"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

domingo, 2 de outubro de 2005

Traçando a vida

Conforme noticiado pela TV e jornais, nossa casa foi assaltada no dia 24 de setembro e Luiz Fernando, mais conhecido como Oscar, levou um tiro no rosto. Importante dizer que mexeram na casa inteira e não levaram nada porque "só queriam as armas". O Oscar conseguiu fugir e salvou sua vida. Além disso, não teve nenhuma lesão grave e sairá desta sem sequelas graves, o que é impressionante pela natureza do ocorrido. Ele também levou facadas e chutes enquanto perguntavam onde ele escondia as armas (moramos em área rural). Mas não temos armas em casa e, se tivéssemos, ele não teria como se defender de três homens armados, disso ELE tem certeza.

Aos amigos, informo que ele está bem, ainda internado, mas com previsão de alta em breve. Por enquanto ele não vai poder trabalhar mas eu retomo minhas atividades assim que ele estiver em casa c/a família (incluindo a atualização deste blog). Ele disse que assim que estiver melhor, vai voltar a desenhar, mesmo que ainda esteja em casa. Pra quem quiser mais notícias, o número é 34450000 quarto 205 Hospital Santa Lúcia (em Brasília).
Agradecemos a força e carinho dos amigos e pessoas que amam e admiram o Oscar. Publico também, texto do Amaro Júnior, colega dele do Correio Braziliense que conseguiu resumir essa história trágica de uma maneira, surpreendentemente bonita e, ao estilo do Oscar, com um traço de humor.

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TRAÇANDO A VIDA

Luís Fernando Pimentel Mendes, o Oscar. Cartunista, cidadão do mundo, como gosta de ser chamado. Naquela noite calçou as botas e iría para uma palestra do colega Jaguar. Ao abrir a porta de sua casa no Altiplano Leste, três homens mal intencionados lhe aguardavam. Tentou, de ímpeto, cerrar a porta. Mas foi alvejado com um tiro na face. Caiu! Os homens entraram e perguntaram: "Cadê as arma? Cadê as arma?". Do chão, balbuciou que não possuía armas. Enquanto um vasculhava a parte de baixo da casa, os outros dois subiram as escadas para procurar "as arma".
Oscar ficou deitado, observando, quieto e se questionava a respeito da chegada de sua hora. Na mente de desenhista e criador sua dúvida latejava mais que o tiro que entrara na bochecha e saíra atrás do ouvido, sem afetar nada! "Será que vou morrer? Preciso avisar a Juliana? Levarão minha Toyota? E Deus existe?" Se existe, com certeza Ele é um cartunista de mão cheia.
O sangue tomava conta do chão e o existencialismo, a mente. Não vou encontrar o Jaguar, mas acho que irei conhecer Outro desenhista, dono de rabiscos e traços de humor corrosivo. Mãos hábeis que desenharam toda a existência em sete dias, perfeitas para trabalhar em uma redação. Estaria tudo pronto, na rede, antes mesmo do pedido de algum jornalista afoito. Será o céu um grande periódico? Boys, secretárias, repórteres, fotógrafos, desenhistas, editores... Tenho certeza que ao lado direito do Criador, e escolhidos a dedo, estão o Nássara, Claudius, Fortuna, Alvarus, Mendez, Henfil, opa! Acho que o Henfil estará à esquerda. Só para contrariar. Acho que Ele não precisa de mim. Já existe muito criador, muito cartunista. Só vou se puder sentar em Seu lugar. Como isso é impossível, vou aproveitar que os dois bandidos estão lá em cima, e este que ficou aqui em baixo só tem um facão e levantar, sair pelos fundos.
O cara já morreu? - perguntaram os do segundo pavimento.
Tá fugindo! Tá fugindo! - gritou com faca em punho o desatento marginal.
O candidato ao posto de desenhista divino esqueceu sua pretensão e correu. Oscar passou por trás da geladeira e ainda sentiu o metal frio do facão em suas costas. Ouviu mais um tiro e correu mais do que a bala. Para aqueles que não conhecem o Oscar, saibam que seu metabolismo é mais lento que de um jabuti. Mas quis Aquele cartunista celestial que o Luís Fernando corresse bem mais que um projetil, pedisse (ele mesmo!) ajuda ao caseiro da chácara ao lado e fosse socorrido pelos bombeiros. Só rindo para acreditar que Oscar passa muito bem, obrigado!

Por Amaro Júnior, da Editoria de Arte do Correio Braziliense

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