"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido" Malcom X
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
STJ divulga nota esclarecendo Operação Pandora
"O Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou operação de busca e apreensão pela Polícia Federal em residência, local de trabalho ou sede de 16 pessoas físicas e jurídicas, com o objetivo de coletar provas sobre suposta distribuição de recursos ilegais à "base aliada" do governo do Distrito Federal. A determinação se deu em inquérito policial que apura a possível participação de autoridades com foro privilegiado no STJ nessas atividades.
As buscas e apreensões decorrentes da autorização foram acompanhadas por procuradores do Ministério Público Federal nos 24 locais indicados, sendo 21 no Distrito Federal, um em Goiânia (GO) e dois em Belo Horizonte (MG). A medida visa descobrir provas e indícios de eventual vínculo mantido entre os investigados e a suposta participação de cada um em atos ilícitos.
O despacho do ministro relator, acolhendo pedido do Ministério Público, determinou que as buscas fossem feitas com discrição, de modo a assegurar a intimidade e preservar os direitos subjetivos dos investigados. Nesse sentido, as diligências deverão ser realizadas com absoluta discrição,de modo a causar o menor incômodo às pessoas envolvidas e a causar o menor dano possível aos bens dos investigados.
Para manter o sigilo da operação até que fosse deflagrada, determinou o ministro relator que não seria permitido que se informasse ou que se convocasse a imprensa. Do mesmo modo, nas diligências foi proibida a utilização ostensiva de vestimentas da Polícia Federal, assim como a exposição desnecessária de armamentos pesados
As investigações sobre suposto repasse de recursos de origem ilícita foram reforçadas pela delação de um ex-secretário de Estado do Distrito Federal, que aceitou que fosse instalado em suas roupas equipamentos de escuta ambiental. Em função disso, foi aberta a ele a participação em programa de proteção de testemunhas da Polícia Federal. Concluída a operação, o relator levantou o segredo de justiça imposto ao inquérito."
Gravações revelam repasse de R$ 400 mil à base aliada
Do Jornal de Brasília
27/11/2009 - 16:03:58
Nunca antes na história de Brasília
As informações abaixo foram tiradas do blog da Paola que soltou a primeira nota às 9h da manhã. Agora a imprensa toda já está noticiando o fato.
"A sexta-feira amanheceu movimentada na cidade. Uma operação da Polícia Federal parou a Câmara Legislativa no início da manhã com um mandado de busca e apreensão, assinados pelo ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos gabinetes dos presidente da Câmara, Leonardo Prudente (DEM), da líder do governo na Casa, Eurides Brito (PMDB) e do presidente da CCJ, Rogério Ulysses (PSB). Os agentes deixaram a Casa com documentos, malotes e até computadores. Busca semelhante foi feita também na casa do suplente de distrital Pedro do Ovo (PRP), no Gama. A operação abrange ainda gabinetes e assessores e secretários do GDF. Os agentes da PF também foram ao anexo do Buriti, Tribunal de Contas do DF e empresas privadas do DF. Como parte da investigação existem ainda áudios e vídeos, autorizados pela Justiça. Apesar da Polícia Federal não revelar o motivo das investigações, pois o inquérito está em segredo de Justiça, a origem teria sido licitações fraudulentas e pagamento de propina. Além da Câmara Legislativa, os agentes da Operação Caixa de Pandora foram também à casa do presidente da Câmara, Leonardo Prudente (DEM) e aos gabinetes do secretário-chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel, do secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, do assessor de imprensa do GDF, Omézio Pontes, do novo chefe de gabinete da Governadoria, Fábio Simão, e do secretário de Educação, José Luiz Valente. Agentes da PF foram ainda na Residência Oficial de Águas Claras. Informações do Correio Braziliense revelam que a autora da ação é a subprocuradora-geral da república Raquel Dodge e o coordenador da ação é o chefe de inteligência da PF, delegado Marcos Davi Salém. Uma reunião acontece neste momento na Residência Oficial de Águas Claras. Governador José Roberto Arruda, secretários e advogados analisam a operação da Polícia Federal, batizada de Caixa de Pandora, e suas consequências."Parece que Roriz decidiu cancelar toda sua agenda e aguardar o desenrolar dos fatos. Interessante porque em última entrevista para o Caderno Brasília, ele declarou que achava que "Arruda não seria candidato em 2010 mas que ele ainda não podia dizer o motivo".
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Da última edição de Caros Amigos
MPF indicia Maluf e Tuma por ocultação de cadáveres durante a ditadura
Li na TPM e recomendo que vejam o video
Quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre Marina Silva e ficar com preguiça de ir atrás da entrevista que ela concedeu à Editora Trip, assista ao vídeo. É até melhor. Marina, além de tudo que se sabe sobre sua trajetória, é uma simpatia.
Fórum Mundial de Educação - O que mais gostei
Dois eventos foram simplesmente maravilhosos durante o Forum Mundial de Educação. Ele se encerra amanhã mas, para mim, estar presente durante esses dois momentos já foi o melhor que poderia ter acontecido.
Para saber mais, acesse o site do Fórum que foi um sucesso para o desenvolvimento da Educação Profissional e Tecnológica do mundo. Parabéns aos organizadores!
As notícias à que me refiro são:
O pedido de desculpas que o Estado brasileiro ofereceu (com atraso de anos) ao educador Paulo Freire.
e...
A palestra do sempre maravilhoso filósofo Leonardo Boff.
Em breve eu posto dois podcasts sobre esses assuntos aqui no blog (incluindo áudio que peguei do Leonardo durante o evento).
Estou devendo vários, aliás, mas é que agora é que encontrei um bom servidor de podcasts e estou editando os arquivos para colocá-los todos de uma vez.
Fiquem de olho nos "updates" dos posts (para quem não sabe, eu prefiro sempre que possível, ao invés de criar um novo post sobre um mesmo assunto, atualizar os que já escrevi antes).
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Unidade e amplitude dos movimentos sociais na conferência do DF
24/11/2009 por proconferenciadf
“A demanda por uma conferência de comunicação é de muito tempo. No contexto atual de pouca regulamentação, encontros como esse são necessários para a discussão de mecanismos de democratização da informação”, ressaltou a secretária de Relações do Trabalho da CUT-DF, Sheila Tinoco, durante a abertura da Confecom-DF.
“Nós temos que aproveitar este momento para tentar, de forma amadurecida e negociada, avançar no sentido da regulação deste segmento (comunicação). Nós estamos há pelo menos 60 anos atrasados em questão ao debate”, alertou o professor da Universidade de Brasília, Benício de Almeida.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Começa hoje! (finalmente)
Conferência Distrital de Comunicação começa nesta sexta!
20/11/2009Confira as propostas das conferências livres do DF
O Distrito Federal realizada de sexta (20) a domingo (22) a Conferência Distrital de Comunicação. Cerca de 450 pessoas já estão pré-inscritas e irão participar do debate como representantes da sociedade civil não empresarial, empresarial e Poder Público.
Reinvidicação dos movimentos sociais do DF, a conferência é uma etapa oficial da Conferência Nacional de Comunicação, cujo tema central é Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital.
A abertura da Conferência Distrital está marcada para às 20h desta sexta, na Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação (Eape), na 907 sul. A presidente da Centra Única dos Trabalhadores do DF (CUT-DF), Rejane Pitanga, fará uma saudação em nome da sociedade civil.
A coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU), Jacira Silva, terá uma fala especial sobre comunicação e Dia da Consciência Negra. Representantes do Poder Público e do setor empresarial também participam da abertura.
Conferências livres
Nos últimos três meses, os movimentos sociais do DF realizaram oito conferência livres preparatórias para a Conferência Distrital de Comunicação, promovidas pelos sindicatos dos trabalhadores de comunicação, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Intervozes, Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), movimentos e entidades negras, estudantes da Universidade de Brasília, Universidade Católica e Facitec.
Entre as propostas encaminhadas pelas conferências livres à etapa distrital estão revisão do modelo de outorgas e concessões de radiodifusão, regionalização do conteúdo, criação do conselho distrital e nacional de comunicação, fortalecimento das mídias públicas, regulamentação da profissão dos jornalistas, descriminalização das rádios comunitárias e financiamento da mídia alternativa, estudantil e negra.
No sábado (21), serão realizados painéis temáticos para o aprofundamento dos debates e grupos de trabalho poderão complementar e aprimorar propostas que serão encaminhadas para a Conferência Nacional de Comunicação.
No domingo (22), haverá plenária, votação de moções e escolha de delegad@s para a etapa nacional. Após o encerramento da programação oficial, a sociedade civil irá realizar uma plenária para construção de uma carta com reivindicações na área de políticas de comunicação voltadas para o Governo do Distrito Federal (GDF).
Mais informações:
Sheila Tinoco (Fenajufe/Cut-DF): 9289-0150
Mayrá Lima (Intervozes): 9684-6534
Romário Schettino (Sindicato dos Jornalistas): 9942-3503
Programação Oficial (http://www.gdf.df.gov.br/045/04501040.asp)
Conferência Distrital de Comunicação
LOCAL: Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação (907 sul)
Sexta-feira (20/11)
Inscrição e credenciamento: 16h às 20h
Abertura e votação do regimento: a partir das 20h, com participação de representantes do Poder Público, Sociedade Civil empresarial e não empresarial.
Sábado (21/11)
Inscrição e credenciamento: 8h às 10h
Painéis temáticos: 8h às 12h
Grupos de trabalho: 14h às 18h
Domingo (22/11)
Plenária e votação de moções: 8h às 12h
Reflexão sobre o dia de hoje
Antes de mais nada, sugiro à todos que dêem um pulo no cinema para ver BESOURO. O filme é imperdível. Não percam.
O texto abaixo, do site da Luciana Genro também chama à reflexão sobre a nossa consciência.
20 de Novembro é dia de reflexão
Confira texto de Edilson Silva sobre esta data:
“Povo negro: queremos mais que simbologia
Mais um 20 de novembro. Dia de lembrar e comemorar a imortalidade de Zumbi dos Palmares e tudo o que representou e representa sua luta e de seus herdeiros. Dia da Consciência Negra, dia de reflexão maior sobre os desafios dessa gente que foi trazida à força do continente africano para o Brasil e aqui, também à força, foi deixada à margem do acesso a condições dignas de existência, estabelecendo-se assim um passivo histórico do Estado brasileiro com estes.
É um dia propício, portanto, para se fazer um mínimo balanço das ações desta chamada esquerda que está no poder. O que mudou efetivamente para o povo negro no Brasil na era Lula?
Dizer que nada mudou seria injusto. Quando antes um negro chegou à posição de ministro no Supremo Tribunal Federal? Quando antes se teve uma secretaria federal com status de ministério para tratar exclusivamente da promoção da igualdade racial? Quando antes se teve uma lei federal que “obriga” o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas? Há inúmeros outros avanços e são, inegavelmente, méritos do governo Lula.
No entanto, o passivo do Estado brasileiro com o povo negro não será minimamente resolvido apenas com simbologismos. A presença de Joaquim Barbosa, um ministro negro no STF, é uma exceção importante que confirma a regra. O ministro Joaquim, segundo artigo publicado pelo professor Eduardo Diatahy B. de Menezes, da Universidade Federal do Ceará, era um faxineiro que durante o trabalho no TRE do Distrito Federal cantava em inglês com fluência invejável, o que chamou a atenção de seus superiores, que o incentivaram materialmente, trocando-o de função, ganhando mais e com menos esforço físico.
Deram-lhe oportunidade e ele pode colocar em prática, com esforço também invejável, todo o seu talento. Joaquim Barbosa é ministro do STF por méritos próprios. O mérito de Lula foi não ter-lhe discriminado.
Outro exemplo de simbologismo insuficiente são as leis federais 10.639/03 e 11.645/08, que tratam da obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileira e indígena nas escolas públicas. Essas leis não saem do papel, são apenas mais um reconhecimento cínico de que existe uma engrenagem cultural de perpetuação do preconceito racial no Brasil. Estas leis, para saírem do papel, precisariam de um mínimo investimento em capacitação dos professores, uma perseguição obstinada pela alteração dos currículos escolares, livros didáticos, etc.
Muitos foram os profissionais do âmbito da pedagogia, comprometidos com a causa da difusão e resgate da história e cultura afro-brasileira e indígena, que, ao verem aprovadas estas leis, apressaram-se em preparar especializações e capacitações em todos os recantos brasileiros. No entanto, esta é a dura realidade, a secretaria do governo federal, que deveria tratar de promover a igualdade racial, aquela com status de ministério, não tem disponíveis os recursos mínimos para que estas atividades aconteçam. Ou seja, só discurso.
Os recursos que faltam para investir na aplicação concreta destas leis sobram no orçamento federal para o pagamento de juros, amortizações e rolagem da dívida pública aos agiotas de plantão. São estes recursos públicos que faltam para o governo Lula sair da mera propaganda enganosa. São estes recursos que faltam para que nem todos os negros deste país precisem nascer com a genialidade de Joaquim Barbosa e com a mesma sorte que ele para “vencer na vida”.
Edislon Silva, negro, presidente do PSOL-PE
Open your mind - Ahmadnejad em Brasília
Na verdade, pra quem esteve lá, foi fácil observar a quantidade de agentes de segurança iranianos circulando pelo auditório (completamente lotado) e fiscalizando (e fotografando) pessoas, janelas, equipamentos de imprensa espalhados pelo lugar e com certeza, na minha opinião, foi isso que invibializou o evento. O local estava muito cheio, com pessoas em pé obstruindo os corredores, quando vi isso já comecei a desconfiar que poderia não rolar. Nesse ponto, a organização do evento falhou porque sendo quem é, deveriam ter limitado mesmo (como disseram que fariam no credenciamento) as inscrições.
A imprensa credenciada, não podia (à pedido deles), entrevistá-lo, aliás, nem mesmo chegar perto da antesala onde ele ficaria com sua comitiva. No máximo, nos entregaram formulários em que escreveríamos uma única pergunta que seria "sorteada" entre todas as outras e, depois da palestra, ele se limitaria a responder, no máximo, cinco delas. Era esse o acordo. Para isso esperamos. Pena que ele não apareceu, é sabido que ele gosta de conversar com universitários e não se furta também em conversar com a imprensa (ainda que esta esteja sempre "enxertando" palavras em suas declarações).
terça-feira, 17 de novembro de 2009
O estilo classe média
Para quem é de fora, Brasília é um ambiente um tanto hostil mas sempre fico tentando encontrar uma forma de "descrever" o que observo por todo canto. Pelo menos, no miolo mais concentrado no Plano Piloto. Esse, para quem não sabe, é o "bairro" que preenche o desenho do avião que caracteriza a capital. Todas as cidades "satélites" - como de fato são chamadas - são subjetivamente (em alguns lugares) e explicitamente (em outros) entendidas como "à margem" de quem tem o privilégio de viver no avião.
E isso não exclui um comportamento semelhante dos viventes nas próprias cidades satélites. Pelo contrário. Uma hora ou outra, "morar no Plano" passa a ser o plano de qualquer aspirante à classe média emergente brasiliense.
O texto abaixo, publicado na nova edição da Carta, mostra que o "comportamento classe média" já se tornou um novo "way of life" (expressão criada pelo blog homônimo), um estilo de vida bem definido e que, no meu entendimento, encontra em grande parte da população de Brasília, seu melhor personagem.
Claro que não são todas as pessoas, mas infelizmente, é a maioria (na minha modesta opinião, claro). A "capital mundial das piscinas" ou a cidade que vem trocando sua arquitetura moderna pelo pós-modernismo (de gosto duvidoso) à la Paulo Octávio Empreendimentos, tem muito desse modo de vida impregnado que inclusive, infecta até os que não foram forjados nessa cultura quando mais jovens, venham de onde vier. Seja das praias despojadas cariocas, seja do sol rachante nordestino, todo mundo quer ser um pouco assim.
O mais interessante é que isso, claro, é um reflexo de toda a sociedade, da forma como as coisas tomam o lugar das pessoas. Só que alguns países, cidades, lugares, absorvem isso mais rapidamente que outros. E Brasília, os que moram aqui irão concordar, pode ilustrar bem o texto, até porque é formada também de múltiplas culturas e de pessoas que vem e vão de todos os lugares e países. No entanto, nesse aspecto, vem formando com esses valores, uma cultura própria.
Algo me deprimiu. A constatação da identificação imediata das descrições com figuras que conheço do meu partido que já foram um dia "comunistas" ou "socialistas" preocupados com a "justiça social", os "direitos humanos" ou mesmo a "democracia", tudo isso agora, somente com muitas aspas.
Aviso! Se você se reconhecer em alguma descrição e se indignar, já sabe que esse blog e os que constam em sua lista de links sugeridos, não são o tipo de coisa que a classe média deva ler com muita frequência.
Como vocês, um dos melhores artigos que já li nos últimos tempos sobre a sociedade em que vivemos.
Você delira quando Caetano Veloso diz que Lula é grosseiro e não sabe falar? Não perde uma coluna de Danuza Leão? Coleciona os livros de Ali Kamel? Parabéns, você é um típico representante da classe média brasileira, fiel integrante da elite branca, como definiu o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo. Pierre do Brasil, criador do blog The Classe Media Way of Life, conseguiu captar a essência desses seres que trafegam (raramente, pois quase sempre o trânsito está engarrafado) pelos Jardins paulistanos, a zona sul carioca, os bairros ditos nobres das capitais e os cada vez mais numerosos condomínios fechados. A seguir, um resumo de alguns dos textos do blog (classemediawayoflife.blogspot.com).
MORAR EM APARTAMENTO
O modus vivendi de nossos heróis médio-classistas, cuja característica mestra consiste no “morar em apartamento”, contribuiu para a instituição de uma nova realidade urbana não apenas pela geração dos “filhos de apartamento”. Outra esquisitice daí proveniente mudaria de figura as nossas cidades: os empreendimentos imobiliários.
A evolução do “morar em apartamento” causou profundas mudanças na maneira como se constrói uma cidade. Se antigamente um edifício era projetado e implantado por um arquiteto, sobre uma malha urbana determinada por um urbanista, e colocado de pé por um engenheiro, atualmente a classe média só compra imóveis projetados por publicitários. O publicitário é uma figura de extrema relevância para a classe. É algo como um guru. Sua função extrapola a mera tradução dos valores do médio-classista e sua consequente materialização em forma de produto, para na verdade formatar a preferência desse cidadão e impor-lhe tudo aquilo que ele deve gostar. Se você quer ser um médio-classista normal, terá de gostar dessa situação. Do contrário será convencido por um publicitário.
Com a cidade sendo construída pelos empreendimentos do departamento de marketing, o desenho urbano e as relações sociais vão tomando a cara da classe média. Todo prédio tem um nome, que quando não é o nome de um médio-classista falecido (com sobrenome italiano), é um estrangeirismo. Os idiomas preferenciais são o inglês, o francês e o próprio italiano.
Tendo este meio de vida se instaurado e solidificado no seio da classe média, o “filho de apartamento” passou a ser considerado uma espécie de instituição, de forma que os empreendimentos agora tentam redefinir as condições. Médio-classistas hoje em dia podem escolher morar em um empreendimento chamado Château De Douceur, onde estão disponíveis nas áreas comuns o “Espaço Kids”, para os pequenos brincarem o dia inteiro, o “Espaço Teen”, para os adolescentes, o “Garage Band”, para os filhos terem o direito de ser rebeldes, enquanto a empregada leva suco e biscoitos.
Também há o “Woman’s Space”, para ficar vazio, enquanto você frequenta o salão do momento. O “Espaço Gourmet”, para dizer aos outros que você é refinado e cozinha por prazer, enquanto a empregada deixa tudo pré-pronto em segredo, e ainda lava as panelas. O “Fitness Center”, para ficar vazio, enquanto você paga uma academia perto do trabalho, e muitas outras salas com nomes estrangeiros. O objetivo disso, além de encarecer absurdamente o condomínio, é fornecer argumentos ao publicitário para que o tamanho dos apartamentos seja cada vez mais diminuto, no pressuposto de que ninguém ficará lá dentro com tantas atividades dando sopa no pilotis.
Por fim, neste novo jeito de morar, uma coisa é imprescindível: grades. O mundo lá fora é mau. A gente de bem está do lado de dentro. Por isso, no espaço urbano todas as características da classe média convergem para um único organismo, que é o “lado de dentro”. Médio-classista evita sair na rua. Rua é para pobre, é onde passa ônibus e onde estão os assaltantes. O médio-classista anda de garagem em garagem. Sem contato nem com o ar do lado de fora. Filho de apartamento tem alergia a fumaça, poeira, plantas de verdade e pobre. Assim, a cidade da classe média é hoje um núcleo fortificado, à espera de um ataque bárbaro a qualquer momento. Para isso, métodos de segurança dos mais modernos foram desenvolvidos, como lanças e homens armados. Dizem que em São Paulo uma construtora aguarda autorização do Ibama para construir um sistema de fosso com jacarés.
Será o primeiro Eco-Security-Residence do Brasil.
COMPRAR OS BEST SELLERS
Para o médio-classista é muito difícil arrumar um tempo pra ler. A vida atribulada, os negócios, a ralação diária para garantir as contas pagas (graças a Deus), os filhos, a faculdade, nada disso deixa tempo para uma boa leitura. Mas isso tem de ser feito, pois a superioridade intelectual é inerente à classe, e não há como declamar nas seções de cartas da revista semanal sobre a falta de instrução do povão se você não ler seus dois livros anuais.
Quem não tem tempo para ler tem de ser seletivo, e ser seletivo é uma especialidade do cidadão da classe. Então, para que todo mundo na Book Store saiba que você é classe média, vá direto aos best sellers. Ali você terá segurança para escolher um livro “da moda”, um livro que fará todo mundo no seu trabalho te admirar, um livro que todos vão querer emprestado. Apareça com algum best seller da semana e incremente sua reputação tanto de “culto” quanto de “antenado”, igual àquele cara que introduziu O Código da Vinci na turma do escritório. A lista dos mais vendidos nunca erra.
O leitor médio-classista, antes de tudo, é um eclético. Não importa o tema, não importa o autor: o que estiver na moda, se vender muito, ele compra. Mas sempre há os gêneros que fazem mais sucesso: mistério, esoterismo, espiritismo, política e autoajuda sempre são considerados bons livros. Mas se você quer mesmo é botar pra quebrar, pode ir às últimas consequências do médio-classismo e apelar para os “gênios” desse público: Paulo Coelho, que tem mistério, esoterismo e autoajuda, tudo misturado; Ali Kamel, que junta política e ficção; Dan Brown, só porque escreveu o tal Código... Mas se você, aspirante à classe, persiste num impasse diante de tantas boas opções da banca de best sellers, atente a um macete que nunca falha: na dúvida, compre o que tem a capa mais bonita.
PRATICAR O "CADA UM POR SI" NO TRÂNSITO
Para quem quer se comportar como a classe média brasileira, um ótimo ambiente de observação é o trânsito de nossas grandes cidades. Ali podemos estudar, por imersão total e com riqueza de detalhes, os valores desse peculiar grupo social.
O médio-classista encara o trânsito como se fosse uma grande batalha em defesa do seu direito individual prioritário de ir e vir, o que significa que cada indivíduo da classe, no trânsito, tem prioridade um sobre o outro e vice-versa (numa estranha equação ainda não resolvida pela matemática). E todos têm prioridade sobre os pedestres (esse ponto já é bem mais fácil de entender).
Para encarar o trânsito, cada cidadão da classe deve estar equipado com seu carro. Se uma moradia médio-classista possui, por exemplo, quatro habitantes em idade para ser condutores, o ideal é que ali haja quatro carros. O carro é uma importante propriedade desses cidadãos, e seu interior é seu mundo particular, uma extensão de sua casa sobre rodas. Por isso, o carro para esse público precisa ser equipado com “insulfilme”, equipamento de som, ar-condicionado e lugar para, no mínimo, cinco passageiros (para levar objetos e peças de vestuário, uma vez que raramente o carro do médio-classista trafega com mais de uma pessoa, além do motorista). Tudo isso garante que o que realmente importa (o mundo particular do condutor) esteja muito agradável, a fim de evitar o contato com o mundo exterior, totalmente desprezível. Para este, há um mecanismo de comunicação denominado buzina.
Você, aprendiz de médio-classista, precisa aprender que é necessário se revoltar com as atuais condições do trânsito. Assim, no seu papel de cidadão politizado e pagador de impostos, deve exigir das autoridades que abram espaço na cidade para mais carros. Que desapropriem, botem a cidade abaixo, mas garantam a duplicação das vias até resolver o problema. Fique revoltado também pelo fato de o governo se preocupar mais em, violentamente, coibir seu direito sagrado de ingerir álcool do que abrir mais acessos para o seu carro trafegar mais rápido.
O primeiríssimo passo para entrar na classe é abandonar o transporte coletivo, o Metrô e até mesmo a bicicleta (esta somente pode ser usada para lazer, e, mesmo assim, deve ser transportada de carro até o local do uso). No transporte coletivo você está num espaço público, sujeito a ficar perto de pobres e nada ali é “só seu”. É muito melhor que você trafegue dentro de sua bolha de vidro e metal, “privatizando” (aprenda a adorar esta palavra) cerca de 10 metros quadrados do espaço público, com uma máquina de mil quilos que queimará petróleo para transportar uma pessoa de 70 quilos, a fim de garantir seu merecido bem-estar até seu destino. Você tem direito, você é da classe média.
AFIRMAR QUE NÃO EXISTE RACISMO NO BRASIL
Para se tornar um genuíno membro da classe média brasileira, você não pode ser racista. Simplesmente porque, na ótica da classe, o racismo não existe no Brasil. Não existe privilégio para nenhuma raça, tudo se pode conseguir pelo esforço e trabalho, seja a pessoa médio-classista ou negra. Convença-se disso.
Racismo, hoje, talvez só nos Estados Unidos. Ali sim já se praticou racismo “do bom”, racismo “de raiz”, onde qualquer um pode encher um neguinho de porrada ou atear fogo na casa dele quando quiser... Mas, hoje, nem lá as coisas são como eram... o presidente deles é negro, então os negros não têm do que reclamar.
Tome cuidado! Essa história de cotas, de segregação racial, de discriminação e tratamento diferenciado não pode afetar sua culta percepção do mundo, a percepção de quem recebeu uma bela educação paga nos melhores colégios católicos. Você deve entender isso como mera coisa de livros de História, que ninguém lembra mais, da época em que trouxeram os negros escravizados da África, situação que logo mudou quando a Princesa Isabel assinou a tal parada, e desde então brancos e negros têm acesso ao que quiserem em igual condição.
Para demonstrar a seus estimados colegas da classe o quanto você faz por merecer a aceitação no grupo, discuta, sempre que surgir o tema, sobre como os negros simplesmente não querem estar na mesma posição dos brancos (lembre-se de representar uma “indignação analítica contida” quando disser isso). Você causará suspiros de admiração, será ouvido e respeitado por seus pares. Argumente que, se você conseguiu chegar onde chegou, qualquer negro também conseguiria, pois este é um país onde o mérito funciona e é a base de tudo.
Diga que você acha estranho, mas talvez, por uma questão de gosto pessoal, eles prefiram jogar capoeira a ir para a universidade (novamente contenha a indignação de palestrante culto). E dê o veredicto: se os negros estão reclamando, botando a culpa nos brancos, querendo cotas, se organizando em grupos culturais, movimentos de ações afirmativas e bandas de música black, eles é que são racistas. (Neste ponto, você fica autorizado pela audiência a ignorar a autocontradição.)
Por fim, para dar o golpe de misericórdia e carimbar de vez seu passaporte ao mundo da classe média, fale sobre sua relação com os negros. Decore: você não deve ter nada contra nem a favor deles. Você os trata como qualquer pessoa e às vezes com humilde magnificência, até dá bom-dia ao jardineiro do prédio e à diarista. Você não namoraria uma pessoa negra, mas até daria uns pegas (se ela não contasse pra ninguém). Você acha que o governo tinha de criar escolas técnicas para “capacitar” pessoas para o trabalho manual, o que é uma ótima alternativa para os negros arrumarem emprego. Defenda o ponto de vista que explica que as universidades, o Judiciário e a alta sociedade têm pouquíssimos negros apenas por coincidência, ou até mesmo por uma questão estatística: eles existem mesmo em menor número, tanto que você quase não os vê nas festas que frequenta.
ACHAR QUE DEUS TE CONSIDERA MELHOR QUE OS OUTROS
O médio-classista não apenas acredita em Deus, como acredita que Deus gosta mais dele que dos outros. Não obstante sempre soltar um “graças a Deus” a tudo que se refere a seu patrimônio, quem é da classe justifica sua condição de privilégio com o status autodeclarado de vontade divina.
É uma espécie de herança torta das antigas dinastias e da nobreza europeia, de quem os médio-classistas acreditam piamente descender em linhagem pura e imaculada. Tal qual seus espelhos (distantes geográfica e cronologicamente), eles pretendem incutir no interlocutor a ideia de que seu bom berço é uma escolha divina, em detrimento da família meia-boca de quem estiver ouvindo. Por isso, eles não se acanham em recorrer ao seu deus para as coisas mais corriqueiras de suas vidas.
Portanto, se você pretende entrar para o seleto e abençoado mundo da classe média, trate de colocar Deus no meio de suas frases, dizendo que é culpa Dele você possuir bens materiais, e seu empregado não.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Antes de ser Taliban, a UniBan é Bandeirante
O pessoal do Insituto Autonomia publicou um artigo ótimo sobre o caso da Uniban. Especificamente sobre o tipo de cobertura que a mídia faz nesses casos. Reproduzo o texto e assino embaixo:
Alguém se lembra do filme "Dormindo com o Inimigo" cuja persomagem principal, representada por Julia Roberts, é espancada pelo marido, ao mesmo tempo em que, ambos formam um casal perfeito perante a sociedade? A mensagem dessa história é simples: o inimigo está mais perto do que pensamos. Ele não é o vizinho ou o estrangeiro do outro lado do mundo. Ele sim está tão próximo que pode até ser nós mesmos/as. É com esta lembrança na memória que gostaria de fazer um alerta sobre o caso da UniBan e a minisaia.
A mídia inteira ao tentar caracterizar tal "universidade" optou pelo mais fácil, ou seja, optou pelo pré-conceito do distante, fazendo o seguinte trocadilho: UniTALIBan. Não entrarei no mérito da questão sobre o que representa ou significa Taleban - que diga-se de passagem sua tradução é estudantes. O que aqui me interessa dizer é que, não precisariam ir tão longe e associar o nome UniBan ao extremismo islâmico. Bastava lembrar o significado histórico da palavra Bandeirantes. Sim, façamos justiça, o inimigo revelado pelo acontecimento da minisaia, vive em nossas entranhas históricas.
Em meados do século XVI, promovidos pelo "Governo das bandeiras", jagunços adentram os sertões brasileiros, hávidos por riqueza minerais. Neste adentramento outros dois feitos: escravização indígena e aniquilação de quilombos. Ah, e vocês pensam que esses jagunços, denominados bandeirantes, eram os próprios colonizadores? Não, pelo contrário, suas fileiras eram compostas por indígenas escravos e aliados, por mestiços de índio com branco, e alguns brancos como capitães. Esse bandeirismo, usou - ou melhor, continua usando em outros meios - da estratégia de aniquilação chamada "pacificação". Bilingües que eram, falavam português e tupi-guarani, aniquilavam o diferente e nomeavam os lugares, que assim "pacificavam", com nomes indígenas. Um recurso de memória muito utilizado para confundir e apagar os rastros históricos das perversidades cometidas por tais jagunços.
Voltando ao século XXI, o feito de uma Universidade Bandeirante tem raízes históricas profundas. As quais não se gastou uma linha se quer para ser mencionada. Porquê esse silêncio? Talvez porque é mais fácil desviar a atenção em direção ao distante Taliban. Talvez porque é mais cômodo não estar a sós consigo mesmo; a não voltar os olhos para nossas próprias feições. Que, para além do milenarismo patriarcal e machista, para além da política educacional do MEC, para além da retrógrada filosofia da educação da Uniban, também estejamos atentos e atentas às significações que atribuímos aos acontecimentos.
O Caminho
Mais uma dica pra quem gosta de curtir um "pé na estrada", esse literalmente a pé.
Tá, não vamos entrar numa discussão sobre o valor literário da obra de Paulo Coelho. Quero falar do Caminho de Santiago, que aliás, eu também quero muito fazer. O fato é que o cara é quem deu visibilidade pra existência desse lugar.
Pois bem, para quem acha que nunca vai poder ir lá, o Google colocou tudo no Google Maps. Agora basta clicar no link e ir "caminhando" ao longo do trajeto.. (tem umas setinhas indicando a direção) e serve até como guia de albergues e monumentos pelo caminho (como a Catedral de Burgos na foto acima). Ou seja, para quem pretende ir mesmo um dia, é uma boa prévia de como é. Fiquei com vontade de comprar minha passagem pra Europa.
Falando em link ao vivo
Meu colega Roger Gomes, me mandou essa dica que, como está na descrição no Youtube, mostra mesmo que "recordar é viver". ACM mostra que é a fina flor da educação baiana. Aliás, era. E, detalhe, na época ele era Ministro das Comunicações.
Link cruzado ao vivo
O apresentador da Record colocou a repórter em uma situação péssima. Ao invés de chamar o link de volta ao estúdio para depois tentar novamente, ele insistia que a jornalista tentasse a entrevista, invadindo o link da Globo. Não sou fã de nenhuma das duas emissoras, pelo contrário, na TV aberta ultimamente, só tenho conseguido assistir à TV Brasil. Mas é por essas e outras que a profissão de jornalista é reconhecida como insalubre...Ô vidinha estressante a nossa!...
Eu também protesto!
em repúdio ao ato contra Geyse Arruda na Uniban
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Ventos literários da África
O viajante que publica suas aventuras no Diário da África conseguiu a façanha de entrevistar, nada mais nada menos que Mia Couto. Então, para deleite dos leitores desse blog, segue parte da entrevista:
Mia Couto nos recebeu no escritório da empresa em que dá expediente quando não está escrevendo livros.
Além de escritor, Mia Couto estou medicina e se formou em biologia.
Tem uma empresa de projetos ambientais que funciona numa casa no centro de Maputo.
Fala mansa, Mia Couto não se altera com nenhuma pergunta.
Além deste diário, também participou da entrevista o jornalista português António Cascais, radicado na Alemanha desde criança.
A entrevista foi em 29 de outubro, um dia depois das eleições.
Mia Couto ainda estava com o dedo indicador direito sujo com a tinta indelével que comprova a participação no processo eleitoral e serve para impedir que se vote duas vezes.
Durante cerca de meia hora, Mia Couto falou sobre política, Frelimo, democracia, os mitos em torno da África e um pouco sobre literatura.
O QUE ESSA ELEIÇÃO REPRESENTA PARA A DEMOCRACIA DE MOÇAMBIQUE?
A democracia...Acho que nos habituamos a ver a democracia em Moçambique como uma coisa que é feita com vários caminhos. O caminho desta democracia parlamentar, com essa votação por delegação política em alguém que nos representa é uma coisa relativamente recente. Moçambique viveu 33 anos de independência e metade desse período foi feito sem democracia. Foi feito com regime de partido único. Curiosamente, havia durante esse regime algumas instituições, vamos dizer assim, que funcionavam. Principalmente ao nível de poder popular, poder de base. Funcionavam com nível de envolvimento e participação que hoje já não ocorre. Não estou a fazer a defesa do regime monopartidário. Estou a dizer que, para avaliar o regime da democracia, a possibilidade de participação das pessoas naquilo que são seus assuntos de interesse não podem ser medidos apenas por este parâmetro. De qualquer maneira, acho que os moçambicanos querem este caminho, querem o caminho da democracia formal, da representação partidária. E isso ainda não foi conseguido. É um processo, e agora isso implica que o partido no poder tem que ter oposição. E essa oposição tem que ser criada, tem que haver um processo de fundamentar isso que são forças da oposição. E isso ainda está a acontecer em Moçambique.(...)
Gostou? Se quiser continuar lendo, clique aqui.
domingo, 8 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Muito em muito pouco
Pra quem ainda não sabe, o José Rezende Jr, jornalista (dos melhores) de Brasília, fotógrafo e autor de dois livros muito bacanas (e meu amigo! =)) vem publicando às sextas-feiras, no Portal Terra, uma série de contos, na verdade, minicontos. E pode botar mini nisso. Acho que escrever, enquanto definição artística, é isso, em muito pouco, se dizer muito. O Zé faz isso como ninguém. O primeiro desta semana, lembra bem um caso lamentável que tivemos há alguns dias (aquela demonstração "acadêmica" da bestialidade humana).
Mais abaixo, tem um sobre celulares que me lembrou alguém que conheço desde que nasci, ou seja, eu. Tenho muitos amigos, mas sinceramente, ultimamente ando me relacionando mais com meus celulares do que com as pessoas que estão na lista de contato deles.... Bom, depois de tanta reflexão a partir de estórias tão mínimas, reproduzo abaixo os textos desta semana e recomendo a todos que coloquem em seus favoritos o link do Zé, para lerem toda sexta-feira.
estórias mínimas - 6/11/2009
José Rezende Jr.
De Brasília (DF)
Os justiceiros
Um palmo acima do joelho! E achando que ser gostosa lhe dava o direito. Aí a gente se juntou e reagiu. E foi só isso: legítima defesa.
Montanha-russa
O coração parou, fulminado, logo no primeiro looping. Mas continuou sorrindo, pra não estragar o domingo dos filhos.
Castigo
Calor do inferno... Nem o diabo aguenta! Se eu soubesse, teria tentado ir pro céu...
A chuva
Gosto de olhar a chuva. Daí fiquei vendo ela molhar a janela, lavar as ruas, levar os carros, arrasar as casas, arrastar as pessoas...
Pesadelo
Sonhei que estava vivo. Quando abri os olhos era escuro.
Tempos modernos
Tinha três celulares e nenhum amigo. E parece que não se relacionava bem com os três celulares.
Prosa de comadres
Não sou dessas que dizem que homem não presta nem pra trocar lâmpada. Presta. Mas enquanto o Luz pra Todos não vem, eu me deito é com Maria.
Fale com José Rezende Jr.: joserezendejr@terra.com.br
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Tucanou de vez
Update do post: esqueci de dar o crédito!! A fonte foi o companheiro Eduardo Braga, pelo twitter.
A Uniban ainda, infelizmente
Por Débora Diniz, em O Estado de S. Paulo:
O urro ancestral da faculdade injuriada
Universitários que encurralaram a colega de vestido curto não eram delirantes: eram agressores
Colegas de faculdade, professores e policiais foram ouvidos sobre o caso. O fascínio compartilhado era o vestido rosa. Curto, insinuante, transparente foram alguns dos adjetivos utilizados pelos mais novos censores do vestuário da sociedade brasileira. "A roupa não era adequada para um ambiente escolar", foi a principal expressão da indignação moral causada pelo vestido rosa. Rapidamente um código de etiqueta sobre roupas e relações sociais dominou a análise sociológica sobre o incidente. Não se descreveu a histeria como um ato de violência, mas como uma reação causada pela surpresa do vestido naquele ambiente.
O que torna a história única é o absurdo dos fatos. Um vestido rosa curto desencadeia o delírio coletivo. E o delírio ocorreu nada menos do que em uma faculdade, o templo da razão e da sabedoria. Os delirantes não eram loucos internados em um manicômio à espera da medicação ou marujos recém-atracados em um cais após meses em alto-mar. Eram colegas de faculdade inconformados com um corpo insinuante coberto por um vestido rosa. Mas chamá-los de delirantes é encobrir a verdade. Não há loucura nesse caso, mas práticas violentas e intencionais. Esses jovens homens e mulheres são agressores. Eles não agrediram o vestido rosa, mas a mulher que o usava para ir à faculdade.
Não há justificativa moral possível para esse incidente. Ele é um caso claro de violência contra a mulher. Ao contrário do que os censores do vestuário possam alegar, não há nada de errado em usar um vestido rosa curto para ir às aulas de uma faculdade noturna. As mulheres são livres para escolher suas roupas, exibirem sua sensualidade e beleza. A adequação entre roupas e espaços é uma regra subjetiva de julgamento estético que denuncia classes e pertencimentos sociais. Não é um preceito ético sobre comportamentos ou práticas. Mas inverter a lógica da violência é a estratégia mais comum aos enredos da violência de gênero.
A multidão enfurecida não se descreve como algoz. Foi a jovem mulher insinuante quem teria provocado a reação da multidão. Nesse raciocínio enviesado, a multidão teria sido vítima da impertinência do vestido rosa. As imagens são grotescas: de um lado, uma mulher acuada foge da multidão que a persegue, e de outro, do lado de quem filma, dezenas de celulares registram a cena com a excitação de quem assiste a um espetáculo. Ninguém reage ao absurdo da perseguição ao vestido rosa. O fascínio pelo espetáculo aliena a todos que se escondem por trás das câmaras. Quem sabe a lente do celular os fez crer que não eram sujeitos ativos da violência, mas meros espectadores.
Pode causar ainda mais espanto o fato de que a multidão não tinha sexo. Homens e mulheres perseguiam o vestido rosa com fúria semelhante. Há mesmo quem conte que a confusão foi provocada por uma estudante. Mas isso não significa que a violência seja moralmente neutra quanto à desigualdade de gênero. É uma lógica machista a que alimenta sentimentos de indignação e ultraje por um vestido curto em uma mulher. A sociologia do vestuário é um recurso retórico para encobrir a real causa da violência - a opressão do corpo feminino. Não é o vestido rosa que incomoda a multidão, mas o vestido rosa em um corpo de mulher que não se submete ao puritanismo.
Não há nada que justifique o uso da violência para disciplinar as mulheres. Nem mesmo a situação hipotética de uma mulher sem roupas justificaria o caso. Mas parece que uma mulher em um vestido insinuante provoca mais fúria e indignação que a nudez. O vestido rosa seria o sinal da imoralidade feminina, ao passo que a nudez denunciaria a loucura. A verdade é que não há nem imoralidade, nem loucura. Há simplesmente uma sociedade desigual e que acredita disciplinar os corpos femininos pela violência. Nem que seja pela humilhação e pela vergonha de um vestido rosa.
*Antropóloga, professora da UnB e pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero
Artigo de CONTARDO CALLIGARIS, da Folha Ilustrada de hoje:
A turba da Uniban
A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".
Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.
Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".
Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.
Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".
Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.
Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.
O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.
A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.
Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?
Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.
ccalligari@uol.com.br
Folha de S. Paulo, Ilustrada, São Paulo, quinta-feira, 05 de novembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
40 anos de Carlos Mariguella
VENCESTE CARLOS
Sem consciência do tempo...
Nem percebeste que a morte,
Não significara uma vitória.
Gélido, calado...
Pensavam tornarem-no inofensivo.
Eles são assim!
Só prestam para a repressão
Se continuarem vivos:
Mortos, ficam só, viram pó.
Ouvistes vós uma rememoração sequer;
Uma sequer, dos 40 anos de Fleury?
Nós, voltamos a Alameda
E sentimos o pulsar dos corações
Tangendo lágrimas sinceras
São sentimentos reunidos de várias gerações.
E lá distante, as crianças entram para a escola
E a professora, lembra o dia 4 com poesia!
Fala de Carlos como se fosse o pai,
O avô, um sábio, um santo, um guia...
Em outras partes: exaltados debates,
Trazem de volta o ser conquistador
O comandante da Ação usa a palavra
Na voz de um jovem admirador;
Gritos de viva irrompem das janelas
Venceste, Carlos, a causa do amor.
Em mil lugares teu nome aparece
Em preces, aulas, placas e poesias,
Na ponta longa da amável tristeza
Amarram-se os laços da alegria.
Num tempo estranho
Contamos a tua glória
Neste presente de pobre ideologia
Se em nossas veias teu ânimo corre
Em nossas mentes, vives na utopia.
Ademar Bogo
Parlamentares e ativistas são recebidos pelo Ministro Toffoli
1ª Conferência Nacional de Comunicação no ar!
Finalmente o governo publicou o site da Conferência.
A comunicação avança para novos tempos.
Participem!
Essa é uma conquista de toda a sociedade brasileira!
Sem palavras
Essa história da Geysi Arruda, a universitária que foi xingada e escoltada pela polícia para fora da faculdade por estar com um vestido curto é tão... inaceitável.
Fico lendo as últimas notícias, com declarações de colegas que, ainda que reconheçam o "exagero" acham que ela estava "errada em se vestir daquela forma". Que país é esse?
Se no Brasil, terra das bundas ao sol, acontece um fenômeno desses, que chances temos de reduzir a violência de gênero em países em que essa prática é mais radical e tem sustentação em argumentos políticos, religiosos ou até mesmo legais? Se o Brasil hostiliza publicamente uma minissaia, que argumentos temos para combater as violações de direitos em outros países?
A manifestação coletiva dos alunos, divulgada em vídeos pela internet é uma das cenas mais animalescas que tive o desprazer de assistir nos últimos tempos. E mesmo assim, ainda há gente, estudantes universitários (ou produtos do "mundo acadêmico") que acreditam que ela "provocou a situação".
Simplesmente não encontro mais palavras para isso. A cada nova informação sobre o caso, fico mais chocada. Existe limite para a perversidade humana?
terça-feira, 3 de novembro de 2009
CASO BATTISTI - MINISTRO TOFFOLI RECEBE COMISSAO HOJE
Tribuna da Imprensa Sexta-Feira, 30.10.2009 |
Teria o STF competência originária para julgar Ministro de Estado?
dos Advogados Brasileiros (IAB)