"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X

sábado, 29 de setembro de 2007

Ciro Gomes rebate acusações de fraude no BNB

Fonte: Agência Estado

O deputado federal e ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PSB-CE) divulgou nota à imprensa onde rebate a suspeita de fraude no Banco do Nordeste envolvendo Victor Samuel Cavalcante da Ponte, aliado e responsável pela arrecadação de recursos para sua campanha e de seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Tal suspeita foi divulgada em reportagem da revista Época desta semana. Abaixo, segue a íntegra da nota.


Brasília, 29 de setembro de 2007

A propósito da matéria "O amigo problema de Ciro", da edição de 1º de outubro de 2007, venho, indignado, e em atenção aos seus leitores, esclarecer, com pedido de publicação na íntegra, o que se segue:

1. Não tenho nenhum amigo problema. Amigo problema, sob o ponto de vista ético, para mim, é ex-amigo;

2. O Ministério da Integração Nacional é, constitucionalmente, o gestor do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste (FNE). Nessa condição, o ministério recebeu do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) solicitação para autorizar, ou não, as condições em que poderia renegociar o pagamento das dívidas atrasadas de seus clientes. A atuação do Ministério nesse assunto limitou-se a encaminhar a consulta do BNB à Advocacia Geral da União (AGU), para que esta desse seu parecer;

3. Tão logo chegou ao Ministério da Integração Nacional, a consulta do BNB foi repassada à Advocacia Geral da União. Não houve, portanto, nenhuma demora.

4. É importante esclarecer que a consulta do BNB não se referia a nenhuma renegociação em particular, mas, sim, ao conjunto de todos os seus devedores;

5. Deixei o Ministério da Integração Nacional em março de 2006, antes de que a AGU se pronunciasse sobre o assunto;

6. Jamais, nem por exceção, pratiquei qualquer ingerência em qualquer operação do BNB. Vale esclarecer, aliás, que o BNB é subordinado ao Ministério da Fazenda, e não ao Ministério da Integração Nacional. Querer vincular meu nome a este assunto é forçar notoriamente a barra, pelo fato de ser amigo de um funcionário do segundo escalão do Banco;

7. Minha atitude foi exatamente na direção oposta a que se pode concluir da leitura da matéria. Informado, dias atrás, deste assunto pelo ministro Guido Mantega, recomendei a ele o que sempre fiz ao longo de minha vida pública: a abertura de um inquérito que apure tudo, aguardando o investigado, fora do cargo, as conclusões.

8. Como bem esclarece a reportagem de Época, minha posição sobre episódios dessa natureza é clara: se houve, da parte de quem quer que seja, algum erro ou irregularidade, esse alguém deve ser punido na forma da lei. Neste caso, o acusado alega ser absolutamente inocente de qualquer ilícito. Se não for verdade, que pague a mais severa punição. Para mim, sempre foi assim: quem errou, que pague;

9. O que me deixou indignado é a forçada tentativa de vincular esse episódio à campanha eleitoral do ano passado. O fato de ter escrito e assinado uma carta apresentando Victor Samuel a algumas pessoas, e dizendo claramente que ele falaria em meu nome acerca de uma contribuição para a campanha que meu partido desenvolveria, é uma tentativa de ser transparente e claro sobre um assunto a respeito do qual há muita controvérsia, que é a arrecadação de fundos para campanhas políticas.

10. Época, infelizmente, não menciona a seus leitores o segundo parágrafo da citada carta em que solicito, formalmente, contribuições de campanha para o partido e que diz que qualquer contribuição só será aceita se feita em obediência às "normas legais e éticas com que sempre pautei minha vida pública".

11. Época sabe que não se fazem ilícitos eleitorais através de cartas nominais escritas, assinadas e públicas.

Ciro Gomes

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Jornalismo Imparcial? - Uma avaliação geral do panorama que aí está e um mea culpa

Aproveitando o texto "No mínimo patético" postado dia 17/09/07 no blog http://prenhederazao.blogspot.com/ do amigo Flávio Costa, em que ele faz algumas considerações sobre os filhos fora do casamento de pessoas como Renan, FHC, Pelé, etc e como cada assunto foi tratado pela mídia, fiz um comentário no texto dele que repoduzo aqui com maiores detalhes. Esse assunto é delicado e, para mim, que me tornarei em breve jornalista, é fundamental. Que tipo de jornalistas estão sendo formados hoje nas universidades? Ou ainda, que tipo de jornalista quero ser?

Este mês, na edição especial de aniversário da revista Imprensa, há uma entrevista com o Otávio Frias Filho, como diz a revista, "O Filho da Folha". Nela, ele declara, dentre outras coisas, que os jornalistas da Folha trabalham sempre para manter-se "imparciais a todo custo", que a Folha é "apartidária". Aí, mais a frente, numa frase que é também a chamada de capa da revista, ele diz que a imprensa foi "complacente e ingênua com o PT". Ora bolas, a imprensa não tem que ser complacente com ninguém, ela não tem que ter esse tipo de postura, contra ou a favor. A imprensa tem que informar. O problema é que a imprensa não é mais a mesma. E é óbvio que a Folha não é apartidária. E nenhum jornal hoje no país o é. Todos obedecem a algum grupo, ou no mínimo, ao capital, ao mercado.

Numa matéria para a revista Caros Amigos em maio deste ano, Marcos Zibordi, traçou o que ele chamou de "Paisagem mental dos estudantes de jornalismo". Ele mesmo classifica a pauta de "epinhosa", afinal, "vasculhar a mentalidade dos futuros jornalistas" não é tarefa p/qualquer um. O pior foi a constatação de que a maioria dos professores nunca pisaram numa redação. Hoje, os caras saem do curso e caem nas universidades para dar aulas teóricas de algo que eles não conhecem na prática. Outro fato interessante é perceber que os estudantes iniciam o curso sem grandes ilusões quanto ao curso ou ao mercado. Talvez reflexo do que o Otávio Frias discorre em sua entrevista, sobre a mudança do "jornalismo romântico" para o "dos manuais". O discurso do "filho da Folha" aliás, em toda a entrevista, é obviamente o discurso do dono de jornal e não de um jornalista. E definitivamente estou convencida de que não é possível exercer os dois lados da moeda nesta profissão.

O mercado de jornalismo não mudou, o jornalismo é que se adequou de forma inexorável ao mercado. O fato é que o jornalista hoje, é um profissional que sai da faculdade com a meta de se tornar um âncora de TV, alguém como o William Bonner ou a Fátima Bernardes ou pior, sem a menor perspectiva mas certo de que o que importa é o salário que vai receber, se vai ter uma "boa colocação no mercado".

No texto do blog do Flávio, ele fala sobre o tratamento diferenciado que foi dado aos casos extraconjugais de celebridades diversas. Conseguiram, certa vez, como ele lembra bem, derrubar a candidatura do Lula (que liderava as pesquisas) com a história da menina que engravidou dele e ele pediu que ela abortasse. Na época ele era viúvo e não tinha mandato. A história de Tomás, filho de FHC, nunca apareceu de fato na mídia, mas Renan foi execrado publicamente e a jornalista envolvida será capa da Playboy. Pelé e Roberto Carlos também penaram com seus filhos não planejados. Dizer que a imprensa é imparcial e dá o mesmo tratamento para todos é de uma miopia atroz.

Ontem participei de uma entrevista na rádio da faculdade com um diretor de um documentário. No estúdio, vários estudantes puderam ouvir as histórias de um sujeito interessante que foi membro do partido comunista e agora prepara um filme sobre a vida do Che. Ao final da entrevista que durou cerca de 40 minutos, quando ele já tinha ido embora, o professor, um jornalista experiente que aliás, já trabalhou como editor na mesma Folha de S. Paulo, descascou com todos que ali estavam. Ninguém havia feito perguntas sobre o filme! Todos ficaram encantados com o fato de conhecer alguém com uma história fascinante e cheia de ideologia e acabaram fazendo perguntas sobre a vida do próprio entrevistado. Os países que ele conheceu em situação de guerra, o Prestes com quem ele conviveu, o Che, Fidel, sobre religião, marxismo, tudo menos o filme. Então, é aí que começa, ninguém conseguiu se distanciar, ser imparcial. Ainda que tenha sido de uma outra forma, mais positiva. E isso se reproduz na vida profissional. Claro que é muito difícil não emitir alguma opinião no momento em que se está redigindo uma matéria ou fazendo uma entrevista. O "espírito", os valores, as crenças de cada um sempre vão estar um pouco no trabalho de cada jornalista. O problema é que se escrevo imbuída de ideologia, jamais serei imparcial. Etimologicamente, aliás, a palavra ideologia se refere a uma idéia que se quer dominante. Não importa se para o bem ou para o mal. Se há ideologia não é imparcial.

Mas hoje, o que acontece no mercado é ainda pior, porque pagando, alguns grupos e pessoas conseguem até que o jornalista escreva o que é de interesse de alguém, ainda que não seja verdadeiro. Fora a onda de "denuncismo" que é real e séria. Ninguém tem o direito, nem mesmo o jornalista, de burlar a lei para conseguir um furo, mas isso tem acontecido com frequência. No afã de conseguir algo que "ninguém tem" ou "antes dos outros", os jornalistas grampeiam telefones, fazem escutas ilegais, tiram cópias de documentos sigilosos em poder da justiça com a ajuda de algum "amigo" por dentro da estrutura, usam fotos para extorquir dinheiro ou informações comprometedoras. E tudo isso, as pessoas chamam de jornalismo. Existe até um discurso de que vale tudo porque a população "tem que saber". A qualquer custo? Isso definitivamente não é jornalismo, muito menos imparcial. É, como diz meu amigo Flávio, pra dizer o mínimo, patético.

Batala esquentando os tambores


Ensaio do Batala do último sábado.
Para quem não sabe, banda de percussão de Brasília só de mulheres.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Salete Lemos foi demitida depois de dizer a verdade

Violência, de quem é a culpa?

Trecho de matéria do DFTV do último dia 24: "...o secretário de segurança de Goiás, Ernesto Roller, não quis vir a Brasília para pedir a atuação da Força Nacional no Entorno. Mandou um representante com um documento em que culpa o Distrito Federal pela violência do Entorno. "A capital do país atrai milhares de pessoas, mas como viver no DF é muito caro, muita gente vai para o Entorno". O governador José Roberto Arruda logo rebateu a crítica. “Não é hora de achar culpado. É hora de encontrar solução. Então, é preciso juntar o Distrito Federal, o Goiás e o governo federal para trabalhar unidos nesse problema que atinge a todos nós”, disse o governador Arruda. A Força Nacional é formada por policiais militares de vários estados, treinados para agir em momentos de crise. A intervenção já ocorreu no Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. No Entorno, pela primeira vez a tropa combaterá, principalmente, o tráfico de drogas. A ação será feita em pontos estratégicos e com homens fortemente armados... E hoje, o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, baleado na Cidade Ocidental na última quarta-feira (19), quando tentava apurar as denúncias sobre o tráfico na região, recebeu alta..."

Existem vários tipos de violência. A que bate na nossa cara e está lá explícita para todo mundo ver e a que nós concordamos em ignorar. Nós placidamente a aceitamos e ela se mistura em nossas vidas, se molda à nossa rotina como uma doença incurável. Até certo ponto, isso é muito útil para nosso dia-a-dia. Seria quase insuportável viver se tívessemos a noção diária do agudo sofrimento à nossa volta. Não queremos olhar para o lado e ver quem não teve a mesma "sorte" e dorme nas filas dos serviços do Estado (ou pior: dorme na rua), quem nasceu do "lado errado". Estes sim, vivem uma violência crônica desde o dia em que nascem. Inimaginável. Aliás, não conseguir imaginá-la é o que nos protege, nos ajuda a viver sem culpa.

Estava esta semana com um amigo num cachorro-quente em Brasília. Um homem se aproximou, pediu comida e meu amigo - ser humano capaz de gestos tão simples para ele mas tão incríveis para outras pessoas - não só mandou que lhe fizessem uns três sanduíches como também o convidou para sentar, perguntou por sua família, quantos filhos, de onde vinha... ele fez isso de forma tão natural que ninguém pôde achar nada, reagir, somente puderam observar. Agiu como se já o conhecesse e pegou a todos de surpresa com sua simpatia, seu sentimento de importância, de não-indiferença. Até o homem. Este, não quis mais nada, não tentou nos agredir, apenas foi embora com os sanduíches para o local onde estava o resto de sua família, "naquele espaço, depois daquela árvore"... Só que acabou sendo impossível não notar nesse breve episódio, a reação das pessoas em volta que ia da incredulidade ao sarcasmo, do concreto nojo à pose do "não-é-comiguismo" nacional e ainda pude ver que, lendo a linguagem corporal, se nota que o medo é parte da língua universal da humanidade. A esquiva (ainda que disfarçada) está presente em situações como essas, acho que em qualquer lugar do mundo. Vê-lo ali sem jeito para ficar sentado em nossa mesa foi suficiente para mim. Eu só pensava: "quem nós pensamos que somos?"

Na verdade, há várias maneiras de evitar que a violência atinja você. Fingir que não vê, pensar "não é comigo", lamentar mas racionalizar que "é assim no mundo todo, sempre foi assim, você sente muito mas não pode fazer nada", votar na esquerda, rezar para melhorar, se convencer de que o Governo vai melhorar as coisas e portanto, os pobres só precisam de paciência. Toda vez que você passa por alguma miséria nacional e "não vê", não nota, nem ao menos suspira, você não quer nem imaginar "como alguém pode viver assim" e segue adiante, o que acontece é que nada acontece. A violência se molda novamente ao espaço e você continua sua vida se recolhendo à sua insignificância, à sua assumida incapacidade de ver.

E de repente vem uma tragédia como a do menino arrastado e dilacerado em um assalto e fica impossível virar a cara. Para esse tipo de violência não há defesa. Nem para nós que corremos apressados sem tempo para se doar. Vcoê não precisa se filiar a um partido, uma causa, uma ong, um movimento, perder seu preciosíssimo tempo em discutir questões complexas com tantas coisas para pensar mais importantes na cabeça... mas se conseguir olhar nos olhos por um segundo apenas, quem sabe até um sorriso, já será uma enorme contribuição. A gente esquece mas de vez em quando alguém vem nos lembrar: All we need is love.


Luís Fernando Veríssimo definiu com perfeição: "A função da violência, quando ela passa de comodamente crônica a aguda, é justamente a de nos acordar do nosso sono de cúmplices"

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Oásis

Um templo é visto no Deserto Badain Jaran, na região autônoma da Mongólia, no norte da China. O Parque Geológico Nacional Araxan foi aberto no Deserto Badain Jaran.
Fonte: Agência Estado

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

RENAN, NÓS E A DEMOCRACIA

A democracia parece ser mais misteriosa do que supõe nossa vã filosofia...

O "caso Renan" - que aliás, ontem descobri, frequentava muito o "Recanto Bezerra Neto" do Beirute, aquela mesa estrategicamente atrás da árvore - me lembrou alguns outros fatos recentes que ainda precisam de melhor explicação. Vejamos:

- Jáder Barbalho e o falecido ACM provaram, publicamente, que ambos eram meliantes públicos. Eram tantas as evidências apresentadas por cada um deles contra o outro que nenhum dos dois resistiu e acabaram por renunciar para não serem cassados. Na eleição seguinte ambos se (re)elegeram nos seus estados. Jáder é deputado, ACM morreu senador. As pessoas dizem que o "povo não sabe votar", eu não acredito nisso. ACM foi enterrado com honras de estado - e de herói - e com a participação maciça e emocionada do povo baiano e de artistas e autoridades de vários estados.

- Vários mensaleiros e sanguessugas foram (re)eleitos apesar da exposição pública de seus nomes. Pelo menos um deles do qual agora me lembro (Paulo Rocha-PT/PA) renunciou mas se (re)elegeu logo na eleição seguinte. Palocci se (re)elegeu, assim como João Paulo Cunha, ambos por SP. Não é surpreendente?

- Falando em Sampa, Paulo Maluf, já formalmente condenado em mais de um processo, por corrupção continua sendo uma herói simbólico para boa parte da população paulista que ainda hoje o elege com votação significativa. E provavelmente ele permanecerá elegendo também qualquer um apresentado por ele aos paulistas.

- José Roberto Arruda cometeu um atentado contra a democracia (no episódio da violação do Painel do Senado), renunciou, mas se (re)elegeu deputado federal e depois governador do DF. Desde aquela época eu classifico o que ele fez como sendo muuuuito pior do que "matar ou roubar" como ele vinha se justificando. Hoje, ao que parece, ninguém lembra mais do que ele fez.

Há muitíssimos outros casos iguais ou semelhantes espalhados por aí na nossa História. É muito difícil dar uma explicação ÚNICA que englobe todos esses casos, mas alguns traços comuns podem ser identificados.

Cito alguns:

1- "Opinião pública", em definitivo, não é o mesmo que "opinião publicada".

2- As relações entre "mídia e democracia" são menos óbvias do que parece. Ainda bem, porque a liberdade de imprensa é tão vital para a democracia quanto se manter em mente que A IMPRENSA NÃO É a democracia. Jornais, revistas, televisões e outras empresas do ramo são apenas isso mesmo: empresas em busca do lucro. Não mais e não menos do que isso. A mercadoria especial que existe para produzirem - informação - é usada por essas empresas para lhes garantir lucro e não para produzir qualquer outro valor transcendente. Os jornalistas simplesmente não conseguem "furar o cerco" do interesse dos patrões. A democracia é mais ampla do que a imprensa.

3- "Opinião pública" e "opinião publicada" não são sinônimo de "intenção de voto" nem, muito menos, de voto efetivo do eleitor que constituiu o espaço político e institucional que existe de fato.

4- Ninguém tem um manual que explique, satisfatoriamente, a trilha que vai da "opinião pública", passa pela "opinião publicada", pela intenção de voto, pelo voto efetivo e resulta no espaço político institucional que temos.

A absolvição do Renan é chocante para um segmento da população mas não se pode concluir que ela torna nossa democracia pior. Apenas mais complexa. MAS QUEM DISSE QUE ELA - A DEMOCRACIA - É SIMPLES?

Melhor faremos se nos esforçarmos mais para entender os fenômenos produzidos pela democracia, afastado todo milenarismo, toda visão apocalíptica e moralista barata.

A absolvição de Renan, com certeza, acarretará consequências, mas todas muito difíceis de prever, ou mesmo de reconhecer quando acontecerem, mas todas ficarão dentro dos limites da democracia que temos e que vai muito bem, obrigado. Pelo menos no tocante às liberdades garantidas conquistadas muitas vezes com o sangue dos que tombaram em nossa história, em especial na mais recente, a partir de 68. E com o resultado das urnas não dá pra dizer que ao povo não tem chance de escolha.

Desconfio que, nos limites da democracia real que temos, com o tempo, vai se provar que o Renan tornou-se um fardo maior do que imaginamos para o próprio governo Lula - que ajudou a "blindá-lo". Daí, abre-se mais uma oportunidade para avanços na democracia... Como nos posicionaremos?

A democracia não promete resultados de qualquer tipo para quem quer que seja, não é o reino da certeza, mas da INCERTEZA e sequer garante, por si mesma, que o seu resultado final seja a justiça ou a eqüidade. Apenas tenta criar condições para que esses objetivos sejam perseguidos por quem lhes dá valor.

Se inferirmos que não vivemos em uma democracia e que gostaríamos de construir uma nova proposta para ela, então também precisamos ter em mente o quê exatamente queremos e que o caminho passa por uma conscientização pública que demanda uma educação popular que já deveria ter acontecido secularmente mas não aconteceu. REPITO: NÃO ACONTECEU. O regime militar fez questão de colocar uma pedra sobre isso ao alterar o currículo das escolas que até hoje tentam recuperar o tempo perdido. Há uma lacuna gigantesca na formação política da sociedade brasileira que não pode ser preenchida em pouco tempo. Como essa mesma população pode ser preparada para entender o tipo de democracia que tem vivido e ser "treinada" para exigir mudanças? Lembrando que outro efeito profundo (construido a partir do regime militar) nas mentes e corações brasileiros foi justamente a "preguiça de saber", com o adicional embotamento ocasionado pela globalização que vivemos hoje. Antes, nossa sociedade enxerga quais as mudanças necessárias?

Buscar entender o processo que vivemos hoje - incluindo um apanhado de como chegamos aqui - é, a meu ver, o primeiro passo para que possamos nos "situar" no tempo e história e, a partir daí sim, lutar por algo que consideremos melhor, mais justo, mais democrático. A liberdade de buscar esse conhecimento nós já temos. A pergunta é: teremos disposição para ir até o fim?

Juliana de Souza é estudante de jornalismo na capital do Brasil.
(com a colaboração do companheiro Homero de Brasília)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Impunidade marca 9 anos da execução de jornalista no Piauí

Tony Rodrigues

Faz hoje nove anos que o jornalista Donizetti Adalto foi assassinado. Ele foi morto no dia 19 de setembro de 1998, pouco antes de uma hora da madrugada. Faltavam 15 dias para as eleições em que concorria como candidato a deputado federal favorito nas pesquisas.
A morte do jornalista causou grande comoção popular. Seu corpo foi velado no Ginásio de Esportes O Verdão, por onde passaram centenas de milhares de pessoas.
Os matadores do jornalista foram descobertos poucos dias depois do crime, causando surpresa a acusação contra seu próprio companheiro de chapa, o candidato a deputado estadual Djalma Filho, à época vereador da capital e acusado pela autoria intelectual do crime.
O Ministério Público Estadual, através do procurador-Geral de Justiça em exercício Antônio Ivan e Silva, apresentou denúncia contra Djalma da Costa e Silva Filho, Francisco Brito de Sousa Filho, Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, João Evangelista de Menezes, Ricardo Luiz Alves da Silva e Fabrício de Jesus Costa Lima. Djalma perdeu o mandato como vereador por quebra de decoro parlamentar, mas nunca foi levado a julgamento pelo Tribunal de Justiça do Estado.Os demais acusados permanecem presos. O ex-policial civil Pedro Arcanjo da Silva Filho também foi denunciado por participação no homicídio.
A peça acusatória é bastante clara quanto à autoria do crime. Diz o seguinte, no tópico inicial: “Baseado em inquérito proveniente do 2º Distrito Policial desta cidade, que teve a colaboração da Polícia Federal deste Estado, relata o órgão denunciante, em resumo, que no início da madrugada do dia 19 de setembro p. findo, na avenida Mal. Castelo Branco, nesta Capital, próximo à ponte sobre o Rio Poty, que dá acesso à Universidade Federal do Piauí, os denunciados, em conluio e de emboscada, impossibilitando a defesa da vítima, praticaram, a tiros de arma-de-fogo, crime de homicídio qualificado, considerado hediondo, na pessoa de Donizetti Adalto dos Santos, jornalista e candidato a deputado federal às eleições de 04 (quatro) de outubro último. Relata mais que, ainda agonizante a vítima, os denunciados, reunidos em quadrilha ou bando, torturaram-na, aplicando-lhe golpes com cabo de revólver na cabeça, face, orelha direita e região orbitária direita, causando-lhe, inclusive, traumatismo nas unidades dentárias.”O MPE também não deixa dúvidas quanto à autoria intelectual: “... as provas colhidas demonstram que a autoria intelectual do crime recai sobre o primeiro dos denunciados, o (então) vereador à Câmara Municipal de Teresina, Djalma da Costa e Silva Filho, candidato a deputado estadual pelo mesmo partido da vítima e seu companheiro de campanha política, que, simulando um assalto e integrando-se aos executores do bárbaro homicídio, decidira eliminá-la de forma brutal e covarde, objetivando atrair para si o sensacionalismo da imprensa e a conseqüente solidariedade popular, de modo a reverter a seu favor a intenção de votos presumivelmente destinada ao candidato falecido – àquela altura, consoante a denúncia, despontando no cenário político local com invejável índice de aceitação popular.”
De acordo com a denúncia do MPE, Djalma Filho teria combinado pagamento de R$ 6 mil aos pistoleiros contratados para a execução do polêmico jornalista. Donizetti era conhecido pelo jargão “Pau na máfia”, com o qual marcou também a sua campanha eleitoral. Ele costumava dizer em seus programas: “Morro e não vejo tudo!”
Nunca imaginou que seria morto a mando do seu próprio companheiro de chapa, tendo em vista que dormia tranqüilamente no banco do passageiro segundos antes do crime. Ele e Djalma retornavam da residência do então presidente estadual do PPS, Acilino Ribeiro, depois de um comício na zona norte da capital.
No Piauí, o jornalista trabalhou no Sistema Meio Norte de Comunicação. Inicialmente, na TV Timon, entre 1987-1989, quando apresentou, juntamente com seu companheiro Carlos Moraes, o programa “Comando do Meio Dia”. Em seguida, transferiu-se para a TV Pioneira (hoje Cidade Verde), onde permaneceu por pouco tempo.
Também montou um jornal bastante polêmico, denominado “Comando”, através do qual fez séria oposição ao governo Freitas Neto (1991-94). Na segunda fase, Donizetti apresentaria, a partir de 1986, o programa “MN 40 Graus”, onde permaneceu até 1998, quando foi afastado por se desentender e quase brigar no ar e ao vivo com o deputado Leal Júnior (DEM).Costumava dizer que era um “cão de guarda” do empresário Paulo Guimarães, proprietário do Sistema Meio Norte de Comunicação, por quem teria grande afeto e admiração. O mesmo não se pode afirmar em relação ao empresário. Na TV e Jornal Meio Norte, empresas do grupo de comunicação de Guimarães, o nome de Donizetti foi banido. Suas imagens também foram recolhidas a um arquivo morto.

http://www.acesso343.com/noticia.php?id=2996

sábado, 15 de setembro de 2007

DEMOCRACIA MALUFISTA!

Direto do blog (http://provocadoress.blogspot.com/) excelente da minha amiguinha Paulinha, um desabafo de uma estudante brasileira com uma pitada de humor esperto e inteligente dessa menina de apenas 19 anos:



DEMOCRACIA MALUFISTA!
O BRASIL ESTÁ DE LUTO. MORREU A ÉTICA.

Se foi fraude ou não, a mim não importa. Estou cansada, estou farta desse Brasil que virou uma universidade da pilantragem. Sim.

Senhoras e senhores. Políticos de todo o mundo! Se os senhores não sabem como lucrar com essa profissão, eis a solução! Venham cursar a "Universidade Internacional da Pilantragem" no Brasil. Em apenas um ano você aprenderá tudo para ser um político e tanto! Como dominar a mídia, como enganar a mídia, como conseguir aumentos, como conseguir "aliados", como se virar com a oposição. E mais, saiba como fazer o seu presidente sair culpado de todos os problemas que você e suas decisões possam causar.

Não há respeito e muito menos ética. Não há responsabilidade, não há integridade e muito menos vergonha na cara. Não era segredo que essa votação secreta daria nisso. A imprensa, por incrível que pareça, durante a votação era a única "representante" que o povo brasileiro possuía. Os senadores, caros amigos, esqueceram a integridade em casa - salvo exceções é claro.

"O Brasil está de luto", li no Diário do Congresso. E é verdade. O Brasil não tem motivação alguma para ser patriota, para acreditar no Brasil. O povo brasileiro não tem como amar o Brasil. É difícil. A voz que grita e clama não é ouvida. Todos os políticos resolveram se tornar adeptos do "malufismo" e com todas as provas de que erraram dizem: "Não sei de nada! Eu não fiz isso!". No melhor estilo malufista! Encontrei o adjetivo certo para os políticos do Brasil, que não se importam com o povo brasileiro, mas fingem que se importam, e quando chegam em casa descansam com a cabeça em paz por mais um dia em que conseguiram garantir seus milhões por meios ilícitos.

Esta é a democracia que vivemos. Malufista! Que defende interesses próprios. Não peço a democracia utópica, democracia plena, mas uma democracia justa. Que coadune com os princípios básicos da democracia: "Todo poder emana do povo".

"O resultado da votação de hoje é uma vitória da democracia(...)" Senador Renan Calheiros

... Não é malufista?!

Ana Paula Bessa
Paulinha, já tá na minha lista ;)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

E o presidente do Senado toma conta do noticiário. De novo.

Recomendo a leitura abaixo e o restante do site também, todos os dias.


Do Editor do Diário do Congresso, Nelson Penteado:

O furacão Félix perdeu força ao passar pela Nicarágua. Já a tempestade Henriette, formada no Pacífico, promete causar muitos estragos. Enquanto isso, aqui na capital da República, o furacão atende pelo nome de Renan Calheiros (PMDB-AL). Depois da indecisão sobre eventual consulta ao STF, pensada para manter secreta a votação da cassação do seu mandato no Conselho de Ética nesta quarta-feira, o presidente do Senado desistiu. O recuo ocorreu depois do encontro com o correligionário e ex-presidente da Corte Suprema, Nelson Jobim, Ministro da Defesa há pouco mais de um mês. A manobra poderia ser rejeitada e ainda parecer uma tentativa de cercear a apuração dos fatos.

Enquanto o PSOL titubeia, o DEM parece disposto a apresentar à mesa do Senado mais uma representação contra seu presidente. As novas denúncias versam sobre uma suposta operação de arrecadação de fundos para correligionários do PMDB em vários ministérios. A funcionária da casa Flávia Garcia, que trabalha com Renan e é a pivô do novo escândalo, se apressou em desmentir o envolvimento do senador e acusou o ex-marido, o advogado Bruno de Miranda Lins, de divulgar a informação apenas para prejudicá-la em um processo de separação litigiosa. Ai, ai, ai... Os jornalistas mais experientes sabem que as previsões sobre determinadas votações no Congresso são perigosas. É que além das forças ocultas, denunciadas por Jânio Quadros no passado, e considerando que a política evolui a cada momento ao sabor dos ventos, qual nuvens, como ensinava Ulysses Guimarães, o humor e os interesses do governo e dos partidos podem tomar rumos impensados. O fato é que a tropa de choque que dá sustentação ao presidente do Senado já definiu sua estratégia de levar, o mais rapidamente possível, a decisão para o plenário da casa. Lá, no aconchego do plenário, seria mais fácil dissimular as traições e conquistar adeptos de última hora.

Nua na Playboy - Independentemente da votação do Conselho de Ética, portanto, parece que o embate decisivo sobre esta etapa do calvário do senador Renan Calheiros ficará mesmo para a votação do assunto no plenário da casa. Enquanto isso, o jornalista Ricardo Noblat disse acreditar mesmo que Mônica Veloso, envolvida nas denúncias primeiras contra o conquistador de Alagoas - com todo respeito, é claro -, não deveria ter pousado nua para a revista Payboy. Acabei me envolvendo com a produção da coluna e não cheguei a tomar conhecimento dos argumentos do velho jornalista. Mas que ele continua afiado. Que faro para a notícia tem ele, não é mesmo? Recolocar a jornalista nua na cena dos novos escândalos é, no mínimo, interessante. Ou excitante, talvez.

Ciro Gomes se posiciona – Enquanto isso, novos lances na peleja dos candidatos a candidatos à sucessão presidencial produzem notícias e mais notícias. Agora foi a vez do ex-ministro Ciro Gomes. Ele reapareceu durante o lançamento do bloco de partidos mais à esquerda do espectro político brasileiro, em São Paulo. No rescaldo do congresso petista, o conjunto de partidos se coloca como uma força considerável na disputa de espaço político para viabilizar um candidato capaz de disputar as eleições de 2010. Interessante, mas um tanto prematuro.

Há mais de um mês, o ministro da Defesa Nelson Jobim trabalha duro e tem conseguido parecer candidato. Ágil, aparentemente eficiente na gestão de assuntos quentes e incômodos para o governo, ele tem despontado como uma nova estrela no céu da sucessão. Agora, o marido da atriz Patrícia Pilar volta à cena. E outros tantos irão desabrochar. E murchar. A estrada é estreita e cheia de perigos. Os mais espertos, e talvez melhor posicionados, vão trabalhando nos bastidores, reservando forças para tentar o sprint final. É uma corrida de resistência, que exige fôlego, apoio e votos. Muitos votos. Concluindo, vale perguntar. Como será que anda o apetite do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda? Único no DEM bom de voto e esperto o suficiente para sonhar com um futuro, digamos, mais promissor? Boa semana e boa sorte.


Não deixem de ler: http://www.diariodocongresso.com.br/

sábado, 1 de setembro de 2007

Querer


"... Dias inteiros de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte, descobri a alegria de transformar distâncias em tempo. Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo. A transformar o medo em respeito, o respeito em confiança. Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada querer."

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