Aonde o boi vai, a manada vai atrás
Pedro Alexandre Sanches, crítico de música, repórter, escreve um artigo interessantíssimo em seu blog de 25 de junho. O título é "Simonal e a ditabranca”, e o tema, trazido pelo filme "Ninguém sabe o duro que dei”, é Wilson Simonal. Mas o que nos interessa, neste momento, não é saber se Simonal foi ou não informante, nem analisar por que a imprensa, fosse qual fosse sua tendência ideológica, preferiu sepultá-lo vivo. O que chamou a atenção deste colunista foi um excelente depoimento do próprio Sanches, que encarava Simonal com hostilidade e acabou descobrindo que não sabia por que não gostava dele – um problema enfrentado não apenas por Simonal, mas por inúmeros alvos da artilharia da imprensa.
Este colunista, em CPIs, já viu coisas fantásticas. Viu repórteres arrumando as unhas, sem prestar a menor atenção aos depoimentos, para depois ouvir os acusadores, só os acusadores, e escrever a matéria. Viu, certa vez, um parlamentar exigir que os colegas de trabalho do investigado levantassem as mãos, para identificá-los; e repórteres gritando "manda ficar de pé pra gente escrachar!” Outra vez, graças aos esforços de um parlamentar cujo caráter não chega a ser imaculado, foi vítima de um engraçadíssimo interrogatório, movido pela segurança da Casa: embora fosse conhecido de todos, embora tivesse todos os documentos em ordem, embora estivesse com o crachá da CPI pendurado no pescoço, queriam provar que se tratava de outra pessoa, com outro nome, mas que também era gordo. Os repórteres assistiram à cena, mas não a narraram: afinal de contas, não era nada que pudesse prejudicar o investigado, de quem não gostavam.
Faça um teste, caro colega: pergunte a alguém quais são os crimes pelos quais o banqueiro Daniel Dantas foi condenado, e por quais outros é investigado. Não é questão de discutir culpa (isso já foi decidido pelo juiz que o condenou): apenas de ganhar a certeza de que alguns dos mais ferozes adversários do banqueiro entre os repórteres não têm a menor idéia do motivo pelo qual o detestam.
Tudo bem, cada um gosta de quem quer. Só que isso não é jornalismo. Jornalismo é o que fez Pedro Alexandre Sanches (e, em sentido oposto, sustentando a culpa de Simonal, é o que fez Mário Magalhães). O resto é achismo.
[Texto publicado originalmente na coluna de Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa, em 30 de junho de 2009.]
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