Hoje no Globo Esporte uma matéria sobre racismo no futebol reabriu a polêmica que começou com o caso do Grafite e dos xingamentos do atacante Etto na Croácia. O zagueiro do Juventude, Antonio Carlos, foi acusado de ter discriminado Jeovânio do Grêmio, jogador negro, durante a vitória do tricolor por 2 x 1 no último domingo pelo campeonato gaúcho.
Nas imagens, ele xinga o jogador (no áudio não se percebe o que, mas ele mesmo em entrevista coletiva admite tê-lo xingado de ' vários nomes' ) e depois aponta para o braço fazendo aquele gesto que subentende a cor da pele. Antonio Carlos admitiu que, palavras dele, "caso tenha saído a palavra macaco de sua boca, só lhe resta pedir desculpas".
Jeovânio, vítima dos gestos racistas de Antonio Carlos diz que se sentiu humilhado. Já Antônio Carlos, pivô da polêmica usou da desculpa clássica de que tem vários amigos negros. O árbitro da partida, Leandro Vuáden narrou todos os gestos e palavrões na súmula após o jogo, diz não ter precisado das imagens da TV para confirmar o que viu.
Adauto, atacante brasileiro que foi estrela de campanha contra o racismo na República Tcheca disse: "Joguei contra ele pela Copa da Uefa (2002) e se mostrou uma pessoa muito educada. Além disso, o melhor amigo do Antônio Carlos no Juventude era o (atacante) Diogo, que também é negro. Se ele cometeu alguma atitude racista foi porque estava de cabeça quente. Acredito que ele não merece ser punido. Tem tanta gente que fez muito pior e ainda está impune no Brasil".
Há alguns dias recebi um artigo que falava de um árbitro negro que contratado para um jogo amador com jogadores do exército (de diversas patentes), havia sido humilhado por um coronel e levou meses até criar coragem de denunciá-lo. E o fez depois de muito tempo tendo que encarar sua família, esposa, filhos, sem saber o que dizer já que todos haviam presenciado o "ataque" do coronel.
O problema do racismo no Brasil é que, primeiro, ninguém admite e, pelo contrário, as pessoas se sentem indignadas quando são acusadas de sê-lo. No entanto, os números mostram que, ao contrário do futebol onde os jogadores brasileiros negros em geral são os que se tornam craques e estrelas em ascensão, no mercado de trabalho e na sociedade a coisa é bem diferente. O segundo fator importante, é que se acostumou a reduzir tudo que não for "roubar e matar" para coisas de menor importância. O melhor arauto desta filosofia, criminosa diga-se, foi o ex-senador Arruda que usou e abusou do chavão para se desculpar da violação do painel. Isto fica refletido no depoimento do jogador Adauto quando diz que "tanta gente fez coisa pior e está impune".
O judiciário, a meu ver, tem muita culpa nisso e até mesmo esta recente decisão sobre os crimes hediondos no Brasil são um ponto negativo a mais para a instituição que deveria ser a primeira em primar pela lisura dos seus magistrados. Eu, que já estive em audiências como testemunha/vítima em ações criminais/cíveis tive péssimas impressões, principalmente de juristas e promotores jovens que parecem fazer questão de iniciar sua carreira seguindo os piores exemplos de comportamente arbitrário, parcial e, muitas vezes, altamente corruptível.
Se o jogador Jeovânio vai realmente até o fim com seu intento de denunciar Antonio Carlos, o que eu sei é que o caminho é longo. Ele vai ter que se valer de meses de paciência, determinação e até resignação e, talvez, desista no meio do caminho. Se for até o fim (e ganhar) sairá tremendamente desgastado e esgotado. É cansativo e desanimador, no Brasil, se defender judicialmente até de crimes mais sérios, que dirá de uma situação em que não te "roubaram nem te mataram".
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