Do Blog do Tolentino
Sessão solene da Câmara Legislativa do Distrito Federal foi palco na noite deste dia 17 de maio para a comemoração de 13 anos da TV Cidade Livre (Canal 8 da Net), a televisão comunitária de Brasília. Nada de espetáculos feéricos de luzes e som, tietes assediando estrelas ou desfile de autoridades engravatadas tecendo loas à empresa e seus proprietários.
Ao contrário, jovens praticantes de hip-hop, militantes negros e do movimento feminino, integrantes do Movimento dos Sem-Terra, sindicalistas, artesãos, intelectuais e artistas mantidos mais ou menos à margem pelo mercado. Autoridades? Sim. O deputado Wasny de Roure (PT), autor da iniciativa, a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), os embaixadores de Cuba, Venezuela e Iran, além de outros diplomatas bolivianos e angolanos, alguns ocupantes de importantes cargos públicos do Governo do Distrito Federal, representantes de grande número de sindicatos e outras entidades populares, além da OAB.
O coquetel – vinho, pães e queijo – veio diretamente da terra e das mãos de trabalhadores vinculados ao MST.
Os pronunciamentos se afunilaram na crítica ao padrão da televisão comercial brasileira, em que a sociedade não se sente representada, e no destaque ao papel cumprido pela emissora em seus 13 anos de atividade.
O questionamento ao padrão de TV dos grandes conglomerados de comunicação está colocado. Ainda hoje, o Ibope assinala que, pela primeira vez, os índices da Record ultrapassaram pela primeira vez os da Globo em todo o turno matutino, sugerindo que o público está em busca de novidade, ainda que não necessariamente encontrando o que quer. É nisso que acredita a unanimidade dos oradores que homenagearam a emissora.
Distante do grande público, acessível apenas para usuários de televisão a cabo, a TV Cidade Livre vem cumprindo o seu papel. Capitaneada pelos jornalistas Beto Almeida (presidente) e Paulo Miranda, tem como associados mais de meia centenas de entidades da comunidade brasiliense e diversos sindicatos, além da Federação Nacional de Jornalistas. Durante a solenidade, foi anunciada a filiação do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civi, o primeiro constituído na capital do País, ainda em 1958.
A TV Cidade Livre orgulha-se de haver transmitido, na íntegra, o Congresso Nacional do MST, o maior congresso camponês da América Latina, que contabilizou cerca de 20 mil participantes. Um feito realmente impensável na TV comercial brasileira. Como também várias edições do Fórum Social Mundial, inclusive o realizado na África.
Realizou debates entre candidatos ao governo local e à Reitoria da UnB e chegou a sediar a apuração do Plebiscito da Dívida Externa, realizado sob os auspícios da CNBB.
A TV tem aberto espaço para discussões que raramente chegam à telinha na programação comercial das grandes emissoras de canal aberto, como o tratamento sem preconceito da luta pela reforma agrária, a abertura para a defesa da nacionalização do nióbio ou, ultimamente, a defesa da Voz do Brasil, que as emissoras vinculadas à Abert se unem para tentar aniquilar.
A TV chega a promover (no “Ponto de Cultura TV em Movimento - Escola de Mídia Comunitária”, que conta com o apoio do MC) oficinas com jovens de comunidades humildes de Taguatinga e Ceilândia, Itapoã, Sobradinho, Planaltina, Vale do Amanhecer, Riacho Fundo e outras localidades para o aprendizado de técnicas de televisão. Ali, os jovens aprendem a escrever roteiros e realizar os seus próprios programas, filmando, gravando e editando-os.
A novidade da noite foi o anúncio, por Beto Almeida, de dois novos projetos: o Direito de Antena e o Pioneiros. No primeiro, grupos da comunidade organizada poderão ocupar espaços na emissora para darem seus recados, levarem as suas mensagens sem terem que se submeter à edição dos programas pela emissora. O Pioneiros vai recolher depoimentos de pessoas que viveram os primeiros dias de Brasília, o período em que a capital começava a ser implantada.
A TV Cidade Livre, como se vê, promete aprofundar o seu compromisso de refletir o meio social em que está inserida, levando à telinha aquilo que é desprezado, censurado ou escondido pela grande televisão comercial.
Longa vida à TV Cidade Livre!
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