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A morte do chefe militar é um duro golpe para a OTAN que vem apoiando os rebeldes em Benghazi |
O chefe das forças armadas dos rebeldes da Líbia e dois de seus assessores foram mortos nesta quinta-feira, informação confirmada pelo chefe da liderança rebelde.
A morte de Abdel Fattah Younes – que pode significar o fim da guerra na Líbia ou seu recrudescimento – foi anunciada numa conferência de imprensa na capital rebelde, Benghazi, pelo chefe do “Conselho Nacional de Transição”, Mustafa Abdul Jalil. Ele disse aos jornalistas que a própria segurança dos rebeldes havia prendido o chefe do grupo e provavelmente estava por trás do assassinato.
Segundo Jalil, a segurança rebelde prendeu Younes e dois de seus assessores na quinta-feira, em sua sala de operações, localizada próxima à frente dos rebeldes do leste. Autoridades de segurança disseram que Younes seria questionado sobre as suspeitas de que sua família ainda tinha laços com o regime de Muammar Gaddafi. Younes foi ministro do Interior de Gaddafi, antes de desertar para os rebeldes no início do levante, que começou em fevereiro.
Jalil disse que Younes havia sido convocado para um interrogatório sobre "uma questão militar". Ele afirmou que Younes e seus dois assessores, um coronel e um major, foram baleados antes que chegassem para o interrogatório.
A morte de Abdel Fattah Younes é um duro golpe para a OTAN que vem apoiando os rebeldes que atuam em Benghazi e aterrorizam a cidade há quatro meses. Younes tornou-se chefe militar da rebelião com o apoio de estrangeiros ligados à Al-Qaeda e militares da OTAN. Após a notícia de sua morte, a população que não apóia a movimentação rebelde, saiu às ruas e retomou o controle do aeroporto local e algumas bases militares.
Os rebeldes vêm recebendo apoio dos EUA, Grã-Bretanha, França e outros membros da OTAN e nos últimos dias haviam recebido o reconhecimento como liderança legitima da Líbia pelo governo britânico. A mídia ocidental vem procurando minimizar o apoio da Al-Qaeda ao grupo de oposição.
Há ainda relatos de que um grupo dissidente dos rebeldes avançou sobre membros do “Conselho Nacional de Transição” exigindo nova liderança civil. Outro grupo exige a devolução do corpo de Abdel Fattah e seus assessores. O grupo responsável pelas mortes se recusa a entregar os corpos para suas tribos de origem e afirmam ter enterrado os corpos sem cerimônias, em retaliação aos quatro meses de ocupação que obrigaram grande parte da população a fugir pela fronteira com o Egito, deixando suas casas para serem saqueadas pelos grupos rebeldes.
As mulheres que escolheram ficar relatam que foram forçadas a se vestirem com o véu completo, quando antes tinham a liberdade de escolher se o usariam ou não. Cidadãos estão confinados em suas casas e temem ser punidos, com tortura ou morte, se forem pegos com qualquer objeto que identifique apoio a Muammar Gaddafi, como o menino que foi
empalado com a bandeira verde, símbolo do apoio ao governo líbio. Alguns vídeos contêm tantas atrocidades postadas com “orgulho” pelos próprios rebeldes, que são constantemente retiradas pelo Youtube.
O governo líbio, através de seu porta-voz Musa Ibrahim, vem afirmando que seu exército apenas atua na tentativa de “proteger cidadãos e famílias nas cidades ocupadas”, para que não haja abusos, mas que ordenou que “evitem conflitos diretos dentro das cidades”. Um vídeo mostra tropas do exercito líbio
correndo na direção contrária ante o avanço dos rebeldes que parecem em sua maioria, desarmados nesse momento. Nenhum dos lados atira, é clara a intenção dos soldados em apenas recuar estrategicamente.
O líder rebelde Mustafa Abdul Jalil se referiu a Younes como “um dos heróis da revolução de 17 de fevereiro", data de início dos protestos contra o regime de Gaddafi.
Ele afirmou que Gaddafi vem procurando quebrar a unidade das forças rebeldes, mas fez uma advertência dura acerca de "grupos armados" que estavam atuando em cidades controladas pelos rebeldes, dizendo que eles “precisavam se juntar à luta contra Gaddafi, ou corriam o risco de serem presos pelas forças de segurança”.
Houve relatos de tiros fora do Hotel Tibesti, onde a conferência de imprensa foi realizada, logo após as declarações de Jalil. O líder rebelde não respondeu a nenhuma pergunta.
Uma hora depois, pelo menos três fortes explosões sacudiram o centro da capital Trípoli. Duas explosões foram ouvidas por volta das 10h20min da noite, hora local, seguida por outra explosão alguns minutos depois. A televisão líbia relatou que aviões estavam sobrevoando a cidade. Trípoli tem sido alvo de numerosos ataques aéreos da OTAN mesmo não tendo registros de conflitos rebeldes.
Enquanto isso, combatentes da oposição nas montanhas ocidentais lançaram ataques em várias cidades controladas pelo governo, na esperança de empurrar as tropas legalistas e abrir uma rota para a fronteira. Em especial a fronteira para o Egito, que está fechada há alguns dias.
Os ataques começaram por volta do amanhecer com rebeldes ao redor das cidades de Nalut e Jadu em uma tentativa de expulsar as forças leais ao líder Muammar Gaddafi do sopé da montanha Nafusa. Por volta do meio-dia local, os rebeldes haviam tomado e perdido, logo em seguida, a cidade de al-Jawsh.
No último domingo, a rede Globo de televisão – cuja cobertura na Líbia tem se limitado a reproduzir as agências internacionais – mostrou imagens que um líbio radicado no Brasil, vivendo na cidade de Goiânia, fez em visita à Benghazi. Ele afirmou que esteve na cidade visitando familiares e acabou testemunhando o “momento exato em que os conflitos começaram”.
No entanto, apesar da narração em
off que procura descrever os “horrores da guerra na Líbia”, nenhuma das imagens mostra de fato qualquer ataque direto das tropas de Gaddafi contra os rebeldes. Não há imagens, pelo menos nessas que foram mostradas no programa “Fantástico”, de soldados líbios atacando, atirando ou batendo em cidadãos. Em sua maioria, aparecem homens correndo, gritando e atirando para cima com pesadas armas instaladas em caminhonetes como se pode ver nas imagens da própria
reportagem.
A narração das imagens é tendenciosa, como sempre fizeram com a questão Palestina, com a guerra no Afeganistão, com a invasão do Iraque e suas “armas de destruição em massa” que jamais existiram. Observem a cena em que a repórter narra que um “soldado líbio obriga um rebelde a gritar o nome de Gaddafi e depois ouvem-se tiros”. Onde está o soldado, ele é o que segura a câmera?
As cenas podem realmente ser de conflitos diretos entre rebeldes e tropas de Gaddafi (ainda que os soldados líbios não apareçam em nenhum momento, exceto quando filmados caminhando nas ruas de Misrata), mas também podem ser de conflitos entre as próprias tribos rebeldes, ou entre rebeldes e cidadãos que são contra as
atrocidades que vem ocorrendo em Benghazi.
O cidadão líbio que cedeu as imagens afirmou que o “povo líbio vive na pobreza”, o mesmo povo líbio que possui a maior renda per capita de todo o continente africano, dados confirmados por organizações internacionais, inclusive a ONU. Os motivos podem ser legítimos, mas com certeza não são esses.
Vai ficando cada vez mais claro o erro da mídia ocidental e dos países que escolheram um dos lados dessa guerra. A história humana vem mostrando que isso sempre dá errado.
Relatório recente da
Anistia Internacional afirmou não ter encontrado evidências das acusações que constam no Tribunal Penal Internacional contra a Líbia e Muammar Gaddafi. Pior, a mesma Anistia Internacional afirmou que encontrou evidencias de que os rebeldes em Benghazi estavam matando seus compatriotas quando estes não aderiam à guerra. Famílias denunciaram os abusos aos repórteres estrangeiros hospedados nos luxuosos hotéis oferecidos à imprensa para a cobertura da guerra na Líbia, mas sobre isso, a mídia se calou.
O jornalismo e os jornalistas acreditam que não têm culpa alguma nisso tudo, mas é bom começarem a assumir sua cota de responsabilidade agora que muitas cortinas estão se levantando.