"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Desabafo II - Do consumismo

Tem uma coisa que me deixa tão chocada quanto a violência, intolerância e demais anomalias humanas que vivenciamos por aí, todos os dias. É o CONSUMISMO exagerado que é estimulado na TV e em todos os veículos de mídia e nas rodas sociais, sejam elas o trabalho, a escola, os grupos de amigos, a internet... Fico sinceramente estarrecida com a quantidade de pessoas que acreditam realmente que uma família precisa ter um carro para cada pessoa, mesmo vivendo todos no mesmo endereço e, muitas vezes, cumprindo o mesmo percurso para o trabalho e demais atividades. O que há de errado com andar a pé ou de bicicleta quando se vive perto de onde se pretende chegar? Porque em algumas cidades (Brasília para mim é referência campeã, mas sei que existem outras), usar o transporte coletivo é visto com preconceito tamanho que faz a classe média se envergonhar de utilizá-lo? E porque não se usa mais a boa e velha carona? Onde você (que dirige sempre), pode descansar um pouco e aproveitar para ir papeando com seus companheiros de trajeto?

Para piorar mais ainda, os shoppings se multiplicam aos milhares. Espaços de ode ao consumismo, com cheiro, som e cores que estimulam a compra desenfreada. Tanto que existem pessoas que divulgam blogs na internet para vender aquilo que compraram e que jamais vão usar! Tentam conseguir alguma compensação pelo ato de ter entrado em uma loja e comprado aquilo que não precisavam. Por um impulso, uma vontade de ter aquilo que está pendurado num manequim montado exatamente para atrair seu cérebro a gastar. É tão difícil assim perceber as mensagens subliminares que estimulam o consumismo em cada espaço urbano?

E o que é ainda mais estranho para mim: vivemos num mundo em que, quanto mais você tem, mais você é "alguém". O "famoso quem" é sempre alguém que tem mais coisas que outro alguém ao lado. O último tênis, o último carro, o último modelo de celular são itens de status, tornam você alguém à ser admirado. Impressionante.

Sinceramente, tudo isso para mim é um mistério. A forma como a sociedade se organizou dividindo as pessoas a partir do que se tem, é muito insólito para meu entendimento. Juro.

O que é mais impressionante é que ninguém enxerga a história que as coisas tem. Antes de criarem o Story of Stuffs que agora é disseminado aos montes na internet, jamais deixei de olhar para cada coisa que tenho e tentar imaginar como ela tinha chegado até mim. Um objeto, uma roupa, qualquer coisa, sei que nada surgiu no espaço sem que tenha sido antes, uma matéria transformada. Uma blusa, um dia foi uma semente, plantada, colhida, armazenada, fiada, tecida, distribuída, comercializada e depois consumida por mim. Ou seja, cada coisa que chega em minhas mãos, passou antes por muitas outras mãos, talvez dezenas, centenas, algumas talvez estejam mortas ou seriamente doentes. Quantos trabalhadores escravos, muitos ainda crianças, estão por aí em fazendas/empresas que promovem esse tipo de relação de trabalho? Disseminando doenças e infelicidade extrema que depois se tornarão seu mórbido objeto de desejo e consumo. Irônico não? Fora os produtos que foram testados em animais em rituais de tortura "científica", ou ainda os que vieram de outros países, produzidos por pessoas submetidas à condições de trabalho muitas vezes mais cruéis que as de nossas fazendas tupiniquins.

Os meios de produção estão nos transformando em gafanhotos, consumindo o planeta até o último talo. E mesmo assim ainda vejo a todo momento a velha propaganda: "compre, compre, compre....". Existe publicidade responsável? Que me perdoem os publicitários, mas por favor, alguém me convença disso.

As crianças (principalmente elas) são induzidas a consumirem de forma descontrolada. Difícil uma que não se pendure na barra dos pais e diga: "eu queeeerooooooo...." e muitas vezes esse "querer" é meramente temporário. Algo que ela vai conseguir com seu poder infantil de barganha e esquecer num canto da casa em menos de 24 horas. E mesmo assim, no dia seguinte, vão querer algo diferente, mais novo, uma novidade maior ainda do que a do dia anterior.

Será que ninguém vê o que está acontecendo? Será mesmo que as pessoas não percebem o quanto estamos caminhando para um colapso e que não há planeta substituto? Não teremos para onde ir. Simples assim.

O encontro em Copenhagen foi uma falácia, o principal assunto a ser discutido, país nenhum pensou em debater: uma mudança nos meios de produção. Os EUA gastaram trilhões (isso mesmo, TRILHÕES) de dólares somente na Guerra no Afeganistão (a indústria bélica é uma das maiores causadoras de impactos sobre o clima) e cada país presente na Conferência (inclusive EUA e Brasil) ofereceu suas migalhas à título de "ajuda aos países afetados pelo clima". Isso gente, é uma piada. E de muito mau gosto.

Cada um de nós precisa pensar em como seu modo de vida impacta o planeta e o que cada um pode fazer para conter isso. Hoje. Agora. Todos os estudos indicam que uma mudança iniciada nesse momento não irá conter o avanço de destruição que já causamos, mas pode evitar desastres de proporções ainda maiores dos que os que temos visto, as famosas "respostas" da natureza. Por favor, pensem nisso.

Recomendo, pra ajudar a pensar, a série de programas abaixo (no Youtube tem outros como esse):

3 comentários:

Marcia Viana disse...

Acho que o problema é que as pessoas nao sabem como economizar ou nao acreditam que por exemplo, reduzir o tempo do banho pode ser algo realmente util.

Gabriel Correa disse...

Concordo com o texto e digo mais: ou pensamos nisso urgentemente ou nao poderemos conter mais o avanço de destruiçao da natureza sobre nós.

Juliana Medeiros disse...

Olha, infelizmente, práticas simples não vão solucionar tudo mesmo. Até porq o problema é muito maior, implica em mudarem a forma como os países industrializados se organizam. A maior responsável pelo impacto mundial, por exemplo, é a indústria bélica. Aí pergunto: tem algum país disposto a parar de fabricar armas? Por aí já dá p/sentir o tamanho do problema. Mas acho que se cada um fizer um pouco e ajudar a conscientizar outros, podemos melhorar sim muitas coisas.

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