"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"Estão bombardeando 1,5 milhão de pessoas enjauladas"



Bombardearam o mercado central de frutas de Gaza ... ao mesmo tempo, bombardearam um prédio de apartamentos ... é tipo o inferno aqui agora ... já são mais de 500 mortos e 2500 feridos, dos quais 50% são crianças ... há feridas que você não gostaria de ver ... crianças chegando com o abdômen aberto ... Entre as centenas que vimos entrando no hospital, um era militar do Hamas .. qualquer um que queira apresentar isso como uma guerra contra outro exército está mentindo ... é uma guerra total contra a população civil ... eles estão bombardeando 1 milhão e meio de pessoas que estão enjauladas.

Quem fala é Mads Gilbert, médico noruguês que está no meio do inferno em Gaza, dando notícias reais, ao invés de repetir os boletins que vemos na grande mídia.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

AI-5 deu início aos "Anos de Chumbo" da ditadura militar

da Folha Online

No dia 13 de dezembro de 1968, há 40 anos, o governo de Costa e Silva baixava o Ato Institucional nº5. O decreto, que vigoraria por prazo indefinido, dava ao presidente o poder de cassar políticos, fechar o Congresso, suspender o habeas corpus, impor censura prévia à imprensa, aposentar compulsoriamente professores universitários e prender dissidentes.

Naquela sexta-feira 13, ficaram para trás o mundo das passeatas, da irreverência anárquica, dos festivais de música e do tropicalismo e se intensificaram as cassações, o exílio, a tortura e a censura. A repressão passou a ser a regra do jogo a partir do episódio, que ficou conhecido como "o golpe dentro do golpe".

Leia abaixo trecho do livro "A História do Brasil no Século 20: 1960-1980" , da Publifolha, sobre a decretação do AI-5. O livro traça um panorama das décadas de 60 e 70, desde a eleição de Jânio Quadros, passando por João Goulart, pela ditadura, pela tortura e pela guerrilha, até a fundação do PT, em 1980. Saiba mais sobre o livro e sobre a série Folha Explica A História do Brasil no Século 20.


Leia abaixo trecho do livro sobre a decretação do AI-5:


A DECRETAÇÃO DO AI-5

Os militares linha-dura, com influência crescente no governo, mal escondiam o desígnio de fazer o regime caminhar para o fechamento. Só precisavam de um pretexto para pressionar o presidente. A oportunidade surgiu no início de setembro, com um discurso, na Câmara, do deputado Marcio Moreira Alves, do MDB da Guanabara.

Moreira Alves criticava a invasão da Universidade de Brasília, no final de agosto, quando tropas da Polícia Militar, empunhando metralhadoras, prenderam alunos e bateram em deputados. A ação foi considerada uma vitória dos radicais, pois pouco tempo antes o próprio presidente demonstrara procurar entendimento com os estudantes ao receber em seu gabinete uma comissão escolhida durante a Passeata dos 100 Mil.

Em protesto contra a invasão, Moreira Alves propôs um boicote ao tradicional desfile do Dia da Independência, em 7 de setembro. Sugeriu também que as moças não namorassem os jovens oficiais enquanto durasse a repressão. A fala do deputado deveria passar despercebida: o plenário estava quase vazio, e a imprensa, salvo um registro na Folha de S.Paulo, ignorou a intervenção. O próprio deputado, 25 anos depois, consideraria aquele um "discurso inútil", com "recomendações vazias". Mas nos quartéis, onde circularam muitas cópias da transcrição do discurso, a reação foi de indignação.

Representantes da linha dura, os três ministros militares aproveitaram o clima de inquietação entre os oficiais para tentar punir Moreira Alves. Para tanto, precisavam da anuência do Congresso, uma vez que, como deputado, o jovem emedebista gozava de imunidade parlamentar. Pelos cálculos dos ministros, não seria difícil, com a ajuda da Arena, obter autorização para que a imunidade de Moreira Alves fosse suspensa.

Mas a Comissão de Justiça da Câmara, em que a Arena tinha maioria, rejeitou o pedido. À frustração dos radicais se somava o agravamento do confronto entre os estudantes e a repressão. No início de outubro, a violência tornou a eclodir, dessa vez em São Paulo. O palco dos choques foi o centro da cidade, na rua Maria Antônia, com a Faculdade de Filosofia da USP numa calçada e a Universidade Mackenzie na outra. Tratava-se de redutos da esquerda e da direita, respectivamente. Os dois grupos se enfrentaram quando alunos do Mackenzie, com apoio do CCC, atacaram os da USP, que levantavam, junto a transeuntes, recursos para financiar o XXX Congresso da UNE. Houve pedradas, explosões de bombas caseiras, uso de gás lacrimogêneo e tiros. Um estudante secundarista, que ajudava os alunos de filosofia, morreu baleado.

Apesar das condições adversas, as lideranças estudantis decidiram levar adiante o congresso. Em meados de outubro, cerca de mil jovens se reuniram num sítio em Ibiúna, São Paulo. Operando na ilegalidade, a UNE planejara um encontro clandestino. A grande concentração de pessoas num local pacato, porém, chamou a atenção da polícia, e o evento terminou com a prisão de todos os participantes.

Vitoriosa, a linha dura não sossegou. Continuava insatisfeita com o encaminhamento do caso Moreira Alves. Sob pressão dos radicais, o presidente Costa e Silva cedeu, alterando a composição da Comissão de Justiça, de modo a viabilizar a suspensão da imunidade do deputado. A autorização para punir Moreira Alves foi finalmente concedida em 11 de dezembro, mais de três meses depois do discurso.

O episódio talvez não merecesse mais que uma nota de rodapé da história do Brasil, não fosse o surpreendente desdobramento que teria. No dia seguinte, a proposta foi rejeitada pelo plenário da Câmara, apesar da maioria arenista. Os deputados festejaram o resultado, sem saber que aquela seria a última manifestação de alegria de 1968. Na manhã de 13 de dezembro, uma sexta-feira, enquanto a população lia nas manchetes dos jornais relatos da decisão histórica da Câmara, o presidente Costa e Silva, em resposta à atitude audaciosa dos políticos, preparava-se para baixar o ato institucional que jogaria o país numa ditadura escancarada.

Historiadores debatem se Costa e Silva usou os radicais ou se foi por eles usado. As hipóteses não se excluem. O presidente tinha uma relação de dependência mútua com a linha dura. "Colocara-se como estuário das frustrações de todos aqueles que achavam
necessário aprofundar o processo arbitrário e punitivo", como escreveu Elio Gaspari. Mas nem sua trajetória foi sempre próxima desse grupo, nem sua biografia, até os anos 50, indicava o caminho que seguiria.

Gaúcho, Costa e Silva estudara em Porto Alegre, no Colégio Militar, onde foi colega de Castello Branco. Enquanto o "Cearense" se dedicava aos estudos, Costa e Silva se destacava nos esportes. Sem ser aluno brilhante, não se saiu mal na escola. Mais tarde, acomodou-se intelectualmente, preferindo corridas de cavalo, jogo de pôquer e palavras cruzadas a livros. Sempre se envolveu com a política que se fazia nos quartéis. No levante frustrado do Forte de Copacabana, em 1922, ficou ao lado dos tenentes revoltosos e acabou preso por um curto período. Na Revolução de 30, que pôs fim à República Velha, estava alinhado com as forças de Getúlio Vargas. Em 1955, chegou a defender a democracia, ao apoiar o general Lott no contragolpe que garantiu a posse de Juscelino.

O caminho do poder, no entanto, passou pela associação com os radicais, e, naquele 13 de dezembro, essa circunstância pesou mais que o passado do presidente. Diante do revés do governo no Congresso, Costa e Silva convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, do qual faziam parte o alto escalão do Executivo, o chefe do Estado-maior das Forças Armadas e o chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI). O texto do AI-5, do ministro da Justiça, Gama e Silva, foi colocado em votação. Com exceção de Pedro Aleixo, vice-presidente, todos assinaram o documento, desde o chefe do SNI, Emílio Garrastazu Médici, até o ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto.

O AI-5, que, ao contrário dos atos anteriores, vigoraria por prazo indefinido, dava ao presidente, entre outras prerrogativas, o poder de cassar políticos, fechar o Congresso, suspender o habeas corpus, impor censura prévia à imprensa, aposentar compulsoriamente professores universitários, prender dissidentes. Costa e Silva faria tudo isso. Qualquer vestígio de oposição seria sufocado. Como definiria a crônica política, o AI-5 foi o golpe dentro do golpe, o início dos Anos de Chumbo.

Esperança, por Ferreira Gullar

COISAS DA TERRA

Todas as coisas de que falo estão na cidade
entre o céu e a terra.

São todas elas coisas perecíveis
e eternas como o teu riso
a palavra solidária
minha mão aberta
ou este esquecido cheiro de cabelo
que volta
e acende sua flama inesperada
no coração de maio.

Todas as coisas de que falo são de carne
como o verão e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo,
estão dispersas como o arno mercado, nas oficinas,
nas ruas, nos hotéis de viagem.

São coisas, todas elas,cotidianas, como bocas
e mãos, sonhos, greves,
denúncias,
acidentes de trabalho e do amor. Coisas,
de que falam os jornais
às vezes tão rudes
às vezes tão escuras
que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.

Mas é nelas que te vejo pulsando,
mundo novo,
ainda em estado de soluços e esperança.

Ferreira Gullar

sábado, 20 de dezembro de 2008

Cinco redes de comunicação reúnem 39% dos veículos

No Brasil, o Sistema Central de Mídia é estruturado a partir das redes nacionais de televisão. Dos 2.385 veículos ligados a uma das 55 redes nacionais de rádio e TV do País, 39% (934) possuem relação com as cinco maiores redes privadas de televisão – Globo, SBT, Record, Band ou Rede TV!. Esse percentual representa, por exemplo, a quantidade de veículos afiliados de cobertura nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O quinteto vincula-se a quase 10% dos 9.475 veículos de mídia identificados pelo projeto independente ‘Donos da Mídia’.

À Rede Globo de Televisão estão afiliados 340 veículos, entre emissoras de rádio, televisão e impressos espalhados em todo o território nacional. Em segundo lugar está o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), com 194 veículos. A Rede Bandeirantes (Band) assume a terceira posição, com 166 veículos afiliados em quase todos os estados. Em quarto lugar aparece a Rede Record, que é afiliada a 150 veículos de comunicação, inclusive o jornal de maior tiragem do País, o semanário Folha Universal. Já a Rede TV! está ligada a 84 veículos de comunicação (veja tabela).

“Constatou-se que o predomínio da Rede Globo tem a ver não apenas com a quantidade de veículos associados, mas também com a diversidade dos suportes. Ou seja, os grupos ligados ao conglomerado carioca controlavam não só mais TVs como mais rádios e jornais”, afirmam os coordenadores do projeto ‘Donos da Mídia’, inicialmente idealizado pelo jornalista e escritor Daniel Herz. Ele é o autor do polêmico livro "A História Secreta da Rede Globo", no qual denuncia a suposta entrada de capital estrangeiro na construção da organização.

De acordo com os organizadores do projeto, o Brasil possui um número muito maior de veículos do que o apresentado, mas o projeto optou por identificar e analisar somente aqueles cujos conteúdos são distribuídos ao público diária ou semanalmente de forma massiva e por pessoas jurídicas constituídas.

Desde a década de 60, a configuração do sistema de redes nacionais foi construída com duas características básicas: forte apoio dos recursos públicos e um modelo de negócios baseado na afiliação de grupos regionais privados a esses conglomerados nacionais. Modelo que, segundo Celso Schröder, é absolutamente insólito no cenário mundial atual. “Os demais países do mundo sempre lutaram pela descentralização, enquanto o Brasil optou pelo modelo da afiliação. Se por um lado isso foi um sucesso total do ponto de vista econômico e empresarial, foi um fracasso para a cultura e a produção independente”, afirma Schröder, coordenador geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

“O Brasil tem uma cultura reconhecidamente rica, mas que se torna empobrecida pela verticalização e unificação dos discursos. E o custo disso é a inibição cultural”, diz o coordenador. Para ele, ‘Donos da Mídia’ confirmou a promiscuidade entre comunicação e política. “Temos famílias inteiras dominando a comunicação de grandes regiões”, diz Schröder, ao lembrar que 271 políticos brasileiros são sócios ou diretores de empresas de radiodifusão no País.

As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste possuem 40% dos veículos ligados às chamadas redes, conjunto de emissoras de rádio ou TV que transmitem uma mesma programação gerada a partir de uma estação principal (cabeça-de-rede). “Seja por uma questão territorial ou política, as zonas mais pobres do Brasil são aquelas que possuem maior subordinação às redes oligopolistas de televisão”, destaca o coordenador do projeto ‘Donos da Mídia’, James Görgen, em artigo sobre o tema (veja tabela).

Schröder também acredita que isso é prova de que para democratizar não basta somente a diversidade. “É preciso, porém, atribuir um estatuto social pelo qual se pode ‘fiscalizar’ essa relação promiscua entre comunicação e política”, afirma o defensor da democratização da comunicação no Brasil.

”O governo hoje tem a chance inédita de fazer uma discussão que nunca houve, sobre a democratização da comunicação. Podemos contar com a democracia e com os diversos instrumentos tecnológicos que permitem a discussão”, conclui Celso Schröder.

Projeto Donos da Mídia

O Projeto Donos da Mídia reúne dados públicos e informações fornecidas pelos grupos de mídia e mostra um panorama completo do setor no Brasil. O projeto detalha diversas informações sobre emissoras e retransmissoras de TV, rádios AM, FM, comunitárias, operadores de TV a cabo, canais de TV por assinatura, principais revistas e jornais impressos, entre outros veículos. O projeto nasceu na década de 80, a partir de um trabalho pioneiro elaborado pelo jornalista Daniel Herz.

No site do projeto, o internauta encontra um amplo quadro com informações sobre a comunicação social brasileira. No site foram mapeadas as relações econômicas entre os grupos privados e os regimes de informação, os quais as populações estão submetidas, aparecem identificados e analisados de forma preliminar.

Leia mais:

271 políticos são sócios de empresas de comunicação

Milton Júnior
Do Contas Abertas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Manifestantes ocupam sede da Petrobrás e exigem cancelamento da 10ª rodada de leilões



Mais de 500 pessoas acabam de ocupar a sede administrativa da Petrobrás, na Avenida Chile, Centro do Rio, nessa manhã de quarta, 17 de dezembro. Os manifestantes exigem o cancelamento dos leilões, em especial, a 10ª Rodada de Licitações do Petróleo e Gás brasileiros, que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) convocou para os dias 18 e 19 desse mês. A mudança da legislação que regula o setor de petróleo e gás, permitindo a privatização desses recursos minerais, é outra reivindicação da ocupação.

Os manifestantes solicitam a realização de uma reunião com o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, para que possam debater o cancelamento do leilão marcado para começar amanhã. Para a Campanha Nacional pelo Petróleo, o Governo Federal deve manter o compromisso de destinar os recursos do petróleo para suprir as necessidades básicas do povo brasileiro, como educação, saúde, reforma agrária e não destiná-los às multinacionais.

Serão ofertados na 10ª rodada 130 blocos exploratórios em terra, dividido em oito setores, de sete bacias sedimentares: Sergipe-Alagoas; Amazonas; Paraná; Potiguar; Parecis; Recôncavo e São Francisco. No total, serão oferecidos aproximadamente 70 mil quilômetros quadrados em áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural. Atualmente, o Brasil é o país que dispõe da maior área sedimentar com potencial para petróleo e/ou gás ainda por explorar no mundo, segundo a própria ANP.

Os sindicatos de petroleiros também estão ingressando na Justiça com Ações Civis Públicas, cobrando a suspensão da 10ª Rodada de Licitações da ANP.

Além das manifestações, está correndo um abaixo-assinado exigindo o fim dos leilões e a recuperação da Petrobrás 100% estatal.

MST, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD),Sindicato dos Petroleiros do Rio, FNP, FUP, Via Campesina, Assembléia Popular, CONLUTAS, INTERSINDICAL, UNE-FOE, Movimento Estudantil.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Gilmar Mendes entrevistado na TV Dantas


Como já sabem a torcida do Corinthians e os leitores do Mello, do Luiz Nassif e do Paulo Henrique Amorim, o Roda Viva, da TV Cultura, vai ao ar nesta segunda com uma entrevista a Gilmar Dantas Mendes, o presidente do Supremo Tribunal Federal. Até mesmo para os padrões do horrendo jornalismo que se pratica no Brasil, é vergonhosa a operação realizada pela TV Cultura com o Roda Viva desta segunda. Os escalados para entrevistar Gilmar Mendes são Eliane “vacinem-se contra a febre amarela!” Cantanhêde, Reinaldo Azevedo, cuja ignorância, truculência e hidrofobia dispensam comentários, Carlos Marchi, do Estadão e Márcio Chaer, editor do site Consultor Jurídico, de conhecidas ligações com Gilmar Dantas Mendes.

O Roda Viva escalou quatro levantadores de fazer inveja a Ricardinho. A TV Cultura realizaria algo mais próximo do jornalismo se escalasse como entrevistadores quatro capangas ou funcionários de Mendes. A obviedade da manobra terminou, pelo que parece, saindo pela culatra. Uma enxurrada de protestos chegou ao site da TV Cultura.

Mas a coisa ainda piora. O ombudsman – cargo que Houaiss define como jornalista que, de maneira independente, critica o material publicado e responde às queixas dos leitores – resolveu tecer suas próprias teorias sobre a avalanche de protestos que lhe chegaram. Num texto em que abdica completamente da função para a qual foi contratado, Ernesto Rodrigues afirma, sobre os emails, que em todos eles, exatas 10380 palavras, independentemente se eram de remetentes simpáticos ou não à bancada escolhida de entrevistadores, não houve uma única linha com sugestões de perguntas, cobranças ou acusações específicas a serem feitas ao ministro Gilmar Mendes na entrevista. O que só reforça a sensação de que esses telespectadores remetentes, em especial, não pareciam muito interessados no conteúdo da entrevista. Parece brincadeira, mas essas são as palavras de um ombudsman -- um sujeito que é pago para te representar, leitor.

Tendo acompanhado a reação na internet, fica difícil acreditar que nem um único email contivesse sugestões de perguntas a serem feitas a Gilmar Dantas Mendes. No espírito, então, de colaborar com o ombudsman da TV Cultura, enviei-lhe o seguinte email:

Prezado Jornalista Ernesto Rodrigues:

No texto em que Sr. comenta a indignação que tomou conta dos telespectadores da TV Cultura ante a escalação da bancada que entrevistará Gilmar Mendes nesta segunda-feira no Roda Viva, o Sr. afirma que nem um único email continha sugestões de perguntas a serem feitas ao entrevistado. Confesso que não entendi a frase acerca dos emails conterem 10380 palavras, talvez por deficiência minha na descifração de anacolutos. Confio que este email não repetirá o cabalístico número.

No espírito de corrigir o que certamente terá sido uma indesculpável desatenção dos missivistas, incluo aqui 25 perguntas que eu – e, tenho certeza, muita gente mais – gostaria que fossem feitas ao Presidente Gilmar Mendes.

1. O sr. sabe algo sobre o assassinato de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, jornalista que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso?

2. Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2000, quando o sr. era advogado-geral da União?
3. Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2004, quando o sr. já era presidente ministro do Supremo Tribunal Federal?

4. Quantas vezes o sr. acompanhou ministros de Fernando Henrique Cardoso a Diamantino, para inauguração de obras?

5. O sr. tem relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel? Qual a natureza dessa relação?

6. Quantos contratos sem licitação recebeu o Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual o sr. é acionista, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso?

7. O sr. considera ética a sanção, em primeiro de abril de 2002, de lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro pago em tributos pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, da qual o sr. é um dos donos, em descontos para os alunos?

8. O sr. tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?

9. O sr. tem algo a dizer acerca da afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria “facilidades”?

10. O segundo habeas corpus que o sr. concedeu a Daniel Dantas foi posterior à apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal. O sr. não considera uma ação continuada de flagrante de suborno uma obstrução de justiça que requer prisão preventiva?

11. Sendo negativa a resposta, para que serve o artigo 312 do Código de Processo Penal segundo a opinião do sr.?

12. Por que o sr. se empenhou no afastamento do Dr. Paulo Lacerda da ABIN?

13. Por que o sr. acusou a ABIN de grampeá-lo e até hoje não apresentou uma única prova? A presunção de inocência só vale em certos casos?

14. Qual a resposta do sr. à objeção de que o seu tratamento do caso Dantas contraria claramente a súmula 691 do próprio STF?

15. O sr. conhece alguma democracia no mundo em que a Suprema Corte legisle sobre o uso de algemas?

16. O sr. conhece alguma Suprema Corte do planeta que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas?

17. Por que o sr. disse que o deputado Raul Jungmann foi acusado “escandalosamente” antes de que qualquer documentação fosse apresentada?

18. O sr. afirmou que iria chamar Lula “às falas”. O sr. acredita que essa é uma forma adequada de se dirigir ao Presidente da República? O sr. conhece alguma democracia onde o Presidente da Suprema Corte chame o Presidente da República “às falas”?

19. O sr. tem alguma idéia de por que a Desembargadora Suzana Camargo, depois de fazer uma acusação gravíssima – e sem provas – ao Juiz Fausto de Sanctis, pediu que a "esquecessem"?

20. É verdade que o sr., quando era Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais?

21. Quais são as suas relações com o site Consultor Jurídico? O sr. tem ciência das relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT?

22. É correta a informação publicada pela Revista Época no dia 22/04/2002, na página 40, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, o sr., pagou R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o sr. mesmo é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? O sr. considera isso ético?

23. O sr. mantém a afirmação de que o sistema judiciário brasileiro é um “manicômio”?

24. Por que o sr. se opôs à investigação das contas de Paulo Maluf no exterior?

25. Já apareceu alguma prova do grampo que o sr. e o Senador Demóstenes denunciaram? Não há nenhum áudio, nada?

Se pelo menos duas ou três dessas perguntas forem feitas ao entrevistado nesta segunda-feira, caro jornalista, eu me juntarei a V. Sra. na avaliação de que a revolta que se viu na internet não é representativa do pensamento da maioria dos telespectadores do Roda Viva.

Atenciosamente, me despeço, desejando boa sorte à sua credibilidade,

Idelber Avelar

As 101 vidas de Niemeyer

Hoje, no aniversário do arquiteto, o Correio apresenta uma cronologia de fatos do mundo e feitos do mestre que marcaram esse período:

Érica Montenegro
Da equipe do Correio

O arquiteto Oscar Niemeyer completa 101 anos hoje. Neste período, viu duas guerras mundiais e dezenas de revoluções. Ergueu mais de 500 edifícios. Revoltou-se com injustiças. Assinou manifestos. Foi homenageado com os mais importantes prêmios de arquitetura do mundo. Casou-se duas vezes. Teve uma filha. Inventou prédios-monumento para Brasília, para capitais cosmopolitas e para municípios do interior. Conviveu com intelectuais, artistas, presidentes, chefes de Estado e operários. Filiou-se ao Partido Comunista. Desfiliou-se. Permaneceu acreditando que a desigualdade entre as pessoas é um dos piores males da sociedade. Fez desenhos no ar. Fumou cigarrilhas. Domou o concreto. Acrescentou curvas brasileiras ao mundo. Construiu. No aniversário de 101 anos do poeta das formas, o Correio apresenta uma pequena coleção de fatos do mundo e feitos do artista durante este período.
1907 – O escultor do concreto nasce em 15 de dezembro, no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina de Almeida de Niemeyer Soares.
1910 – Começa a Revolução Mexicana. Intelectuais, classe média urbana, operários e agricultores lutam contra a ditadura do general Porfirio Díaz
1916 – Einstein divulga a Teoria Geral da Relatividade. Os estudos de Einstein eram na área da física, mas o bordão "Tudo é relativo" influenciaria todo o pensamento da humanidade.
1917 – Entre fevereiro e outubro, explode a Revolução Russa. Os operários querem o controle das fábricas. Os camponeses, a divisão de terras de maneira igualitária. Os soldados, o fim das guerras intervencionistas.
1918 – Acaba a Primeira Guerra Mundial iniciada quatro anos antes. Saldo: 10 milhões de mortos.
1919 – Walter Gropius cria a Bauhaus, escola alemã de arquitetura e artes que se tornaria referência. Mais tarde, Niemeyer criticaria a preocupação da Bauhaus com a reprodução em série.
1922 – Na semana entre 13 e 18 de fevereiro, os paulistas ficam escandalizados com a Semana de Arte Moderna. A exposição tem quadros de Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e Anita Malfatti, entre outros. Nos saraus, o público vaia os poemas de Mário e Oswald de Andrade.
1923 – O americano Edwin Powell Hubble descobre que o universo é maior que a Via Láctea.
1925/1927 – O Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes, percorre o país em um movimento de insatisfação com a República Velha.
1928 – Niemeyer se casa com Annita Baldo. Na França, o arquiteto Le Corbusier constrói a Villa Savoye e formaliza os principais pontos de uma nova linguagem arquitetônica: construção sobre pilotis, terraço-jardim, janelas de fora a fora e economia de colunas.
1929 – Oscar Niemeyer entra para a escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. O mundo está convulsionado pela crise econômica.
1930 – Getúlio Vargas assume a Presidência da República depois de um golpe de estado que depôs o paulista Washington Luís.
1935 – Recém- formado, o arquiteto bate à porta do escritório de Lucio Costa e Carlos Leão. Ouve que não há vagas. Então, se oferece para trabalhar de graça. “Era um favor que eles me faziam”, diria depois.
1936 – Gustavo Capanema, ministro da Educação de Getúlio, encomenda ao escritório de Lucio Costa um prédio para o Ministério da Educação. Le Corbusier vem ao Brasil como consultor do projeto. Niemeyer é o homem designado para acompanhá-lo. Durante o encontro, faz sugestões – aumentar a altura dos pilotis, colocar brises-soleil nas janelas e ajardinar a cobertura, que são acatadas.
1937 – Pablo Picasso pinta Guernica em protesto à Guerra Civil Espanhola. Niemeyer faz seu primeiro projeto-solo, o prédio da Obra do Berço no Rio de Janeiro.
1939 – Começa a Segunda Guerra Mundial, a mais sangrenta da história. O conflito só acabaria em 1945 e deixaria mais de 33,4 milhões de mortos. O fim da guerra inauguraria uma nova divisão de forças no mundo. De um lado, o bloco socialista liderado pela União Soviética. Do outro, o capitalista sob o comando dos Estados Unidos.
1940 – Em um jantar, o arquiteto conhece Juscelino Kubitschek , então prefeito de Belo Horizonte. No encontro, os dois conversam sobre propostas para ocupar as cercanias da Lagoa da Pampulha, em Minas Gerais. Ao se despedir, Juscelino diz que deseja ver o projeto de Niemeyer no dia seguinte. Sob o signo da urgência, a parceria dos dois começa.
1942 – A igreja da Pampulha, uma das encomendas feitas por Juscelino, fica pronta. A revolução arquitetônica de Niemeyer estava iniciada. A partir da inventividade dele, o concreto teria de se submeter às curvas.
1945 – Niemeyer se filia ao Partido Comunista, que havia acabado de voltar à legalidade. Faz amizade com Prestes e cede seu antigo escritório para as reuniões do partido.
1947 – O brasileiro encontra em Nova York os mais importantes arquitetos do mundo para juntos desenharem o prédio sede das Nações Unidas. O projeto escolhido para servir como base para o definitivo é o de Oscar Niemeyer.
1950 – O trompetista Milles Davis lança o disco The birth of the cool. O charme melódico, a delicadeza das texturas e a pureza estética das músicas revigoram o jazz.
1956 – JK, então presidente da República, convida Niemeyer para construir Brasília
1957 – No aniversário de 50 anos de Niemeyer, Lucio Costa o cumprimenta com um texto: “Pelo volume da obra realizada, poderia ser setenta, mas na verdade continua com os mesmos trinta e tantos da época da Pampulha. E pelo jeito será sempre assim. Não se trata, contudo, de nenhum pacto com o diabo. (…) Ele convive com os amigos, brinca com os outros, assume compromissos da maior gravidade, mais já está longe – paira solto do chão, em pleno Parnaso. As horas e os dias não contam mais, não há o desgaste: pelo contrário, recebe carga, acumula vida.”
1959 – A bossa nova é oficialmente lançada com o disco Chega de Saudade, de João Gilberto. Frank Lloyd Wright, um dos pais da arquitetura da funcionalidade, morre aos 89 anos.
1960 – Brasília é inaugurada. Niemeyer não sobe no palanque das autoridades. Assiste à festa com os candangos, operários que vieram de toda parte do país para construir a cidade inventada.
1963 – John Kennedy é assassinado.
1964 – Em 1° de abril, militares derrubam o presidente João Goulart. Começa a ditadura no Brasil. Os tempos sombrios e a quantidade de convites para obras no exterior afastam Niemeyer do país.
1967 – O presidente francês Charles De Gaulle, a pedido do escritor e ministro André Malraux, faz um decreto concedendo a Niemeyer os mesmos direitos trabalhistas dos arquitetos franceses.
1968 – Niemeyer inaugura a sede da editora Mondadori, na Itália. Estudantes invadem as ruas de Paris com a palavra de ordem: É proibido proibir. A variação de tamanho no espaço entre as colunas da Mondadori dá um ritmo musical ao edifício.
1969 – Neil Armstrong, comandante da Apollo XI, pisa na lua.
1973 – Golpe de Estado no Chile derruba Salvador Allende e põe fim ao único governo marxista democrático da América Latina.
1974 – A Revolução dos Cravos, em Portugal, acaba com a longa ditadura iniciada por Antônio de Oliveira Salazar.
1975 – Em outubro, o jornalista Vladimir Herzog é assassinado na sede do Doi-Codi em São Paulo.
1976 – JK morre em um acidente de carro.
1978 – Em 11 de novembro, Niemeyer visita Brasília e reclama que a especulação imobiliária desfigurou a cidade e afastou os operários do centro. “Justamente ele (o operário), que construiu palácios e edifícios, nunca pôde e nem vai poder neles entrar”, afirmou em entrevista ao Correio.
1980 – O arquiteto volta ao Brasil e trabalha na construção do Memorial JK.
1983 – Inaugura o Sambódromo no Rio de Janeiro. Os arcos da passarela lembram uma mulher de costas, de bíquini.
1984 – O Brasil se agita com a idéia de voltar a eleger o presidente. A campanha Diretas Já! reúne um milhão de pessoas em comício no Rio de Janeiro e outro milhão em São Paulo. Mas a emenda de Dante Oliveira não passa na Câmara dos Deputados.
1988 – Niemeyer ganha o prêmio máximo da arquitetura mundial, o Pritzker.
1989 – Cai o murro de Berlim, símbolo da Guerra Fria. Fernando Collor de Mello é o primeiro presidente eleito no Brasil depois da ditadura militar.
1990 – Niemeyer e Luís Carlos Prestes se desligam do Partido Comunista.
1991 – O arquiteto faz integração perfeita entre edifício e paisagem no Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
1993 – O mundo fica menor. Desta vez, a revolução vem pelos computadores. A internet começa a se popularizar.
1997 – Niemeyer presenteia Fidel Castro com o desenho do monumento contra o embargo a Cuba.
1998 – José Saramago ganha o Prêmio Nobel da literatura. O comunista português é um dos autores favoritos de Niemeyer. Lucio Costa morre.
2006 – Niemeyer se casa pela segunda vez. A eleita é Vera Lúcia Cabreira, secretária de Niemeyer há 14 anos e amiga há mais de três décadas. O Complexo Cultural da República idealizado pelo arquiteto ainda durante a construção de Brasília é inaugurado.
2008 – O arquiteto passa dois dias em Brasília e declara que espera ver erguidas três obras para as quais já preparou projetos: a Praça do Povo, a Torre de TV Digital e o Sambódromo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

AI-5: 40 anos depois


No próximo sábado, dia 13 de dezembro, completar-se-á 40 anos da edição do Ato Institucional nº 5 pela ditadura militar. Para lembrar a data será realizado um debate às 9h, no Campus II da Universidade Católica de Brasília, na 916 norte, sobre a luta política daquela época e as consequências daquele ato.

Vários militantes políticos da resistência à ditadura estarão presentes, incluindo o ex-membro do MR-8 e ex-presidente do PPS do Piauí, Acilino Ribeiro, o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, e a ministra de Estado Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A verdade aparece aos poucos

Por João Capiberibe

Nesse natal e final de ano estarei mais leve e descontraído. Porque não dizer, feliz, com uma razão a mais para festejar. Já não era sem tempo, sete anos de espera, em silêncio, sendo acusado de ter me apropriado de uma fortuna astronômica, R$ 365 milhões, que teriam sido sacados na boca do caixa, das contas do Governo do Estado, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, fato supostamente ocorrido, dias antes de renunciar ao cargo de Governador do Amapá. Quem me conhece e convive comigo sabe que meu estilo de vida de padrões modestos não combina com esse tipo de acusação, mas como eu sou uma pessoa pública, é esta a imagem que estavam tentando macular. Vou relatar para vocês os fatos, para que possam formar sua própria opinião.

Após sete anos, três meses e cinco dias de dedicação e trabalho, deixamos o governo com uma aprovação popular histórica, quase 65% dos amapaenses avaliavam o nosso governo como ótimo e bom. Lastreado por esses números, no dia 05 de abril de 2002 deixei o cargo para concorrer a uma vaga ao Senado Federal.

O elevado grau de satisfação popular com nosso governo refletido nas pesquisas e a perspectiva de vitória na disputa por uma cadeira ao senado exasperaram nossos adversários, principalmente o PMDB e sua maior liderança, o poderoso Senador José Sarney, que tinha razões para nos querer distantes do poder. Durante nossa passagem pelo governo, eu e a equipe que me assessorava, tínhamos consciência das implicações que viriam da decisão que estávamos tomando, porém estávamos convencidos de que para governar o Amapá com equilíbrio e eficiência, priorizando o interesse coletivo, era necessário afastar do poder e do orçamento público o senador José Sarney e seu grupo. Essa era uma decisão que precisava ser tomada, assim procedemos, mesmo tendo que pagar um preço pessoal elevadíssimo, como veremos nos próximos parágrafos.

Em contrapartida à nossa atitude política, a estratégia utilizada sistematicamente pelos meios de comunicação servis ao grupo do senador José Sarney aqui no Amapá parece muito com aquela utilizada pela poderosa máquina de propaganda comandada por Goebbels na Alemanha nazista de Hitler. Para atingir um objetivo tudo é permitido: mentir, caluniar e repetir a exaustão essas mentiras e calúnias. Assim, a máquina de propaganda de Sarney e seu grupo voltou-se contra mim.

Poucos dias depois que eu deixei o governo, o então presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Fran Jr, do PMDB, ingressou com uma denúncia no Ministério Público Federal, onde me acusava de ter roubado dos cofres públicos a importância de R$ 58.033.525,72 (cinqüenta e oito milhões, trinta e três mil, quinhentos e vinte e cinco reais e setenta e dois centavos). Antes mesmo de qualquer manifestação judicial, os meios de comunicação servis ao Senador José Sarney, promoveram uma tentativa de linchamento político, através de uma campanha acusatória sistemática, sem que eu tivesse direito a defesa. A mesma mentira era repetida à exaustão, na tentativa de manchar minha imagem de homem público. Muito estrago foi causado. No entanto, as calúnias não foram suficientes para impedir nossa vitória, saí das urnas em 2002 eleito Senador da República e minha companheira Janete foi consagrada Deputada Federal com a maior votação da história do Amapá.

O PMDB se insurge contra a decisão popular, vinte dias após as eleições, entra com recurso junto ao TRE pedindo a cassação do meu registro de candidato como também de Janete. Na petição inicial, assinada pelos derrotados nas urnas Gilvam Borges e Jurandil Juarez, somos acusados de comprar votos com dinheiro, segundo eles, subtraído dos cofres públicos. Reiteraram as acusações de seu correligionário Fran Jr, e apresentaram cópia de mais sete cheques administrativos, no valor estratosférico de 365 milhões de reais, supostamente sacados, por mim, na boca do caixa.

Essa lambança, misturada com outras acusações, resultou em um retumbante fiasco no Tribunal Regional Eleitoral do Amapá, onde fomos declarados inocentes. Inconformado com a decisão, o PMDB recorre ao TSE. Foi lá, distante três mil quilômetros dos acontecimentos que o Juiz Relator ex-ministro Carlos Veloso, conseguiu enxergar que 52 reais dessa suposta montanha de 365 milhões teriam ido parar nas mãos de duas humildes senhoras como pagamento pelos seus votos. No entanto, o inusitado mesmo está no modo de pagamento desses votos, cada uma teria recebido a importância de 26 reais, pagos em duas prestações: a primeira de 6 reais, antes; a segunda de vinte reais, depois das eleições. Com base nessas acusações engendradas pelo PMDB e acatadas pelo relator, tivemos nossos mandatos efetivamente cassados no final de 2005.

No dia 30 de março de 2004, quando o processo de cassação ainda tramitava pelos escaninhos do Tribunal Superior Eleitoral e da Procuradoria Geral da República, o PMDB protocola, no Gabinete do Procurador Geral, Dr. Cláudio Lemos Fonteles, as mesmas denúncias referentes aos cheques administrativos. Passados quase cinco anos, finalmente cai a cortina e a trama se revela infundada. Com um parágrafo lacônico, o juiz federal substituto, José Renato Rodrigues, no dia 28 de outubro de 2008, deu a decisão que fere de morte um dos argumentos que levou à cassação dos nossos mandatos:

"Com razão o MPF, haja vista que, pela análise dos autos, não há prova da materialidade do crime previsto no art. 312 do CP, supostamente praticado pelo Sr. João Alberto Rodrigues Capiberibe, até porque, não restou comprovado que o erário tenha sido desfalcado. Pelo contrário, ficou evidente que a quantia, não obstante as transações bancárias, não saiu da esfera de disponibilidade do Executivo Estadual"

Desmascarada uma parte da farsa montada contra mim e aqueles que acreditam na forma como faço política, ficam algumas interrogações. Você que acompanha a leitura desse relato, como se sentiria se estivesse no meu lugar? Que indagações faria diante de tais acontecimentos?

Entre a denúncia de Fran Jr. protocolada em abril de 2002, até o desfecho do 28 de outubro, com a decisão do juiz, se passaram 7 anos, 6 meses e 9 dias. É um absurdo de tempo para responder a uma questão que qualquer cidadão com acesso aos extratos bancários do governo responderia em poucas horas. Simples! O dinheiro era convertido em cheque administrativo em um dia, três ou quatro dias depois voltava para a mesma conta do governo sem alteração de valores.

Agora vejamos o tempo consumido para cassar dois legítimos mandatos conquistados pelo voto popular. Em 22 de outubro de 2002 o PMDB dá entrada no TRE com recurso pedindo a cassação de nossos mandatos, em 12 de dezembro de 2005, o presidente do Senado Renan Calheiros, do PMDB, dá posse a Gilvam Borges na cadeira de senador que antes foi ocupada por mim. Um mês depois, Janete também perdeu a vaga que o povo outorgou a ela com uma votação tão distintiva.

Cassaram nossos mandatos em 3 anos, 1 mês e 20 dias, ou seja, menos da metade do tempo que levaram para descobrir que um dos pilares da cassação desabou, era falsificado. E os outros não foram também falsificados? O tempo dirá, pois a verdade aparece aos poucos.

João Capiberibe, preso e exilado político durante a ditadura militar, prefeito de Macapá (1989/1992), governador do Amapá (1995/2002), senador (2003/2005), presidente estadual do PSB e vice-presidente nacional do PSB.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Frase do ano

I´m asking you to believe. Not just in my ability to bring about real change in
Washington... I´m asking you to believe in yours.
Barack Obama

Feed do Substantivu Commune