancas”.
Em abril de 2011, fui presa e encarcerada pela polícia de Nova York, enquanto distribuía pacificamente panfletos na via pública convocando para uma reunião de acionistas do Citigroup, panfletos que advertiam para a corrupção crescente dentro da empresa (a fusão ilegal do Travelers Group e Citigroup, e deu lugar à derrogação da Lei Glass-Steagall, a lei de proteção do investidor da era da depressão, que proibia os bancos de depósito de se fusionarem com empresas de alto risco de Wall Street. Muitos de nós que pertencemos a grupos organizados para lutar por justiça, de Nova York, protestamos contra a derrogação [da Lei Glass-Steagall], mas fomos derrotados pelos políticos peões de Wall Street, em Washington).
De um grupo de cerca de duas dúzias de manifestantes da National Organization for Women in New York City, do Rain Forest Action e do inner City Press, eu fui a única detida. Não tinha incorrido em desobediência civil alguma. O Rain Forest Action estava repartido biscoitos da sorte com advertências proféticas sobre o Citigroup e instando os transeuntes a cortarem seus cartões de crédito Citibank. O resto de nós estávamos distribuindo panfletos pacificamente.
Fui presa a uma barra de aço dentro da delegacia, enquanto me ameaçavam com a acusação de todos os delitos havidos e por haver. Respondi que os únicos delitos que estava inteirada era os que figuravam em meu panfleto e que, até onde sabia, em Nova York não se pode ser preso por divulgar os crimes que as firmas de Wall Street cometem.
O misterioso e maduro inspetor de camisa branca que ordenou a minha prisão e que se negou a me dizer seu nome desapareceu do informe da polícia quando este foi apresentado, e em seu lugar um jovem oficial assumia a responsabilidade pela minha detenção. O Citigroup só está vivo hoje porque o governo federal introduziu nele uma sonda de alimentação e lhe alimentou com 2 bilhões de dólares em empréstimos, investimos diretos e garantias, quando a empresa marchava para o colapso.
No momento de minha prisão, a polícia de Nova York era dirigida por Bernard Kerik – o homem que o presidente George W. Bush enviaria ao Iraque para ser o primeiro ministro interino do interior e para treinar a polícia iraquiana. Posteriormente, o presidente designou Kerik para dirigir o Departamento de Segurança Nacional para toda a nação, trauma que evitamos todos graças a uma providencial babá ilegal. Hoje em dia, Kerik está cumprindo uma condenação de quatro anos numa prisão federal por uma variedade de atos criminosos.
O sindicato New York Civil Liberties apresentou uma ação federal em meu nome (Martens v. Giuliani) e nos inteiramos de que a polícia de Nova York tinha estabelecido arbitrariamente uma política de prender e deter durante 72 horas qualquer pessoa que protestasse num grupo de 20 pessoas ou mais. O caso se resolveu com um modesto laudo monetário e com a derrogação dessa prática inconstitucional e desprezível da polícia de Nova York.
(*) Pam Martens trabalhou durante 21 anos em Wall Street. Passou a última década de sua carreira advogando contra o sistema privado de justiça de Wall Street, que lhe permite resolver os crimes fora das cortes públicas. Ela vem escrevendo sobre temas de interesse público no CounterPounch desde que se aposentou, em 2006 e não mantém qualquer posição, mais ampla ou restrita, a respeito das companhias mencionadas neste artigo.
Tradução: Katarina Peixoto
Os gigantes de Wall Street contam com um número sem fim de oportunidades para privatizarem seus lucros e socializarem as perdas, além de recolhem bilhões de dólares em resgates, dos contribuintes. Um dos métodos mais engenhosos que passaram despercebidos foi iniciado no governo de Rudy Giuliani, em Nova York, em 1998. Chama-se a Unidade de Serviço Policial Pago, que permite que a Bolsa de Nova York e as corporações de Wall Street, inclusive aquelas acusadas de múltiplas fraudes, contratem um contingente e agentes policiais de Nova York, com a mesma facilidade com que pedem uma pizza.
As empresas pagam em média 37 dólares por hora (sem assistência médica, direito a aposentadoria e sem horas extras) por policial de Nova York, com arma, esposas e poder de polícia. O policial é indenizado pelo contribuinte, não pela corporação.
Nova York recebe uma cota de 10% por gastos de administração adicionais aos 37 dólares por hora que se paga à políica. O orçamento de 2011 da cidade inclui um milhão, cento e oitenta e quatro mil dólares em receita, pela Unidade de Serviço Policial Pago, quer dizer, as empresas privadas estavam pagando 11,8 milhões de dólares em salários aos policiais da Unidade Paga. A contribuição do programa ao orçamento mais do que duplicou, desde 2002.
O contribuinte paga o treinamento dos policiais de aluguel, seus uniformes e pistolas e paga os custos das demandas judiciais contra o abuso de força policial cometido por esses agentes ao aplicarem as instruções legais de seus amos corporativos. E olhem que há demandas desse tipo.
Quando se deu início ao programa originalmente, um membro perspicaz da polícia de Nova York publicou o seguinte num foro eletrônico: “...em relação ao oficial que trabalha e é pago por algumas das pessoas e organizações mais ricas da cidade, senão do mundo, cumprir as ordens da empresa privada, de fato converte o oficial da polícia numa guarda pretoriana da elite da cidade. Assim, a corrupção deixa de ser um problema. A quem eles pensam que enganam?”
Só este ano o Departamento de Justiça revelou sérios problemas com a unidade de polícia paga de Nova Orleans onde se enfrenta um tsunami de acusações de corrupção que revelam pagamentos em dinheiro aos policiais e a criação, por parte de membros do Departamento, de sociedades de responsabilidade limitada para executar mais de 250 000 dólares em trabalhos da unidade paga, na conta do orçamento municipal.
Quando o banco tristemente célebre de Nova York, a Lehman Brotheres, em 15 de setembro de 2008, sua declaratória de quebra de 2009 revelou que devia dinheiro a 21 membros da Unidade de Polícia Paga de Nova York (o departamento não respondeu às nossas solicitações por telefone nem ao correio eletrônico em que solicitamos informação sobre as firmas de Wall Street que participam do programa. Os sindicatos policiais afirmam ter escassa informação sobre o programa).
Outras empresas de Wall Street que se sabe que utilizou o serviço policial pago são a Goldman Sachs, o complexo do World Financial Center, que alberga múltiplas empresas financeiras e a Bolsa de Nova York.
A Bolsa de Nova York é o edifício na frente do qual os manifestantes do Ocupa Wall Street tentaram protestar, sem êxito, sendo conduzidos para trás das barricadas de metal, golpeados com cassetetes e chutes na cara e levados presos para impedirem que a última plantação dos Estados Unidos fosse contaminada com cânticos e cartazes cidadãos (cartazes politicamente inconvenientes e cantos que repetem: “os corruptos tem medo de nós, os honrados nos apoiam, os heroicos, nos unem”, “Diz-me como é a democracia, assim é a democracia”, “Acreditarás que uma corporação é uma pessoa quando o Texas execute a uma”. Este último cartaz se refere à decisão da Corte Suprema dos EUA de 2010, do caso Cidadãos Unidos versus a Comissão Federal Eleitoral, que outorgou as corporações a qualidade de pessoa sob a Primeira Emenda, o que lhes permite gastar quantidades ilimitadas de dinheiro nas campanhas eleitorais).
Em 8 de setembro de 2004, Robert Britz, então Presidente e codiretor de operações da Bolsa de Nova York, declarou o seguinte à Comissão Estadunidense de Serviços Financeiros: “Implementamos novas normas de contratação que requerem experiência policial ou militar para o pessoal da segurança...Estabelecemos um perímetro de vigilância dos centros de dados com Unidades Policiais Pagas...Pusemos em marcha o controle do tráfico e a detenção de veículos em postos de controle. Instalamos barreiras móveis e fixas”.
Antecedentes militares, policiais nova-iorquinos a um salário de 24-7, postos de controle, barreiras para veículos? É inacreditável pensar que a Bolsa de Nova York originalmente negociava as ações com um aperto de mãos debaixo de uma árvore ao ar livre, na Rua do Muro.
Em seu testemunho, o executivo da Bolsa de Nova York, Britz, indicou que “nós” fizemos isso ou “nós” fizemos aqui, ao falar de funções que claramente pertenciam à municipalidade de Nova York. Nesse momento, a Bolsa de Valores de Nova York não era de capital difundido e pertencia a quem tinha comprado ativos – principalmente às maiores empresas de Wall Street. Por acaso a Bolsa passou a ter poder de polícia para fechar ruas e estabelecer pontos de controle com policiais de aluguel? De golpear manifestantes nas calçadas?
Apenas seis meses antes do testemunho de Britz frente a uma comissão do Congresso, sua organização estava sendo demandada judicialmente na Corte Suprema do Condado de Nova York por tomar o controle de maneira ilegal da via pública. Esta ação tinha paralisado o negócio de um estacionamento, o Wall Street Parking Garage Corp, o demandante do caso.
O juiz Walter Tolub disse que em sua opinião “uma entidade privada, a Bolsa de Nova York, tinha assumido a responsabilidade de patrulha e manutenção de bloqueios em sete encruzilhadas ao redor da Bolsa de Nova York...ao que tudo indica sem a concessão de qualquer autoridade formam para manter esses bloqueios e ou para realizar registros de segurança em tais pontos de controle...o fechamento dessas encruzilhadas pela Bolsa de Nova York proporcionou uma alteração da ordem pública...A Bolsa de Nova York ainda não ofereceu a este Tribunal qualquer evidência de um acordo que lhe dê autoridade para manter um perímetro de segurança ou para realizar as batidas policiais que sua força de segurança privada comete todos os dias. Portanto, as ações da Bolsa de Nova York são ilegais e judicialmente demandáveis, já que violam direitos civis do demandante como cidadão privado”.
Houve apelação, a sentença foi revogada e retornou ao mesmo juiz que não teve outra opção que indeferir o caso ante a sentença de apelação, já que o demandante “não tinha sofrido nenhum dano maior que aquele da comunidade em geral”. Todo mundo em Manhattan que tem uma vaga numa garagem de estacionamento que está perdendo os seus clientes porque as ruas estão bloqueadas?
Alguns acreditam que Wall Street tem privilégios e proteção porque o prefeito de Nova York, Michael Bllomberg, deve-lhes 18 bilhões de dólares (sim, ele é dos 1% que protesta contra os 99%) a Wall Street. O prefeito foi em sua vida pregressa agenda do Salomon Brothers, o banco de investimentos que se tornou famoso por tentar enganar o Tesouro dos EUA com bônus de dois anos.
O império comercial do prefeito, que leva o seu nome, inclui o impressionante terminal Bloomberg, que aloja enormes quantidades de dados sobre os preços das ações e os bônus, pesquisa, notícias, funções de gráficos e muito mais. Atualmente, estima-se que há 290 000 terminais nos pisos de negociação das bolsas ao redor do mundo, que geral aproximadamente 1500 dólares em aluguel por terminal, por mês. Isso significo uns nada desprezíveis 435 milhões ao mês, ou 5,2 bilhões ao ano, a galinha dos ovos de ouro de Bloomberg.
Os negócios de Bloomberg funcionam independentemente da prefeitura, mas sem dúvida o prefeito sabe que seus terminais são um componente essencial de sua riqueza.
No entanto, o prefeito não é nenhum títere de Wall Street. Com frequência, a Bloomberg Publishing está na vanguarda das denúncias de fraude em Wall Street, assim como aconteceu em 2001, com o artigo “Os flautistas de Hamelin de Wall Street”, de Benjamin Mark Cole, que expôs a prática de publicar investigações fraudulentas sobre ações. E o canal Bloomberg News foi responsável pela ação judicial que obrigou o Federal Reserve a publicar os detalhes do que fez com os bilhões de dólares do resgate dos contribuintes para empresas, fundos de cobertura e bancos estrangeiros de Wall Street.
O comissário de Polícia Ray Kelly também pode ter um fraco por Wall Street. Ele já foi Diretor de Gestão de Segurança Corporativa Global de Bear, Sterans & Co.Inc., a firma de Wall Street que caiu nos braços do JPMorgan em março de 2008.
Também foi uma porta giratória entre os milionários de Wall Street e a polícia de Nova York. Uma das decisões profissionais mais desconcertantes foi a de Stephen L. Hammerman, que deixou um forte pacote que compensação como vicepresidente da Merrill Lynch & Co., em 2002, para trabalhar como Comissário Adjunto de Assuntos Jurídicos da Polícia de Nova York, entre 2002 e 2004. Essa medida deixou a todos em Wall Street com os cabeços em pé, na época. Merrill caiu nos braços do Bank of America em 15 de setembro de 2008, o mesmo dia da quebra do Lehman.
Wall Street não é o único setor que aluga policiais em Manhattan. Os grandes armazéns, os parques, os bancos comerciais e as atrações, como o Rockefeller Centre, o Centro Jacob Javits e a Catedral de São Patrício também têm participado da Unidade de Polícia Paga, segundo uma informação privilegiada. Mas Wall Street é o único setor que conta com um sistema de justiça privada no qual se resolvem crimes foram dos tribunais, em processos secretos de arbitragem, que sugou bilhões de dólares dos cofres públicos, que escapou de ser julgado pelo colapso financeiro e que pode pôr a força policial municipal nas calçadas para intimidar manifestantes que buscam ajustar a sua democracia.
Vamos aprender muito mais no futuro sobre as táticas que Wall Street e a Polícia de Nova York adotaram contra os manifestantes do movimento Ocupa Wall Street. A prestigiada associação Partneship for Civil Justice Fund apresentou uma ação coletiva contra as aproximadamente 700 detenções efetuadas na Ponte do Brooklyn em 1 de outubro. A denúncia e a informação relacionada estão disponíveis na página da organização www.justiceonline.org
A organização foi fundada por Carl Messineo e Mara Verheyden-Hilliard. O Washington Post os chamou de “os xerifes constitucionais para uma nova geração de protesto”.
A demanda envolverá o prefeito Bloomberg, o comissariado de Polícia, a Cidade de Nova York e uns 30 membros da Polícia de Nova York e, provocativamente, 10 agentes de segurança não identificados que não são vinculados à polícia de Nova York.
A demanda estabelece algo que restringiu os direitos constitucionais dos manifestantes por muito tempo na cidade de Nova York.
“Como se pôde apreciar nos movimentos por mudança social no Oriente Médio e na Europa, todos os movimentos por justiça social, emprego e democracia necessitam de espaço para respirar e crescer, e é imprescindível que haja um basta às ações das forças da lei utilizadas para impedir as reuniões em massa e a livre expressão das pessoas que tratar de reparar os insultos”.
“Depois de escoltar e dirigir um grupo de manifestantes e outros até a lateral da Ponto do Brooklyn, a polícia de Nova York repentinamente interrompeu o passo e passou a prender centenas de manifestantes na ausência de causa provável [para prisão]. Tinham recorrido a uma forma de embuste, tanto ilegal como físico.”
“O fato de que a mentira e as prisões massivas tinha sido uma operação policial por ordem dos comandos, intencional e calculada, evidencia-se em que os agentes da ordem pública que guiáramos manifestantes através da ponte eram oficiais conhecidos como “camisas brancas”.
Em abril de 2011, fui presa e encarcerada pela polícia de Nova York, enquanto distribuía pacificamente panfletos na via pública convocando para uma reunião de acionistas do Citigroup, panfletos que advertiam para a corrupção crescente dentro da empresa (a fusão ilegal do Travelers Group e Citigroup, e deu lugar à derrogação da Lei Glass-Steagall, a lei de proteção do investidor da era da depressão, que proibia os bancos de depósito de se fusionarem com empresas de alto risco de Wall Street. Muitos de nós que pertencemos a grupos organizados para lutar por justiça, de Nova York, protestamos contra a derrogação [da Lei Glass-Steagall], mas fomos derrotados pelos políticos peões de Wall Street, em Washington).
De um grupo de cerca de duas dúzias de manifestantes da National Organization for Women in New York City, do Rain Forest Action e do inner City Press, eu fui a única detida. Não tinha incorrido em desobediência civil alguma. O Rain Forest Action estava repartido biscoitos da sorte com advertências proféticas sobre o Citigroup e instando os transeuntes a cortarem seus cartões de crédito Citibank. O resto de nós estávamos distribuindo panfletos pacificamente.
Fui presa a uma barra de aço dentro da delegacia, enquanto me ameaçavam com a acusação de todos os delitos havidos e por haver. Respondi que os únicos delitos que estava inteirada era os que figuravam em meu panfleto e que, até onde sabia, em Nova York não se pode ser preso por divulgar os crimes que as firmas de Wall Street cometem.
O misterioso e maduro inspetor de camisa branca que ordenou a minha prisão e que se negou a me dizer seu nome desapareceu do informe da polícia quando este foi apresentado, e em seu lugar um jovem oficial assumia a responsabilidade pela minha detenção. O Citigroup só está vivo hoje porque o governo federal introduziu nele uma sonda de alimentação e lhe alimentou com 2 bilhões de dólares em empréstimos, investimos diretos e garantias, quando a empresa marchava para o colapso.
No momento de minha prisão, a polícia de Nova York era dirigida por Bernard Kerik – o homem que o presidente George W. Bush enviaria ao Iraque para ser o primeiro ministro interino do interior e para treinar a polícia iraquiana. Posteriormente, o presidente designou Kerik para dirigir o Departamento de Segurança Nacional para toda a nação, trauma que evitamos todos graças a uma providencial babá ilegal. Hoje em dia, Kerik está cumprindo uma condenação de quatro anos numa prisão federal por uma variedade de atos criminosos.
O sindicato New York Civil Liberties apresentou uma ação federal em meu nome (Martens v. Giuliani) e nos inteiramos de que a polícia de Nova York tinha estabelecido arbitrariamente uma política de prender e deter durante 72 horas qualquer pessoa que protestasse num grupo de 20 pessoas ou mais. O caso se resolveu com um modesto laudo monetário e com a derrogação dessa prática inconstitucional e desprezível da polícia de Nova York.
(*) Pam Martens trabalhou durante 21 anos em Wall Street. Passou a última década de sua carreira advogando contra o sistema privado de justiça de Wall Street, que lhe permite resolver os crimes fora das cortes públicas. Ela vem escrevendo sobre temas de interesse público no CounterPounch desde que se aposentou, em 2006 e não mantém qualquer posição, mais ampla ou restrita, a respeito das companhias mencionadas neste artigo.
Tradução: Katarina Peixoto
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