O texto abaixo foi retirado do blog do Ivo Meirelles, presidente da nossa escola de samba querida, Estação Primeira de Mangueira. É uma declaração de amor à escola, à comunidade e um reconhecimento ao trabalho do Ivo, que resgatou a tradição e as raízes da verde e rosa. Lembrando que esse ano, em seu desfile, a Mangueira fez a Sapucaí cantar sozinha por mais de 2 minutos o enredo, na maior paradona da história do carnaval.
Salve Mangueira!
Os amigos devem saber que não sou uma pessoa que tenho um grande amor (apaixonado) pela Mangueira, tamanho é o fanatismo de sua torcida, mas é preciso dizer que há algo especial na Mangueira, que irradia. A nova administração do Ivo Meirelles tem a sua beleza, exatamente por saber valorizar essa energia que é “ser mangueirense”, identificar que essa é a essência da Mangueira.
Vimos acompanhando nos últimos anos a intensificação de um estilo de Carnaval em que o espetáculo visual tem primazia sobre o desfilar. Ou seja, o desfile das escolas de samba se tornou algo para SER VISTO e não para SER VIVIDO. Muito haveria para ser falado sobre isso, a transmissão da TV, o turismo internacional, os vícios da tal “profissionalização” das escolas, os critérios draconianos de julgamento, etc.
O que vem ao caso é que a administração do Ivo Meirelles tem sido um contraponto a isso. Não estou querendo endeusar o Ivo, até porque não sou ingênuo e sei de todas as contraindicações que sua eleição representa numa série de relações mais gerais entre a mídia, o morro e a sociedade, mas o que simplesmente quero apontar aqui é que o Ivo – certo ou errado – resolve apostar tudo num olhar que ele acredita e em que ele aposta: e esse olhar é acima de tudo MANGUEIRENSE.
A administração anterior fez uma revolução na Mangueira. Recebeu a escola totalmente falida, e, com uma filosofia de profissionalização, transformou não só a escola mas a própria comunidade da Mangueira, resgatando sua credibilidade no cenário do Carnaval. Vejam a diferença hoje da Mangueira para o Império Serrano ou a Portela. Vimos a Mangueira com uma estrutura exemplar, invejável!
Mas o que vimos? Uma Mangueira como qualquer outra escola. Uma Mangueira luxuosa, talvez como nunca tenhamos visto antes. O desfile do Maomé foi exemplar nisso. Carros acoplados, muito luxo, mas cadê a Mangueira?
Anos depois, já com o Ivo, vimos a Mangueira sendo cogitada para ser rebaixada, carros na madeira. Mas a comunidade do samba se juntou, os mangueirenses saíram da toca, superaram todas as dificuldades, e a Mangueira, mesmo com o regulamento draconiano, foi para o desfile das campeãs! Isso sim é a Mangueira!
Com isso não estou querendo fazer apologia da miséria ou da desorganização, mas querendo apontar para o que é o Carnaval, o que representa ser mangueirense, e para as diferenças de filosofia entre as duas gestões.
2011 foi a coroação de uma nova filosofia de carnaval na Mangueira: ao contrário de um desfile para ser simplesmente visto, um desfile para ser cantado e sambado. Trunfo: o samba que poucos acreditavam, que não era sofisticado melodicamente, mas era mangueirense. E Mangueira é emoção!
* * *
Assim é o samba de 2012, com a pegada dos sambas do Lequinho, ao mesmo tempo mais simples e ao mesmo tempo com uma certa sofisticação melódica.
Tá lá o olhar do Ivo. O mesmo Ivo que foi campeão na Mangueira, com um samba simples, o de 1986, mas que se tornou antológico. Por que? Porque é um samba mangueirense. Não tem explicação!
O Ivo, que é mangueirense, sabe que só é possível implementar essa nova filosofia se houver um foco no samba-enredo. E que é preciso caminhar pra frente mas que não se pode deixar de olhar para trás. E olhar para trás no caso do samba-enredo da Mangueira é dialogar com a enorme tradição dos anos oitenta e início dos noventa com os sambas do Hélio Turco e Jurandir. Que justamente deixaram de ganhar as disputas com a chegada da nova diretoria.
A influência do Hélio Turco/Jurandir está toda lá no samba de 2011 e está toda aqui no de 2012. Mas ao mesmo tempo não é um samba do Hélio Turco, é um samba do Lequinho.
A síntese de todos esses movimentos (políticos, musicais...) está na brilhante segunda parte do samba. Brilhante mesmo! É um samba mangueirense. Um crescendo trabalhado com muita energia, com expressões simples que se repetem com pausas para o canto (comparem o papel do “sim” com o do “será” do famoso samba de 1988...). Até explodir num verso de enorme emoção ("Chora, chegou a hora eu não vou ligar"). Mais em seguida tem outro verso de grande impacto emocional (“Mangueira fez o meu sonho acontecer”), mas seguido de uma pausa bastante longa, bem atípica, que nunca entraria num samba do Hélio Turco (taí a pegada do Igor Leal/Lequinho). Ainda, não daria para o samba seguir com outro crescendo para explodir no final (como aconteceria com os sambas do Hélio Turco, por exemplo o de 1992, “se todos fossem iguais a você/que maravilha seria viver”, curiosamente o último samba da dupla).
Daí os compositores de 2012 acharam um recurso muito bem encaixado, que encerra o samba com um espírito de humildade raro aos sambas mangueirenses: é preciso respeitar onde a Mangueira chegou, porque isso é raro, e precisa ser comemorado. Lindo final!!! Pra ser cantado e não assistido!!!
Salve Mangueira!
Velha Guarda da Mangueira |
Vimos acompanhando nos últimos anos a intensificação de um estilo de Carnaval em que o espetáculo visual tem primazia sobre o desfilar. Ou seja, o desfile das escolas de samba se tornou algo para SER VISTO e não para SER VIVIDO. Muito haveria para ser falado sobre isso, a transmissão da TV, o turismo internacional, os vícios da tal “profissionalização” das escolas, os critérios draconianos de julgamento, etc.
O que vem ao caso é que a administração do Ivo Meirelles tem sido um contraponto a isso. Não estou querendo endeusar o Ivo, até porque não sou ingênuo e sei de todas as contraindicações que sua eleição representa numa série de relações mais gerais entre a mídia, o morro e a sociedade, mas o que simplesmente quero apontar aqui é que o Ivo – certo ou errado – resolve apostar tudo num olhar que ele acredita e em que ele aposta: e esse olhar é acima de tudo MANGUEIRENSE.
A administração anterior fez uma revolução na Mangueira. Recebeu a escola totalmente falida, e, com uma filosofia de profissionalização, transformou não só a escola mas a própria comunidade da Mangueira, resgatando sua credibilidade no cenário do Carnaval. Vejam a diferença hoje da Mangueira para o Império Serrano ou a Portela. Vimos a Mangueira com uma estrutura exemplar, invejável!
Mas o que vimos? Uma Mangueira como qualquer outra escola. Uma Mangueira luxuosa, talvez como nunca tenhamos visto antes. O desfile do Maomé foi exemplar nisso. Carros acoplados, muito luxo, mas cadê a Mangueira?
Anos depois, já com o Ivo, vimos a Mangueira sendo cogitada para ser rebaixada, carros na madeira. Mas a comunidade do samba se juntou, os mangueirenses saíram da toca, superaram todas as dificuldades, e a Mangueira, mesmo com o regulamento draconiano, foi para o desfile das campeãs! Isso sim é a Mangueira!
Com isso não estou querendo fazer apologia da miséria ou da desorganização, mas querendo apontar para o que é o Carnaval, o que representa ser mangueirense, e para as diferenças de filosofia entre as duas gestões.
2011 foi a coroação de uma nova filosofia de carnaval na Mangueira: ao contrário de um desfile para ser simplesmente visto, um desfile para ser cantado e sambado. Trunfo: o samba que poucos acreditavam, que não era sofisticado melodicamente, mas era mangueirense. E Mangueira é emoção!
* * *
Assim é o samba de 2012, com a pegada dos sambas do Lequinho, ao mesmo tempo mais simples e ao mesmo tempo com uma certa sofisticação melódica.
Tá lá o olhar do Ivo. O mesmo Ivo que foi campeão na Mangueira, com um samba simples, o de 1986, mas que se tornou antológico. Por que? Porque é um samba mangueirense. Não tem explicação!
O Ivo, que é mangueirense, sabe que só é possível implementar essa nova filosofia se houver um foco no samba-enredo. E que é preciso caminhar pra frente mas que não se pode deixar de olhar para trás. E olhar para trás no caso do samba-enredo da Mangueira é dialogar com a enorme tradição dos anos oitenta e início dos noventa com os sambas do Hélio Turco e Jurandir. Que justamente deixaram de ganhar as disputas com a chegada da nova diretoria.
A influência do Hélio Turco/Jurandir está toda lá no samba de 2011 e está toda aqui no de 2012. Mas ao mesmo tempo não é um samba do Hélio Turco, é um samba do Lequinho.
A síntese de todos esses movimentos (políticos, musicais...) está na brilhante segunda parte do samba. Brilhante mesmo! É um samba mangueirense. Um crescendo trabalhado com muita energia, com expressões simples que se repetem com pausas para o canto (comparem o papel do “sim” com o do “será” do famoso samba de 1988...). Até explodir num verso de enorme emoção ("Chora, chegou a hora eu não vou ligar"). Mais em seguida tem outro verso de grande impacto emocional (“Mangueira fez o meu sonho acontecer”), mas seguido de uma pausa bastante longa, bem atípica, que nunca entraria num samba do Hélio Turco (taí a pegada do Igor Leal/Lequinho). Ainda, não daria para o samba seguir com outro crescendo para explodir no final (como aconteceria com os sambas do Hélio Turco, por exemplo o de 1992, “se todos fossem iguais a você/que maravilha seria viver”, curiosamente o último samba da dupla).
Daí os compositores de 2012 acharam um recurso muito bem encaixado, que encerra o samba com um espírito de humildade raro aos sambas mangueirenses: é preciso respeitar onde a Mangueira chegou, porque isso é raro, e precisa ser comemorado. Lindo final!!! Pra ser cantado e não assistido!!!
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