De ex-militante petista a representantes do movimento integralista. Tinha de tudo na passeata que parou a Avenida Paulista, em São Paulo, ontem à tarde. Durante duas horas e meia, pelo menos 3 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram da manifestação que, oficialmente apartidária, exigiu reformas e o fim da corrupção no País.
Organizados pela internet por meio do Movimento Reforma Brasil, os manifestantes atenderam à convocação para o chamado Dia da Dignidade Nacional. Saíram da Praça Oswaldo Cruz pouco antes das 16 horas e, ocupando duas faixas de trânsito, atravessaram a Paulista até a Rua da Consolação. Em seguida, retornaram à Paulista e encerraram o protesto em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois de causar congestionamento em todo o trânsito da região.
Vestidos de preto, com rostos pintados de verde e amarelo elevando bandeirolas do Brasil, os manifestantes atraíram a curiosidade dos paulistanos que tentavam esquecer a violência da semana na cidade. O protesto motivou simpatia e, também, desconfiança. 'Quem será que está por trás dessa gente?', perguntou o taxista José Onório Fontes, de 42anos.
Difícil saber apenas acompanhando a passeata. Dezenas de faixas e cartazes cobrando ética e o fim da impunidade. Outras lembravam os escândalos do mensalão e das ambulâncias e a falta de credibilidade do Congresso. Entre os manifestantes, a maioria era da classe média, de diferentes faixas etárias. Havia pessoas de todas as cores partidárias, empresários, fazendeiros, sociólogos. Representantes do Movimento Integralista e Linearista, do Instituto Federalista e defensores do voto nulo. De consensual, apenas as palavras de ordem: 'Fora, ladrões'. 'Estamos aqui porque não dá mais. Não sabemos em quem votar, nem para onde vamos', resumiu o engenheiro de alimentos Humberto Abrami Filho, que tem 51 anos e, durante 21, foi filiado ao PT. 'Precisamos de mudanças', completou a empresária Itajira Figueiredo, de 47 anos.
O jornalista Jorge Serrão, de 40 anos, e o vendedor RodrigoPetinari, de 26, estavam entre os organizadores. 'Queremos uma grande reforma no sistema eleitoral, tributário, judiciário e a reforma agrária. Somos um movimento de bem', explicou Serrão. Segundo ele, a sociedade tem de esboçar uma reação a tudo que acontece no País, independentemente de partidos de esquerda, centro ou direita. 'A discussão que propomos é séria e profunda.'
O Dia da Dignidade Nacional foi organizado em outras 21 cidades. No Rio, munidos de apitos e narizes de palhaço, cerca de 200 pessoas fizeram passeata na Cinelândia, em defesa da 'dignidade nacional'. O evento foi motivado pelo 'cenário político do País, onde surge um novo escândalo por semana', segundo a estudante de direito Glauce dos Reis, de 22 anos, uma das organizadoras. 'Hoje somos poucos, mas as diretas-já e o movimento que terminou no impeachment do Collor também eram. O importante é que as pessoas tenham espaço para dizer o quanto estão indignadas', disse Glauce.
O evento reuniu atrizes como Christiane Torloni e LúciaVeríssimo, parentes de vítimas da violência, funcionários da Varig e servidores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). 'Chegamos no limite. Nossa dignidade está em jogo. É indo para a rua que a gente modifica as coisas', disse Christiane.
Oficialmente apartidário, o protesto no chamado Dia da Dignidade Nacional foi organizado em 22 cidades do País.
"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
terça-feira, 23 de maio de 2006
Ato pede reformas contra a corrupção
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