Fundado em 25 de março de 1922 com o nome de Partido Comunista do Brasil, o PCB tem em sua origem a luta dos trabalhadores brasileiros do começo do século e as idéias socialistas de Karl Marx e Friedrich Engels - o que transformou a história do partido numa eterna briga para se manter na legalidade e para fugir da perseguição política e do patrulhamento ideológico promovido pelas forças mais retrógradas e conservadoras da sociedade.
Poucos meses após sua fundação, o PCB é posto na ilegalidade (julho de 1922). Torna-se um partido legal apenas em 1945, com a derrota do nazi-fascismo na Europa e a queda do Estado Novo no Brasil. Volta à clandestinidade dois anos depois (maio de 1947), quando tem seu registro cassado pelo governo Dutra.
Mesmo clandestino, participa ativamente da política nacional. Em 1961, depois do V Congresso, muda seu nome para Partido Comunista Brasileiro. Apenas em meados da década de 80 conquista definitivamente sua legalidade.
Durante toda a sua trajetória, o Partido deixou a sua marca na História do Brasil. Iniciou a discussão da reforma agrária quando o assunto ainda era tabu, assim como lançou o movimento pela unidade e autonomia sindical. Contribuiu decisivamente para a cultura brasileira - na bossa nova, nos CPCs, no Cinema Novo. Foi o primeiro partido a levantar a bandeira da democracia como saída para o regime militar instaurado em 1964.
O PCB teve grande parte de sua militância presa, torturada e morta nos porões da ditadura. Foi o pioneiro, na esquerda brasileira, a integrar-se às amplas e profundas mudanças que ocorreram no mundo, no final dos anos 80, início dos anos 90.
A HISTÓRIA
No ano de 1922, pelo menos três grandes acontecimentos varreram o Brasil de ponta a ponta, com sua influência e reflexos de cunho cultural e político: a Semana de Arte Moderna, a eclosão da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, que descortinou o forte e influente movimento tenentista posterior, e a Fundação do PCB, com a denominação de Partido Comunista do Brasil. Conforme acentuam historiadores, os três fatos não tiveram necessariamente nenhuma ligação entre si, mas no processo histórico acabariam, de alguma forma, por se encontrar. Representavam uma grande "sacudida" do País em direção à modernidade.
O PCB foi fundado em 25 de março de 1922, data de abertura de seu I Congresso, no Rio de Janeiro. Nove delegados, representando 73 comunistas, muitos deles egressos do movimento anarquista, deram vida à organização, como Seção Brasileira da Internacional Comunista, cujo centro revolucionário irradiador era ocupado pelo Partido Comunista da então União Soviética. Os delegados representavam as cidades de Porto Alegre, Recife, São Paulo, Cruzeiro, Niterói e Rio de Janeiro; Juiz de Fora e Santos não puderam enviar representantes.
Segundo o livro Memória Fotográfica (Editora Brasiliense, 1982), a "fundação do PCB coroa um processo que, arrancando das mobilizações operárias e grevistas do fim da guerra, potenciadas pelo exemplo da Revolução Russa, derivou na formação de vários grupos comunistas no país (Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco) e que, antes, já articulara um efêmero Partido Comunista de traço anarquista". Portanto, o PCB era a ultrapassagem histórica do movimento revolucionário que se empreendia no Brasil na época, fortemente hegemonizado pelos anarquistas. Esta hegemonia passa para o PCB, a partir de 1930.
Fundaram o PCB os seguintes revolucionários: Abílio de Nequete (barbeiro), Astrojildo Pereira (jornalista), Cristiano Cordeiro (contador), Hermogêneo Silva (eletricista), João da Costa Pimenta (gráfico), Joaquim Barbosa (alfaiate), José Elias da Silva (funcionário público), Luis Peres (operário vassoureiro), Manuel Cendón (alfaiate). Além de Nequete, foram eleitos para compor a primeira executiva as seguintes pessoas: Astrojildo Pereira, Antônio Canellas, Luís Peres, Antônio Gomes (efetivos); e Cristiano Cordeiro, Rodolfo Coutinho, Antônio de Carvalho, Joaquim Barbosa e Manuel Cendón.
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“Eles eram poucos / e nem puderam cantar muito alto a Internacional/ naquela casa de Niterói em 1922./ Mas cantaram e fundaram o partido (...)/ O PCB não se tornou o maior partido do Ocidente./ Nem mesmo do Brasil. / Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis/ tem que falar dele. / Ou estará mentindo”.
Poema de Ferreira Gullar, de 2002, que alude à fundação do PCB
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É uma tarefa árdua, que certamente ficará a cargo dos historiadores, descrever e enumerar com precisão os dirigentes históricos do PCB. Todos deram vida ao partido, alguns se tornaram homens públicos reconhecidos mas outros continuam ainda anônimos para a história. Vários passaram pelo PCB e também dele se distanciaram, ou para integrar outras correntes de pensamento, à direita e à esquerda, ou simplesmente para se dedicar a outros projetos de caráter pessoal. Centenas perderam suas vidas, em função da luta generosa pela justiça e pelo socialismo.
O dirigente pioneiro é Astrojildo Pereira, intelectual e então líder anarquista e considerado até hoje como um dos mais originais pensadores do socialismo em nosso País. Morreu em 1967.
Na linha dos líderes históricos, o mais destacado deles é Luis Carlos Prestes, que ocupou por várias décadas as secretaria-geral do partido.
O PCB , na verdade, é uma galeria histórica de grandes líderes revolucionários. Desde os seus fundadores, passando por Agildo Barata, Leôncio Basbaun, Gregório Bezerra, Apolônio de Carvalho, Mário Alves, Carlos Marighella, Maurício Grabois, Arruda Câmara, Mário Alves, Davi Capistrano, Roberto Morena e tantos outros.
Desta galeria de dirigentes, grande parte deles poderiam ser classificados como heróis. Entretanto, não foi este o sentimento que os moveram.
Foi, isto sim, a certeza de que o Brasil e o mundo poderiam ser transformados para melhor.
LUTAS POPULARES E DEMOCRÁTICAS
Não existe nenhuma luta de conteúdo democrático e de massa travada no Brasil nos últimos século que não tenha contado, de alguma forma, com a participação dos comunistas.
O PCB nasceu de seus compromissos com os trabalhadores e com o movimento revolucionário por profundas transformações em nossas estruturas econômicas e sociais. Como disse Ferreira Gullar em memorável poema, o PCB não se tornou o maior partido do Ocidente mas ao se contar a história do Brasil é preciso falar dele ou "então se estará mentindo". Enumeremos algumas destas ações:
Trabalhadores e Sindicatos
Uma das grandes tarefas do PCB, ao ser criado em 1922, foi contribuir para organizar os trabalhadores em sindicatos e associações. Já em 1930 passou a ter a hegemonia do movimento sindical e nele teve presença decisiva até início da década de 80, quando foram criadas a Central Única de Trabalhadores - CUT e a Confederaçao Geral dos Trabalhadores - CGT. Os dirigentes sindicais comunistas deixaram seus nomes fortemente impressos em lutas que redundaram na adoção da jornada de 8 horas, do 13º salário, dos direitos previdenciários, da legislação para o trabalho da mulher e do menor, entre outras conquistas sociais.
Reforma Agrária
Os comunistas também foram pioneiros na luta pela reforma agrária. Particularmente após 1940, o PCB organizou sindicatos de trabalhadores rurais pelo Brasil afora, atuou em parceria e em conflito com as Ligas Camponesas, liderou grandes levantes e movimentos no campo como no Estado do Paraná e em Trombas e Formoso, no Estado de Goiás. Criou a União de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil - ULTAB na década de 50, e, em 1962, fundou a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, sob a presidência do dirigente comunista e líder camponês, Lyndolpho Silva. Pertenceu aos quadros do PCB um dos mais conhecidos líderes camponeses de todos os tempos, o saudoso Gregório Bezerra.
Democracia e Liberdade
O PCB esteve na linha de frente no combate a duas ditaduras, ambas extremamente violentas: a de Getúlio Vargas, de 1930 a 1945, e a dos militares, implantada em 1964. Contra elas, o partido deu seus melhores homens e energias. Esteve no comando da democrática Aliança Nacional Libertadora, em 1935, que conseguiu liderar levantes de envergadura como em Natal e Recife; no combate à ditadura militar, teve centenas de militantes presos, muitos torturados, vários exilados, e mais de duas dezenas mortos. Sempre bateu-se, nestes momentos, pela anistia e pelas liberdades. Foi uma das principais forças, em 1965, a criar o MDB que se transformou no principal instrumento político para isolar e derrotar a ditadura. Com a derrota da campanha pelas eleições diretas em todos os níveis e consciente da sua estratégia democrática, aceitou enfrentar o Colégio Eleitoral, que sufragou Tancredo Neves/José Sarney, enterrando o regime militar.
Guerra e Paz
Na década de 30, reafirmando seu caráter internacionalista, foi para as ruas defender a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, ao lado das forças aliadas e contra o eixo nazi-fascista. Solidarizou-se com as revoluções chinesa, cubana e com os movimentos libertadores na América Latina (Bolívia, Guatemala, El Salvador e Nicaragua) e na África (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, além da luta do povo sul-africano), bem como esteve ao lado do Vietnã revolucionário contra o intervencionismo americano. Atuou em várias frentes, organizados pelo movimento socialista internacional, a favor da paz e da amizade entre os povos.
Estado e Investimento
As fileiras do PCB nunca faltaram com o fervor e o apoio à criação de empresas estratégicas como foi o caso da Petrobrás, da Companhia Siderúrgica Nacional, da Eletrobrás e da Telebrás. As cores dos comunistas, juntamente com outros segmentos nacionais, impulsionaram nas ruas a campanha do "Petróleo é nosso". O PCB encorajou aimplantação de organismos como a SUDENE e apoiou o presidente Juscelino Kubitschek na criação de Brasília.
Movimentos Sociais
Não se pode falar da história da UNE e dos múltiplos movimentos de mulheres sem se referir ao PCB e aos comunistas. Os comunistas também sempre se fizeram presentes nos movimentos contra a carestia, defesa da Amazônia, pelas reformas de base e por bandeiras como a do parlamentarismo.
Cultura e Liberdade
Uma das grandes contribuições históricas à organização da sociedade brasileira neste século circunscreve-se ao campo da cultura. Em um país pouco dotado de universidades e centros de pesquisa, os comunistas tiveram papel destacado no campo das artes, da pesquisa social/histórica/econômica, e editorial. O PCB criou várias editoras ao longo das últimas décadas, introduziu no Brasil grande parte da literatura socialista e marxista, editou revistas em várias áreas de interesse e chegou a publicar 10 jornais diários diferentes no período da democratização de 1946, constituindo-se em uma grande cadeia de informação e debates, talvez só suplantada pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand. Foi, talvez, a maior escola de jornalismo do Brasil pelo menos até o final da década de 50. Além do que, passaram pelo PCB, entre outros nomes ilustres da ciência e da cultura brasileira: Oswald de Andrade, Patrícia Galvão (Pagu), Jorge Amado,Graciliano Ramos, Raquel de Queiróz, Carlos Drumond de Andrade, Álvaro Moreyra, Afonso Schmidt, Eneida de Moraes, Mário Schemberg, Edson Carneiro, Catulo Branco, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Oscar Niemayer, Vilanova Artigas, Aparício Torely (o Barão de Itararé), Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, Edgard Carone, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha), Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Pontes, Mário Lago, Leon Hirsmann, João Batista de Andrade, Cláudio Santoro, Silas de Oliveira, Noca da Portela, Bete Mendes, Francisco Milani, Stepan Nercesian, entre muitos outros.
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