Estão nas bancas três novas edições de revistas com reportagens que abordam o referendo de 23 de outubro. Todas, ao contrário do que fez a Veja na semana passada, buscaram ouvir os dois lados e apresentam as informações de modo a deixar que o leitor decida se quer ou não a proibição do comércio de armas e munição para civis.
A revista IstoÉ vem com a frase "Só você decide" na capa. A matéria traz 7 razões para se votar "sim" e 7 para se votar "não", todas apresentadas por pessoas que já viveram algum tipo de situação envolvendo armas de fogo, a maioria vítimas ou parentes de vítimas. A revista também esclarece dúvidas e entrevista os presidentes das duas frentes parlamentares.
Em IstoÉ Dinheiro, o foco é sobre o impacto econômico da proibição para o mercado de pistolas e munição. A reportagem derruba o argumento de que suspender a venda de armas e balas para civis vá gerar mais desemprego:
"Quando se olha com lupa a possibilidade de perda de empregos, argumento crucial dos fabricantes, nota-se algum exagero. Eles calculam o desemprego de 27 a 40 mil pessoas ao longo de toda a cadeia produtiva. É estimativa inchada. As cinco empresas do ramo empregam, hoje, pouco mais de 6500 profissionais. Historicamente, à medida que o porte e a posse de armas são restringidos, a tendência é a reconversão da produção e comércio para outros produtos. É o que ocorre, já há algum tempo", diz a matéria.
A Revista Época traz reportagem de capa com o título "10 Mitos sobre as Armas", esclarecendo questões polêmicas com profundidade e isenção. Ao investigar a tese "Mais armas = menos crimes", por exemplo, a revista levantou toda a trajetória do seu autor:
"Trata-se de uma fraude. A pesquisa que diz isso foi criada pelo economista americano John R. Lott, em 1998, no livro chamado Mais Armas, menos Crime. (...) Estatísticos e sociólogos, porém, perceberam que os cálculos de Lott foram criados de forma a que os números disponíveis produzissem sempre determinado resultado. (...) Um painel da NAS (a Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos) concluiu que não havia evidência suficiente para sustentar as conclusões de Lott. Até aí, era apenas uma polêmica científica. O caso se agravou quando se descobriu que um número que Lott citara era inventado. (...) Pressionado para apresentar o estudo em detalhes, ele no início disse que o trabalho era de outro estudioso. Depois, alegou que ele próprio havia feito a pesquisa, mas perdera o disco rígido do computador que continha os dados. Pediram a Lott, então, o material bruto, anotações em papel ou registros de seus ajudantes, mas eles não apareceram. O economista americano não conseguiu dizer sequer quem teria financiado tal estudo. As desculpas foram definidas num editorial da revista Science como equivalentes a "o cachorro comeu minha lição de casa". Para se defender, em sites e blogs, o economista até hoje tem o hábito de conectar-se usando pseudônimos para defender a si próprio e xingar os adversários. (...) Longe das maiores universidades, onde não é mais levado a sério, Lott se dedica a aparecer em programas de rádio e trabalha numa ONG ligada ao movimento neoconservador."
"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
Época e IstoÉ Dinheiro optam pela ética ao abordar referendo
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