"Haiti", composição dos músicos brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil, do álbum Tropicália 2, de 1993, se mostra ainda atual. Aqui você confere a gravação original.
A música faz referência, dentre inúmeros assuntos inerentes, à Fundação Casa de Jorge Amado, localizada em Salvador (BA), organização não-governamental cujo objetivo é preservar o acervo do escritor brasileiro e tem também como missão a criação de um fórum permanente de debates sobre a cultura baiana – especialmente sobre a luta pela superação das discriminações raciais e sócio-econômicas.
A atualidade da música também pode ser demonstrada pela ocorrência de atrocidades cometidas por rebeldes líbios, com o apoio da OTAN e o silêncio da ONU, contra uma maioria de negros imigrantes que trabalhavam em empresas estrangeiras na Líbia e agora são alvos de torturas, assassinatos, estupros. Uma verdadeira limpeza étnica já denunciada pela Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos, mas ignorada por grande parte da imprensa mundial.
Criado em 2008, o projeto Trampa Sinfônica é um espetáculo que une, em um único palco, a banda Trampa de rock´n roll com a Orquestra Sinfônica de Brasília Esse encontro entre dois estilos musicais tão distintos é também uma homenagem à memória do idealizador do projeto, o maestro Silvio Barbato (11/05/1959 – 01/06/2009), que estava à bordo do Airbus da Air France, que desapareceu no Oceano Atlântico durante o voo 447 em 2009.
Quando você for convidado pra subir no adro
Da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
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