"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Palestina: Criação de dois Estados

Por Dina Lida Kinoshita, Professora da USP e membro da Executiva Nacional do PPS

A decisão da ONU de novembro de 1947 foi pela partilha da Palestina e da criação de dois Estados: o Estado de Israel e um Estado Palestino. O primeiro foi criado em maio de 1948 e o outro até hoje não saiu do papel. Em 1967 Israel ocupou na Guerra dos Seis Dias as Colinas do Golan que pertenciam à Síria, Jerusalém Oriental, a Cisjordânia, Gaza e o Sinai. Ainda nos anos 80 Israel devolveu o Sinai para o Egito e selou a paz com este país. A direita nacionalista e os fundamentalistas religiosos de Israel não permitem a solução de "paz por terra" e os fundamentalistas palestinos do Hamas, da Jihad e do Hizbolah bem como diversos países árabes não querem reconhecer o Estado de Israel.
Devemos lutar por dois Estados para dois povos com suas fronteiras seguras e as respectivas capitais em Jerusalém ou por uma Jerusalém internacionalizada. Quando digo que devemos lutar por uma solução pacifica e negociada através do diálogo para que os palestinos tenham o seu Estado nos territórios ocupados desde 1967 e o Estado de Israel seja reconhecido por árabes e palestinos, é porque a história vem mostrando que a via militar não resolve mais os conflitos que surgem no mundo.
O Hamas tem utilizado população civil palestina como "escudo" para lançar mísseis nas cidades israelenses fronteiriças de Gaza, para atingir alvos civis em Israel e a resposta violenta do Estado de Israel só faz aumentar a espiral de violência. Mas há o "campo da paz" na região tanto entre árabes e palestinos como em Israel. E é neles que devemos apostar. Sábado saíram em manifestação 150 mil israelenses, árabes e judeus, pedindo o fim do conflito.Num país com 6 milhões de habitantes, não é pouca coisa. Há jovens presos porque não querem servir o exército nas zonas ocupadas. É nisto que devemos apostar e não nos fundamentalismos.A política exige cabeça fria, nervos de aço e não podemos deixar só o emocional funcionando. Não tem bandido e mocinho nesta história e quem é mais forte no momento causa mais estragos.
Amanhã a situação pode se reverter e os maiores estragos podem acontecer do outro lado da fronteira. Mas nós devemos lutar pela substituição da política da força pela força da política. Só uma solução pacífica e negociada, justa e duradoura para todos os povos da região pode resolver o conflito.Devemos lutar por dois Estados para dois povos, com fronteiras seguras e Jerusalém dividida como capital de cada um deles ou Jerusalém internacionalizada. Para tanto árabes e palestinos devem reconhecer o Estado de Israel que por sua vez deve sair dos territórios ocupados para que finalmete possa ser criado o Estado Palestino.É um problema complexo que envolve outros estados árabes. Os territórios ocupados pertenciam mormente à Jordânia e ao Egito de modo que não basta Israel desocupar os territórios uma vez que estes podem ser reanexados.
Os países árabes não estão muito interessados em ajudar a resolver este conflito porque esta questão é a que os une. Uma vez resolvida, vão aparecer os diversos conflitos tais como Síria com Líbano, Iraque com Kuweit e Iraque com Síria, a questão curda que envolve Iraque, Turquia e Irã e por aí vai. Com o desmoronamento do Império Otomano, os mandatos ingleses e franceses deixaram um rastro de problemas não muito diferente dos que deixaram na África. E com a Guerra Fria tudo isto foi exacerbado, sem solução à vista até o momento.
Eu creio que nenhuma solução militar resolve isto. A Guerra Irã-Iraque nos anos oitenta acabou num empate, os EEUU se encontram num atoleiro no Iraque e no Afeganistão, boa causa da crise mundial, e a via militar só faz aumentar a espiral de violência entre Israel e palestinos.

Um comentário:

Juliana Medeiros disse...

Israel é pequeno mas extremamente poderoso. Tão poderoso quanto os EUA ou a China, em especial no poderio bélico. Pelo menos, desde a criação do Estado (se não antes), seria impossível para uma Palestina pobre e quase sempre destruída, "virar o jogo para o outro lado da fronteira".
Acho que o artigo esclarece muitas coisas, mas em linhas gerais fala sobre o que todos já sabemos, existe um conflito de terras em um local em que se chocam também culturas diversas. Além disso, acho difícil acreditar que Jordânia e Egito fossem fazer questão dos territórios ocupados há mais de cinco décadas, ainda que concorde com o racicíonio da possibilidade de conflitos posteriores entre outros países como Iraque e Kuweit... O que é necessário é um cessar fogo imediato dos dois lados e um imediato reconhecimento do território Palestino que, como bem disse a Dina, não saiu do papel ainda. Se for possível garantir essa injustiça e tremenda desvantagem territorial que impede a Palestina inclusive de se garantir pelos princípios da soberania, propostos pela Declaração dos Direitos Humanos, acho que começaremos a enxergar no horizonte, um início de solução para esses conflitos que se arrastam ao longo da história.

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