"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

O perigo da Gripe Aviária

Todo mundo devia prestar mais atenção nas aulas de biologia e geografia do 2º grau. Em geral, passamos por lá com médias suficientes para finalizar o período torturante de três anos, já imaginando o terror dos cursinhos e mais quatro ou cinco anos de curso superior. Por essas e outras, quando um furacão, epidemias ou tsunamis, ameaçam a humanidade, boa parte da população acaba tendo que aprender "na marra" o que todas essas manifestações da natureza significam e acabam tendo que confiar nos índices e notícias que saem na imprensa. Estes, nem sempre confiáveis porque saem das cabecinhas criativas de jornalistas mal informados que não tem o compromisso com a informação e publicam a primeira coisa que escutam, como na brincadeira do telefone-sem-fio (Escola Base que o diga).

A mais recente ameaça à humanidade é a Gripe Aviária. A CNN noticiou hoje à tarde que "especialistas informam que a gripe aviária não representa perigo para a humanidade por ser uma doença restrita à espécie." Ora, quem tem coragem de reproduzir uma notícias dessas não lembra das aulas do 2º grau ou, no mínimo, não chegou à apurar a informação com algum "especialista" de verdade. Neste caso específico, é fácil. Basta conversar com qualquer biólogo, veterinário, médico porque seja lá qual forem suas "especialidades", todos aprenderam na fase básica do curso matérias como bioquímica e microbiologia que mostram que NÃO EXISTE VÍRUS QUE NÃO TENHA CAPACIDADE DE MUTAÇÃO. Quase todas as zoonoses conhecidas foram originadas de vírus de animais que sofreram mutações migrando para o organismo humano.

O que os governos em geral - em especial o nosso em meio à toda essa crise política - não querem, é admitir que poucos países estão preparados para combater o que pode ser uma das maiores epidemias que a humanidade já viu. O vírus da gripe tem 80 milhões de anos, sofre pequenas mutações tão logo o organismo humano cria anticorpos e, a cada 30 anos, ressurge em uma nova versão, muitas vezes fatal. Os pequenos roedores foram os primeiros a serem atacados pela gripe ainda em épocas pré-históricas e transmitiram a doença para mosquitos e carrapatos. Esses animais se tornaram imunes, mas o vírus continuou se reproduzindo e se adaptando às mudanças climáticas do planeta.

São raros hoje os idosos com mais de noventa anos mas os que ainda vivem, lembram bem da Gripe Espanhola. No final de 1918 o mundo, recém saído da 1ª Guerra Mundial, assistiu estarrecido e impotente a outra máquina de matar. Ela atacou o planeta inteiro e deixou mais de 20 milhões de mortos - 1% da população mundial à época. Só nos Estados Unidos, 500 mil pessoas morreram, mais do que o número de soldados mortos no campo de batalha durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial, Guerra da Coréia e Guerra do Vietnã juntas. O vírus espalhou-se rapidamente e atingiu em maior número moradores das cidades e os mais jovens. O sintomas de uma gripe normal são dores de cabeça e no corpo e congestão nasal. Pois os atacados pela espanhola sofriam bem mais. Os pulmões, congestionados e enrijecidos, tornavam o ato de respirar uma tarefa quase impossível. Relatos da época dão conta de que os corpos ficavam tão arroxeados que distingüir um cadáver de um branco do de um negro não era nada fácil. A gripe tomou o mundo por causa das idas e vindas dos soldados da Primeira Guerra Mundial. Para o front vinham homens de todos os lugares do planeta. Doentes, voltavam para sua terra natal e infectavam mais gente.

Pode-se dizer que a Primeira Guerra, além de matar nas trincheiras, espalhava a morte para todos os cantos, inclusive o Brasil. A primeira notícia do vírus da gripe espanhola no país foi de setembro de 1918, logo depois da chegada de um navio com imigrantes vindos da Espanha. Vários deles apresentavam sintomas da gripe. Outro relato dizia que alguns marinheiros sentiram estranhos sintomas a bordo de um navio que ancorou em Recife. O fato é que no início de novembro de 1918 a doença já tinha alcançado vários pontos do Brasil. As cidades portuárias foram as que mais sofreram. No Rio de Janeiro, morreram 17 mil pessoas em dois meses. Os familiares, desesperados, jogavam seus mortos na rua com medo de contrair a doença. As avenidas ficaram cheias de cadáveres e presidiários foram obrigados a trabalhar como coveiros. Os bondes circulavam abarrotados de corpos. Na frente das principais igrejas, milhares de famílias se reuniam para pedir ajuda a Deus. Em São Paulo, foram mais de 8 mil mortes. Entre as vítimas da gripe estava o presidente da República, Rodrigues Alves. Eleito para o cargo pela segunda vez, não pôde tomar posse e morreu no dia 16 de janeiro de 1919. Os médicos, também alarmados, não sabiam o que receitar e indicavam canja de galinha. O resultado foram saques aos armazéns atrás de frangos. Os jornais afirmavam que o tratamento deveria ser feito à base de pinga com limão ou uísque com gengibre. No Rio, o sanitarista Carlos Chagas comandou o combate à enfermidade. Em Porto Alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vítimas da gripe espanhola. Em todo o país foram cerca de 300 mil mortos.

O vírus da gripe quase sempre está presente nos corpos de aves. Os humanos não são infectados por eles mas animais domésticos sim. A classe científica nunca esqueceu a tragédia da gripe espanhola e tenta ainda hoje descobrir os motivos de tanta mortandade. Tanto é que pesquisadores da Escola Willian Dunn de Patologia de Oxford pretendem reconstruir o vírus da gripe espanhola. Os cientistas querem descobrir as razões que levaram o vírus a ser tão letal e, a partir dessas informações, desenvolver métodos de proteção contra futuras pandemias. O vírus poderá ser reconstruído, pelo menos em parte, porque pesquisadores norte-americanos já pesquisaram seqüências de dois dos mais importantes genes de 1918.

Em 1997, um surto da doença foi causado pelo vírus HSN1. O primeiro caso foi registrado em maio e causou quatro mortes em Hong Kong. O vírus já era conhecido, mas só nos casos de infecção em aves. Quando uma mutação genética tornou-o transmissível também aos seres humanos, o governo foi obrigado, para evitar tragédias maiores, a sacrificar 1,4 milhão de aves.
A OMS considera o Sudeste Asiático como o ponto de origem mais provável de uma pandemia. Atualmente, existem 16 focos de gripe do frango confirmados no mundo: Indonésia, Vietnã, Paquistão, Bolívia, Colômbia, Tailândia, Laos,Cambodja, China, Rússia, Cazaquistão, Sibéria, Turquia, Romênia, Croácia e Grécia.

A gripe das aves, também conhecida como gripe do frango, foi identificada pela primeira vez em 1878, na Itália, como uma doença grave dos frangos. A doença pode assumir formas benignas, como problemas para pôr ovos ou penas eriçadas, ou formas altamente patogênicas, que mata as aves de criação em menos de 48 horas. Uma dessas formas, o vírus H5N1, ressurgiu em Hong Kong, em 2003, atingindo, meses depois, Coréia, Vietnã, Tailândia e outros países do sudeste asiático, causando uma elevada mortandade entre aves de criação. Agora, o risco de uma mutação do vírus capaz de afetar os humanos é real. Mais do que real, praticamente inevitável, segundo a OMS. Desde o fim de 2003, pelos menos 117 casos de infecções humanas foram registradas, com 60 mortes. O vírus H5N1 também pode ser transmitido por patos de criação que não apresentem sintomas da doença, alertou a OMS, advertindo que, neste caso os produtores tem altas chances de serem infectados.

O governo de Hong Kong quer adquirir 20 milhões de doses de Tamiflu - único medicamento relativamente eficaz contra a doença - até 2007, número considerado suficiente para controlar a gripe entre os quase 7 milhões de habitantes da cidade. As autoridades também avaliam a possibilidade de utilizar estádios de futebol como hospitais improvisados caso as clínicas fiquem lotadas por uma epidemia generalizada.

Com os hospitais abarrotados com todo o tipo de doenças e traumas sendo atendidos com extrema precariedade, só temos que torcer para que esta gripe não chegue aqui.

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