"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quinta-feira, 6 de abril de 2006

João Paulo é absolvido por 256 a 209

Muitas vezes a imprensa presta um desserviço porque não cumpre seu papel de informar corretamente as notícias. O motivo real da investigação sobre João Paulo Cunha (PT-SP) não foi apenas por estar envolvido no recebimento dos 50 mil reais do valerioduto. A questão primordial era que, logo após o saque realizado da conta de Marcos Valério no Banco Rural por sua mulher, Márcia (que disse que o valor seria para pagar uma conta atrasada de TV a cabo), a Câmara fechou um contrato milionário com a empresa de Marcos Valério, SMP&B, sem licitação. Este é um indício claro de que houve favorecimento e de que o esquema era criminoso. Ironicamente, em seu depoimento, João Paulo justificou o contrato dizendo que a empresa "ajudou a melhorar a imagem da Câmara".

Por outro lado, era esperado que uma derrota desta natureza, ou seja, um ex-presidente da Câmara perdendo o mandato por corrupção, seria acachapante para o já combalido PT e o que restam de aliados.

A Câmara rejeitou o relatório do deputado César Schirmer (PMDB-RS), por 256 votos contra o relatório, que pedia a cassação e 209 a favor. Com o resultado, o processo será arquivado e o petista mantém seu mandato de deputado federal. João Paulo Cunha é o oitavo parlamentar acusado de envolvimento no suposto "mensalão" que escapa da cassação.

Outros políticos, inclusive o Ministro Palocci, estão sendo investigados, alguns deles indiciados, pela CPMI. À despeito da alegação barata de alguns petistas de que "os motivos das investigações e cassações são políticos mas que não se provou nada ainda realmente contra determinadas pessoas como José Dirceu", a verdade é que se o motivo é "político", então justifica-se todo o processo. A expressão "crime de responsabilidade" em cargos públicos remete justamente ao fato de que os parlamentares e ocupantes de cargos públicos em geral, são politicamente - antes de mais nada - responsáveis pelo cargo e por seus subordinados. Ora, se o então ocupante de uma determinada cadeira deixa que as coisas cheguem ao ponto que vem chegando e, pior, delega tarefas à subordinados incompetentes piorando mais ainda a situação, então tem mesmo é que ser julgado e demitido ou cassado. No caso do Ministro, por exemplo, se o caseiro foi ou não pago para falar (porque o conteúdo do que disse não está sendo contestado nem pelo próprio Ministro), armar com a ajuda do presidente da Caixa e do Ministro Thomaz Bastos, uma quebra de sigilo bancário totalmente ilegal e ainda ser pego com a boca na butija, é ou não motivo POLÍTICO suficiente para que ele seja demitido, cassado e quiçá deletado da história política do país?

Após a cassação, entram o Ministério Público e as vias jurídicas legais comuns à todos os mortais não protegidos por imunidades diversas (inclusive as de cunho político), para julgar os envolvidos à luz do direito. José Dirceu, claramente, coordenou todo um processo político de articulações que visava fortalecer o PT dentro do Congresso e garantir a reeleição de Lula com acordos religiosamente pagos. Se não existem provas documentais (ou seriam recibos: "recebi nesta data o valor acima em moeda norte-americana em pagamento por atos de corrupção.."), existem planilhas meticulosamente organizadas por equipe técnica (de profissionais concursados, funcionários da Câmara responsáveis pelos dados das CPI´s) em que ficam claras as ligações entre os pagamentos (confessados por muitos como Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson) e os resultados das votações em plenário. O cruzamento destes dados não deixa dúvidas de que, durante muitos anos, num esquema que nasceu ainda durante a gestão do PSDB, Marcos Valério vem se beneficiando do lobby político numa rede de tráfico de influências e corrupção generalizada em que os que lucravam eram tão somente os empresários envolvidos no processo e os políticos pagos para decidirem em favor destes.

Quem saiu perdendo foi o povo que colocou na urna suas esperanças e viu mais uma vez e, agora definitivamente, a confiança nas instituições ir para o ralo. 

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