"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ELEIÇÕES DO SINDESCRITORES-DF RENOVA MANDATO DE ELIAS DAHER



ELEIÇÕES DO SINDESCRITORES-DF RENOVA MANDATO DE ELIAS DAHER

O presidente do Sindicato dos Escritores, Elias Daher, teve seu mandato renovado em eleições com a participação de quase 100 escritores de Brasília.
  
O Sindicato dos Escritores do Distrito Federal, primeira entidade sindical de escritores do Brasil, fundada em 1977, realizou eleições na manhã do último dia 26 de maio, sábado, na Livraria Café com Letras.

Os filiados adimplentes compareceram para votar em uma das duas chapas concorrentes; chapa Reynaldo Jardim encabeçada pelo escritor e poeta Marcos Freitas, e a vencedora Cora Coralina, que renova a gestão do atual presidente Elias Daher por mais três anos, com novos membros em sua diretoria. Dentre eles, o jornalista Heitor Humberto de Andrade que participou da fundação do sindicato e agora compõe o Conselho de Ética.

O evento contou com a participação de cerca de 100 pessoas que passaram pela livraria, inclusive poetas e escritores que, como Heitor Andrade, remontam à fundação do Sindescritores-DF. Um deles, o poeta Menezes y Moraes contou já ter participado duas vezes da direção da entidade, uma como vice-presidente e outra como presidente, e lembrou que embora a profissão de escritor seja reconhecida pelo Ministério do Trabalho, ainda são poucos os escritores que podem viver da escrita.

Esta, segundo o jornalista e escritor Pedro César Batista, eleito Diretor de Relações Institucionais, é a principal tarefa desta diretoria: a regulamentação da profissão de Escritor. A pretensão é antiga, mas desta vez, foi criada uma comissão especial com o propósito de defender os interesses dos escritores junto ao Poder Legislativo. Segundo Batista, o sindicato já está preparando um ciclo de debates que permitirá  amadurecer as propostas da categoria.

Uma presença importante nas eleições foi a do escritor e médico pediatra Dr. Dioclécio Campos Júnior, ex-secretário da Secretária de Estado da Criança do DF que, recém-chegado de viagem, fez questão de comparecer à votação.

Desde 2011 a diretoria, com a efetiva participação da Produtora Cultural Roberta Doelinger – agora eleita Secretária Geral –, o Sindescritores-DF vem realizando diversos encontros literários e, com o apoio da Academia de Letras do Brasil – DF , representada por sua presidente Vânia Diniz, realizaram a primeira Noite Literária de Brasília, uma sessão de autógrafos coletiva com a participação de escritores e poetas e público de mais de 350 pessoas. O evento já se tornou tradição cultural em Brasília.

O Sindicato participou também da última Feira do Livro de Brasília e da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, com espaço amplo reservado a debates, saraus, encontros literários, oficinas infantis e demais atividades que ajudaram a divulgar e renovar a confiança dos escritores na atuação da entidade.

Dentre as propostas da chapa vencedora para o Triênio 2012/2014 estão, além da regulamentação da profissão e da busca por uma sede – demanda pendente há mais de 30 anos –, oferecer à sociedade uma biblioteca com espaço para crianças e adolescentes, com o apoio do poder público.

Assessoria de Comunicação do Sindescritores-DF

Vídeo com imagens das eleições: http://youtu.be/ENqIzGRABSw


Chapa Eleita Cora Coralina
Presidente
Elias Daher
Secretária Geral
Roberta Von Doelinger
Segunda Secretária
Gabriela Saraiva
Tesoureira
Nena Medeiros
Segunda Tesoureira
Vânia Gomes
Assessora de Comunicação
Juliana Medeiros de Souza Castro
Diretora de Gestão Administrativa
Gacy Simas
Diretora de Assuntos Jurídicos
Celita Oliveira Sousa
Diretor de Relacionamento Institucional
Pedro Cesar Batista
Diretora de Gestão e Produção Cultural
Paula Ziegler

Conselho Fiscal
Ana Beatriz Cabral
Giuliany Matos
Aharom Avelino

Conselho de Ética
Vitor Gomes Pinto
Heitor Humberto de Andrade
Basilina Pereira

Conselho Consultivo
Rubens Neco
Cristiane Sobral
Vânia Diniz

terça-feira, 29 de maio de 2012

Gilmar Mendes, além do tiro no pé, pode ser processado criminalmente

Do Terra Magazine



Numa linguagem futebolística, tão a gosto do ex-presidente Lula, pode-se concluir ter o jogo terminado 2×1.

 
O desmentido de Lula encontra apoio no testemunho de Nelson Jobim, único presente ao encontro. A propósito, um encontro ocorrido, a pedido de Lula, no escritório de Jobim, no dia 26 de abril deste ano.
 
O ministro Gilmar Mendes, além de a sua versão ter ficado isolada,  conta com a desvantagem de ter esperado um mês para denunciar, pela imprensa, a “pressão” e a “chantagem” que atribuiu ao presidente Lula. O perfil mercurial de Mendes, que é bem conhecido, não se adéqua a um mês de espera.
 
Segundo Mendes declarou à revista Veja e confirmou em entrevistas, Lula teria ofertado-lhe “blindagem” na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura o escândalo Cachoeira-Demóstenes-Delta. O motivo da proteção na CPMI  teria sido o financiamento feito por Cachoeira de uma viagem a Berlim feita por Mendes em companhia de Demóstenes.
 
É inexplicável não tenha Mendes, diante da supracitada “chantagem” (na última entrevista Mendes usa o termo “insinuações”), levado  o fato, por ser criminoso, ao conhecimento imediato de seus pares e da Procuradoria-Geral da República.
 
Antes de ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF), Mendes era membro do Ministério Público Federal, cujo chefe institucional é o procurador-geral da República. Ou seja, Mendes conhece bem o mecanismo a ser acionado para encaminhamento de uma “notitia criminis”.
 
No STF, já presidido por Mendes, são realizadas sessões administrativas reservadas. Em nenhuma delas Mendes apresentou o fato que, conforme afirmou, deixou-o indignado.
 
Como se percebe sem esforço, o relato de Mendes, sem qualquer prova da veracidade da afirmação, ofende a honra objetiva e subjetiva do ex-presidente.
 
Em resumo, Mendes atentou à dignidade e ao decoro de Lula. Assim, pode virar réu em ação por crime contra honra e objeto de ação de iniciativa privada da vítima (Lula).
 
Não se deve olvidar os antecedentes de Gilmar. Ele já mentiu ao denunciar, de forma  escandalosa (“vou chamar o presidente às falas” ou “vivemos num Estado policial”), uma interceptação telefônica que não aconteceu. Nesse lamentável e triste episódio, Mendes  contou com o apoio do senador Demóstenes Torres, que confirmou em diálogo publicado pela revista Veja o teor da conversa mantida com Mendes.
 
Logo depois de desmentido por perícia e por conclusão da Polícia Federal em relatório de encerramento de apuração, Mendes passou a dizer que denunciou o fato porque era verossímil. Em outras palavras, promoveu, à época, um grande escândalo, na condição de presidente do STF, com base na verossimilhança. Por aí já se percebe a leviandade de Mendes.
 
Lula não tem o perfil de quem vai aos finalmente quando ofendido. Mas, desta vez, renunciar em defender sua honra em juízo tem um componente maior. Não atende ao interesse público manter, na mais alta corte de Justiça do país, um ministro-julgador de tal calibre. Lógico, em sua defesa Gilmar, como regra, pode ofertar exceção da verdade. Só que não terá o testemunho de Jobim a seu favor. Esse ex-ministro, amigo de Lula e de Mendes, é testemunha única.
 
Na nossa legislação não vigora a antiga regra do “testis unus testis nullus! (testemunho único é testemunho nenhum). Portanto, o testemunho de Jobim poderá ser aceito.
 
Mendes, que demorou a denunciar, bem sabe que “dormientibus non sucurrit jus” (o Direito não protege os que dormem). 
 
Além disso, nenhum  ministro do STF afirmou sofrer pressões ou insinuações de Lula no sentido de adiar o julgamento do Mensalão para depois das eleições municipais. O STF é um órgão colegiado. Isso quer dizer que não adiantaria — e Lula não é nenhum estulto — só convencer Mendes. Portanto, os próprios pares de Gilmar desmentiram sua afirmação de que lula estaria pressionando por adiamento do Mensalão. Por outro lado, a ministra Cármen Lúcia, mencionada por Mendes na Veja, não teve contato com o ex-ministro Sepúlveda Pertence. E Lewandowski, que como se sabe foi sugerido para o STF pela esposa de Lula, também disse não ter sofrido pressões.
 
O “Mensalão”, que Mendes sustenta haver Lula pedido-lhe para adiar, já foi objeto de sessões administrativas (com participação de Mendes), quando se acertou até o tempo para manifestação das partes.
 
Pela mídia, o revisor desse processo, Ricardo Lewandowski, já informou que brevemente o colocará à disposição do presidente Ayres Britto. E Britto, num compromisso público, frisou que o colocaria em pauta tão logo recebesse os autos.
 
Mendes, trocando em miúdos, até por não ser presidente, como poderia mudar o quadro, em especial diante do compromisso de Britto, que é quem marca a pauta, perante os jurisdicionados (cidadãos brasileiros).
 
Pano rápido. O ministro Gilmar Mendes coloca-se, pela segunda vez, numa camisa de sete varas. Até quando?
 
Wálter Fanganiello Maierovitch

SOBRE VADIAS E A LOUÇA SUJA

É bom avisar: o texto abaixo é de um homem. Ainda que lendo, um desavisado possa se confundir e achar que uma de "nós" o escreveu, em uma espécie de autodefesa. Mas não, o texto é de Atílio Alencar e, vindo de um homem, além de ser um dos mais bacanas que já li, prova que os homens estão entendendo sim o recado. E ainda bem que ele, o Atílio, não é o único. 

Para um mundo novo, mulheres e homens precisarão se reinventar. A Marcha das Vadias é nada mais que uma ocupação  de mulheres pelo direito a serem donas de si mesmas, mas é também parte de "um mundo novo em gestação", como diria Galeano. Os grifos abaixo, são meus.

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Com a provocação estampada já no modo como se referem à sua mobilização, as mulheres que integraram a Marcha das Vadias em diversas cidades do país nesse fim de semana recente escancararam o peito nu para desafiar um sistema que há séculos teima em fazer recair sobre elas o peso da proibição. Apesar dos sensíveis avanços em relação à condição feminina na sociedade ocidental – se comparada à realidade vigente até a primeira metade do século XX – ainda vivemos num mundo em que se espera da mulher é que ela sirva. Sirva de mãe, esposa, dona de casa, professora, prostituta, faxineira. Ou sirva de modelo da “mulher bem-sucedida”, empreendedora, liberal, independente – aí então valorizada pelo caráter excepcional de sua condição, confirmando assim a regra ainda vigente.


Por força das próprias rebeliões, as mulheres foram conquistando direitos na sociedade atual e garantindo pouco a pouco, ao menos, a igualdade nas condições de exploração. Mas se como profissionais as mulheres encontram hoje maior facilidade para vender sua força de trabalho, como protagonistas de suas próprias vidas ainda esbarram na violência cotidiana de uma sociedade fundamentada nas prioridades do macho. O feminismo, movimento que primeiro colocou o problema da opressão patriarcal na ordem do dia, ocupou-se de atacar esse modelo, durante muito tempo sacrificando vaidades em nome da luta pela igualdade. Já as manifestantes que marcham no Brasil em 2012 não querem sacrificar porra nenhuma: entendem que já sacrificaram demais durante gerações inacabáveis em nome do medo e das convenções.

E é nesse não querer sacrificar nada – nem as pernas de fora, nem a inteligência, nem o direito de parir ou abortar de acordo com suas escolhas e necessidades – é que se funda um feminismo menos carrancudo, mais debochado, saudavelmente provocativo. Um pós-feminismo, dirão alguns. Mas como quer que chamemos o movimento em curso, seja lá qual for o nome pelo qual a História o designará em registros futuros, o fato é que não cabe mais ao orgulho nem à razão do macho estabelecer o que é certo para elas.

Já era. Podemos esquecer.

Depois que uma mulher tem a coragem de sair para as ruas ostentando faixas nas quais celebra alegremente o “ser vadia”, não há mais nada que possa pará-la. O medo de “cair na boca do povo” acabou; o pior dos flagelos morais que assombrava a mulher do passado – ser acusada de puta, amante, lésbica, de gostar de trepar e gozar – está esvaziado, é motivo de riso, inspiração para mostrar os peitos em público e, conforme o gosto da dona de cada corpo, exibir também os pêlos. Nenhum peito caído é feio, nenhuma axila sem depilação é desonrosa. Feio e triste é suportar o fantasma de uma vergonha que não é sua a oprimir o corpo.


E os homens nisso tudo?

Bom, os mais sensíveis, inteligentes e um pouquinho mais corajosos para reconhecer que a tradição do macho alfa é tediosa, cansativa e afetada, estão obviamente comemorando junto com as mulheres. Os mais medrosos e assustados, ou escondem-se atrás de chistes grosseiros, ou apelam para a agressão pura e simples mesmo.

Aqui no Rio Grande do Sul teve até radialista mandando as tais vadias pra cozinha lavarem a louça. Emplacou, com uma forcinha dos colegas de trabalho e do peso corporativo da emissora dos patrões (o programa chama Pretinho Básico, e vai ao ar pela rádio Atlântida FM), um assunto do dia nas redes sociais com suas expressões visionárias. Um gênio, o rapaz. Conseguiu, de uma só vez, cumprir o desserviço de reforçar um preconceito histórico que assola as mulheres e conquistar a antipatia geral por parte de todas e todos que defendem a superação dos velhos tabus.

No auge do seu humor iluminado, o cara nos presenteia com uma pérola que só poderia ter saído da boca de um ermitão. E ao tentar dissimular mais tarde a intenção grotescamente preconceituosa de seus comentários, ainda aproveita a oportunidade para gerar mais burburinho nas redes com a genial hashtag #ChupaVadia – que, graças ao apelo massivo da rádio em que trabalha, atingiu o primeiro lugar nos trending topics do Twitter.

O mais esdrúxulo é que provavelmente estejamos tratando daquele tipo de cidadão que fica chocado com as notícias que reportam crimes de abuso sexual contra mulheres e crianças. Deve se perguntar que tipo de animal é capaz de cometer tais atrocidades. Só nunca deve ter se perguntado o tamanho do estrago que pode causar com suas piadas infames, quando o tema é tão delicado, e o seu público – o público de uma emissora jovem – tão inclinado à confiar na inocência de tudo que soa engraçado.

É contra esse imaginário truculento e auto-indulgente que marcham as vadias. E nós, que também estamos aprendendo que o significado de vadia pode ser reinventado, marchamos com elas. A louça suja fica para os otários que não percebem que os tempos estão mudando.

por Atílio Alencar – Partido Fora do Eixo

quinta-feira, 24 de maio de 2012

De belas e feras

O texto abaixo, da jornalista Jaciara Santos, me parece a melhor análise do caso que movimentou as redes sociais esta semana. Como jornalista (e mulher) me sinto exatamente da maneira que ela descreve, ao cobrir um tema espinhoso como os que recheiam a pauta da editoria de cidades. Mas é importante que todos nós, enquanto sociedade, façamos a reflexão sobre a parte que cabe a cada um nesse latifúndio.
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De belas e feras


Nunca me senti confortável fazendo matéria sobre violência sexual. Pessoalmente, tenho dificuldade em lidar com suspeitos de estupro, principalmente quando a vítima é uma criança. Lembro de uma vez, há pouco mais de cinco anos, em que entrevistei um pedreiro preso por estupro continuado à filha de onze anos. E não era estreante: durante anos, abusara sexualmente da menina mais velha que, ao atingir a adolescência, saiu de casa para escapar às sevícias.
Depois de ouvir o relato oficial da titular da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derca), fui até o suspeito. Como se nada soubesse do caso, lhe indaguei o porquê da prisão. Sem se abalar, ele me respondeu que tinha feito “umas coisas com a menina”. Tentando aparentar uma empatia que não sentia, insisti com um “que tipo de coisas?”. Ele não respondeu. Foi aí que arrisquei: “A delegada disse que o senhor abusou da sua filha, eu não acreditei e por isso queria saber se é verdade…”.  Olhando diretamente pra mim, mas sem deixar transparecer qualquer emoção, o custodiado disse: “Eu só estava ensinando as coisas da vida a ela”. Gelei, enquanto ele completava que “é melhor ela aprender comigo do que com um estranho, não é?”.
Não respondi à pergunta, obviamente de caráter retórico. Optei por me concentrar nas suas respostas, enquanto sentia o estômago revirar. Acabei tomando conhecimento do histórico de vida dos personagens daquele drama, que tinha como pano de fundo a miséria quase absoluta. A família vivia em um barraco toscamente plantado numa favela às margens da Avenida Ogunjá, em Salvador, em condições francamente subumanas. Dos quatro filhos do casal, três moravam ali (eram duas meninas e um menino) e todos dormiam num mesmo cômodo junto com os pais, circunstância que, segundo alguns especialistas, facilita o abuso sexual intrafamiliar. E foi nesse cenário, com a muda cumplicidade da companheira, que o pedreiro estuprara as duas filhas mais velhas e poderia vir a seguir o mesmo script em relação à caçula, então com oito anos.
Saí da delegacia arrasada. Mesmo hoje, decorridos mais de cinco anos desse episódio, ainda me sinto tocada pela história. O que teria acontecido com a menina abusada? E a menorzinha, agora adolescente, teria também se tornado vítima do pai? E quanto a ele, será que, após enfrentar os horrores da cadeia na condição de estuprador, teria mantido a conduta criminosa?…
Corte para o presente.
Essas lembranças me ocorreram nos últimos dias a propósito do caso Mirella Cunha, a repórter que humilhou um preso suspeito de estupro dentro de uma delegacia. Não pretendo engrossar o coro de juízes da jornalista. Aprendi muito cedo que – com o perdão da expressão grosseira – não se deve chutar cachorro morto. Até porque, contrariando o senso comum, a cena, bizarra em si, não me causou nojo, revolta ou raiva, como à maioria dos internautas. Na verdade, o único sentimento que o vídeo me despertou foi pena. Da entrevistadora, do entrevistado e, sobretudo, do telespectador.
E por que pena? Porque trata-se de um caso explícito de ignorância em série. A jovem Mirella, usada como massa de manobra, não se percebe enquanto produto de consumo de uma engrenagem tão bruta quanto o sistema que ela retroalimenta. Paulo Sérgio, assaltante confesso, menino que nunca teve infância, faz parte da legião de pretos pobres da periferia (os chamados PPPs) que nascem, crescem e morrem ignorantes de seus direitos e deveres.  Nessa cadeia de ignorância, o público figura como elo mais forte: se não houvesse público, para quem essas mocinhas bonitas de cabeça oca e seus partners truculentos iriam se exibir?
E o que minha entrevista com aquele estuprador confesso tem a ver com Mirella e Paulo Sérgio? É simples. O fato de aquele homem ter me deixado abalada demonstra que o repórter tem emoções e elas podem aflorar em meio a uma reportagem. Já chorei diante de corpos jovens abatidos na guerra do tráfico e perdi o sono após entrevistar meninas vítimas de exploração sexual. Não me envergonho disso. Antes de ser jornalista sou um ser humano com emoções e fraquezas. Mas, como diz o amigo Erival Miranda, ex-colega de Correio da Bahia e atual assessor de comunicação da SSP-BA, isso deve ser coisa de jornalista das antigas. Jornalista que, mesmo conhecendo a versão oficial sobre determinada prisão, faz questão de chegar até o preso para ouvi-lo.  Sim, é obrigação do jornalista dar voz e vez a quem tem a palavra cerceada momentaneamente.
Afinal, quando o jornalista se contenta com o boletim de ocorrência e trata o preso como bandido, ignora o postulado constitucional da presunção da inocência. É também como se atirasse a primeira pedra num processo de linchamento moral.

E falando em Comissão da Verdade....

Já que estamos em meio aos trabalhos da Comissão da Verdade, dois vídeos que falam por si..... 


"Não há espaço para nenhuma verdade na ditadura, porque não há espaço para a vida. Até as mais banais podem conduzir à morte" - Dilma Roussef humilhando, com a verdade, representantes da ditadura militar e torturadores.




... e para não dizer que não falei das flores, com vocês, Geraldo Vandré e alguns personagens dessa história.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eleição do Sindicato dos Escritores - DF

Reproduzo abaixo, post (com adaptações) da produtora literária Roberta Doelinger  em apoio à chapa Cora Coralina, da qual também faço parte. Ao relato, acrescento que pretendo contribuir principalmente na regulamentação e valorização da profissão, além de focar na obtenção de sede própria. Escritores, compareçam às eleições! Tragam suas propostas!


Eleição do Sindicato dos Escritores - DF

Queridos amigos escritores,

A eleição do Sindicato dos Escritores-DF será em 26 de maio (sábado), na Livraria Café com Letras, CLS 203 Bl C Lj 19, das 10:00h às 13:00h. Todos os escritores filiados adimplentes e todos os novos escritores filiados até o dia 26/04 poderão votar. Confiram a listagem: http://www.sindescritores.com.br/adimplentes.htm. Abaixo apresento a nossa chapa e nossas propostas.
Chapa Cora Coralina

Presidente
Elias Daher  
Secretário Geral
Roberta Von Doelinger
Segundo Secretário
Gabriela Saraiva
Tesoureiro
Nena Medeiros
Segundo Tesoureiro
Vânia Gomes
Assessor de Comunicação
Juliana Medeiros Castro
Diretor de Gestão Administrativa
Gacy Simas
Diretor de Assuntos Jurídicos
Celita Oliveira Sousa
Diretor de Relacionamento Institucional
Pedro Cesar Batista
Diretor de Gestão e Produção Cultural
Paula Ziegler

Conselho Fiscal
Ana Beatriz Cabral
Giuliany Matos
Aharom Avelino

Conselho de Ética
Vitor Gomes Pinto
Heitor Humberto de Andrade
Basilina Pereira

Conselho Consultivo
Rubens Neco
Cristiane Sobral
Vânia Diniz

Manutenção de projetos que nós já implementamos
01. Concurso Literário (já está em sua terceira edição e além de promover a leitura e a produção literária, divulga o nome do Sindicato.)
02. Noites Literárias (Evento que reune  escritores, com enorme sucesso de público e que já se tornou uma tradição  cultural em nossa cidade.)
03. Sarau Literário com escritores/músicos. Fizemos uma edição do evento no ano de 2011 e pretendemos repetir, dependendo da disponibilidade dos artistas.
04. Estante do Escritor na Livraria Cotidiano. Firmamos um convênio em que o escritor de Brasília terá lugar de destaque para expor suas obras e em caso de venda, a comissão cobrada será menor do que aquela praticada no mercado (30% do valor da capa).
05. Participação em eventos culturais.  (historicamente, o Sindicato participa das feiras anuais. Este ano, tivemos a importante bienal do livro, com sucesso de público.)
06. Redução da Tarifa Postal. Em nosso País, paga-se o mesmo para enviar um livro ou uma revista de fofoca. Há tempos que estamos trabalhando pela Redução da tarifa postal para o envio de livros e continuaremos com essa luta.
07. Projeto "Conheça os escritores de  Brasília". Já implementamos a divulgação dos nossos escritores em outdoors da cidade, com um custo de R$ 68,75 por escritor.
08. Manter e ampliar a parceria com outras instituições literárias, como é o caso da Academia de Letras do Brasil - DF.

Propostas da Chapa Cora Coralina para o Triênio 2012/2014

01. Regulamentação da profissão do Escritor. Trata-se de uma pretensão antiga do Sindicato, mas que nunca foi priorizada em detrimento de outras ações culturais. Desta vez, temos  uma comissão especialmente criada com este propósito que irá defender nossos interesses junto a Poder Legislativo. Entretanto, antes da  Comissão começar a atuar, teremos um ciclo de debates que permita  amadurecer a proposta e apresentá-la de forma consistente, para maximizar as possibilidades de aprovação.


02. Definição de uma política de remuneração para quem atua nas feiras dos livros. Esses eventos tem uma duração que onera e sobrecarrega as pessoas que cuidam do Stand do Sindicato,  pois são 10 dias, com expediente diário de, no mínimo, 12 horas.  Os honorários que pagamos, as vezes, nem cobrem os custos das pessoas que se propõem a trabalhar nos eventos.

03. Maior aproveitamento do site do Sindicato dos Escritores, para divulgar os sites e blogs dos nossos afiliados, venda de e-books e divulgação dos serviços prestados.
04. O Sindicato vai apoiar a iniciativa de oferecer à sociedade, uma biblioteca com espaço para crianças e adolescentes, com o apoio de órgãos públicos.
05. Dar manutenção ao projeto da sede própria, que há tanto tempo é pretendido pela instituição. (Já estamos negociando uma sede provisória em lugar central para nossas primeiras reuniões)
06. Programa de acessibilidade, envolvendo a edição de obras em braile, letras aumentadas e audiobooks
07. Por fim, estamos trabalhando em convênios que possam resultar em meia entrada para es escritores, além de descontos em livrarias e principalmente, em editoras.

A repórter loira e o suposto negro estuprador

Do blog do Rovai

O vídeo que segue do Brasil Urgente, da Band, da Bahia, é um exemplo de jornalismo pra lá de esgoto. Uma repórter loirinha, com rabinho de cavalo à la Feiticeira, coloca um jovem negro, com hematoma aparente de uma agressão recente, numa situação absolutamente constrangedora. Julga-o antes da Justiça, humilha-o por conta de sua ignorância em relação aos seus direitos e ao procedimento a se realizar num exame de corpo delito e acha isso tudo muito engraçado.


Assista ao vídeo e veja se este blogueiro está exagerando.


Trata-se de um caso que exige uma ação urgente por parte da sociedade civil.


É preciso que se mova uma ação contra a concessionária pública que dá voz a uma repórter irresponsável como essa. Isso mesmo, irresponsável. Estou à disposição da Justiça para me defender em relação ao termo utilizado. A propósito, a concessionária é a Band.


É preciso que entidades de Direitos Humanos e da questão negra também se posicionem.
Também é urgente que entidades como o Sindicato dos Jornalistas da Bahia a Fenaj reajam a essa barbaridade.



Lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Ciclovias

Segue convite para o passeio ciclístico, que ocorrerá no dia 24 de maio, as 8h. A concentração será em frente à Catedral com percurso até o Congresso Nacional; logo após o passeio, haverá o Lançamento Oficial da Frente Parlamentar em Defesa das Ciclovias, as 09h, no plenário 13, anexo 02 da Câmara dos Deputados.





Chamada veiculada na Cultura FM:

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Justiça concede à comprador o direito de desistir de unidade no Noroeste

Indígena do Santuário dos Pajés, acesse outras imagens aqui

Uma decisão judicial contra a construtora Emplavi concede o direito a suspensão do contrato à um comprador que adquiriu uma unidade supostamente localizada em cima da área que se encontra em litígio com a comunidade indígena do Santuário dos Pajés.


O servidor público André Azevedo adquiriu em 2010 um apartamento em projeto oferecido pela Emplavi no "novo bairro ecológico" de Brasília, o Setor Noroeste. 

No entanto, conforme dados constantes do processo 203408-3, em 2011 ele teve conhecimento pela imprensa dos conflitos com a comunidade indígena que estavam impedindo a obra, justamente no local em que havia feito a aquisição. Sendo assim, ele decidiu desfazer o negócio. A tutela antecipada obtida em segunda instância pelo TJ-DFT (e que já transitou em julgado), determina que o contrato fique suspenso até o julgamento do mérito. 

O advogado do Sr. Azevedo, conversou com a Rádio Cultura FM e afirmou que irá pedir a anulação do negócio e devolução dos valores pagos em função da construtora ter omitido que o terreno estava sobre a área em disputa.

Já o advogado da construtora afirmou que eles pretendem provar que a área não se encontra no local delimitado pelo laudo da FUNAI. Segundo ele, isso foi confirmado pelo juiz na decisão liminar que permitiu o início das obras. Ainda segundo o Dr Daniel, que preferiu não gravar entrevista, a área em litígio não chegou a ser licitada pela Terracap, portanto, nenhuma construtora teria iniciado obras dentro da reserva. Sendo assim, o entendimento da Emplavi é de que os conflitos seriam “um equívoco dos indígenas” que estariam pleiteando área fora da demarcação indicada pela FUNAI.

O laudo elaborado pela FUNAI à pedido da justiça, afirma que a ocupação indígena na região remonta à fins da decada de 50 e que a área foi delimitada ainda na década de 90. No entanto, a demarcação é parte de um processo administrativo de nº 1.607 do ano de 1996 que, relatam os técnicos, desapareceu de "dentro da própria agência indigenista oficial".


Ouça abaixo o podcast com a reportagem completa que foi ao ar hoje no Cultura Notícias, na Rádio Cultura FM 100,9:



(Trabalhos técnicos de Daniel Miojo)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Discurso de Dilma Roussef na cerimônia de instalação da Comissão da Verdade

"Ulisses Guimarães disse uma vez que 'a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem'. A verdade de fato não morre por ter sido escondida. A verdade é só e sobretudo o contrário do esquecimento" - Dilma Roussef, presidenta do Brasil na instalação da Comissão da Verdade. 

domingo, 6 de maio de 2012

Au Revoir Sarkozy

Au Revoir Sarkozy
O que podemos aprender com a experiência francesa.


Por Juliana Medeiros



Acompanho com interesse o processo eleitoral na França desde 2007, quando Sarkozy concorreu com a candidata da esquerda, Ségolène Royal. Esta, por sinal, ex-mulher do socialista François Hollande, eleito hoje presidente. Já naquela época me assustou a vitória do presidente Nicolas Sarkozy falando de “proteção às “origens e tradições” da França, contra uma candidata que falava em “integração, solidariedade e pluralismo”. 

Pode parecer distante, mas acompanhar o debate entre os candidatos na França é uma grande lição para nós brasileiros. Recomendo a quem tiver interesse, buscar os textos dos discursos (alguns disponíveis em português na internet) dos candidatos François Hollande, Jean-Luc Menlechón, Marine Le Pen e do agora derrotado Nicolas Sarkozy. Com todas as demonstrações de intolerância e xenofobia dos dois últimos, a corrida eleitoral francesa é uma aula de democracia, soberania e de autonomia do seu povo.

Não posso afirmar com certeza se isso acontece da mesma forma em outros países da Europa porque não acompanho seus processos eleitorais tão de perto, mas acredito que seja parecido, principalmente se observada a escolaridade média do europeu. Esse indicador social faz com que nenhum candidato na França possa prescindir de uma profunda formação política, do conhecimento detalhado das políticas públicas contidas em suas propostas, do domínio do discurso – não como mera ferramenta de retórica eleitoreira – mas sim de convencimento de um público que conhece sua história e que contextualiza essa história com o mundo em que vive, econômica e socialmente. E isso considerando que os candidatos falam hoje, em grande parte, para uma França também de imigrantes, miscigenados, pobres e desempregados.

Prova-se, acompanhando as eleições francesas, que a disputa se dá entre candidatos que sabem do que é constituído o seu povo: pessoas que passaram por uma escola de formação crítica. E que, independentemente do resultado, jamais poderão deixar de respeitar esse aspecto do eleitorado. E é justamente essa formação crítica que torna o processo eleitoral francês mais rico.

Não é possível, na França, subestimar a audiência. Há que se colocar as cartas na mesa e correr o risco.

Por outro lado, é humilhante perceber que em nosso país ainda são o “pão e circo” e o investimento pífio em educação, os fiéis da balança na disputa eleitoral. Aqui, não vale a profundidade do discurso, o conteúdo das propostas. Vale o “dom da oratória” e uma boa dose de “toma-lá-dá-cá”. Seja nos bastidores da política ou nas trocas simplórias voto a voto. E isso em todos os níveis, já que internamente, os partidos também costuram suas alianças visando seus próprios interesses, sem objetivar os resultados que pretendem alcançar.

O recém-nomeado Ministro do Trabalho, Brizola Neto, por exemplo, sente agora o peso desse jogo. Ainda que apoiado por maioria sindicalista (grupo que fez a diferença na França), precisa lidar com o racha em seu próprio partido, além de ter que se desviar a todo o momento de uma cobertura midiática nefasta, que juntos, talvez o impeçam de aplicar seu programa trabalhista. E o mais triste é que a rotina massacrante imposta à maioria do trabalhador brasileiro, não o deixará sequer perceber que isto está acontecendo. Salvo uma ou outra piada descontextualizada em programas de humor que hoje apenas cumprem um papel alienante – e assim como outros assuntos de suma importância para o cotidiano do trabalhador – um neto de Leonel Brizola no Ministério do Trabalho infelizmente, e provavelmente, passará despercebido.

Na França isso seria impossível, o cenário eleitoral obriga os candidatos a politizarem o discurso. A representante da Frente Nacional, Marine Le Pen, sentiu isso na pele. Passou a campanha tendo de explicar até onde suas propostas se alinhavam ou não às ideias do pai, Jean-Marie Le Pen, que sempre defendeu abertamente posturas radicais de direita, como a pena de morte e a oposição severa à imigração. Se ela tentasse ignorar esse fato, o eleitorado não o faria. Por aqui, filhos de conhecidos políticos, apenas cumprem o papel de perpetuar a dinastia de suas famílias no poder.

A média do eleitorado brasileiro, infelizmente, sequer conseguiria entender os debates entre candidatos franceses, recheados de referências históricas, de conceitos das ciências políticas e de dados estatísticos que são acompanhados diariamente pelos franceses. A transparência e o controle dos gastos públicos – e também dos meios de comunicação – são realidade há anos na França e estão naturalmente contidos no discurso de todos os candidatos, sem distinção. Ao contrário daqui, onde a publicidade e o controle são assuntos constrangedores aos quais estamos resistindo a nos adaptar.

Outra observação é que os candidatos na França, talvez justamente por conhecerem a formação política do  eleitorado, não estão em cima de muros ideológicos. No Brasil, convencionou-se dizer que “não se sabe mais o que é esquerda ou direita” afinal, o “mundo está em crise”. Talvez por isso, os candidatos por aqui costumam se denominar  “de esquerda”, de uma maneira genérica, sem identificar sua raiz ideológica. E os de direita, salvo raras exceções, passaram todos a se autodenominarem “de centro-esquerda” ou “de centro”, ou ainda, “democratas”! Vale tudo para fugir da maldição da “direita”. A mídia, de maioria elitista, tenta disfarçar o peso de sua influência em nosso processo eleitoral com a manipulação desses estereótipos. Por isso, apesar das críticas diárias que recheiam a programação, está na moda ser “de esquerda” no Brasil.

A França que dá adeus à Sarkozy, prova que a prática política em lugares onde o povo não pode ser facilmente enganado, exige que os candidatos se assumam como realmente são: “socialistas”, ou “revolucionários”, ou até de “ultra-direita”. Cada um crava sua bandeira no peito com orgulho e a usa para dar o tom de sua proposta, sempre absolutamente alinhada à sua coloração.

François Hollande não é o candidato dos sonhos dos movimentos de Occupy que vem sacudindo alguns países da Europa e do mundo desde o ano passado. Este seria Mélenchon, da Front de Gauche, que alcançou impressionantes 11% dos votos (uma verdadeira zebra que desequilibrou a disputa polarizada entre os dois principais candidatos). O novo presidente da França tem ainda contra si uma estranha inclinação ao modelo Obama de governar que, mesmo considerado “populista” em seu próprio país, não tem sido muito diferente da política bélico-expansionista dos ex-presidentes Reagan, Clinton e Bush, pai e filho. E com base nessa política, é bom lembrar, os mais de 50 mil civis mortos na Líbia, não poderão comemorar a derrota de Sarkozy.

No entanto, mesmo se levarmos em conta o crescimento vertiginoso dos votos de ultra-direita obtidos por Marine Le Pen no primeiro turno, pode-se dizer também que a maioria, na França, rejeitou o discurso inspirado em certa eugenia, afinado com um tom negacionista, do ex-presidente Sarkozy. A França ainda não sabe por onde ir, mas hoje declarou que sabe bem por onde não quer ir.

Hoje, 06 de maio de 2012, a França declara não querer ser dividida, intolerante, xenófoba. E afirma também que não aceita corroborar a disputa por espaços no mercado de trabalho contra os estrangeiros que buscam abrigo no país da Revolução Francesa. Pedaço da história, aliás, que pode ser descrito por cidadão de qualquer origem que tenha passado pelos bancos escolares na França. E não por acaso também esteve, com leituras diferentes, presente nos discursos. Para os franceses, o conhecimento é prioridade e, mais ainda, é imprescindível dominar o conteúdo histórico mais fortemente inserido na cultura francesa.

Infelizmente, em terras tupiniquins, o conjunto do nosso sistema de educação, os livros didáticos, a formação básica dos professores, o investimento nas escolas (incluindo as privadas, ainda que melhores que as públicas), impedem os brasileiros de fazerem o link dos fatos históricos com acontecimentos cotidianos. Vítimas da imprudência de seus próprios representantes, boa parte dos brasileiros, de qualquer idade, não consegue entender porque as eleições na França podem fazer diferença em suas vidas aqui. E porque num mundo globalizado, será cada vez mais necessário acompanhar as eleições do país que hoje ocupa o 5ª lugar dentre as potências econômicas mundiais, ou até mesmo da longínqua Grécia, que também enfrenta eleições em meio à uma grave crise econômica. Mas não duvidem, não só os franceses, mas quase todos os continentes acompanharam de perto as eleições brasileiras e sabem do peso e significado histórico de termos tido um ex-operário e hoje termos uma ex-guerrilheira como presidentes.

Com a vitória de Hollande dá para ter esperanças em um retorno às origens, à França da Liberté, Igualité e Fraternité. E esperanças, talvez, de que toda essa transformação na Europa, impulsionada por movimentos populares, nos inspire também a lutar por uma formação mais crítica, mais humanista e mais internacionalista.

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* Juliana Medeiros é jornalista e editora de notícias da Rádio Cultura FM em Brasília.

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