"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

domingo, 3 de setembro de 2006

Sir Richard Francis Burton

Sir Richard Burton é uma lenda. Não o ator que é Richard Burton mas não é Sir. Falo do explorador, tradutor e diplomata britânico nascido em 1821, co-descobridor das nascentes do Nilo, tradutor das Mil e Uma Noites e dos Lusíadas para o inglês, o infiel que viajou disfarçado para Meca na época em que isso signifcava morte caso fosse descoberto.

Esse cara é o verdadeiro aventureiro. Ele explorou o mundo na época em que muito ainda havia para ser explorado. Após viver na Índia por 7 anos, resolveu fazer a peregrinação sagrada dos mulçumanos para Meca. Caso fosse descoberto, como um infiel europeu, seria imediatamente executado. Ele passou pela circuncisão, estudou o árabe para falar sem sotaque e todos os intrincados detalhes do ritual para ter chances de sobreviver. E ele foi e voltou.

Depois foi explorar a África, indo por lugares desconhecidos ou proibidos para os europeus. Por lá explorou os lagos da África central na expedição que acabou por descobrir as míticas nascentes do Nilo, no Lago Victoria. Além disso ele falava vinte e nove línguas e dialetos!

Sir Richard traduziu o Kama Sutra para o inglês. Também traduziu as Mil e Uma Noites, o que foi importante porque o ocidente só conhecia a tradução do francês Antoine Galland, que além de incluir histórias e passagens que não estavam no livro (como a de Ali Babá), ainda "moralizou" a obra, retirando sexo, palavrões e outras coisas. Até hoje a maioria das traduções para o português das Mil e Uma Noites são na verdade traduções da versão "açucarada" de Galland, considerada mais "adequada". Sir Richard traduziu sem realizar censura ou incluir passagens. Aliás, ele era bastante liberal.

Enquanto viajava tomava notas dos costumes dos povos, inclusive sexuais. Ele estava pouco ligando pra moralidade vitoriana que imperava, e tinha um certo desprezo por autoridade.

Quebrou diversos tabus. Foi expulso de Oxford na juventude. Bebia e usava drogas. Participou de batalhas e matou homens em guerras. Depois ele traduziu os Lusíadas (morou no Brasil, em Santos, uma época) e mais um grande número de obras. Era um prolífico escritor.

Sobreviveu à ferimentos espetaculares, como um lança atravessada em seu rosto. E ainda dava respostas espertinhas, como quando um médico perguntou: "Como o senhor se sente quando mata um homem?" e ele respondeu "Bastante bem. E você, doutor?"

Enfim, o sujeito correu o mundo e era altamente inteligente. Aventureiro, explorador, letrado, com grande interesse em história natural e antropologia. Anotou abundantemente as coisas. Imagina como ficou o livro de memórias deste cara.

Felizmente ele escreveu este livro antes de morrer de infarte aos setenta anos (morreu de velho depois de correr os maiores perigos do mundo). Infelizmente nunca o leremos. Sua esposa teve a coragem de o queimar assim que ele morreu, pois estava cheio de passagens consideradas "imorais". Dá pra acreditar? Esse é um dos top 10 livros que nunca leremos, mas que eu queria muito ter lido...

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