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sexta-feira, 10 de março de 2006

Livro reúne os melhores textos do Pasquim


Fonte:A Gazeta

Quem trabalhou no Pasquim e até quem leu o jornal sente um certo saudosismo ao falar dele. Com o jornalista Sérgio Costa não é diferente. De uma certa maneira, ele conseguiu matar as saudades daquele tempo em que escrevia com total liberdade, sem respeitar regras, apesar do regime militar vivido na época. Junto com Jaguar, Costa reuniu os principais artigos, entrevistas, perfis e charges dos 150 primeiros exemplares do tablóide, entre os anos 1969 e 1971, no livro “O Pasquim – Antologia 1969 1971”. O conteúdo segue a seqüência cronológica, mas as charges, não.
O jornalista define o Pasquim como o “maior fenômeno editorial da imprensa brasileira”. “‘O Cruzeiro’ e ‘Veja’ tinham atrás de si duas sólidas empresas jornalísticas, já o Pasquim, só um punhado de porras-loucas. Assumidamente nanico, panfletário e abusado, nasceu sob a suspeita de que duraria pouco tempo. Menos até que os oito números da revista de humor Pif-Paf, criada por Millôr Fernandes e que de certo modo teria sido o embrião do Pasquim”, escreve ele, na introdução da obra.

O período escolhido para reunir os textos foi, segundo Costa, uma época muito especial já que contou com a colaboração de Vinícius de Moraes, Chico Buarque, já reconhecido pelo sucesso de “A Banda”, e Caetano Veloso, que escrevia de Londres, onde estava exilado, narrando as impressões da Europa e as novidades da cultura pop. Luís Garcia, Rubem Fonseca, Glauber Rocha, Luís Fernando Veríssimo, além de outros grandes nomes da cultura nacional, também foram fiéis colaboradores. “Quem comprar o livro vai se surpreender com um material praticamente inédito de Vinícius (de Moraes). Ele escrevia muito para o jornal”, destaca Sérgio Costa.

A obra conta histórias como a de Leila Diniz, que num bate-papo informal com o jornal teve substituído por asteriscos, pelo censor que acompanhava o dia-a-dia de dentro do Pasquim, cada palavrão usado. A entrevista com Madame Satã, mítico personagem da Lapa, e com Oscarito, que contou o início da dupla com Grande Otelo, também não podiam faltar na obra.

O livro também narra a história do jornal por aqueles que o fizeram desde o início e passa pela fase em que a maior parte de seus colaboradores estava presa ou exilada. Nas primeiras páginas, Jaguar lembra a dificuldade para encontrar um nome para o jornal: “A coisa quase desandou porque o nome do jornal não saía. Que tal Pasquim?´, propus. `Vão nos chamar de pasquim (jornal difamador, folheto injurioso), terão de inventar outros nomes para nos xingar´. A sugestão não suscitou muito entusiasmo, mas como ninguém agüentava mais tanta reunião, acabou sendo aprovada”, conta Jaguar.

A organizadora do livro, Martha Batalha, aponta para a falta de padrão do tablódie: “Uma das marcas do Pasquim foi a falta de padronização do texto. Às vezes, um diálogo vinha em aspas, outras com travessão. Palavras estrangeiras aparecem ora em negrito ora em itálico. Foi uma decisão nossa manter estas incongruências no livro para demonstrar o caráter anárquico do jornal”.

Segundo Sérgio Costa, não há como não sentir falta do época em que trabalhava no Pasquim. “A gente trabalhava e se divertia. Era uma delícia. Acho que a única coisa ruim era a censura”, recorda com saudades o momento em que conviveu com colegas como Tarso de Castro, Paulo Francis, Fortuna, Ivan Lessa e Luiz Carlos Maciel.

Na opinião do jornalista, a tentativa de tentar dar um novo conceito a um tablóide semelhante ao Pasquim, o Pasquim21, lançado em 2002 mas com vida curta, com Ziraldo à frente do projeto, foi algo fadado ao fracasso. “O Pasquim21 não tinha nenhuma proposta nova. Fui contra desde o início”.

A idéia de Martha é produzir quatro volumes sobre o Pasquim.

O livro foi lançado na última quarta-feira (08/03) no Centro Cultural dos Correios do Rio, onde estão expostas as 30 melhores capas do tablóide. Outro lançamento está previsto para o dia 22/03, na Casa Laura Alvim, em Ipanema, Zona Sul do Rio, onde haverá debates e também uma exposição.

“O Pasquim – Antologia 1969 1971”, organizado por Martha Batalha e textos selecionados por Jaguar e Sérgio Costa. Editora Desiderata Preço: R$ 69,00 352 páginas

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